Design, Projeto e Linguagem: Uma Reflexão para a Educação Superior
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Design, Projeto e Linguagem - Ana Lucia Gimenez Ribeiro Lupinacci
Às figuras de autoridade que me marcaram, profissional e pessoalmente, para além de espaços e tempos socialmente delimitados e que, por isso, chamo-os mestres. A estes, retorno e me fortaleço para seguir a meu modo. Especialmente, a meus pais, Almir e Irma, em memória.
À Luciana e à Livia, luz da minha vida.
Ao Marcio, por tudo e tanto.
AGRADECIMENTOS
Ao professor doutor Nilson José Machado, pela orientação firme e presente em meu doutorado, pela generosidade absoluta, pela amizade fraterna que permanece. Agradeço e explicito aqui minha admiração.
Aos meus alunos, estudantes das várias universidades em que trabalhei, hoje profissionais do design e seus tantos desdobramentos. Por vocês, minha estima e respeito.
À Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM) — instituição de vínculo profissional e de afeto. Meu agradecimento por quase duas décadas de trabalho e convívio, pelas condições de crescimento profissional, intelectual e sensível. Aos meus diretores, pares, assistentes e, especialmente, à equipe docente do bacharelado em Design Visual, pela honra de liderar desde o início e por tantos anos, intensos e memoráveis.
Aos professores doutores Maria Aparecida Baccega, Mayra Rodrigues Gomes, Marcos da Costa Braga e Marcos Ferreira Santos, pela participação em minha banca de doutorado, pelas contribuições que foram além e pela indicação para publicação da minha tese. E, em memória, a Élide Monzeglio e Mario Chamie.
Ao fundamental designer Alexandre Wollner.
Aos colegas e amigos do SEED — grupo de estudos e pesquisa na FE-USP sobre Epistemologia e Educação, coordenado por Nilson José Machado e Marisa Ortegoza Cunha. Grata pelo incentivo do grupo, carinho e por me fazerem ver a beleza da matemática.
À editora Appris e sua equipe.
Fica aqui a gratidão, palavra-tudo, como registrou Carlos Drummond de Andrade, a tantos queridos — familiares, amigos — com presença especial na minha vida.
Eu quisera ver o mundo
Como o vê Sergio Bernardo
Ver no mundo os muitos signos
Que vigiam sob as coisas
Sentir, sob a forma, as formas
Os segredos da matéria
Mais a textura dos sonhos
De que se forma o real
Ver a vida em plenitude
E em seu mistério mais alto
Decifrar a linha, a sombra
A mensagem não ouvida
Mas que palpita na Terra
Eu quisera ter os olhos
Que assim penetram o arcano
E o tornam (poder da imagem)
Um conhecimento HUMANO
(Eu quisera ver o mundo de Carlos Drummond de Andrade)
PREFÁCIO
Está em vigor, no estado de São Paulo, há alguns anos, uma lei que cria uma disciplina intitulada Projetos de Vida, a ser incorporada aos currículos da escola básica. A despeito da oportunidade da apresentação aos alunos da temática do projeto de vida, ou do propósito da vida, seria necessária uma discussão sobre a ideia de projeto, uma vez que um projeto de vida não pode ser entendido de maneira técnica, como um projeto de engenharia ou arquitetura.
Uma carência similar pode ser associada ao ensino superior, com a proliferação dos usos da palavra design, que tem uma interface muito fecunda com a ideia de projeto. As relações entre as duas palavras, no entanto, têm sido tratadas de modo excessivamente esfumaçado. Particularmente no que se refere à palavra design, o espectro de usos abrange de produtos a processos, ou da relação entre forma e função na criação de produtos até as metáforas inspiradoras na criação de processos.
Este texto preenche de modo consistente tal lacuna.
Com abrangência e profundidade, a autora oferece-nos uma reflexão oportuna sobre design, em suas relações com a ideia de projeto e com a arquitetura dos processos pedagógicos na educação superior. Apesar de uma etimologia fecunda, em que são estabelecidas interfaces com as ideias de desenho, de desígnio, de designação, é no confronto direto com a ideia de projeto que o significado da palavra design se esclarece e se consolida.
A narrativa proposta pela autora é instigante e sofisticada, lastreada em uma rica experiência profissional, que se evidencia a cada linha. O texto propicia-nos uma viagem pelos mares da semântica e da pragmática da referida expressão, que se enraíza em neologismos sugestivos, cada vez mais presentes em diferentes contextos. A profissão de designer ou os processos de design thinking são apenas dois exemplos mais explícitos.
Com a naturalidade de quem é do ramo, a autora reflete criticamente sobre polaridades fecundas e/ou metáforas inspiradoras, atinentes e constitutivas da temática em questão. Alguns exemplos são os pares luz e sombra, teoria e prática, razão e sentimento, racionalidade e sensibilidade, função e forma, Ética e Estética, Artes e Ofícios/Belas Artes, Indústria e Arte, entre outros, que se entrelaçam e propagam a cada momento.
Consciente do fato de que não se está, em qualquer das polaridades apontadas, diante da necessidade de uma escolha entre um dos dois elementos do par, mas da construção de um equilíbrio dinâmico entre eles, Ana Lucia recorre a autores particularmente inspiradores de perspectivas de síntese, como é o caso de Michael Polanyi, na epistemologia, e de Gropius, nos mares da arquitetura e da arte. O caso de Gropius, criador da Escola Bauhaus (1919), é um exemplo notável, analisado com profundidade e clareza ao longo do texto.
É importante destacar o fato de que, a despeito das viagens por mares teóricos inspiradores, é permanente a preocupação da autora com o significado educacional de sua produção para a estruturação e o funcionamento do ensino superior. São muito ricas e inspiradoras as explorações que dizem respeito à arquitetura de currículos acadêmicos, bem como as que preparam o terreno para a resposta às avaliações externas, nem sempre em sintonia com os projetos político-pedagógicos das instituições avaliadas.
Nesse terreno, o fato de a autora ter participado diversas vezes de comissões avaliadoras em nível federal contribui decisivamente para a serenidade das análises realizadas. Em razão de tais fatos, não temos dúvidas em afirmar que o texto aqui apresentado representa uma importante contribuição para levar mais consistência às necessárias reflexões teóricas desenhadas — ou designadas — e orientar práticas acadêmicas no ensino superior. Certamente enriquecerá o catálogo da editora.
São Paulo, maio de 2021
Nílson José Machado
Professor titular (sênior) livre-docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
APRESENTAÇÃO
À alegria e responsabilidade do escrever segue-se a consequência do publicar, no sentido de compartilhar e desacompanhar o conteúdo que, espero, possa interessar a vários perfis pessoais e profissionais. Desacompanhar para que seja desdobrado e ativado em outras conexões, focos e olhares. Este livro é consequência da minha tese de doutoramento, concluída em 2012, pela Faculdade de Educação da USP. O convite da editora Appris e o aval de seus conselhos científico e editorial, a partir da leitura do original, muito me honrou pelo teor das considerações feitas para publicação. Que ele possa ser colaborativo e afetuoso aos que o lerem, como tantos livros têm sido para mim.
Ana Lupinacci
Sumário
1
INTRODUÇÃO
2
UMA POSSÍVEL RELEVÂNCIA PARA A REFLEXÃO PROPOSTA
2.1 SOBRE A IDEIA DE DESIGN
2.2 SOBRE A IDEIA DE PROJETO
2.3 SOBRE LINGUAGEM E DESIGN
3
POR ONDE E COMO CAMINHAR RUMO AO QUE SE INTENCIONA?
4
DESIGN: ENTRE O CONCEITO E A PRÁTICA, A IDEIA DE PROJETO
5
DESIGN, PROJETO E ENSINO: EXPERIÊNCIAS MATRICIAIS
5.1 BAUHAUS – CONTEXTO E PROJETO NAS VANGUARDAS EUROPEIAS DO INÍCIO DO SÉCULO XX
5.2 BAUHAUS NA AMÉRICA: A EXPERIÊNCIA EM CHICAGO
5.3 O PROJETO ULM (1954-1968): CONTINUIDADE OU RUPTURA, EIS A QUESTÃO
5.4 DESIGN E EDUCAÇÃO FORMAL EM SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO: PONTUAÇÕES
6
DESIGN CONTEMPORÂNEO, ATITUDE MODERNA: PROCURA-SE
6.1 RELEMBRAR, REMEMORAR E ELABORAR
7
MODOS DE FAZER E PERCEBER DESIGN
7.1 DEPOIS E ALÉM
8
UM PARALELO PARA EXPLORAR AS DIMENSÕES EXPLÍCITA E TÁCITA DO CONHECIMENTO
8.1 CHIAROSCURO, SFUMATO E CONHECIMENTO TÁCITO
8.2 COMO NASCE UM PROJETO PEDAGÓGICO?
8.3 COMO SE ORGANIZA UM CURSO DENTRO DA VIDA DE UMA IES
9
CONSIDERAÇÕES FINAIS E UMA SÍNTESE PROVISÓRIA
REFERÊNCIAS
1
INTRODUÇÃO
Falar sobre design e projeto liga-nos à ideia de futuro, configuração, plano, desígnio; não temos como pensá-los de outra forma. Design, diseño, disegno liga-se à história das culturas e da comunicação. O mundo dos artefatos cotidianos e da visualidade nos conecta com a noção de design e de comunicação visual, mas é no âmbito industrial/mecânico, a partir do século XVIII, que tivemos a emergência da expressão ligada a um fazer técnico. O design moderno, o desenho industrial
foi pensado como concepção e produto.
Hoje, as demandas do pós-industrial vêm conduzindo ampliações e redirecionamentos desse modo de pensar, fazer e sentir. Design como atividade cultural, ligada ao cotidiano, ao desenho de todo dia, às novas tecnologias, ligado ainda a valores e sentidos de um grupo, organização e até mesmo de um país.
O design tem seu marco no industrial e na produção seriada em que a ideia de desenho industrial, como forma reproduzida, foi pensada no eixo forma-função. Embora isso, hoje, não seja suficiente aos encaminhamentos e continuidade das reflexões no design, inserido no contemporâneo, é ponto de partida e premissa de um projeto/design. Novas configurações e agenciamentos nos colocam frente a produtos, serviços, causas, territórios como também a suas fronteiras. Arte, Arquitetura, Filosofia, Gestão, Propaganda e Sociologia são alguns dos campos que, em origens, trazem interações e imbricações de âmbitos e de linguagens. Isso afeta a compreensão e o conhecimento acerca da área e, consequentemente, a visão na formação de novos profissionais e, claro, a dos formadores.
Logo no início, procuro trazer a ideia de projeto — fundante no design — de modo a colocá-la em percurso tanto historicizado como expandido, ao aliar e correlacionar concepções, métodos, práticas e algumas das novas interfaces, pois o recurso ao projeto numa visão com aspectos próximos