Sociedade em rede: comunicação científica na nova mídia
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Sobre este e-book
A resposta a essa pergunta é necessária para possibilitar o que o filósofo Mario Bunge chama de "experimento intersubjetivo" – a forma pela qual a comunidade dos seus pares (cientistas) chega a um consenso sobre alguma questão de pesquisa. Além disso, ao se solucionar esse dilema, avança-se rumo à formação dos pesquisadores, ao ensino e à divulgação dos conhecimentos. Por consequência, a comunicação científica cria um ambiente propício para apoiar as políticas de promoção da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) por parte da sociedade, incentivando ainda mais os investimentos na área. Logo, ao tratar da comunicação científica na sociedade em rede, a obra de Alessandro Mancio de Camargo também visa acentuar como o sucesso profissional está ligado ao incremento da comunicação interpessoal e à interação nas redes sociais digitais, especialmente para o público que atua nesse segmento.
Indicado tanto para quem faz pós-graduação como para quem já trabalha em organizações inovadoras e start-ups, este livro analisa todos os seus assuntos à luz da Teoria Geral de Sistemas, de Bunge (e outros pensadores), e da Semiótica, pelo enfoque do lógico Charles S. Peirce, além de ter como pano de fundo a maneira pela qual os modos interativos de comunicação científica têm afetado o paradigma da representação da CT&I na nova mídia, em que a prática do online buzz – comunicação interpessoal, descrita como agito/burburinho social – se tornou referência.
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Sociedade em rede - ALESSANDRO MANCIO DE CAMARGO
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Dedico este livro aos meus pais,
Pedro e Cida,
às Camarguinhas e à minha esposa, Nádia.
AGRADECIMENTOS
A edição deste livro trouxe à tona, no lago da consciência, a seguinte timeline:
2015 – Tecnologias da Inteligência e Design Digital (TIDD/PUC-SP);
2014 – Os encontros do grupo de estudo TransObjeto;
2013 – Meu trabalho na pós-graduação lato sensu Gestão do Relacionamento com o Cliente (Senac EAD), sob a coordenação da Profª Claudia;
2012 – Comunicação e Semiótica (COS/PUC-SP). Em especial meus professores: Lucrécia (seminário de pesquisa), Jorge (Teoria Geral de Sistemas), Rogério (biopolítica e estratégias de comunicação) e Lucia (identidades e subjetividades nas novas mídias; Semiótica peirceana). Os colegas Alexandre, Thábata e Camila;
2011 – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES);
2000 – Professor Carlos Vogt e Mônica Macedo, do Labjor-Unicamp, cuja perseverança trouxe "ComCiência" à comunicação científica;
1999 – Dr. Roberto Apollaro*, que apresentado por Ricardo Nery*, acolheu-me no Biovet, obra do Dr. René Corrêa*. O Laboratório, atuante no setor de saúde animal brasileiro e internacional, completará 60 anos em 2017 ;
1991 – Pesquisas no Departamento de Documentação da Abril (Dedoc), cujas portas foram abertas pelo meu padrinho, Fernando Francesquini. E o ofício explicado pelos amigos Luís Sérgio, Fátima, Otacílio, Isney*, Cezinha, Ana e Jorge Miguel;
1989 – Capa da 7ª edição de O que é Semiótica
. Época da graduação em jornalismo;
1978 – Germinação (e explosões) de sementes, em experimentos infantis variados.
Agradeço às pessoas, organizações e aos acontecimentos nominados. Companheiros, divisores de água e apoiadores. Protagonistas.
Agradeço à timeline que continua submersa. A qualidade dela também integra minha autonomia. Parte aqui corporificada.
Agradeço ainda ao tempo
, dado por Deus. Graças a ele vivi (revivi) tantas experiências.
*In memoriam
Dar-se-á ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem tirar-se-á mesmo aquilo que julga ter.
Mateus 25:29
APRESENTAÇÃO
A divulgação de um trabalho científico realizada de forma equivocada trouxe problemas para Sir Isaac Newton, cientista inglês considerado um dos mais influentes da história. No século XVII, já havia publicações como a Philosophical Transactions, da Royal Society, e a alemã Acta Eruditorum. Mesmo assim, ainda era comum realizar a disseminação dos novos conhecimentos por cartas trocadas entre amigos. Foi essa a opção escolhida por Newton para comunicar as pesquisas dele sobre cálculo infinitesimal. O anúncio restrito ao círculo de amizades evitava a perda de tempo em argumentações, muitas vezes sem propósito, com quem questionava ou solicitava informações a respeito das suas descobertas, segundo o divulgador científico Hal Hellman (1999).
A troca de cartas e bilhetes entre amigos, modalidade de comunicação adotada por Newton para divulgar as pesquisas dele sobre cálculo infinitesimal, está no centro de uma das querelas científicas mais disputadas, um verdadeiro duelo de titãs. Newton contra Gottfried Wilhelm Leibniz. A controvérsia, que teve como palco a Royal Society, dava-se em torno da primazia da descoberta do cálculo. Atualmente já se sabe que o cientista inglês chegou antes a conclusões similares às do filósofo alemão. Mas, Leibniz, que disseminou sua fórmula de cálculo primeiro, por meio da revista Acta Eruditorum, tem seu sistema de notação usado até hoje.
Não só para evitar controvérsias, mas também para aproximar a ciência da sociedade, a publicação de artigos científicos cresceu entre os séculos XVIII e XX. Cresceu tanto que a comunicação tornou-se um valor ético a ser defendido pelo pesquisador. Para o sociólogo Robert K. Merton (1979), por exemplo, é imperativo que os conhecimentos e resultados alcançados pela ciência sejam comunicados ao público. O físico e filósofo Mario Bunge (1973) tem a mesma opinião: o saber científico tanto é como deve ser comunicável, sendo isso um princípio da ciência.
A partir do século XX, a comunicação científica tornou-se um canal indispensável para transmissão do saber à sociedade em rede. Pode-se descrevê-la, por meio da Semiótica peirceana¹, como um signo que representa, ao menos em parte, certo conhecimento ou objeto científico à mente de um intérprete não cativo à ciência, e gera na consciência dele, por semiose (ação do signo), um interpretante do signo que produz algum efeito ou até mesmo a efetiva representação do objeto.
Para o senso comum, a comunicação científica resulta de um agregado de discursos que conecta a linguagem da ciência, mais restrita, a outras, mais populares. Nessa linha, entre as várias definições possíveis, pode-se dizer que se trata de um gênero discursivo formado pelas linguagens da ciência e da literatura. Ou da conexão entre os discursos científico e jornalístico. Tal diversidade é verificada em outros sistemas abertos e dinâmicos, segundo a obra do astrofísico e semioticista Jorge de Albuquerque Vieira, cujo trabalho pode ser consultado em livros como O Universo complexo e outros ensaios (2015). Isso indica uma postura sistêmica e semiótica como oportuna para estudá-la. Posição que eu defendo para analisar a complexidade da transmissão pública do trabalho dos pesquisadores na nova mídia.
De acordo com a direcionalidade da mensagem, discutiremos também como a comunicação científica é classificada em três categorias: difusão, divulgação e disseminação. Grosso modo, difusão refere-se à propagação de mensagens para os habitantes de um estado, como o de São Paulo, ou de um país, como o Brasil, feita por meio de veículos de comunicação de massa. Isso ocorre em seções geralmente intituladas Ciência
de jornais impressos de grande circulação. A divulgação remete à transmissão pública do trabalho dos pesquisadores realizada, principalmente, nas atividades de cunho educacional. Ela abrange as obras disponibilizadas em livros didáticos ou em publicações como a de Hellman (1999), escritor citado nesta apresentação. Por sua vez, a disseminação é direcionada a um intérprete cativo (profissionais da ciência). Aborda o tipo de comunicação sobre as questões contidas num artigo científico; sistema sígnico impregnado de referências da especialidade (ontologia regional) que o originou.
Minhas descobertas
O duelo de titãs que envolveu Newton e Leibniz, provavelmente, cumpriu um papel importante na propagação do atual modelo adotado como padrão de artigo científico. Como comentado por mim no parágrafo anterior, o artigo científico é um sistema sígnico direcionado a um intérprete cativo (profissionais da ciência), no qual predomina a univocidade da linguagem científica. Ele é impregnado de referências à ontologia regional que originou as informações nele discutidas. Assim, um artigo científico pode ser equiparado ao grau mais alto de dedução (teoremática), no qual a malha de referencialidade interna do discurso se constitui de forma tão densa que as relações de analogia são tecidas muito mais internamente, conforme se interpreta com base na obra de Maria Lucia Santaella Braga, livre-docente em Ciências da Comunicação e semioticista².
Para não limitar a compreensão por parte do público, transpor o rigor e a especialização da linguagem científica tem sido uma preocupação constante desde o século XIX. A obra A origem das Espécies, de Charles Darwin, cuja primeira edição se esgotou em 1859, foi escrita de forma que pudesse ser lida pelo leitor não especializado. Basta levar em conta a influência da propagação do darwinismo para o desenvolvimento da ciência para assimilar a importância da transmissão pública do trabalho dos pesquisadores. É dessa forma, que o público incorpora novos saberes e inovações para aprimorar as próprias condições de renovação da ciência e da tecnologia, condição necessária ao fortalecimento da nossa cultura.
Em 1959, no entanto, o cientista e novelista britânico C. P. Snow alertava, no livro The two cultures, sobre o afastamento da ciência e da literatura, que contribuiu para tornar o discurso científico ininteligível para a sociedade. Por sua vez, a cobertura jornalística da ciência feita de maneira mais popular passou a ser criticada devido à angulagem sensacionalista muitas vezes presente nesse tipo de difusão. Para evitar problemas foram criados até códigos deontológicos que visam equilibrar a conjugação dos discursos jornalísticos e científicos