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Formação de Educadores e Psicólogos:: Contribuições e Desafios da Subjetividade na Perspectiva Cultural-Histórica
Formação de Educadores e Psicólogos:: Contribuições e Desafios da Subjetividade na Perspectiva Cultural-Histórica
Formação de Educadores e Psicólogos:: Contribuições e Desafios da Subjetividade na Perspectiva Cultural-Histórica
E-book334 páginas4 horas

Formação de Educadores e Psicólogos:: Contribuições e Desafios da Subjetividade na Perspectiva Cultural-Histórica

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Sobre este e-book

O livro Formação de educadores e psicólogos: contribuições e desafios da subjetividade na perspectiva cultural-histórica é resultado de uma construção coletiva do GT Subjetividade, Ensino e Aprendizagem da Associação Nacional de Pesquisa em Psicologia – Anpepp. A obra coloca em evidência as contribuições e os desafios que emergem do processo de reflexão e consolidação da Teoria da Subjetividade na perspectiva cultural-histórica, desenvolvida por Fernando Luis González Rey. O reconhecimento da formação como processo de produção e desenvolvimento subjetivo é o fio que entretece todos os capítulos deste livro, possibilitando ao leitor compreender por que há tanta dissonância entre formação e atuação profissional.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de fev. de 2020
ISBN9788547340124
Formação de Educadores e Psicólogos:: Contribuições e Desafios da Subjetividade na Perspectiva Cultural-Histórica

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    Pré-visualização do livro

    Formação de Educadores e Psicólogos: - Maristela Rossato

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    Capítulo 1

    A PREPARAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DOCENTE: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA SUBJETIVIDADE

    Albertina Mitjáns Martínez e Fernando Luis González Rey

    Capítulo 2

    O DESENVOLVIMENTO SUBJETIVO NO PROCESSO DA FORMAÇÃO DOCENTE

    Maristela Rossato e Roberta Assunção

    Capítulo 3

    A PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL DA SUBJETIVIDADE NA EDUCAÇÃO: DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES ÀS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E À FORMAÇÃO DOCENTE

    Cristina Massot Madeira-Coelho, Luana Vaz e Patrícia Nunes de Kaiser

    Capítulo 4

    A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA SUBJETIVIDADE

    Ana Valéria Marques Fortes Lustosa e Enicéia Gonçalves Mendes

    Capítulo 5

    A SUBJETIVIDADE SOCIAL EM RELAÇÃO À EDUCAÇÃO ESPECIAL E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO DOCENTE

    Alexandra Ayach Anache e Luiz Roberto Rodrigues Martins

    Capítulo 6

    A TEORIA DA SUBJETIVIDADE NA FORMAÇÃO DO TERAPEUTA DE CASAIS E FAMÍLIAS

    Vannúzia Leal Andrade Peres

    Capítulo 7

    REFLEXÕES SOBRE A GRADUAÇÃO COMO PROCESSO SUBJETIVO: DESAFIOS DA FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO

    Valeria Deusdará Mori, Bruno Damando Fuchijima e Vitor Pedro Moretto Cordeiro

    Capítulo 8

    SUBJETIVIDADE SOCIAL E AS REPRESENTAÇÕES DOS ESTUDANTES NA FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA

    Luciana de Oliveira Campolina, Hannah Lampert e Lucas Parca Guaritá

    Capítulo 9

    A RELAÇÃO ORIENTADOR-ALUNO NA FORMAÇÃO DOUTORAL: UMA APROXIMAÇÃO A PARTIR DA TEORIA DA SUBJETIVIDADE

    José Fernando Patino Torres

    SOBRE OS AUTORES

    INTRODUÇÃO

    O livro Formação de educadores e psicólogos: contribuições e desafios da subjetividade na perspectiva cultural-histórica é resultado de uma construção coletiva do GT Subjetividade, Ensino e Aprendizagem da Associação Nacional de Pesquisa em Psicologia – Anpepp. A obra coloca em evidência as contribuições e os desafios que emergem do processo de reflexão e consolidação da Teoria da Subjetividade na perspectiva cultural-histórica, desenvolvida por Fernando Luis González Rey.

    O GT organizou-se e se reuniu, pela primeira vez, no XIII Simpósio da Anpepp, em junho de 2010, em Fortaleza – CE, sob a coordenação das Profª Drª. Beatriz Judith de Lima Scoz e Profª Drª Albertina Mitjáns Martínez. Na ocasião, o GT constituiu-se de 17 professores pesquisadores que atuavam em 13 diferentes instituições de ensino superior, localizadas em sete estados brasileiros e no Distrito Federal, expressando representatividade e diversidade de instituições acadêmicas e regiões do Brasil, em consonância com as recomendações da Anpepp. Os participantes tinham em comum o interesse em compartilhar experiências em pesquisas orientadas pela Teoria da Subjetividade na perspectiva cultural-histórica, produzindo subsídios para análises de processos de ensino e aprendizagem.

    Convencidos da importância de desenvolver pesquisas que considerassem a dimensão subjetiva de estudantes e professores, o grupo de pesquisadores considerou que poderia contribuir para o avanço das pesquisas e reflexões nessa direção, oferecendo alternativas aos estudos cuja prevalência tem sido racionalidade de medidas e aspectos objetivos do ensino e da aprendizagem. A teoria possibilita a compreensão da pessoa em sua singularidade, em suas múltiplas experiências em diferentes espaços da vida social, possibilitando adentrar, de forma simultânea, nos contextos, nas histórias de alunos e professores, em suas vivências, criando condições para a realização de um trabalho psicológico e pedagógico com significativos avanços nos seus processos de desenvolvimento e nos processos educacionais em que estão envolvidos.

    Em junho de 2012, o GT reuniu-se pela segunda vez, no XIV Simpósio da Anpepp, realizado em Belo Horizonte. Nesse XIV Simpósio, ocorreu o lançamento da primeira produção coletiva do grupo¹. O GT assumiu como meta para o biênio, além de dar continuidade aos trabalhos já iniciados, a produção de dois livros, sendo um com foco nos desafios metodológicos e epistemológicos da pesquisa da subjetividade² e outro na dimensão subjetiva dos processos de ensino e aprendizagem³. Na oportunidade, a Profª Drª Marisa Irene Siqueira Castanho e a Profª Drª Albertina Mitjáns Martínez assumiram a coordenação do GT para o período 2012-2014.

    A XV reunião da Anpepp ocorreu em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, em maio de 2014. Para o biênio 2014-2016, a Profª Drª Alexandra Ayach Anache e a Profª Drª Albertina Mitjáns Martínez assumiram a coordenação do GT com a proposta de fortalecimento de grupo, envolvendo mais participações conjuntas em atividades acadêmicas, dentre elas, bancas, publicações, apresentações em eventos científicos e, sobretudo, aprofundamento dos estudos sobre a perspectiva cultural-histórica da subjetividade.

    Na XVI Reunião da Anpepp, realizada em Maceió, em maio de 2016, foi aprofundada a discussão dos aspectos epistemológicos, teóricos e metodológicos da Teoria da Subjetividade, a partir de produções que articulam os princípios, conceitos e categorias dessa perspectiva. Foi estabelecido como metas para o próximo biênio: identificar pesquisadores e grupos que trabalham nessa perspectiva visando a estabelecer articulações, intercâmbio de experiências; analisar e definir novas vias para a divulgação do trabalho que o GT realiza, com ênfase em produções de livros e artigos científicos. Na ocasião foi lançada a proposta da obra que ora se consolida. Ainda no encontro de 2016, foi apresentada a proposta do I Simpósio Nacional de Epistemologia Qualitativa e Subjetividade, realizado em setembro de 2017, em parceria e com o apoio do GT. A Profª Drª Maristela Rossato, da Universidade de Brasília, e a Profª Drª Valéria Deusdará Mori, do Centro Universitário de Brasília, assumiram a coordenação para o biênio 2016-2018, reconduzidas para o biênio 2018-2020.

    No XVII Simpósio da Anpepp, realizado em Brasília, em 2018, todos os capítulos do livro, que ora se concretiza, foram amplamente analisados e debatidos coletivamente, visando ao alinhamento teórico-metodológico das produções que compõem a obra. Organizado em nove capítulos, o presente livro apresenta reflexões sobre processos de formação na perspectiva da teoria da subjetividade, tanto de educadores como de psicólogos, como veremos a seguir.

    O primeiro capítulo, A preparação para o exercício da profissão docente: contribuições da Teoria da Subjetividade, escrito por Albertina Mitjáns Martínez e Fernando Luis González Rey, abre caminho para o leitor compreender a Teoria da Subjetividade na perspectiva cultural-histórica desenvolvida nos últimos 20 anos, em Cuba e especialmente no Brasil, pelo segundo autor. Os autores explicam como essa Teoria, diferente de outras que abordam de forma fragmentada a formação, reconhece a complexidade desse processo na inter-relação entre aprendizagem e desenvolvimento humano, apresentando fundamentos que possam balizar mudanças e articulações necessárias nas práticas formativas dominantes.

    O desenvolvimento subjetivo no processo da formação docente é o segundo capítulo, desenvolvido por Maristela Rossato e Roberta Assunção. Nele as autoras demarcam o valor das bases epistemológicas e teóricas no processo de formação docente, visando à constituição e emergência do sujeito. O desenvolvimento subjetivo é assumido com uma qualidade que se diferencia das compreensões mais clássicas de desenvolvimento e que se dá quando novas produções, geradas no tensionamento das ações e relações vividas, ganham força e relativa estabilidade, possibilitando reconfigurações no sistema e abrindo caminhos qualitativamente diferenciados de produção subjetiva. As autoras destacam a necessidade de que os processos formativos possibilitem quebrar ciclos e paradigmas, inovar, construir e desconstruir a si mesmo no fluxo contínuo de novos sentidos subjetivos produzidos na própria experiência vivida.

    O terceiro capítulo foi desenvolvido por Cristina M. Madeira-Coelho, Luana Vaz e Patrícia Kaiser, intitulado A perspectiva histórico-cultural da subjetividade na Educação: desafios e contribuições às práticas pedagógicas e à formação docente. As autoras fazem uma articulação da rede de conceitos teóricos que a Teoria da Subjetividade organiza, possibilitando gerar novas inteligibilidades sobre os processos educacionais. Demarcam a importância de se conceber a formação docente comprometida com as pessoas, seus contextos histórico-culturais e suas produções subjetivas como aspectos simultaneamente importantes para a constituição de uma profissionalidade docente.

    O quarto capítulo aborda A formação inicial de professores para a Educação Especial: contribuições da Teoria da Subjetividade e foi desenvolvido por Ana Valéria Marques Fortes Lustosa e Enicéia Gonçalves Mendes. A formação inicial de professores é analisada a partir de um estudo de caso, abrindo possibilidades para pensar sobre os processos subjetivos emergentes na trajetória formativa de um curso de Licenciatura em Educação Especial. As autoras apresentam uma reflexão sobre os consensos e dissensos no que tange à formação para atuação em educação especial e, por meio do caso estudado, demarcam que o sujeito emerge no processo formativo quando, criativamente, rompe as barreiras e se dispõe a aprender e ensinar.

    A subjetividade social em relação à Educação Especial e os desafios da formação docente foi desenvolvido por Alexandra Ayach Anache e Luiz Roberto Rodrigues Martins. Ao longo do capítulo, são apresentadas reflexões sobre o processo e as dificuldades de implantação da educação especial no ensino superior e sobre a constituição da subjetividade social de uma escola de educação básica, demonstrando que tanto as condições objetivas envolvidas na implantação da política na universidade, como as condições subjetivas encontradas na sua operacionalização na escola, são requisitos fundamentais a serem considerados na gestão dos espaços educacionais e na formação dos professores. Defendem a necessidade de romper com o modelo instituído de educação especial com foco na deficiência para adotar modelos que privilegiem a pessoa, capaz de superar barreiras à sua aprendizagem.

    O sexto capítulo, intitulado A teoria da subjetividade na formação do terapeuta de casais e famílias, relata uma experiência de formação de Terapeutas de Casais e Famílias na perspectiva da Teoria da Subjetividade, na qual Vannúzia Leal Andrade Peres discute sobre como essa teoria veio trazer uma questão completamente nova para o processo de formação desse profissional, ou seja, seu desenvolvimento subjetivo. O capítulo relata como busca envolver estudantes do curso de Especialização Lato Sensu em Terapia de Casais e Famílias, coordenado por ela, no trabalho de campo com grupos de famílias em litígio, que convertido em espaço permanente de pesquisa e intervenção, possibilita a formação crítica e comprometida dos estudantes.

    O sétimo capítulo, Reflexões sobre a graduação como processo subjetivo: desafios da formação do Psicólogo, é apresentado por Valéria Mori, Bruno D. Fuchijima e Vítor Moretto. Esse capítulo evidencia os desafios a serem enfrentados na graduação em Psicologia, reconhecido como processo subjetivo. Os autores discutem como a formação em Psicologia tem desdobramentos diferenciados, tanto na subjetividade individual quanto na subjetividade social, assim como aspectos das diferentes representações do que significa a profissão e os desdobramentos nos processos de formação e compromisso dos estudantes com o curso do qual participam.

    No oitavo capítulo, Luciana de Oliveira Campolina, Hannah Lampert e Lucas Parca Guaritá discutem sobre Subjetividade social e as representações dos estudantes na formação em Psicologia. Na pesquisa sobre o tema com alunos da graduação, os autores construíram indicadores de que as representações quanto às abordagens teóricas da psicologia são inter-relacionadas à subjetividade social dominante e subjetivamente configuradas no processo de graduação. Os autores reconhecem que a teoria como possibilidade de explicação possibilita avançar na compreensão de processos diversos, rompendo com a lógica meramente instrumentalizadora da prática profissional do psicólogo.

    A Relação Orientador-Aluno na Formação Doutoral: uma aproximação a partir da Teoria da Subjetividade é o tema do último capítulo, desenvolvido por José Fernando Patiño Torres, como desdobramento de seu trabalho de doutorado. Na perspectiva da Teoria da Subjetividade e da Epistemologia Qualitativa, o autor desenvolve, com cinco alunos e seus orientadores, uma pesquisa de campo que dá visibilidade ao valor dessa teoria para a formação que não é uma questão puramente técnica, instrumental, mas, sobretudo, relacional, visto que as relações orientador-orientando são subjetivamente configuradas.

    Intencionamos, com a presente obra, consolidar uma construção coletiva e compartilhada desenvolvida ao longo de 18 meses, além de abrir novas frentes de discussão sobre os processos de formação, para que possam ser concebidos como processos de desenvolvimento humano. Na perspectiva da Teoria da Subjetividade, de caráter cultural-histórico, isso significa romper com modelos meramente instrumentais, distanciados de reflexões e ações socioculturais e políticas, e investir na formação como processo de desenvolvimento humano. Nos nove capítulos da obra, os autores destacam como a Teoria da Subjetividade possibilita que o trabalho de formação seja, prioritariamente, um trabalho promotor do desenvolvimento do educador e do psicólogo, de forma que esses profissionais se constituam e atuem como protagonistas do processo.

    As Organizadoras

    Capítulo 1

    A PREPARAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DOCENTE⁴: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA SUBJETIVIDADE

    Albertina Mitjáns Martínez

    Fernando Luis González Rey

    Introdução

    Por sua indiscutível importância, o tema da formação de professores tem sido objeto de uma ampla produção científica, tanto nacional quanto internacional (CUNHA, 2013; GATTI 2008, 2010, 2012, 2103; HOBAN, 2005; IBERNÓN, 2009, 2010; NÓVOA, 1997, TARDIF 2003, VEIGA, FERNANDES; 2012, KORTHAGEN, LOUGHRAN, RUSELL, 2006; SHULTE, 2009; WILLIAMS, HAYLER; 2016 entre muitos outros). Tendências como a prática da reflexão (SCHÖN, 1987; LOUGHRAN, 2002; BRANDENBURG, GLASSWELL, JONES, RYAN, 2017), o desenvolvimento profissional (MARCELO, 2009; ANDRÉ, 2010; HEREDEIRO, SILVA 2011, LOUGHRAN, 2014), o auto estudo (KOSNIK et al., 2005; LOUGHRAN et al., 2007) orientam estratégias de formação em instituições e espaços que têm a formação de professores como objetivo central. Da mesma forma - mesmo que com um peso relativamente menor - a formação pessoal do professor e a consideração do espaço escolar como genuíno espaço de formação têm sido objeto de reflexão e de pesquisas (CANÁRIO, 1998; CUNHA, PRADO, 2010; GRIGOLI, 2010).

    Todas essas tendências, com matrizes teóricas de origem diferente, coexistem no campo da produção científica da formação de professores destacando, de forma fragmentada, um ou outro dos múltiplos aspectos envolvidos no mesmo. Cada uma dessas tendências enfatiza algum aspecto importante da formação docente, porém sem a necessária articulação que a compreensão de um processo complexo como a formação de professores requer. A ausência de uma teoria sobre a complexidade do funcionamento humano que até então contribuísse para a compreensão dos processos de aprendizagem e desenvolvimento, em sua estreita inter-relação e, consequentemente, que seja capaz de orientar os processos formativos - intencionais ou não - pode ser uma das razões que expliquem essa situação.

    Em nossa opinião, a Teoria da Subjetividade, na perspectiva cultural-histórica (GONZÁLEZ REY, 1997, 2003, 2004a, 2005a, 2016, 2017, GONZÁLEZ REY; MITJÁNS MARTÍNEZ 2017a, 2017b), busca avançar na compreensão da complexidade dos processos humanos, contribuindo para uma compreensão do processo de preparação para o exercício da profissão docente. Nela se articulam e adquirem novos fundamentos muitos dos aspectos que tem sido tratados historicamente de forma fragmentada. Essa contribuição se dá a partir de quatro elementos essenciais:

    A forma como, a partir da Teoria da Subjetividade, compreendem-se as ações humanas complexas, da qual a ação profissional constitui uma expressão;

    A forma como, a partir dessa Teoria, compreende-se o processo de aprendizagem dos indivíduos e, consequentemente, a aprendizagem dos professores e também dos alunos que, por constituir um dos objetivos essenciais do trabalho do professor, requer por parte deles uma preparação adequada;

    A forma como, a partir da Teoria da Subjetividade, compreende-se o processo de desenvolvimento que constitui um aspecto importante a se considerar, não apenas em relação ao aluno, mas também em relação ao próprio professor; e

    Como, a partir dessa Teoria, concebe-se o papel dos contextos sociorrelacionais em que os indivíduos participam nas suas ações e no seu desenvolvimento e, consequentemente, o lugar dos contextos intencionais de formação e do contexto escolar na preparação para o exercício docente.

    O objetivo deste capítulo é apresentar como, a partir da Teoria da Subjetividade, pode-se compreender, de forma ampla e complexa, o processo de preparação para o exercício da profissão e, consequentemente, apresentar fundamentos que contribuam para mudanças e articulações necessárias nas práticas formativas dominantes.

    A Teoria da Subjetividade, na perspectiva cultural-histórica, é uma forma de compreensão da especificidade dos processos humanos nas condições da cultura que tem como eixo central a unidade do simbólico e do emocional formando uma nova qualidade, os sentidos subjetivos. Essa teoria concebe o funcionamento psicológico humano na sua complexidade constitutiva, superando dicotomias que têm sido dominantes na fragmentação da compreensão de tal funcionamento, tais como social-individual, afetivo-cognitivo, consciente-inconsciente, entre outras.

    A subjetividade é compreendida como a capacidade humana de as emoções adquirirem um caráter simbólico, levando à formação de novas unidades qualitativas que constituem uma definição ontológica diferente dos fenômenos humanos, sejam eles sociais ou individuais; essas unidades expressam-se nos conceitos de sentido subjetivo e configuração subjetiva. Partindo dessa definição, a subjetividade representa um sistema em que subjetividade social e individual configuram-se reciprocamente, superando assim a tendência reducionista de pensar a subjetividade só como um fenômeno individual, o que tem caraterizado tanto a ciência, quanto o senso comum.

    A subjetividade social não está conformada pela soma das subjetividades individuais dos indivíduos que participam dos espaços sociais, nem é algo externo que paira sobre eles, ela se configura pelas produções subjetivas que acontecem nesse espaço - dos indivíduos nas suas inter-relações -, assim como por produções subjetivas de outros espaços sociais, produções subjetivas sociais que se configuram por vias diversas em cada um dos espaços de subjetividade social no funcionamento de uma sociedade. A subjetividade social tem, nos sistemas de relações e nas produções subjetivas sociais e individuais, os recursos essenciais de seu desenvolvimento.

    A subjetividade individual e a subjetividade social constituem-se de forma mútua, sem que isso signifique que sejam simétricas. A subjetividade social - que aparece de forma singularizada nas subjetividades individuais dos indivíduos que integram o espaço social - tem uma força significativa na expressão de suas ações. Em nossas pesquisas, temos constatado que o professor, pela posição de poder que ocupa no sistema de relações da sala de aula, tem um importante papel na constituição da subjetividade social desse espaço. As relações que estabelece com os alunos, as crenças e valores expressos em suas ações, suas expectativas e exigências são formas pelas quais influi na constituição da subjetividade social da sala de aula. Importante destacar o fato de que a subjetividade social de qualquer espaço social está perpassada pelas subjetividades sociais de outros espaços sociais. Assim, na subjetividade social da sala de aula, aparecem expressões da subjetividade social da sociedade em um sentido mais amplo como, por exemplo, o preconceito em relação às pessoas com deficiência, o consumismo, o individualismo e outras.

    Muito vinculada à categoria de subjetividade social, aparece a categoria sujeito, a qual representa o indivíduo ou grupo, que, no percurso de uma experiência, torna-se capaz de abrir novas vias de subjetivação perante os espaços normativos em que desenvolve sua ação. A condição de sujeito expressa-se sempre em situações e contextos e, em grande medida, depende dos recursos subjetivos que um indivíduo, ou grupo, seja capaz de desenvolver. Os sistemas e programas de preparação para o exercício da profissão docente devem ter como objetivo contribuir ao desenvolvimento de recursos subjetivos dos professores que favoreçam sua emergência como sujeitos de seu trabalho docente, para o qual têm que abrir caminhos próprios perante as muitas diversas formas de normatização que caracterizam a instituição escolar.

    As categorias que expressam a definição ontológica dessa proposta sobre a subjetividade são as categorias de sentido subjetivo e configuração subjetiva. O conceito de sentido subjetivo é um conceito teórico que aponta para o caráter fluido, móvel e complexo da subjetividade. Concebidos como unidades simbólico-emocionais, que se geram ao viver uma experiência, constituem elementos que não podem ser nominalizados em sua especificidade, porém dos quais podemos hipotetizar sua gênese e sua articulação em conjuntos mais amplos – as configurações subjetivas - que se expressam nas ações, reflexões e nas mais diversas formas de expressão dos indivíduos. As configurações subjetivas, sim, podem ser construídas por meio de modelos hipotéticos- modelos teóricos- durante a prática investigativa e profissional permitindo, assim, a compreensão e explicação das ações e posicionamentos dos indivíduos.

    As configurações da subjetividade individual que funcionam com uma relativa estabilidade conformam a personalidade, a qual é entendida como uma configuração de configurações. Ela participa nas ações do indivíduo, contudo sem determiná-las a priori, como as teorias tradicionais da personalidade concebem-na. A categoria de configuração subjetiva como unidade teórica essencial da subjetividade e, no caso da subjetividade individual, também da personalidade, não atua como determinante, mas se organiza no curso da própria ação. É nesse processo que configurações subjetivas da personalidade organizam-se como sentidos subjetivos da configuração subjetiva da ação.

    Um dos diversos campos nos quais a Teoria da Subjetividade tem tido um impacto crescente nos últimos anos é o da educação. Inúmeras pesquisas e atividades profissionais têm sido realizadas com base nessa perspectiva teórica, especialmente nas áreas da aprendizagem, dificuldades de aprendizagem, educação especial e inclusiva, criatividade e inovação escolar, trabalho pedagógico, relações aluno-professor, e inter-relações saúde - educação. Mesmo que com menos peso que os anteriores, também o tema da formação de professores tem sido abordado, como o evidenciam, por exemplo, os trabalhos de Barreto (2009), Barreto, Cunha, (2005), Mitjáns Martínez (2007), Mitjáns Martínez (1998, 2003), Madeira Coelho (2012, 2019), Miranda (2015), Tacca (2016, 2017), Egler (2013), Egler, Mitjáns Martínez (2015, 2018, 2019), Oliveira (2016), Reis Júnior (2009), Barrios, Tacca (2019).

    Avançando nesta última direção, pretendemos neste capítulo mostrar, de forma abrangente e integrada, o que consideramos contribuições da Teoria da Subjetividade à compreensão do processo de preparação profissional visando a evidenciar e fundamentar princípios e possiblidades de estratégias de ação intencionais que, em sua necessária articulação, possam ser mais efetivas dada a complexidade desse processo.

    A ação profissional: complexidade constitutiva e implicações para a compreensão da preparação para o exercício da profissão

    Consideramos a categoria configuração subjetiva da ação como importante para a compreensão da complexidade constitutiva das ações dos indivíduos e, nesse sentido, para a compreensão das ações que os professores realizam. A configuração subjetiva da ação integra sentidos subjetivos produzidos na história de vida da pessoa e sentidos subjetivos que o indivíduo produz no curso da ação como expressão dos processos de subjetivação que emergem no contexto em que a ação se produz, incluindo as relações que nele estabelece (GONZÁLEZ REY, ٢٠١١, ٢٠١٢; GONZÁLEZ REY, MITJÁNS MARTÍNEZ, 2017a). Na configuração subjetiva da ação, a subjetividade social do espaço em que a ação acontece aparece por meio de sentidos subjetivos específicos gerados pela própria configuração subjetiva da ação. Na ação docente, participam sentidos subjetivos oriundos de diferentes experiências vividas pelo professor em sua história de vida. Esses sentidos subjetivos podem ter a mais diversa gênese, por exemplo, a forma como tem vivenciado experiências familiares, escolares, religiosas, amorosas e outras, assim como na forma em que tem experienciado sua condição de gênero, etnia, condição física ou social, entre muitas outras possiblidades.

    Também participam sentidos subjetivos gerados no contexto de sua ação, ou seja, no próprio exercício de sua atividade profissional. Esses sentidos podem ser gerados a partir das relações que estabelece com os alunos, com os gestores ou com os colegas, e serão parte da subjetividade social da escola, que está presente nos sentidos subjetivos gerados nas atividades da escola. Isso não significa adaptação a uma subjetividade social dominante, significa uma subjetividade social em processo por meio de seus diferentes

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