O Livro Didático de Língua Alemã no Contexto de Formação de Professores no Brasil
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O Livro Didático de Língua Alemã no Contexto de Formação de Professores no Brasil - Cristiane Schmidt
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2017 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA
Dedico esta obra...
À minha mãe, Dolores Catarina Schmidt,
pelo exemplo de vida e determinação,
que vale mais do que todo o conhecimento que uma escola poderia me dar.
Ao meu esposo, Prof. Dr. Antonio Carlos Santana de Souza,
pela sua dedicação, presença e seu auxílio nos momentos de maior dificuldade.
Aos meus maiores tesouros – meus filhos, Luana e Lucas Benjamin –,
por aceitarem a minha ausência necessária e
serem meus inspiradores para a concretização deste sonho.
Meus agradecimentos para...
Deus, pelo dom da vida e pelas diversas situações,
em que sua presença foi decisiva
para que eu pudesse manter o controle e seguir meu caminho.
Prof. Dr. Ciro Damke, pela sua generosidade em me acolher e me orientar.
Agradeço por acreditar em mim e espero poder seguir seus passos.
Minha amiga do coração, Clarice Engelsing, pelo empenho em me enviar
livros didáticos e teóricos da Alemanha.
Sem essa ajuda preciosa, este livro não teria se concluído.
Meus queridos irmãos, pelas palavras de incentivo
e apoio incondicional nos momentos de maior dificuldade.
Os participantes desta obra – os professores de língua alemã das universidades brasileiras e os autores dos livros didáticos alemães –, os quais contribuíram significativamente para a geração de dados deste estudo.
PREFÁCIO
Devido à participação de diversas raças na formação étnica e cultural, segundo Damke (2013, p. 7), o Brasil é reconhecido por sua diversidade linguística e cultural e o define como um país plurilíngue e multicultural. Da mesma forma, Napolitano (2005, p. 7) o chama de grande mosaico nacional no qual os vários brasis se encontram. Esses vários brasis são as diversas culturas que formam a chamada cultura nacional, entre as quais se incluem a língua e cultura alemãs. Por isso, nada mais adequado, estudar os processos e a metodologia de ensino/aprendizagem de línguas em contato, neste caso da língua alemã.
A autora, com uma expressiva experiência no campo de ensino de nível superior, faz uma análise detalhada dos materiais didático-pedagógicos, de modo especial dos livros didáticos, utilizados nesse contexto. Baseia seus estudos numa abordagem sociointeracionista e intercultural.
O presente texto é resultado da pesquisa e extraído da tese para a obtenção do título de doutora junto à Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), junto ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras, área de concentração em Linguagem e Sociedade. A análise do livro didático como elemento da formação docente enfocando especificamente os contextos linguístico e cultural brasileiros se encaixa perfeitamente no tema diversidade linguística e cultural, e assim também, no binômio, que é a área de concentração do Programa: a linguagem dentro da sociedade. Em outras palavras, analisa a linguagem, aqui a língua alemã, dentro do contexto real de seu uso, que é o contexto brasileiro.
Para essa abordagem foi necessário conhecer o verdadeiro contexto sociocultural do aluno/falante que usa a língua alemã como segunda língua, atualmente também denominada língua adicional (da Silva in SIPLE (2013, ano 4, n. 1). Como docente, a autora conhece muito bem o contexto brasileiro em que essa língua é ensinada e aprendida e, assim, suas análises do livro didático alemão, ao lado do embasamento teórico, tem uma abordagem acima de tudo prática.
Essa análise mais pragmática do livro didático e a abordagem do uso real da língua alemã pelos falantes dentro do contexto brasileiro se baseiam nas considerações teóricas de Wittgenstein (2002, p. 114), que afirma que os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo
e de Calvet (2002, p. 12) quando diz que... as línguas não existem sem as pessoas que as falam e a história de uma língua é a história de seus falantes
.
Os livros didáticos de língua alemã publicados na Alemanha e usados nas universidades brasileiras levam em consideração e respeitam o contexto sociocultural e brasileiro? – é uma das perguntas que a autora procura responder ao longo de suas análises. Para a realização de sua pesquisa, a autora manteve contato com todas as 17 instituições superiores do Brasil que oferecem cursos de alemão como graduação ou como curso extracurricular. Constatou que os livros utilizados são: studio d, Studio 21, Menschen, Themen, DaF kompakt, Mittelpunkt, Blaue Blume, Aspekte B2, Erdkundungen, Lagune, Schritte, EM Neu, Optimal, Ziel, Aussichten, Tangram Aktuell. Ao lado deles, cinco instituições utilizam materiais próprios ou alternativos em suas atividades didáticas. Para suas análises, a autora escolheu dentre eles DaF kompakt, Menschen e studio d, por estarem entre os mais utilizados pelas instituições contatadas.
Os principais aspectos enfocados e analisados pela autora foram as concepções teórico-metodológicas dos professores envolvidos no processo de ensino, a pertinência ou não dos gêneros textuais utilizados e, de modo especial, a identificação dos aspectos socioculturais presentes nas obras didáticas e em que medida eles contemplam a realidade linguística e sociocultural de outros contextos, em especial, o brasileiro. O último desses enfoques era, de modo especial, importante, uma vez que os três livros didáticos são produzidos na Alemanha.
O resultado, que até certo ponto era de se esperar, foi que os aspectos linguísticos e socioculturais presentes nos livros enfocam quase que exclusivamente a realidade alemã ou de países falantes dessa língua na Europa. As análises e considerações mais detalhadas sobre esses enfoques deixamos à voz da autora ao longo das páginas deste livro.
De qualquer forma, a pesquisa representa uma iniciativa corajosa em abordar enfoques até certo ponto polêmicos em obras didáticas de nível internacional. As considerações apresentadas pela autora, neste livro, são altamente criteriosas, merecendo ser considerado como leitura e material de estudo imprescindível para docentes e pesquisadores dos processos de ensino e aprendizagem da língua alemã como segunda língua nos contextos linguístico e sociocultural brasileiro.
Marechal Cândido Rondon, 12.07.2017
Prof. Dr. Ciro Damke
Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Unioeste
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Lale Língua Alemã como Língua Estrangeira.
LA Língua Alemã.
QECR Quadro Europeu Comum de Referência.
COE Conselho da Europa.
ALE Alemão como Língua Estrangeira.
TIC’s Tecnologias de Informação e Comunicação.
DaF Deutsch als Fremdsprache.
Ifpla Formação de Professores de Língua Alemã.
DAAD Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico.
CELEM Centro de Línguas Estrangeiras Modernas.
Sumário
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A PROBLEMATIZAÇÃO DO ESTUDO
AS MOTIVAÇÕES PELO ESTUDO
A ORGANIZAÇÃO COMPOSICIONAL
PRIMEIRA PARTE
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
1
O ENSINO DE LÍNGUA ALEMÃ: CONTEXTUALIZAÇÃO
1.1 LÍNGUA MATERNA, PRIMEIRA LÍNGUA, SEGUNDA LÍNGUA, LÍNGUA ESTRANGEIRA E BILINGUISMO: REVENDO A TERMINOLOGIA
1.1.1 A língua alemã como língua materna
1.1.2 A língua alemã como língua estrangeira (Deutsch als Fremdsprache: DaF)
1.2 A LÍNGUA ALEMÃ NO BRASIL: ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOCULTURAIS
1.2.1 Crenças sobre a língua e a cultura alemã: positivas ou negativas?
2
TEORIAS DE LINGUAGEM E MÉTODOS DE ENSINO DE LÍNGUAS
2.1 A LINGUÍSTICA APLICADA E A SOCIOLINGUÍSTICA: INTERFACES POSSÍVEIS?
2.1.1 A linguística aplicada e o livro didático de línguas estrangeiras
2.1.2 A sociolinguística e o livro didático de línguas estrangeiras
2.2 MÉTODOS E ABORDAGENS DE ENSINO DE LÍNGUAS
2.2.1 Métodos pré-comunicativos
2.2.2 Abordagens pós-comunicativas
3
O LIVRO DIDÁTICO: UM RECURSO NECESSÁRIO?
3.1 CONCEITUANDO LIVRO DIDÁTICO
3.1.1 O livro didático de língua estrangeira
3.2 E OS ASPECTOS CULTURAIS: ONDE ESTÃO?
3.3 QUADRO EUROPEU COMUM DE REFERÊNCIAS PARA LÍNGUAS
SEGUNDA PARTE
PERCURSO METODOLÓGICO
4
ASPECTOS METODOLÓGICOS
4.1 DIAGNÓSTICO DO ENSINO SUPERIOR DE LÍNGUA ALEMÃ NO BRASIL
4.2 ENVIO DE QUESTIONÁRIO A DOCENTES E AUTORES DE LIVROS – OUVINDO AS VOZES
4.3 PESQUISA DOCUMENTAL
TERCEIRA PARTE
RESULTADOS E DISCUSSÕES
5
FOCO NO E SOBRE O LIVRO DIDÁTICO: DISCUSSÕES E RESULTADOS
5.1 O LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA ALEMÃ NO ENSINO SUPERIOR: LEVANTAMENTO DE DADOS
5.2 FOCO NOS LIVROS DIDÁTICOS
5.2.1 O livro didático DaF kompakt: Deutsch als Fremdsprache für Erwachsene
5.2.2 O livro didático studio d: Deutsch als Fremdsprache
5.2.3 O livro didático Menschen: Deutsch als Fremdsprache
5.3 FOCO NAS CATEGORIAS DE ANÁLISE
5.4 FOCO NAS VOZES SOBRE O LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA ALEMÃ
5.4.1 As vozes dos professores
5.4.2 As vozes dos autores
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
APÊNDICES
APÊNDICE 1
APÊNDICE 2
APÊNDICE 3
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No presente estudo investigo a heterogeneidade linguística e sociocultural no que tange ao processo de ensino de Língua Alemã como Língua Estrangeira¹ (doravante Lale) em contextos específicos de formação de professores desse idioma no Brasil, os quais são permeados pelo livro didático.
De uma parte, questões voltadas para os usos de línguas na sociedade vêm se acentuando como interesses de pesquisa, considerando que o contexto socioeconômico e cultural contemporâneo sugere que as línguas (sobretudo as estrangeiras) destacam-se de forma positiva no tocante às oportunidades de participação em âmbitos local e global.
De outra parte, pensar no contato e no ensino e aprendizagem de uma cultura e língua em espaços institucionalizados remete, necessariamente, aos agentes desse processo educativo, como os professores, os alunos, a comunidade e as ferramentas que permeiam as práticas linguísticas e de ensino. Por conseguinte, em relação ao emprego dos materiais de ensino de língua, o papel do livro didático na prática pedagógica é concebido como um dos elementos mais característicos e, por isso, já se institucionalizou, ou seja, apresenta-se como algo natural, que ‘constitui’ o processo de educação
(PESSOA, 2009, p. 53).
E parto do pressuposto que na realidade brasileira sua presença é ainda mais recorrente, visto ser um recurso essencial, constituindo-se, em sua maioria, no único material disponível no ensino e aprendizagem de idiomas, para não dizer, tornando-se, em diversas situações educativas, o programa do curso de línguas. No entanto destaco que o livro didático não pode ser a única voz do processo educativo, muito menos que anule a voz² do professor, mas um recurso que auxilie na aprendizagem dos conteúdos linguísticos e socioculturais.
Também destaco que esses materiais representam uma fonte de saber da língua e a cultura-alvos, uma fonte de informação no contexto pedagógico de ensino de línguas estrangeiras, em especial no âmbito da educação básica, mas também no ensino superior e nos cursos de línguas. Com isso, o livro didático exerce considerável influência no que se ensina e como se ensina línguas.³
Entendo que para os professores trata-se de um apoio, visto auxiliar na economia de tempo na seleção de materiais (textos, imagens) e no preparo das aulas. E sua existência não é contestada pela maioria dos professores, fazendo referência ao ensino de língua alemã (doravante LA) como idioma estrangeiro no Brasil, ao passo que, excepcionalmente, o trabalho pedagógico é conduzido por materiais próprios e/ou alternativos (UPHOFF, 2008).
Por outro lado, quando se foca nos materiais didáticos de línguas estrangeiras, no caso brasileiro a língua inglesa, espanhola, alemã, italiana, francesa, dentre outras, é necessário ressaltar a importância desses livros atenderem às necessidades e expectativas dos aprendizes brasileiros, procurando adequação ao seu contexto sociocultural e linguístico.
No entanto concebo que tal aspecto raras vezes é contemplado, considerando a procedência internacional dos livros didáticos, e seu caráter homogeneizante e, de certa forma, universal, visto serem produzidos para o atendimento do mercado global. Muito pouco se é discutido e relacionado sobre a cultura da língua-alvo e a cultura do aprendiz. Como poderiam abordar a cultura da língua materna do leitor projetado se não são voltados para uma cultura específica?
(TILIO, 2012, p. 139).
Em contrapartida, reitero que os livros didáticos podem propor atividades de reflexão e de compreensão crítica da realidade, como no caso de desvelamento de preconceitos e estereótipos, assim como propiciar relação com os contextos social e cultural do aluno.
Embora seja inegável a importância e a utilidade dos materiais didáticos ao facilitarem o contato com a diversidade de informações e a riqueza de ideias, é fundamental reconhecer que tais livros, ao mesmo tempo, produzem discursos, constroem identidades sociais e difundem componentes culturais ao ensinar uma língua estrangeira
(TILIO, 2012, p. 123).
Quando se trata da LA no cenário mundial, ela é uma das mais difundidas línguas dentre as ensinadas como língua estrangeira
(SAVEDRA, LIBERTO; CAPARETO-CONCEIÇÃO, 2010, p. 18). Já no contexto nacional, conforme a pesquisadora Spinassé (2009), o idioma ocupa um espaço significativo, devido à Alemanha ser um parceiro comercial do Brasil e uma nação desenvolvida, assim como pelo fato da história de imigração de falantes de LA, influenciando as tradições culturais e folclóricas brasileiras.
A autora Bohunovsky (2009) ressalta, ainda, a influência do Quadro Europeu Comum de Referência (doravante QECR)⁴ para o Ensino de Línguas como diretrizes para confecção de obras didáticas⁵ de algumas línguas europeias, especificamente o inglês, o francês, o alemão, o espanhol, o italiano e o português, visto serem essas as mais ensinadas internacionalmente como línguas estrangeiras.
Esse documento produzido pela Divisão de Políticas Linguísticas do Conselho da Europa (doravante COE), cuja sede localiza-se na França, fornece uma base comum para a elaboração de programas de línguas, linhas de orientação curriculares, exames oficiais, manuais no contexto europeu e, por sua vez, em outros onde essas línguas são ensinadas.
Ainda, o QECR descreve aquilo que os aprendizes de uma língua precisam dominar, visando a uma comunicação eficiente nessa língua e quais os conhecimentos e capacidades que têm de desenvolver para serem eficazes em sua interação, sendo que esse conhecimento será mensurado nos níveis A1, A2, B1, B2, C1 e C2, os quais correspondem às várias fases de conhecimento da língua e se refletem em situações reais de uso dela. Nesse sentido, esse referencial define vários tipos de competências comunicativas, a saber: a linguística, a sociolinguística e a pragmática.
Conforme os autores desse documento prescrevem, as abordagens (dessa forma também os materiais didáticos) para o ensino e aprendizagem dessas línguas estrangeiras serão a comunicativa e a intercultural, pois se pretende:
[...] dar uma imagem clara das competências (conhecimentos, capacidades, atitudes) que os utilizadores da língua constroem no decurso da sua experiência de uso da língua e que lhes permite responder aos desafios da comunicação para lá de fronteiras linguísticas e culturais (ou seja, realizar tarefas comunicativas e atividades nos vários contextos da vida social com as condições e as limitações que lhes são próprias (COE, 2001, p. 13).
Conforme podemos verificar na prática pedagógica, esse aspecto vem implicando uma maior homogeneização dos conteúdos abordados nos livros didáticos de ensino e aprendizagem de LA, assim como tendem a considerar um público de aprendizes de línguas estrangeiras mais homogêneo.
Reitero, ainda, que trabalhar com a língua estrangeira exige, muitas vezes, do profissional, dedicação e criticidade, principalmente em relação à escolha dos materiais didáticos – no caso o livro didático –, de modo que seja, de fato, um recurso metodológico e não um instrumento de limite e/ou controle da sua prática pedagógica.
Nesse sentido, considero o papel do professor e o uso dos materiais que permeiam o processo de ensino e aprendizagem de línguas de extrema importância. Dessa forma, é vital a compreensão do tratamento atribuído aos diferentes textos, sejam eles orais, escritos e multimodais, na perspectiva de um aprendiz discursivamente confiante, capaz de interagir com a diversidade desses textos em circulação.
Conforme exposto, advogo ser consenso a presença do livro didático enquanto instrumento para auxiliar o ensino e a aprendizagem de idiomas. Assim, ter a crença de que determinado livro ou recurso didático possa ser melhor do que o outro infere em abdicar de uma diversidade de estratégias, de materiais alternativos e de autoprodução; enfim, de um leque maior de possibilidades que sejam eficientes (ou não) na promoção da aprendizagem de línguas.
Novamente, compete ao professor a busca pela autonomia e a criatividade, visando a um bom resultado no fazer pedagógico, pois que ensinar é uma tarefa complexa e implica diversas inferências, seja na dimensão da sala de aula (micro), seja na dimensão sociocultural (macro).
Ainda, reitero que o livro didático não pode ser adotado como receita, nem tampouco como a voz da verdade, mas, sim, um recurso que pode e deve, se necessário, ser adaptado para as diversas aulas, considerando as especificidades e níveis de conhecimentos linguístico e cultural dos aprendizes.
Finalmente, enfatizo a importância da função social do profissional de línguas, no sentido de não ignorar as diferenças culturais que são inerentes ao ensino e aprendizagem de língua estrangeira, a fim de não incorrer ao erro de julgar determinado hábito cultural como inadequado ou errado, pois as práticas linguísticas e culturais são providas de significados, os quais são construídos pelos seus falantes e podem ser apreendidos pelos demais.
Nesse sentido, este livro se insere nessa perspectiva, quer seja no reconhecimento da diversidade linguística e cultural atestada nos segmentos socioculturais e educativos, por meio da investigação de alguns livros didáticos utilizados em contextos formativos. Isso implica uma perspectiva teórico-metodológica para com as diferenças como maneiras distintas de significar o mundo.
Conforme Gimenez, fazer pesquisa sobre ensino de línguas estrangeiras em nosso país requer um engajamento na busca de soluções para tornar o ensino/aprendizagem mais produtivo [...]
(GIMENEZ, 2009, p. 8). Em outras palavras, esses trabalhos investigativos qualificam-se como emergentes, considerando o papel das línguas na atualidade, bem como a necessidade de uma formação e prática pedagógica preocupada com resultados envolvidos com a transformação da realidade socioeducativa e cultural.
A PROBLEMATIZAÇÃO DO ESTUDO
Considero ser uma necessidade intrínseca dos seres humanos comunicarem-se e interagirem com o(s) outro(s) em diversas circunstâncias de sua vida, a fim de manterem com seus semelhantes interações, tanto linguísticas quanto culturais – visando a sua vivência em sociedade.
Nas palavras de Coseriu, isso diz respeito a uma das dimensões da linguagem, pois [...] a essência da linguagem está no diálogo, no ‘falar-um-com-o-outro’, isto é, está intimamente vinculada àquilo que os interlocutores têm em comum
(COSERIU, 1987, p. 18). Ou, ainda: [...] o sujeito criador de linguagem pressupõe outros sujeitos, ou seja, por ser a consciência criadora de linguagem uma consciência aberta para outras
(COSERIU, 1987, p. 29).
Nessas interações linguísticas e culturais, as pessoas expressam suas intenções e necessidades, verbalizam suas concepções de mundo e deixam marcados seus posicionamentos, enfim, vão se constituindo como sujeitos, logo construindo suas identidades.
A partir disso, destaco a importância da temática das línguas estrangeiras no contexto sociocultural e institucional contemporâneo (dimensão macro) e no nível interpessoal (dimensão micro). Reitero que o domínio de língua(s) estrangeira(s) traduz-se numa necessidade no contexto atual, considerando a demanda social e a política de formação do cidadão num mundo bi/multilíngue e, de certo modo, compreendido como sem fronteiras.
Isso é possível verificar no cenário recorrente, marcado pela globalização, pelos avanços tecnológico e midiático, que as distâncias e as barreiras linguísticas, culturais e econômicas diminuíram e que virtualmente as pessoas se aproximaram, sendo que as línguas estrangeiras adquiriram um novo significado, uma nova função social, ao mediarem a comunicação.
Ao mesmo tempo, a interatividade é condição para o convívio social e a atuação profissional, sendo as tarefas cada vez mais textualizadas e diversificadas, nas quais convivem a linguagem verbal e a não verbal. As necessidades vêm crescendo na proporção da complexidade das transformações de um mundo globalizado, justificando o trabalho com as práticas linguísticas e culturais. A diversidade dos campos de trabalho, por exemplo, modificou a comunicação interpessoal nos âmbitos familiar, empresarial e social, assim como ampliou o uso de ferramentas tecnológicas e de informação.
Além disso, a importância do ensino e aprendizagem de diferentes sistemas linguísticos implica a disposição de mais de uma língua para se atribuir significados e se compreender os fatos; enfim, interagir com o contexto sociocultural e histórico. Para Bakhtin (2004), a importância em aprender uma língua estrangeira está