Mídia e escola
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Sobre este e-book
O livro é dedicado a docentes e também a estudiosos da interface entre comunicação e educação sob o contexto e as características do emissor, das audiências e das mensagens.
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Mídia e escola - EVERTON LUIZ RENAUD DE PAULA
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Para Jociane, dona do meu coração.
Clara, que ilumina minha vida.
Augusto, que me revela a crença divina naquilo que ainda posso fazer!
Em vocês me refugio, por vocês renasço todo dia!
AGRADECIMENTOS
Para você, leitor, eu digo o primeiro obrigado!
Obrigado por estar com este livro e obrigado me dar espaço para fazer os agradecimentos que julguei necessários.
Esta é uma obra que começou a ser preparada há muitos anos, então preciso pedir licença para falar daqueles que caminharam ao meu lado ao longo deste trajeto.
Obrigado!
Deus, pela energia e pela companhia nas maratonas diárias.
Mãe e Pai, suas mãos me colocaram no caminho.
Obrigado!
Mestres especiais da minha vida, que andaram ao meu lado para indicar o caminho desde o começo até aqui.
Professoras Clarice e Rosângela, que na primeira série da Escola Araucária, em Curitiba, me apresentaram a magia das letras. De São Paulo, Celi, Elaine, Capello, João, Wal, Frei Marcos, Frei Rafa, Neli, Márcio, Cláudia, vocês fizeram um Ensino Médio fabuloso! Neli Viotto, agradecimento especial, porque o meu espírito pesquisador começou com o seu vigoroso exemplo!
Mestres e doutores da Filosofia em Curitiba que me colocaram no caminho da reflexão. Cada aula foi definitiva na construção da minha identidade docente. Nelcy Finck, Osmar Ponchirolli – suas horas dedicas à monografia e iniciação científica fizeram a diferença. Obrigado por terem acreditado.
Grandes mestres que estiveram comigo na jornada de pesquisa que gerou este livro.
Profª Drª Rosa Maria Cardoso Dalla Costa, guia e inspiração.
Profª Drª Tânia Maria F. Braga Garcia, exemplo que ficará entranhado no meu fazer docente.
Professores Dr. Fábio Hansen, Drª Gláucia da Silva Britto e Drª Nilda Jacks, obrigado pela dedicação e ensinamentos para minha produção.
Obrigado!
Aline Horn, amizade e parceria são grandes aliados para a pesquisa.
Aos amigos de café e meus primeiros críticos e apoiadores: Célia Regina Cordeiro, Patrícia Melo, Débora Zaze. Meu irmão de alma e músico predileto, Diogo Carlos Ferreira, pelo ouvido sempre disponível.
Obrigado, Brisa Teixeira, por ler, reler e melhorar cada linha do meu texto.
Obrigado!
Professora Eliane Hornes, profissional exemplar que abriu o santuário de sua profissão – a sala de aula – para me receber.
Meus sinceros agradecimentos ao Grupo Paranaense de Comunicação, querida equipe do Instituto GRPCOM de todo o Paraná e Secretaria Municipal de Educação de Palmeira, pelo apoio e colaboração para o desenvolvimento desta obra.
Sempre estamos na possibilidade de aprender, mas nem sempre estamos na possibilidade de ensinar.
O ensino é restrito, a aprendizagem é ilimitada...
(Guillermo Orozco Gómez)
APRESENTAÇÃO
Mestre não é quem sempre ensina,
mas quem de repente aprende
(João Guimarães Rosa)
Desde que me deparei com essa frase de Guimarães Rosa, tenho procurado entender como levar a termo essa frase aparentemente tão simples, mas na prática tão complexa e polissêmica.
Nos estudos de educomunicação encontrei o referencial teórico que ilumina cientificamente a frase do poeta. A interface comunicação e educação pressupõe a educação dialógica e a comunicação como um processo no qual todos os sujeitos são ativos e dão sentido à mensagem: todos ensinam, todos aprendem.
O cotidiano da escola, seja ela de que nível for, a partir desse entendimento nos impõe o desafio permanente de capacitar o aluno a descobrir-se e descobrir o mundo para nele exercer seu potencial crítico e criativo, sua autonomia de pensamento, pesquisa e sistematização. O professor capacita o aluno para apropriar-se do conhecimento e dele utilizar-se para suas próprias reflexões e análises através de um processo comunicativo no qual ao capacitá-lo, ele, o professor, recicla seus referenciais e se renova.
O presente trabalho é o resultado de um dos processos mais bem sucedidos nesse sentido. O Everton, autor deste livro, que tenho a honra de apresentar, chegou ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná com uma considerável experiência na organização e desenvolvimento de projetos de educomunicação fundamentados em seus estudos de educação e filosofia. Trouxe da sua vida acadêmica precedente a disciplina e o rigor na sistematização de conceitos e ideias. Buscava ampliar sua compreensão sobre a interface comunicação e educação, tinha entusiasmo, interesse pela escola, disciplina e disposição de ir a campo.
Acompanhar o seu processo de amadurecimento na compreensão teórica e metodológica dos princípios da educomunicação foi gratificante e desafiador, porque exigia uma atualização permanente do que havia de mais recente na área. O Everton foi um leitor de fôlego e incansável. Encantou-se por alguns autores e não hesitou em aprofundar seus textos, principalmente os de teoria da comunicação, área nova para ele.
Foi corajoso ao decidir por um estudo de recepção na escola com um prazo curto para concluir o trabalho e ainda assim, conseguiu finalizá-lo antecipadamente. Os estudos de recepção pressupõem uma metodologia complexa de observação, mas também uma verdadeira imersão no mundo do receptor. No caso da presente pesquisa, o universo escolhido, criteriosamente a partir de um estudo pré-exploratório, foi uma escola de uma cidade do interior do Paraná. Nela, Everton procurou identificar as principais características objetivas e subjetivas que mediavam a recepção de um projeto de educomunicação denominado Televisando. Dos sujeitos envolvidos no projeto e na escola, optou por estudar as professoras que conduziam o projeto na sala de aula e fez uma minuciosa pesquisa de campo, que mesclou várias técnicas, como questionários, entrevistas , observações.
Os resultados obtidos trazem à luz a trama complexa e contraditória da presença dos meios de comunicação na sociedade e na escola, da relação ainda pouco aprofundada e compreendida da televisão e da criança, do olhar e da ação do professor nessa relação.
Tendo a oportunidade de acompanhar de perto, desde a intenção da pesquisa à sua realização e aos encantamentos e frustrações de um trabalho como esse, tive a chance de aprender com o Everton – levando a termo as palavras de Guimarães Rosa – a olhar para esse professor de Ensino Fundamental com objetividade científica, sem fazer dele um obstáculo para o uso dos meios na escola, sem esperar dele o papel de super-herói de uma sociedade com tantas carências, sobretudo na área escolar. Tive a chance de lhe indicar autores e leituras que apontam para uma nova compreensão da comunicação e de seus processos e aí, minha maior gratificação: o Everton captou das leituras o entusiasmo pelo estudo da comunicação e passou a entendê-lo como uma das grandes questões – se não a principal – do século XXI.
Os limites que uma pesquisa de mestrado permite – com seus prazos exíguos e suas demais exigências formais – não foram obstáculos para o Everton. A prova disso está aqui: este livro traz uma releitura honesta dos principais autores da comunicação e da educação, que tratam de temas que se completam na análise de um projeto de educomunicação no cotidiano escolar: cultura, educação dialógica, recepção, mediações culturais. Detalha seus procedimentos metodológicos com o rigor de um cientista meticuloso e disciplinado. Revela resultados que subsidiam novas reflexões sobre o tema.
Tudo isso num texto claro, bem escrito, bem estruturado, que conduz o leitor ao que há de mais atualizado na área de interface entre a comunicação e educação. O Everton talvez tenha alcançado tamanho êxito, por ter se deixado levar pelo entusiasmo que tem pelo estudo e pela pesquisa. Por ter se aberto ao aprendizado resultante da imersão no mundo da escola e da cultura que a carateriza. Por ter, provavelmente mesmo sem se dar conta, arriscado aprender e ensinar, assim, de repente.
Profª Drª Rosa Maria Cardoso Dalla Costa,
Doutora em Ciências da Informação e da Comunicação
PREFÁCIO
Quando a reportagem diária da televisão se torna objeto de aprendizagem mediada
O grande tema deste livro é a mediação múltipla da aprendizagem na escola. Para isso, em primeiro lugar aborda-se a relação entre educação e comunicação, em seguida, entre a escola e os meios de comunicação, que o autor explora especificamente a interação que os alunos realizam através de reportagens jornalísticas em um contexto específico: a sala de aula. A partir dessa mediação situacional e institucional e seu jogo com outras mediações do contexto, a escola, a televisão, a cidade e o país, o presente e a história, manifestas em um processo de recepção, explora-se e evidencia-se de forma concreta a maneira que uma mídia de massa, como é a televisão, pode entrar em sala de aula, ser um objeto visionado pelos alunos, além de mediar seu processo de aprendizagem sobre o cotidiano. Os alunos encontram-se aqui, não como espectadores clássicos, mas sim em um entorno intencionalmente educacional e dentro de uma instituição de ensino, onde a televisão não é um produto pensado para educar, nem produzido como programa de instrução para ensinar alguma coisa, senão como um mero telejornal para ser visto como um programa de entretenimento. E aqui está outra chave para ler este livro: a convicção do autor de que as aprendizagens não são apenas um produto de atividades de ensino, mas que resultam de outras experiências e interações, por exemplo, que podem acontecer partindo de reportagens jornalísticas na tela da televisão, que é a aposta deste livro.
Mas o que significa, na realidade, tudo isso? Que implicações existem em introduzir deliberadamente na sala de aula um produto popular de um meio de comunicação de massa? Que tipo de troca se propicia e com que resultados são conduzidos esta interação? Que novos elementos comunicativos e novas aprendizagens se realizam, ou seja, como se dá o jogo da mediação
neste processo? São apenas algumas das perguntas e conclusões que resultam o estudo aqui apresentado. As perguntas que o autor enfrenta, a partir de uma pesquisa empírica qualitativa que leva a uma reflexão rigorosa, pela qual o autor deixa claro as temáticas e os fatores ligados à construção metodológica de seu objeto de estudo, o que ele mesmo denomina de os fios que tecem a trama
.
E a trama começa com a abordagem da comunicação e da educação e suas interconexões ou interfaces. Campos de estudos ricos em si mesmos, a comunicação e a educação, neste livro, vinculam-se, primeiro, por meio da cultura, para fazer evidente a maneira conceitual do cenário construtivo de relações profundas entre a educação e a comunicação. Em um segundo momento, faz-se um passeio por campos intermediários, mais institucionais e históricos, por meio dos quais surgiram, tanto a escola como a televisão com características particulares e distintas. Nesta apuração, incluem-se, logo, algumas características concretas político-econômicas do sistema de mídia no Brasil e características de seus formatos de televisão que completam a configuração de um marco teórico sobre as audiências, os conteúdos televisivos e seus processos de recepção.
Destacam-se, em todo o livro, a frequência de citações e referências de autores latino-americanos, que são convidados a dialogar em suas páginas, formando, em conjunto, uma abordagem também de mediação conceitual, metodológica, institucional, muito bem referenciada e atualizada.
A mediação
originariamente proposta por Martin Barbero é retomada, neste livro, em sua derivação de mediação múltipla com a que um pesquisador pode analisar diferencialmente naqueles aspectos que intervém os processos de recepção e educação, ao mesmo tempo, e que devem ser envolvidos na produção dos textos televisivos também.
O autor organiza cuidadosamente a descrição e análise dos processos de recepção, de discussão e apropriação que os estudantes realizam nos casos escolares selecionados. A partir disso, nós leitores, podemos apreciar a interlocução que realizam professores e alunos, durante e após a visualização das reportagens jornalísticas. Isso estimula todos a querer compreender melhor a realidade por trás da notícia e, assim, a sua própria realidade, e enquanto a sua recepção lhes permitem fazer conexões com outros acontecimentos simultâneos ou diferidos ou sucedendo outros cenários, similares ou diferentes.
Ver na tela reportagens do cotidiano se mostra muito instigante para a memória e para recuperar histórias às vezes esquecidas ou caladas, que revivem ao serem estimuladas, a partir de serem assistidas de maneira conjunta, dentro da sala de aula. Por isso, os resultados da pesquisa são muito ricos, porque eles têm a ver com a interação coletiva, com o produto-conteúdo televisivo dentro de uma comunidade escolar mais disposta a aprender do que a ensinar. O sucesso de exibir, na aula, as reportagens do dia a dia faz diária a reflexão e facilita os participantes a recriar a memória e o presente, e, assim, dessa maneira, quem sabe, vislumbrar um futuro, o qual resulta exitoso. E é então, que a mediação televisiva desses processos de recepção um ponto de partida para uma visão ativa e analítica que se movem em múltiplas direções de espaço e tempo. Assistir à televisão torna-se, assim, o pretexto para ver o mundo, um mundo, e como enfatizava Paulo Freire, para dizer nossa palavra
, – não a do professor – sobre esse mundo e nomear o nosso.
No geral, os resultados, aqui relatados pelo autor, mostram que não há conflito entre a televisão e a sala de aula, nem entre aprender e divertir-se assistindo os telejornais, nem se elimina o papel do professor que intervém e pode motivar a reflexão analítica do que se transmite, a partir da tela e fala-se e comenta com os telespectadores-estudantes.
Poucas são as pesquisas como a reportada neste livro que mostram tão claramente esse jogo de papéis, que não são somente mediações entre estudantes, que se fazem telespectadores e telespectadores, que dialogam e recordam e acabam aprendendo, não só para a escola, mas sim para a vida... sua vida.
E poucas também são as pesquisas como esta, que retomam tão lucidamente as colocações de um autor, neste caso eu mesmo, e as levam para os seus limites para reorganizar as ideias com suas próprias ideias e as de outros autores e, portanto, extrair novas aprendizagens. Meu profundo agradecimento ao Everton por continuar criativamente nesta direção.
Guadalajara, 23 de maio de 2016.
Guillermo Orozco Gómez
Sumário
PRÓLOGO
1
OS FIOS QUE TECEM A REDE
1.1 O caminho percorrido e o seu contexto
1.1.1 Em que escola? Com qual professor?
1.2 Apontamentos sobre o observar
2
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: FUNDAMENTOS E INTERCONEXÕES
2.1 Os campos e suas conexões: a construção da interface
2.2 Televisão e escola e a tv não educativa
2.2.1 A TV não educativa que educa – A Contribuição de Guillermo Orozco