Campo de transe
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Sobre este e-book
O livro traça uma linha que vai do urbano cotidiano ao espaço/tempo interno, cruzando esses diferentes mundos em uma única paisagem que une o "real" ao "onírico": duas realidades que são parte de uma coisa só.
E sós somos porque sós estamos, e dessa condição partimos. Porém, a busca do amor e da liberdade é a luz que orienta o percurso, e é essa a trajetória que as personagens inspiram.
Boulevard Corner Palace é uma fábula urbana, contando a saga de um edifício condenado à demolição e a busca de seus moradores por amor e algum sentido na frieza do isolamento.
Três Vezes Vênus é uma jornada através da poesia popular. Três mulheres buscam a sobrevivência levando um show de variedades a pequenas cidades, até que as tensões iminentes ao longo dessa trilha vêm à tona, revelando aspectos femininos soterrados numa cultura embrutecida.
Jukebox é a história de uma mulher que se encontra presa dentro de uma máquina de tocar música. Sem saber como sair, é instruída por Lili Perrier, Mestre de Cerimônias da casa, a cantar até encontrar a frequência certa que a levará à saída daquele cabaré-presídio.
O livro traça uma linha que vai do urbano cotidiano ao espaço/tempo interno, cruzando esses diferentes mundos em uma única paisagem que une o "real" ao "onírico": duas realidades que são parte de uma coisa só.
E sós somos porque sós estamos, e dessa condição partimos. Porém, a busca do amor e da liberdade é a luz que orienta o percurso, e é essa a trajetória que as personagens inspiram.
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Pré-visualização do livro
Campo de transe - Cláudia Pucci Abrahão
CLAUDIA PUCCI ABRAHÃO
DRAMATURGIA:
campo de transe
Copyright © Claudia Pucci Abrahão
Edição
Priscilla Lhacer
Revisão técnica
Sabine Mendes Moura
Projeto gráfico e diagramação
Milá Bottura Dias
Todos os direitos desta edição reservados à
Presságio Editora
São Bernardo do Campo, SP
http://pressag.io
Agradecimentos
Antes mesmo de ser alfabetizada, minha primeira criação foi uma peça teatral. Encenada na festa de Natal da família, o ato tornou-se presente e revelou-se destino: a arte da escrita pros palcos, essa grande arena viva onde sonhos tornam-se matéria, sentimentos viram ações e falas movem o mundo.
Esse campo onde tudo é possível tornou-se minha morada, onde o sagrado e a irreverência dançam um tango infinito. E, como teatro nunca se faz só, cada uma das palavras aqui impressas tem, na memória, a história de muita gente - pessoas queridas, mestres e artistas, com quem divido a alegria de deixar à serviço do mundo essas três histórias forjadas no confronto e na busca da poesia.
Honro e agradeço:
Maria Auxiliadora e Alfredo, primeiros (e eternos) apoiadores de meus delírios;
Antônio Mercado, eterno mestre, que primeiro me instigou a cruzar a ponte invisível (e inevitável) entre o cinema e o teatro;
Silvana Garcia, Tatiana Motta Lima, Antônio Araújo e Cristiane Paoli Quito, mestres fundamentais que deixaram marcas profundas no meu percurso;
Djair Guilherme, Marco Antônio Garberllini, Lucienne Guedes, Ana Roxo, Cássio Pires, Cristiano Meirelles, Daniela Evelise, Alessandra Velho, Daniela dos Santos Duarte, Heron Coelho, Paula Autran, René Piazentin, Paulo Panzeri, Laís Marques, Patrícia Melo, Luis Mármora, Otávio Dantas, Rubia Reame, Fábio Torres, Jonas Golfeto, Lina Agifu, Carlos Canhameiro, Georgette Fadel, Xaxá Melman, Kika Nicolela, Daniela Antonelli Aun, César Vieira, Graciela Rodriguez, Gisela Milás, Evelyn Klein, Jorge Louraço Figueira, Ícaro Rodrigues, Luciana Canton, Karina Jacob, Paulo Capovilla, Sérgio Milagre, Roberto Audio, Claudia Shapira, Isabella Martino, Pedro Colombo, Ricardo Monteiro, Renata Chavs, Marlon Brambilla, Clarissa Pellegrini, Lucas Bernoldi, Celso Cruz, Luiz Coradazzi, Viviane Palandi, Leticia Barçanelli, Tiemi Yamamoto, Simone Cavalcanti, Carlos Eduardo Nogueira, Flavia Stawski, Luis Fernando (Pará), Maria Esther Palalres, Flavia Estevan, Milá Bottura Dias, Denise Guilherme, Hugo Leal, Maria Guida, Cecília Bonna, Adriana Pereira Sesti, Ivana Santos, Roberta Palma, Sabine Mendes Moura, Priscilla Lhacer e Indhu Rubasingham pelas fantásticas trocas artísticas poéticas sagradas lunáticas delícias;
Companhia dos Dramaturgos (in memoriam) e amigos do Royal Court Theatre, essenciais para a depuração do meu olhar para a cena;
Mário Rodrigues Cobos (Silo) e amigos do Movimento Humanista, por abrirem as portas para a compreensão das inúmeras camadas do ser;
e todos os encontros, risos e tombos que vivi e viverei, matéria-prima do drama, motor da poesia, coração do movimento humano.
para Djair Guilherme,
por partilhar comigo, diariamente,
o susto do amor e a beleza do conflito
Apresentação
Ainda é de surpreender a presença relativamente pequena das mulheres no exercício da dramaturgia, em especial do teatro. Claro que elas estão por aí, mas ainda em número que pede, urgentemente, uma ampliação. Desde que Elza Cunha de Vincenzo lançou seu livro pioneiro Um teatro da mulher, em 1992, fomentando o debate sobre a natureza específica da produção dramatúrgica de e sobre a mulher, não vimos avançar muito – um pouco sim, mas não muito – a discussão acerca dessa produção ainda um tanto rarefeita. Não se trata nem mesmo de pretender uma dramaturgia feminista, ou feminina – o que quer que esses termos signifiquem -, mas tão e simplesmente poder verificar que, no campo da escrita para o teatro, as mulheres estariam conquistando vulto e espaço, deixando de ser exceção para emparelharem-se, numericamente, aos homens. Por isso, sempre que temos a possibilidade de destacar o trabalho de uma dramaturga e, mais ainda, festejar a publicação de seus textos, é uma grande alegria.
No caso de Claudia Pucci, a satisfação tem um sabor especial. Conheci Claudia em 2003, durante o workshop de dramaturgia promovido pelo Royal Court Theatre. Vinda especialmente de Londres para essa atividade formadora e de intercâmbio, a equipe do Royal Court teve como parceiro o Centro Cultural São Paulo, onde eu me encontrava, na ocasião, dirigindo a Divisão de Pesquisas.
Para Claudia, essa experiência culminou com um período de residência no Royal Court Theatre em Londres, onde ela teve a oportunidade de fazer contato com mais de uma geração de dramaturgos ingleses: Harold Pinter, Tom Stoppard, Simon Stephens, David Hare, Martin Crimp, Mark Ravenhill e Stephen Jeffries, para citar alguns deles.
Para mim, a tarefa de acompanhar a oficina do Royal Court – cuja equipe naquela ocasião era formada por Ramin Gray, Elyse Dodgson, Indhu Rubasingham e Roy Williams – me pôs em contato com uma nova geração de autores paulistas, todos já com alguma trajetória profissional, mas ainda pouco encenados. Claudia, na verdade, uma mineira instalada em São Paulo, recém-saída da Escola de Comunicações e Artes, onde concluíra o curso de cinema e vídeo, talvez estivesse entre os mais jovens do grupo.
Esse encontro internacional acabou tendo um desdobramento bastante surpreendente, quando oito desses jovens autores permaneceram reunidos e, ao final de 2004, fundaram a Companhia dos Dramaturgos. A experiência inédita de uma companhia de teatro que tem, em seu núcleo gerador, um grupo de dramaturgos parece-me, ainda hoje, uma grande invenção. Naquele momento, a Companhia se instalava com a visão aberta de que o campo da escrita da dramaturgia podia ser – e talvez necessitasse de – um espaço coletivo de troca e experimentações, algo que a dimensão solitária do autor de gabinete
não favorecia. O que se revelava aqui era uma concepção do ofício de dramaturgo que respondia mais apropriadamente às demandas dos modos coletivos de produção que se desenvolveram ao longo dos anos 1990, com modalidades como a dos processos colaborativos e parcerias dramatúrgicas entre diretores e dramaturgos e entre dramaturgos e atores.
Claudia tem bem esse perfil multifacetado. Sua trajetória no teatro revela muitas parcerias com diferentes diretores e trabalhos de adaptações que denunciam sua proximidade com a literatura. Por formação, é também cineasta, escrevendo roteiros e dirigindo curtas e documentários. A imagem em movimento também foi o tema de suas aulas durante o período em que lecionou na Escola Superior de Propaganda e Marketing (onde, aliás, obteve sua primeira titulação universitária). Como escritora, além da dramaturgia e dos roteiros, ela se empenha na contação de histórias, que estão registradas em sua página na internet e que ela desenvolve ainda como metodologia de escrita nos workshops que ministra. Escrever para ela é uma necessidade; como diz em sua página: Sinto escorrer pelos dedos um suor diferente, que se não sai, vira pedra. Então, escrevo
.
Além da habilidade em estruturar e dar forma a seus textos, habilidade essa que, talvez, muito se deva à versatilidade de Claudia no domínio das três diferentes linguagens – teatro, cinema e literatura -, há ainda uma qualidade que abraça todas as suas artes. Claudia se declara humanista, uma militante das causas que pregam a valorização do ser humano e do ser humano em sociedade, reconhecidas a igualdade de direitos entre os homens, as diversidades que nos fazem iguais, mas diferentes e o repúdio a todas as formas de violência que nos degradam. Esse voo poético sustentado em preceitos simples, mas fundamentais para a coexistência humana, está presente, de forma mais ou menos visível, em todos os textos de Claudia. Há, nisso, uma busca de espiritualidade, uma tentativa de balizar a produção da escrita artística por certos valores, o que evidencia uma escolha, um caminho que ela traçou para si mesma e que abrange todos os aspectos de sua vida.
Não surpreende, portanto, que, ao lado das suas criações ficcionais, Claudia alinhe, no mesmo patamar, a sua maternidade. "Sou muitas. Crio peças, filmes, livros, filhos.
Espalho a rama por tantas partes", diz ela em sua página. Ela é mãe de três filhos. Quatro: sua última cria foi um livro, Canto da Terra, no qual ela relata, em prosa e versos, a história de suas gestações e seu empenho em dar a luz de forma natural, em casa, assistida por uma parteira.
Claudia expõe uma grande coerência, quando escreve, ou faz de sua vida, escrita. Apenas por isso, ela já seria admirável. Mas, havia que dar conta de sua produção. Desde seus inícios, saída da ECA para o mundo profissional, ela tem produzido muitos: são quase uma dúzia de textos, quatro curta-metragens, um livro e centenas de poemas e histórias que dão conta da vida que ela observa ao redor. Mais do que merecida, portanto, esta edição.
Em 2005, A Companhia dos Dramaturgos lançou o que seria o primeiro de uma série de títulos com a produção dramatúrgica de seus integrantes e eu tive a honra