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O Derretimento dos Mortos Vivos
O Derretimento dos Mortos Vivos
O Derretimento dos Mortos Vivos
E-book311 páginas4 horas

O Derretimento dos Mortos Vivos

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Sobre este e-book

Zumbis devoradores de carne, como você nunca viu antes. Estes são os mortos derretidos: tudo que eles agarram pega fogo. Todos que eles tocam morrem. Tudo que eles matam volta dos mortos.

Uma isolada ilha no Rio Missisipi é o perfeito retiro de férias... até as rochas espaciais caírem. Uma família inocente é morta pela radiação cáustica. A mesma força cósmica traz papai, maninha e os dois irmãos de volta do túmulo. Mas eles estão deteoriando rapidamente, derretendo. E só carne e sangue pode salvá-los. 

E olhe só, lá vem os turistas!

É um filme B nas páginas de um livro! Uma montanha russa de terror para fazer seu coração explodir de medo e sua barriga doer de tanto rir! 

"... Uma das melhores histórias de zumbi que já li..." - Peter Schwotzer, Famous Monsters of FIlmland Magazine. 

IdiomaPortuguês
EditoraCreativia
Data de lançamento15 de dez. de 2017
ISBN9781386273011
O Derretimento dos Mortos Vivos

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    O Derretimento dos Mortos Vivos - Doug Lamoreux

    UM

    Sem querer soar rude, Angela parecia ter sido puxada por um buraco. Seus olhos flutuavam em bolsões de carne inchada e rosada, lágrimas marcavam suas bochechas e um borrão manchava sua mandíbula. Seus cabelos estavam oleosos e desgrenhados, suas roupas imundas, rasgadas, manchadas de sangue e até queimadas em alguns pontos. Sim, queimadas. E ela estava correndo como nunca havia corrido. Colina acima em meio ao bosque, sem ar, com dor em todos os músculos, ela corria com a pouca força que lhe restava. Não lhe restava um único passo, mas ainda assim, ela corria, ofegante, lançando olhares aterrorizados para a escuridão atrás dela.

    É difícil descrever o negativo, mas enquanto ela corria, não havia à sua volta nenhum dos sons normais da noite. Nenhum animal noturno correndo nas moitas, nenhuma criatura rastejando pela grama, nada revoando no ar noturno. Nem mesmo grilos. Nada além da noite e os sons de sua própria respiração ofegante e seus próprios pés - e os horrorizantes sons da coisa que a perseguia.

    Ela se movia rapidamente pela mata atrás dela. Folhas farfalhavam e galhos quebravam aos seus passos trôpegos enquanto ela pisoteava a trilha de barro. Sua respiração arfante e encoberta tocava como uma macabra música tema, Suite for String Orchestra, Tubular Bells, Malcolm is Dead; música para se gritar, música para se morrer. Aí vinha a ponte, musicalmente falando, conforme o ofegar dava lugar a um uivo gutural. A coisa estava logo atrás, no seu encalço, e se aproximando.

    Tudo parecia perdido... quando a alvorada chegou.

    Angela sentiu um surto de esperança quando vívidos raios alaranjados, brancos e dourados irromperam pelas árvores. Mas aquela esperança era fugaz. A cavalaria não viera a tempo. Não era a luz da salvação. Não, era a alvorada dos mortos. Lançava longas sombras pela mata enquanto simultaneamente iluminava de forma agourenta uma clareira adiante, como um holofote de palco. Luzes, temia ela, sobre o ato final do teatro de sangue. Angela não tinha escolha. Ela saiu da trilha, atravessou a clareira em oito passos apavorados e então, suspirando em um misto de terror e exaustão, parou sem ter mais para onde correr.

    -Não!

    Ela recuperou o equilíbrio na borda de um penhasco rochoso. Engoliu seco e olhou boquiaberta para o penhasco, absorvendo a queda de 30 metros rumo ao rio abaixo. Sua mente fraquejou. Seu estômago se embrulhou. Involuntariamente, ela deu um passo para trás. Seus sentidos cognitivos levaram um momento para acompanhá-la. Ela estava encurralada.

    Ela se virou para olhar novamente além da clareira, para o bosque colina abaixo. Relaxou os braços, cerrou os punhos e lutou para controlar sua respiração. Estava com medo? SIM! Ainda assim... se era esse o fim, decidira naquele momento, deixaria que ele viesse. Era Angela Roskowic, não era? A menina do seu velho? Encararia isso como encarava cada desafio em sua vida: de frente.

    A brisa matinal a resfriava, soprava seus cabelos e suas roupas rasgadas, espalhava suas gotas de suor, eriçava sua pele e lançava um calafrio por sua pequena e atlética forma. Atrás dela, Angela ouvia a correnteza. Na linha da mata, diante dela, ouvia o quebrar dos galhos e o estalar das folhas que anunciava a chegada de seu perseguidor.

    A coisa emergiu das árvores.

    ––––––––

    Angela gritou - e acordou em um pulo. Como as heroínas faziam nos velhos filmes de terror que ela tanto amava. Ela olhou para seus arredores na escuridão e, finalmente, os reconheceu; sua própria cama, em seu próprio quarto, em seu próprio apartamento. Angela recuperou o fôlego. Era apenas um pesadelo. O pesadelo... outra vez. Pela quarta noite seguida. Por quatro vezes a coisa urrante a perseguira pela mata até o penhasco. Por quatro vezes se vira encurralada e diante da morte. Quatro vezes acordara aos berros.

    Estava um caco no sonho e, com certeza, parecia ainda pior agora que havia passado. Angela se sentou encharcada, sua camisa de flanela grande demais grudando no suor, seus cabelos emaranhados, sua respiração ofegante, com um rio de saliva escapando pela lateral de sua boca. Ugh, linda. Ela limpou o queixo com a manga e tombou novamente sobre o travesseiro molhado.

    Como a maioria das atrizes, dos diretores e das pessoas do teatro, Angela era uma pessoa noturna, não muito boa durante o dia. Encarar o mundo normal já era desafio o bastante. Agora, com suas noites arruinadas por sonhos malucos... Ugh! Quem precisava disso? Ela deitou lá, acalmando sua respiração, esvaziando sua mente, desejando que seus músculos relaxassem. Olhou para o relógio de cabeceira e resmungou com prazer. – O que quer que faça, – ela disse para si mesma em voz alta – Não caia no sono novamente. Está na hora de fazer umas rosquinhas.

    Danem-se os pesadelos. Ela tinha lugares para ir, pessoas para visitar. Se não se mexesse logo, Angela sabia que o dia acabaria sendo uma longa viagem pelo inferno.

    Quatro horas depois, após uma ducha, um folhado com confeitos aquecido na torradeira e algumas tarefas de última hora no teatro (as quais havia procrastinado no dia anterior), com uma xícara de expresso afastando o que restava de seu pesadelo e seu Maverick confortável-como-um-sapato-velho cruzando os últimos dos 320 quilômetros desde a Cidade dos Ventos, Angela dirigia por Savanna, uma pacata cidadezinha no noroeste de Illinois, na margem leste do Mississipi. Se tinha lido o mapa direito, estava quase chegando em seu destino.

    Na última reunião da Guilda de Diretores de Chicagoland, um dos seus grandes pensadores, tratando da questão de onde fazer sua próxima convenção, audaciosamente sugeriu um retiro para a natureza, longe da cidade. Uma Fuga Teatral, como ele disse. É claro, com a exceção da gravação de um filme na Curva Sul, ele nunca esteve a mais de 10 quilômetros do coração da zona metropolitana. Outra pessoa teria que preparar as coisas. Angela, como, primeiro, a secretária do comitê e, segundo, a única membra a não estar na reunião, foi nomeada e imediatamente eleita. Não tinha mais experiência com a natureza do que os outros, mas isso a ensinaria a não faltar nas reuniões.

    Isso foi cinco dias atrás. Quatro infrutíferos dias de ensaio se seguiram, com um diretor convidado que fazia Scrooge parecer amigável e aberto, e um elenco de jovens atores saídos diretamente de A Cidade dos Amaldiçoados. Cada dia seguido por uma noite de sono horrível e o pesadelo recorrente. Quatro noites sendo perseguidas em um sonho sem sentido. E era sem sentido. Que sonho, afinal, poderia ser mais horripilante do que o aterrador mundo do teatro? Além disso, Angela era vidrada em filmes de terror. Monstros não lhe davam medo, ela os achava um barato. Era doida por tudo de gótico. Então porque andava tendo pesadelos? Porque um pesadelo na floresta? Não tinha medo da mata, só não queria nada com ela. Era uma garota de Chicago, de nascimento e de criação, e não ia a lugar algum que não tivesse água encanada. E qual era a da coisa escura e sem rosto em seu encalço? Cago era cheia de coisas dispostas e ansiosas para te perseguir. Não precisava dar uma volta na floresta para isso. Mas o que mais incomodava Angela no sonho era sua própria condição em frangalhos. As roupas rasgadas eram um absurdo; ela tinha pena do cara que tocasse nela sem seu consentimento. Igualmente, sua exaustão onírica era completamente ridícula. Quando ela não estava em um espetáculo, preparando um espetáculo ou vendo um filme assustador, Angela se mantinha em forma fazendo maratonas (o desafio pessoal do esporte lhe dava um barato). Ela podia ter que ficar na ponta dos pés para olhar por cima de uma cerca de um metro e meio, mas conseguia pular por cima de uma sem esforço. Precisaria de uma baita corrida para deixá-la tão completamente acabada. O sonho não fazia sentido.

    De qualquer maneira, o pesadelo estava atrás dela e da viagem vindo da cidade. O motivo da viagem agora podia ocupar sua mente: a missão a ela imposta de sondar o mato por um lugar para o retiro. Mas também poderia estar em uma viagem ao lado distante do Sol. Fora de sua zona de conforto, ela dirigia por Savanna sentindo-se como se tivesse entrado no macabro território da cidadezinha de A Mansão Marsten ou quem sabe da de Sonhos Alucinantes. Naquela hora da manhã, as calçadas estavam praticamente vazias. As poucas figuras desoladas na rua silenciosamente acompanhavam seu progresso pela rua com o olhar deliberado das Esposas Perfeitas. Admitiria de bom grado que não estava sendo justa com os moradores locais, mas não conseguia não sentir o que sentia. Em Chicago, um milhão de pessoas poderia passar por você, mas nenhuma te daria a mínima. Mas naquela pequena cidade ribeirinha... Não era que Angela se incomodasse com a atenção, é só que preferia estar no palco interpretando outra pessoa quando ela viesse.

    Na curva fechada no meio da cidade, entre a Igreja Luterana e o Corpo de Bombeiros, Angela passou por uma placa que dizia ‘Marina’. Em um telefonema três dias antes, fora informada especificamente para passar pela placa e pela marina por um persistente e tagarela manda-chuva da Administração de Parques, e continuar seguindo rumo norte. Ela passou por dois semáforos, ao todo, e já se viu saindo da cidade. Belos costões rochosos com penhascos íngremes - não muito diferente do seu sonho - ficavam à direita da via expressa. As Palisades, segundo o seu mapa. Aí, felizmente, à esquerda estava a placa pela qual procurava. Apesar de não fazer nenhum sentido, ela virou à esquerda na Marina Road (que ela agora sabia não levar para a Marina), atravessou uma série de trilhos ferroviários e estacionou no terreno de cascalho de um lugar chamado Miller’s Landing.

    Adiante, até onde conseguia ver à esquerda e à direita, fluía uma via super-expressa de água cinza-esverdeada, o grande Rio Mississipi. Angela havia chegado.

    De certa maneira, como Angela logo descobriu, os boonies eram governados pela máxima de ‘ande logo e espere’, como na cidade. Ela se forçou a sair da cama, escapou da loucura da cidade, guiou o velho Maverick estado afora e chegou em segurança, só para encontrar a porta trancada e o escritório vazio. Cogitando suas opções, ela olhou para os barcos boiando, os trapiches de madeira e a rampa de concreto rumo à água (para lançar barcos, imaginava). Alguém chamado Arthur deveria estar à sua espera para levá-la em um passeio de barco. Não havia uma alma viva à sua volta. Como, se perguntava, chegaria à ilha?

    Um retiro em uma ilha; era para isso que estava levando os diretores de Chicagoland.

    Antes daquele momento, o mais perto que Angela estivera do Mississipi fora em uma turnê de quatro semanas de Show Boat no verão. Agora, finalmente, ela via o rio de verdade e o via vir à vida. Havia pássaros por toda parte, grandes pássaros brancos-e-pretos que pareciam com pelicanos e aves majestosas que certamente eram águias (embora ela não soubesse diferenciar Douradas de Carecas), voando umas sobre as outras acima. Nas rochas ao lado e sob as docas, sapos coaxavam, cobras sibilavam e por toda parte, as criaturas ocultas da natureza saltavam, rastejavam e faziam sua presença ser vista. Ela não conseguia ver os bagres gordos e os picões-verdes nos fundos ao longo da costa, mas lá eles estavam. Conseguia ouvir os achigãs rompendo a superfície jogando água para os lados e, embora ela soubesse que eram meros peixes, Angela se perguntava se não estariam mostrando as barbatanas para os poucos pescadores visíveis subindo e descendo a trilha. As rápidas correntezas do rio batiam na costa de Illinois e de Iowa (era Iowa do outro lado, não?). Balsas, monstros enferrujados de metal plano adormecidos no ancoradouro, aguardavam o começo do dia de trabalho. Era tudo um tanto fascinante. Mas um olhar lhe dizia que, embora o Velho Homem Rio podia estar só seguindo em frente, ele estava muito bem acordado, amplo, longo, rápido e frio demais para nadar. Como em seu pesadelo, Angela estava encurralada e não tinha escolha. Teria que esperar, na esperança de que Arthur e seu barco dessem as caras.

    Resignada, comprometida e agora com a mente livre, Angela ouviu música. Dos rádios e transmissores nos barcos e balsas ao longo da água, conforme o jingle de um programa de rádio local dançava pelo ar do vale do Mississipi. – W-O-M-R. Rá-di-o Velho Homem Rio! – ela ouvia o jingle animado de ao menos um dos carros, ou caminhões, ou trailers no estacionamento. Provavelmente estava ouvindo a transmissão o tempo todo, mas tinha bloqueado. Afinal, quem ouve os comerciais? Agora a ouvia claramente, o primeiro sinal de vida civilizada que a garota da cidade ouvia naquela manhã.

    Conforme a música morria, retumbava a voz rouca de uma apresentadora. – Sim, está na hora, pais e mães, meninos e meninas... – Três maços por dia, Angela chutou. – Aqui é a sua charmosa e encantadora velha Tia Sal. E logo ali, enfiando outro pão de canela na sua fuça, está meu cumpadre, o pequeno e catarrento Eddie. Oi Eddie!

    - Dia, Tia Sal – veio a resposta risonha, pelo ar, das profundezas do estúdio.

    ––––––––

    Sal Cartwright, a mais famosa apresentadora de rádio em Savanna, não só soava como um sapo como parecia com um e estava sentada em sua cadeira na WOMR desde que as rodinhas de treino saíram da carruagem de César. Eddie Lanfair, seu co-âncora com o cabo do headphone esticado ao limite e a boca  entupida dos doces do carrinho de lanches do estúdio, estava com ela por metade deste tempo.

    - Nesta linda manhã, – Tia Sal coaxou, movendo o braço flexível do microfone acima de sua mesa para mais perto de sua boca, – temos que começar com um alerta.

    Se engasgando com uma bocada pegajosa e lambendo os dedos, Eddie correu de volta ao seu assento e disse ao microfone, – sabe, soa sério, Sal.

    - Uou, calma com a aliteração, pequeno Eddie, você vai se machucar. Mas sim, um alerta. Queremos informar nossos fiéis ouvintes que o extremo sul do Lago Treze do Mississipi estará fechado hoje.

    - O quê?! - Eddie perguntou, fingindo surpresa.

    - É isso mesmo, Edinho, – disse Tia Sal, sondando o release de imprensa em suas mãos. Ela sacudia o papel diante do microfone para efeito dramático. – Diz bem aqui... Sem fluxo pelas comportas devido a drenagem abaixo de Rock Island.

    - O rio nunca fecha, Tia Sal!

    - Fecha hoje, seu rato mentiroso. O Lago Treze está aberto para recreação, a eclusa de Bellevue está operando normalmente e o rio está aberto ao norte para comércio, mas não viaje para o sul hoje, pois não tem como passar da ilha. E a eclusa Clinton está fechada para o trânsito.

    Eddie pegou seu kazoo e soprou um suspiro rouco.

    - Sim – Sal Concordou, pegando outra folha. – É triste. Mas eis aqui outra história da NP para te animar.

    - Oh, puxa, o que é?

    - Bem, Pequeno Eddie, parece que teremos uma chuva de meteoros hoje de manhã.

    - Ei, uma fogueira nos céus, isso é legal!

    - Oh, pera, pera. Não, não é. Diz aqui que... provavelmente não veremos.

    Eddie soprou seu kazoo outra vez.

    - Sim, triste – Sal concordou. – Meteoros atingem a terra o tempo todo, dizem os especialistas, mas seu espetáculo noturno é aparentemente um fiasco à luz do dia - O que foi? – Interrompida, Sal ergueu o olhar e olhou através do vidro acusticamente isolado de 1,20 por 2,40m que separava ela e Eddie, na cabine, do engenheiro na sala de controle do outro lado. – Estou sendo corrigida pelo meus fones de ouvido. Erwin, o super gênio graduado pelo MIT que cuida a mesa de som dessa estação de rádio ferrada em Savanna está me corrigindo. Ele diz que eles não são meteoros se eles atingem a terra. Só um segundo. – Ela pôs uma mão sobre o headset que cobria seu ouvido. Os lábios de Erwin se moviam por trás do vidro. – Certo, ótimo. Você pode voltar a dormir, Erwin. Tudo bem pessoal, vamos aos fatos.

    - O 411? – Eddie se intrometeu.

    - Não seja metido, Eddie. Eu estou dando aos nossos bons ouvintes o furo quanto aos meteoros e você está dando uma de asteróide.

    - Foi mal.

    - Sim, foi mal mesmo. Mas voltando ao assunto. Se esses objetos voadores nos atingirem, isso é, o planeta Terra...

    - A grande bola azul?

    Sal o encarou como uma faca. Eddie murchou e ela prosseguiu. – Se eles atingirem, os objetos são meteoritos. Mas isso é raro. Meteoróides, é assim que eles se chamam quando estão no espaço. Meteoróides geralmente queimam na nossa atmosfera.

    - Minhas róidas sempre estão em chamas.

    - Calado, esquilo!

    Eddie interrompeu seu próprio riso, subitamente confuso . – Bem, espera um pouco, o que é um meteoro então?

    - Um meteoro é - Calado Erwin, eu sei isso. A cauda flamejante do meteoróide é o meteoro.

    - Sério? – Perguntou Eddie – Isso é tão confuso.

    - Só para você. Estas pedras espaciais em chamas são uma belezura à noite, como dizem. Mas em uma manhã iluminada como essa, nem tanto.

    - Uau – disse Eddie sem muita empolgação. – Então, se não vai dar para ver, por que diabos estamos falando disso?

    - Opa – disse Sal, fingindo preocupação – Bote uma modinha no jarro da boca suja, Eddie!

    - Por quê? Só por dizer diabos?

    - Sim senhor. Pode pagar duas vezes por repetir, seu cabeça oca!

    ––––––––

    Sal e Eddie tinham ouvintes de Dubuque, Iowa, à Moline, Illinois, dos dois lados do rio e nos barcos entre eles. Mas quatro indivíduos em particular não estavam cientes da transmissão daquela manhã.  Estes quatro, ocupantes de um velho furgão Econoline que entrava no Posto de Gasolina e Loja de Conveniência Bait&Switch no extremo norte dos cafundós de judas de Sabula, Iowa, estavam sufocando seus sentidos com o frenético Beat on the Brat dos Ramones. O furgão parou aos solavancos junto a uma das bombas. No veículo, uma mão passava entre os assentos para silenciar o toca discos. O rádio tomou conta e Tia Sal continuou a humilhar Eddie com o suave tom de um caminhão de brita. – Enquanto você paga, sua aberraçãozinha – Duas moedas tilintaram em uma pilha de trocados (presume-se, em um jarro de vidro) e Sal voltou a falar. – Agora sim, Língua de Esgoto. Agora que resolvemos isso... Em nome dos nossos patrocinadores, Lago 13 Piscinas e o Salão de Tatuagem e Bar do Fuleiro, eu posso dizer aos nossos ouvintes que estamos à espera de chuva hoje à tarde e mais chuva à noite. Mas, por hora, é uma bela manhã de sábado no plácido Mississipi.

    A ruiva ao volante - estarrecedora não só por seus belos cabelos mas também por sua pele pálida como um fantasma e o anel em seu nariz -  apertou o botão de força do rádio e o tirou de sua miséria. Seu nome era Norene e, dos quatro, ela era a que mais parecia um ser humano. Mas ela estava desesperadamente nervosa e não aguentava mais ruído. Os outros - Dex, seu namorado, estalando as juntas e respirando ruidosamente no banco do passageiro, Gar, o líder e Falcon, a namorada de Gar, carregando e armando suas pistolas nos fundos - eram uma visão plenamente macabra com cabelos pavorosamente tingidos, roupas de couro preto, maquiagem pesada, tatuagens e piercings; todos pesadelos góticos. E todos agitados como gatos.

    - Deixe rodar e esteja pronta. - Gar disse à Norene. A lente de contato reptiliana em seu olho esquerdo e seu colar de pé de galinha a perturbavam. Ela assentiu e afastou o olhar. Gar se virou para os outros. - Todo mundo fique calmo. Não vão às compras. Se atenham ao plano e isso será brincadeira de criança. - Falcon e Dex assentiram em conjunto. - Vamos nessa. - Gar abriu a porta lateral do furgão com força e ele e Falcon saíram correndo. Dex deslizou pelos assentos da frente e os seguiu com tudo.

    - Cês tomem cuidado - Norene declarou em um encantador sotaque sulista. Como crianças brincando, eles correram pelo estacionamento em um desfile insano.

    Dex os ultrapassou, chegou na loja primeiro, forçou a porta ante um sino acolhedor e a segurou. Gar e Falcon, brandindo suas armas, correram para dentro. Do furgão, Norene ouviu Gar gritar Levantem eles. Aí Dex desapareceu lá dentro também.

    DOIS

    ––––––––

    Acredite se quiser, mas quando os bandidos entraram na loja, Billy Pratt, o caixa, ficou com mais medo da maquiagem e das roupas deles do que de suas armas. Já havia sido assaltado antes, com armas que iam de - juro por Deus - um taco de basebol a uma motosserra. Já tinha visto muitas armas, mas nunca tinha visto nada como essas pessoas. Aberrações, era isso que eram. Dejetos da sociedade vertendo pela porta com pistolas em punho. Billy não lidava com aberrações.

    - Enche. - Falcon gritou, jogando um saco de pano vazio em sua direção. - E sem gracinhas.

    Couro, tatuagens, piercings e tinta. A mulher estava falando sério. Ao menos Billy achava que era uma mulher; algum tipo de mulher da selva ou uma vadia motoqueira. Billy não sabia muita coisa, mas sabia quando fazer o que lhe mandavam. Ele apertou um botão na caixa registradora, ding, e a gaveta se abriu.

    Dex deu a volta por trás do balcão e o empurrou. É claro que Billy não sabia o nome do sujeito. Tudo que ele sabia era que era um grande Afro-Americano (os outros pareciam brancos) vestido de couro, com espinhos na garganta e nos pulsos, e que era bem familiarizado com uma academia de musculação. O sujeito não disse 'Boo', só começou a escolher coisas nas prateleiras: maços de cigarro, caixas de charutos, garrafas de uísque e uma de vodka (Billy não sabia disso, mas vodka deixava Norene excitada). O butim desapareceu dentro do saco de Dex tão rápido quanto ele o apanhava.

    Falcon saltou por cima do balcão, jogando no ar cupons do Circo da Capela, o conteúdo de uma bandeja 'Precisa de uma moeda, pegue uma moeda' e compras de impulso que iam de camisinhas a caramelos. Ela caiu em pé do outro lado, esmagando a chuva de amendoins, chaveiros e horóscopos em miniatura sob suas pesadas botas de salto. Abrindo seu próprio saco, ela agarrou um dos displays de loteria. Sem tempo para desenrolar os tickets, ela simplesmente levou todo o rolo de plástico.

    - Seus bostinhas!

    O grito, dos fundos da loja, deu um susto em todos. Eles ergueram o olhar e viram um homem gordo de uns 50 anos vindo com tudo da sala de estoque, passando pelo corredor de chicletes e pastilhas com taco de Louisville sobre o ombro. Esse era Ferenc Blasko, o dono da loja, e por Deus, ele estava bravo. Sem ser visto, Gar, de tocaia para um caso desses (na visão de Falcon), vadiando inutilmente perto dos Zingers (na opinião de Dex) viu Blasko chegando. Gar usou a coronha de sua arma para nocautear o velhote e o mandou trôpego contra um display. Blasko caiu no chão em meio a uma chuva de antiácidos e carne seca.

    Dex apressou suas atividades. Falcon pausou seu furto para aproveitar a violência. Ela lançou para Gar um sorriso de prazer sádico e, aproveitando a onda de adrenalina, se virou para

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