Pedagogia, sujeitos e resistências
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Sobre este e-book
Nesse intuito, organiza palestras, cursos, seminários, filmes, peças teatrais, entre outros, além de manter um acervo de arquivo e biblioteca voltada principalmente para os estudos. Desenvolve formas de ação e formação de militantes e de livres pensadores, tendo sido comum a formação de diversos centros de cultura ou congêneres em meados do século XX.
A obra Pedagogia, sujeitos e resistências é resultado de um seminário promovido pelo Centro de Cultura Social de São Paulo em Junho de 2009 com o propósito de discutir o funcionamento das verdades do poder e dos poderes da verdade que circundam as várias práticas políticas e pedagógicas na contemporaneidade.
Nesse sentido, a obra em questão, como bem apresenta Silvio Gallo, é resultado do esforço intelectual de jovens pesquisadores que transformaram um encontro de estudos em matéria concreta e viva de resistência ao instituído em prol da liberdade de expressão e de criação de novos modos de vida. Esta coletânea de textos apresenta-se extremamente inovadora no que concerne a educação e a pedagogia porque apresenta o funcionamento de micropolíticas cotidianas capazes de mobilização-transformação do mesmo e da mesmidade político, pedagógica e educacional tão correntes nos dias de hoje.
Nildo Avelino - UFPB
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Pedagogia, sujeitos e resistências - GLÁUCIA FIGUEIREDO
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2015 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
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Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
Apresentação da
Coleção Filosofia e Educação
Expressar os trajetos realizados pela Filosofia da Educação
na atualidade não é tarefa fácil. No entanto, esta coleção apresenta ao público outro olhar acerca do encontro entre estas duas áreas do conhecimento – Filosofia e Educação. Os processos de interpenetrações e distâncias ocorridos desde as origens - tanto da filosofia quanto da educação - demonstram a força de um pensamento pedagógico em ação. Se o ato de pensar sempre esteve relacionado à filosofia e a qualidade do pedagógico articulado a uma determinada educação, o produto desta conexão é a diversidade de filosofias retroalimentadas por distintas práticas pedagógico-educativas. A Filosofia da educação devém como um espaço profícuo para expressar as consonâncias diagonais entre o campo da educação, compreendido como um campo aberto e plural, e o ato de pensar filosoficamente mundos e vidas. Portanto, para além do pretenso movimento de estabelecer limites epistemológicos à Filosofia da educação, os textos selecionados apresentam frutos advindos de variadas pesquisas que demonstram a potência do pensar filosoficamente o pedagógico e atuar pedagogicamente no interior do filosófico. Os textos apresentados nesta coleção são de natureza híbrida e versátil, demonstrando características genuínas da conjunção em foco.
Gláucia Figueiredo
CONSELHO CIENTÍFICO EDITORIAL
Coleção Filosofia e Educação
Coordenadora Científica:
Gláucia Figueiredo
Consultores Editoriais:
Ana Godoy - CCS/SP
Antonio Carlos Amorim – UNICAMP
César Leite - UNESP
Elisete Tomazetti – UFSM
Ester Heuser – UNIOESTE
Leonardo Maia – UFRJ
Nildo Avelino – UFPB
Pedro Pagni – UNESP
Renata Lima Aspis - UFMG
Rodrigo Gelamo – UNESP
Samuel Mendonça – PUCCamp
Silvio Gallo - UNICAMP
Simone Gallina – UFSM
Walter Kohan – UERJ
Sumário
Prefácio
Sílvio Gallo
Feudalismo Acadêmico
Nildo Avelino
Sociedade de Controle, Universidade e Perspectiva Ambiental: capturas e resistências
Ana Godoy
Anarquia, num Encontro com Proudhon e Deleuze
Natalia Montebello
Acerca de uma pedagogia
da Insubmissão
Carlos José Martins
Por uma Pedagogia Menor - subjetividades experienciantes e experiências deslizantes
Gláucia Maria Figueiredo
Sobre os Autores
Prefácio
Ensaios de insubmissão:
como se fosse um prefácio
Sílvio Gallo
Faculdade de Educação UNICAMP
Os textos reunidos neste livro são ensaios de insubmissão. Foram escritos por jovens intelectuais libertários, com diferentes percursos por distintas universidades brasileiras. Comuns, entre eles, uma paixão pela liberdade, a falta de medo de arriscar e de colocar a cara a tapa. Comum, também, entre eles, um gosto de pensar usando ferramentas da filosofia francesa contemporânea, notadamente encontradas em autores como Michel Foucault, Gilles Deleuze, Félix Guattari, que aqui são postos em diálogo com outros autores, de diferentes tradições. O que os reuniu no tempo e no espaço foi um seminário sobre pedagogia realizado no Centro de Cultura Social de São Paulo. Este encontro espaço-temporal fez acontecer esta publicação, a engendrar outros encontros, a produção de outros espaços e de outros tempos para o pensamento.
Nildo Avelino e Ana Godoy tematizam, por diferentes vieses, a ortologia. O primeiro desafia o tema do feudalismo acadêmico. Vai da história das universidades à análise do feudalismo para afirmar que este fenômeno permeia a universidade desde suas origens, impondo relações de vassalagem. Com Foucault, examina como a universidade constituiu-se, na modernidade, no lugar do ordenamento e disciplinamento dos saberes, estabelecendo uma ortologia, uma polícia dos saberes que estabelecem protocolos daquilo que pode ser pensado e como pode ser pensado e enunciado. Concluindo afirma que as práticas nobres e honradas da academia
precisam ser sempre confrontadas com a questão: qual é o regime ortológico no interior do qual vocês falam e no interior do qual lhes é unicamente permitido falar?
. Não vejo desafio mais atual e premente.
O ensaio de Ana, ancorado no campo problemático que se tem convencionado denominar como ambiental
, também se interroga sobre a ortologia de nossas universidades hoje, no contexto de uma sociedade de controle ou mesmo de uma sociedade de comunicação. Visitando a obra de Deleuze e Guattari, dali extrai elementos para pensar as práticas de resistências possíveis a um modelo de produção do saber que o remete para o campo da opinião, exercitando um conservadorismo teórico e metodológico quase sem precedentes.
O ensaio de Natália Montebello é um entre. Um entre dois ensaios de acento mais pedagógico e dois ensaios de acento mais ortológico, que pensam o policiamento dos saberes. Um entre Proudhon e Deleuze. Um entre o século XIX e o século XX, pensando a ação no século XXI. Dentre outros conceitos, multiplicidade e nomadismo são abordados nos dois filósofos franceses, explicitando-se coerências e incoerências, encontros e fugas. Entre Proudhon e Deleuze, pensar o anarquismo no século XXI como uma experimentação de sair das identidades
.
Carlos José Martins e Gláucia Maria Figueiredo tematizam a pedagogia de forma direta. Carlos busca em Foucault as ferramentas para pensar o exercício do poder e o trabalho que fazemos sobre nós mesmos, permitindo-nos a paciência que dá forma à impaciência da liberdade
. Esta educação de si que permite colocar-se frente aos desafios do exercício do poder constituiria, quase que paradoxalmente, uma pedagogia
da insubmissão; o autor toma o cuidado de colocar aspas na pedagogia, uma vez que uma condução à liberdade
não faria muito sentido...
Gláucia, por sua vez, investe em pensar uma pedagogia menor, uma pedagogia deslizante, calcada em experiências e subjetividades, que faça o contraponto à pedagogia moderna. Neste registro, investe-se numa aprendizagem-vida, para além dos processos de ensino que são conduções de um suposto bem pensar, de um suposto bem viver que, no entanto, esquece a vida em favor de uma cientificidade fria.
Enfim, os ensaios presentes neste livro possuem como fio comum uma interrogação aguda sobre o tempo presente, nossas formas de educar e sermos educados, buscando construir táticas de resistência ao controle social e ao império do academicismo. Procuram exercitar um pensamento nômade, que de dentro da própria universidade a repense, a coloque em xeque, a estimule a repensar-se e a refazer-se, sempre. São ensaios que não aceitam a ditadura intelectual imposta pela ortologia que policia os saberes, ousando colocar-se em uma prática de insubmissão, de resistência e de criação.
Nada poderia ser mais articulado, portanto, com a história do Centro de Cultura Social de São Paulo. Herdeiro das experiências de escolas libertárias e de toda a prática e cultura anarco-sindicalista do início do século XX no Brasil, o CCS foi fundado em 1933. Atravessou o século e enfrentou todas as ditaduras que nele perduraram, seja as ditaduras políticas seja as ditaduras do pensamento, sempre como espaço de insubmissão e de exercício de um pensamento autônomo, nômade e criativo. Os ensaios presentes neste livro nos mostram que a verve libertária do CCS continua ativa, atenta ao mundo presente, aos problemas presentes, buscando encontrar caminhos para se exercitar práticas de liberdade.
Para aqueles que educam, para aqueles que se interessam por educação e estão preocupados em não simplesmente reproduzir a mesmice da opinião generalizada que grassa pelas nossas instituições escolares, estes ensaios trazem ventos de ar fresco, de instigação ao pensamento e à ação. Mais do que bem vindos, são necessários. Um choque de pensamento contra o marasmo.
Feudalismo Acadêmico
Nildo Avelino¹
Introdução
Falar em Feudalismo Acadêmico
pode provocar, num primeiro momento, a impressão de um certo anacronismo, na medida em que coloca em discussão uma noção bastante arcaica. Afinal, sabe-se que o feudalismo foi um tipo de relação social ou de sistema social que preponderou nas sociedades, sobretudo europeias, entre o século V e o século XIV. Daí ao ouvir-se a palavra feudalismo a primeira coisa que vem ao espírito é uma realidade remota, longínqua e obsoleta. Este desconforto advindo da imagem de uma coisa antiquada evocado pela palavra feudalismo, é ainda nutrido por uma espécie de sombra sobre ele projetada: é a sombra da barbárie, do que é primitivo, da estupidez e da caducidade. Não se pode esquecer que Augusto Comte (1973), ao descrever o que ele chamou de marcha da civilização no seu Curso de Filosofia Positiva, caracterizou a época em que existiu a instituição feudal como um estágio teológico e fictício
; para Comte, trata-se de uma época cujo pensamento pertenceu à infância do Homem, em que a Humanidade esteve mergulhada nas trevas da Idade Média.
Ao localizar a Idade Média na noite dos tempos, Comte não fazia outra coisa que reproduzir o grande mito da Renascença: o famoso esquema tripartido através do qual a história nos foi ensinada. Neste esquema, isto que nós chamamos de razão, de pensamento racional, de racionalismo, teria habitado o mundo grego-romano até o século V d.C., desaparecendo em seguida repentinamente por um período de mil anos para somente reaparecer por volta do século XIV naquilo que é conhecido sob o nome de Renascença. Encontra-se figurado neste esquema tripartido do racionalismo: 1º) Razão: do séc. V a.C. ao séc. IV d.C. – Cultura