Experimentos com Ratos
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Sobre este e-book
O mundo se tornou uma merda de aeroporto internacional.
Pol Pot, Idi AMin, Saddam Husseim e Stalin são um grupo de ratos presos numa caixa transparente. Eles são veteranos de experimentos científicos. Já o viram em todas as cores. Para eles, eventualmente, descargas elétricas se transformaram numa espécie de deidade desconhecida. Eles não sabem muito bem como interpretar o que significa tanta dor. Um dia, uma seção particularmente intensa acabou com eles. Morreram. Isso os permitiu passar para o outro lado e visitar o cientista que estava experimentado com eles todo esse tempo. Eles tem algumas questões à fazer. E querem muitas respostas.
Sociedade Hispânica de Autores e Editores (SGAE) Prêmio de Teatro 2007.
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Experimentos com Ratos - Antonio Morcillo Lopez
Experimentos com ratos
Personagens
Pol Pot, rato macho branco
Stalin, rato macho branco
Idi Amin, rato macho branco
Saddam Hesseim, rato macho branco
G., cientista, cinquenta e três anos
Pena, sua mulher, quarenta e cinco anos,
Leonor, filha de Pena e G., seis anos.
Mila, amante de G., trinta e três anos
Caixa retangular de cristal.
Num canto, um pequeno recipiente com água e comida.
Idi Amin, Saddam Husseim, Stalin e Pol Pot com vários eletrodos espalhados pela cabeça e pelo corpo, estão juntos e quietos no centro. De repente, Pol Pot se separa de grupo e caminha lentamente até o outro extremo. Se detém. Se move, quase imperceptivelmente. Se detém. Volta a andar, desta vez em círculos. Depois de repetir este movimento várias vezes, recebe uma descarga elétrica que o paralisa e o deixa caído no chão, com as extremidades abertas e crispadas.
Pol Pot
O mundo está se transformando na merda de um aeroporto internacional.
As ruas são como terminais. As pessoas, pessoas e mais pessoas
que se comportam como se estivessem esperando um voo que não chega, que não chegará nunca.
Já não se respira, se almeja. Seus olhos refletem amplos vitrais.
Caminham isoladas umas das outras, com quem caminham todos dias.
As ruas são como terminais.
Não se tocam, não se olham, não se escutam.
Qualquer conversa é com fazer um checkin.
Todos levam algum tipo de aparelho eletrônico para se proteger.
Fones de ouvido, telefones, computadores.
Se um homem se encontra com uma linda mulher em um parque
e pergunta: Como você se chama?
Ela responde: Passaporte, por favor. Leva bagagem?
Se ele diz: Posso convidá-la para ir ao cinema? Para tomar uma cerveja?
Ela responde, sem olhar para ele: Leva, o senhor, algum objeto cortante? Algum líquido? O senhor é um terrorista? Poderia me responder, se o senhor é assim tão educado, se há uma bomba no interior da sua mala? Tire o computar, por favor. Agora mesmo.
E se ele insiste perguntando a ela sua idade, onde vive, quais são seus hobbies,
ela pode chegar a gritar, o ameaçando com o punho: Levante os braços, tire o sinto e os sapatos, tire as roupas, senhor, se não quer que eu o prenda aqui mesmo!
As cafeterias são como portões de embarque.
Qualquer conversa é como fazer um checkin.
Não existe a banalidade. Uma piada pode mudar sua vida. Uma olhada de soslaio,
uma impertinência e você pode ser interrogado sem compaixão durante semanas encarcerado numa prisão secreta a dois mil pés de altura. Ocorre. Acontece.
Há controles de segurança a cada cinco minutos, cada cinco metros.
O mundo se converteu num exaustivo controle de segurança incapaz de controlar-se.
No entanto, as pessoas
podem fazer muitas coisas, as pessoas podem perder as estribeiras,
podem mijar no meio da rua e ficarem nuas e cair numa farra
que deus me livre, mas é terminantemente proibido não reconhecer alguém, como se chama, quem são seus avós, seus pais e onde vos pariu suas mães.
O consenso sobre a identidade é base da convivência. Ponto.
Tem que estar completamente seguro de que se é ou do contrário.
Ou do contrário. Ou do contrário. Ou do contrário.
Tem que saber responder as mesmas perguntas da mesma maneira.
A inércia lhe irá salvar a vida. A robotização lhe dará uma alma. Se não.
Se não pode responder as mesmas perguntas da mesma maneira,
não há como salvar-se, pode perder o bem que mais aprecia. Ou seja.
Deve reproduzir o produzido. Com fidelidade. Com paixão.
Tudo é gravado e reproduzido. Não existe o consentimento.
Tudo é uma montagem. Existe o submetimento.
Não existimos. Não somos uma prioridade para ninguém
Se fossemos uma prioridade para alguém, não nos estorricariam da maneira como nos estorricam, de maneira assim tão, tão, tão, tão, tão, tão, tão, tão, tão, tão, tão, tão, tão, tão fácil.
Fodas. Eu estou pouco me fodendo pra essa merda.
Se existíssemos, seríamos uma prioridade para alguém - me cagando pra