Instituições e dispositivos institucionais
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Sobre este e-book
Para essa reflexão, a autora toma como referência a análise de alguns aspectos do dispositivo Estatuto da Criança e do Adolescente que, por não serem trabalhados como redes, acabam por naturalizar situações consideradas excepcionais, legitimando o que, por seus princípios, deveriam evitar; ademais, avalia os efeitos desses processos na organização judiciária, questionando, principalmente, o papel do desejo enquanto potencial de mutação e de invenção de outras formas de viver – a dimensão ética que tudo isso envolve.
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Instituições e dispositivos institucionais - Ana Lúcia Francisco
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO PSI
A meus pais, pelos valores éticos e exemplos que acompanham minha vida.
AGRADECIMENTOS
A escrita, ainda que seja solitária, é tecida a muitas mãos e atravessada por múltiplos afetos. Há uma potência no viver e no criar parcerias e cumplicidades, pois é essa potência que nos anima e permite o continuar. Seria extenso e, por certo, omisso agradecer, nominalmente, a todos aqueles que participaram direta e indiretamente da feitura deste livro. Fica, então, o meu muito obrigado a meus familiares, aos amigos, aos companheiros com quem divido a jornada acadêmica e o dia a dia profissional, aos alunos e aos pacientes; enfim, a cada um que, de alguma forma, participam do meu aprendizado de vida.
Agradeço, ainda, de modo especial a João Leite, pelo afetivo prefácio, e à nossa mestra Suely, pois afinal de contas foi com ela que tudo começou.
PREFÁCIO
Ana Lúcia Francisco possui longa e consistente trajetória na Psicologia, tanto na docência do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) quanto na atuação como psicóloga em variados espaços institucionais. Nesses espaços desenvolveu práticas de pesquisa e intervenção em cenários plurais, práticas de supervisão em serviços. Além disso, ocupou-se com o cuidado da profissão em gestões do sistema Conselhos de Psicologia, inclusive na gestão federal, quando foi presidente da Câmara de Educação e Formação Profissional. Esse percurso extenso e diversificado a preparou para nos oferecer este livro. Portanto, não se trata de uma obra escrita no gabinete, mas forjada na oficina do trabalho clínico-institucional.
Nossos primeiros encontros foram no final dos anos 1990, quando ingressei no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ana Lúcia já estava por lá. Ambos tivemos como orientadora Suely Rolnik, que nos conduziu às leituras de Deleuze e Guattari, uma das referências centrais deste livro. Nas orientações em grupo nosso interesse em comum pelo debate das questões sociais gerou uma imediata afinidade. O retorno aos nossos vínculos profissionais em Pernambuco e Minas Gerais arrefeceu os diálogos iniciados no doutorado. Nosso reencontro foi promovido pela mediação de sua orientanda de doutorado Wedna Galindo, que me abordou de forma curiosa: Você é o Ferreira Neto? Trabalhamos com seus textos em nosso Programa
. A partir desse contato, temos construído uma parceria acadêmica e afetiva, e pude ser reapresentado como João Leite. Como Ana brincava, o Ferreira Neto tornou-se o João Leite.
O livro é composto por quatro capítulos, sendo os três primeiros imagens que compõem a arquitetura teórica da discussão (configuração institucional, movimentos institucionais e inconsciente maquínico), e o último a moldura que busca articular teoria e prática, com base em seu trabalho clínico-institucional.
No primeiro capítulo, Ana Lúcia retoma a passagem entre a Análise Institucional e as contribuições de Guattari e Deleuze. Ela reconhece a importância, mas também os limites das leituras institucionalistas, ora por enfatizarem a interpretação dos conflitos latentes no estabelecimento, mantendo como referencial privilegiado para esta leitura a teoria psicanalítica, ora porque imprimem uma grade conceitual de natureza preponderantemente sociológica ao entendimento dos movimentos institucionais
. O capítulo discute a Análise Institucional desde seus criadores franceses (Lapassade e Lourau), mas sem deixar de lado institucionalistas brasileiros (Benevides e Rodrigues), que tal como Ana Lúcia, fizeram movimentos teóricos, que incorporaram Guattari, Deleuze e Foucault.
O segundo capítulo é dedicado à obra conjunta de Deleuze e Guattari. Neles, a autora encontra uma geografia conceitual que abandona hipóteses causais sobre as instituições, em função da lógica rizomática do agenciamento, ou, para utilizar outra expressão dos autores, da causalidade imanente. Ao diminuir o peso causal, para cartografar as conexões plurais que compõem a vida institucional, Ana abandona as simplificações e os binarismos, inclusive o de causa-efeito, para mergulhar nas multiplicidades, nas variações e detalhes. Enfim, realiza uma cartografia das multiplicidades, que abandona a noção de desejo assentado na interioridade, retomando-o como conexão rizomática.
Evitar binarismos simplificadores, em um tempo que a vida social se encontra altamente polarizada, entre versões simplificadoras da realidade, me parece, mais do que nunca, essencial. Nesse diapasão, Ana entende que a análise não foca o verbo Ser, mas extrai sua potência da conjunção e... e... e...
.¹
As instituições, aqui estudadas, comportam um estado misto, não determinado previamente, mas em constante variação, ou fuga. Foucault intitulava esse procedimento metodológico, central neste livro, de multiplicação causal: a análise do acontecimento singular segundo os processos múltiplos que o constituem, elaborando um poliedro de inteligibilidade, cujo número de faces não é previamente definido e nunca pode ser considerado como legitimamente concluído
².
O terceiro capítulo tem por escopo o trabalho de Guattari, o autor, individualmente ou em pareceria com outros, mais citado no livro. O conceito de máquina, central em sua obra, desdobra-se em três dimensões: o Inconsciente Maquínico, Máquinas Abstratas e Máquinas Desejantes. Nesse processo, a noção guattariana de subjetividade recebe particular atenção.
Considero importante o destaque, conferido por Ana Lúcia, a Guattari. Ela inclusive, em alguns momentos, inverte a nomeação mais convencional, grafando Guattari e Deleuze. Eu me lembro de Suely Rolnik se impacientando com estudiosos que mencionavam vários conceitos da dupla, atribuindo sua autoria a Deleuze, o grande filósofo, quando na verdade haviam sido forjados por Guattari. A bela biografia dessa dupla, escrita por François Dosse³, resgata a importância de Guattari nessa colaboração conjunta. Guattari foi um grande criador de conceitos, havendo também produzido a denominação Análise Institucional
. Por isso, o exame mais detido de sua obra é uma tarefa ainda a se realizar. Mas vale lembrar, Ana já iniciou este caminho.
O último capítulo retoma e problematiza algumas experiências profissionais da autora, junto à Fundação de Atendimento Socioeducativo – Funase e ao Juizado da Infância e da Juventude, buscando tecer conexões entre teorias e práticas. É essencial fazer, pensar, fazer, pensar. Apresenta dados quantitativos, textos normativos, narra suas experiências e perplexidades, aproxima material empírico e conceitos. Essa postura é uma marca na trajetória de Ana Lúcia, e seu livro é um testemunho disso.
A compreensão da pesquisa como cartografia das multiplicidades em movimento, conduziu Ana Lúcia ao encontro de Guattari, Deleuze e outros pesquisadores da multiplicidade, como Foucault, Serres, Lapassade, Lourau, Rolnik, nossa mestra, em uma lista de autores que sempre tenderá a crescer, a cada nova prática de pesquisa, intervenção, e pesquisas-intervenções em instituições.
Prof. Dr. João Leite (Ferreira Neto) – PUC-MG
Belo Horizonte, julho de 2016.
Sumário
O TRAJETO PERCORRIDO
PRIMEIRA IMAGEM
CONFIGURAÇÕES INSTITUCIONAIS
A- DO PODER DISCIPLINAR AO CONTROLE
B- INSTITUIÇÕES E ORGANIZAÇÕES
C- DA SIMPLICIDADE À COMPLEXIDADE
SEGUNDA IMAGEM
MOVIMENTOS INSTITUCIONAIS: UMA COREOGRAFIA
A- LINHAS DE SEGMENTARIDADE
B- RIZOMA
C- DESEJO
TERCEIRA IMAGEM
INCONSCIENTE MAQUÍNICO / MÁQUINAS DESEJANTES
A- MÁQUINAS ABSTRATAS
B- INCONSCIENTE MAQUÍNICO
C- MÁQUINAS DESEJANTES
DAS IMAGENS À MOLDURA
A NECESSÁRIA ARTICULAÇÃO - TEORIA-PRÁTICA
A- AGENCIAMENTO FUNASE
B-