Miró até agora
De Miró
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Miró até agora - Miró
Nota da 2a edição
Nesta segunda edição de Miró até agora, foram corrigidas datas de publicação de alguns dos livros, a saber: São Paulo é fogo (1987), Ilusão de ética (1995), Flagrante deleito (1998) e Quebra a direita, segue a esquerda e vai em frente (1999). Como na primeira edição, foi respeitada a seleção feita pelo autor, que solicitou ao organizador suprimir alguns textos, além de não incluir os livretos Entrando pra fora e saindo pra dentro (1997) e São Paulo eu te amo, mesmo andando de ônibus (2000). Foi suprimido o poema Geografia Paulistana
, que é um trecho de poema publicado originalmente em São Paulo é fogo.
Foi adotada preferencialmente a grafia com minúsculas e simplificada a pontuação no final dos versos. Na organização dos versos e estrofes, tentou-se aproximar ao máximo do ritmo adotado pelo poeta em suas declamações. Junto ao poeta, também foram revisados alguns versos. A revisão ortográfico-gramatical foi feita apenas nos casos em que se percebeu algum desvio de digitação, respeitando as marcas de oralidade características da poética de Miró.
Wellington de Melo
Nota da 1a Edição
Conheci Miró há 10 anos. Acho que foi em um bar em frente ao Teatro do Parque. Era um final de tarde e eu bebia uma cerveja com Cida Pedrosa. Chegou, sentou, falou da vida, dos últimos recitais e apresentou o livro que acabara de lançar. Comprei um e desde aquele dia me tornei admirador da sua poesia e da forma como a recita. Em 2005, iniciei a construção do site Interpoética e Miró foi um dos primeiros autores publicados. Poemas, fotografias, áudio e vídeo. Foi o início do acervo virtual do poeta. Um dia chamei ele lá em casa e mostrei tudo que tinha dele na internet e ele disse: Velho, muito massa! Legal... De lá pra cá continuei nessa batalha de divulgar sua poesia. Em 2012, organizei o livreto dizCrição. Mil exemplares de um livro artesanal. Um trabalho e um prazer da gota. Apresentei por duas vezes o projeto de edição do livro Miró até agora junto ao Funcultura e não obtive sucesso. Não desisti. Agora, depois de juntar todos os livros, me reunir com Miró para fazer a seleta, revisar por vezes o material digitado, me sinto livre e feliz por ver pronto um livro pensado há quatro anos, a quatro mãos – as minhas e as do poeta Miró –, que merece todas as páginas do mundo.
Sennor Ramos, 2013
Prefácio
Eu pensei que ia morrer ontem, o Poeta me disse. De quê? Não sei. Mas era uma sensação esquisita. Aqui dentro da existência. E passou pro físico: falta de ar, coração acelerado, vista embaçada, boca seca. Depois uma tristeza que eu acho que era a mesma que sentiu meu bisavô quando foi jogado acorrentado nas areias quentes do Porto de Galinhas d’Angola, vindo num porão imundo de um navio negreiro do continente africano pra cá. Terá sido banzo, Poeta? É bem capaz.
Também eu pensei que ia morrer ontem quando nasci com baixo peso e escapei de morrer com menos de um ano de vida, de sarampo, catapora, diarreia, verminoses, deixando de engrossar as estatísticas de mortalidade infantil.
Eu pensei que ia morrer ontem, já adolescente, de tiro, facada, por ser preto, pobre e periférico. Mais tarde por ser tudo isso e mais poeta. Por preconceito. Puta que pariu com tanto P, porra! Pois, pois.
Eu pensei que ia morrer ontem enquanto era moleque de recado na casa de Maurício Silva, Zeh Rocha e Alex Mono, depois das peladas nos campos das várzeas de Santo Amaro das Salinas, quando conheci a poesia de Drummond.
Eu pensei que ia morrer ontem quando escrevi meu primeiro poema depois de ver um policial preto como eu arrastar um moleque preto que nem ele pela ponte da Boa Vista por ter comido um pão que não comprou.
Eu pensei que ia morrer ontem quando vi