ESTOU PROFESSOR. E AGORA?: Um profissional e sujeito da ação
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Sobre este e-book
Vivemos em tempo fluído, de excessos, seja de informação ou de possibilidades, assim, o aluno deixa de ser coadjuvante dentro da sala de aula e torna-se protagonista de suas escolhas. O papel do profissional, que conduz esse importante processo, torna-se cada vez mais desafiador e importante. O professor não é só uma peça do quebra-cabeça educacional, mas o sujeito da ação.
Neste livro, o verbo "estar" é conjugado por vários autores que passeiam pelas teorias, práticas e relatos de experiência em salas de aula, conduzindo e provocando o leitor a refletir sobre a ação e os papéis da prática docente: avaliação (abordagens e possibilidades), metodologias e práticas educativas.
Nos capítulos de "Estou Professor. E agora?", você encontrará de forma sistematizada discussões teóricas e exemplos práticos de aplicação didático-metodológica, sobretudo, será possível reconhecer o amor e a dedicação pela educação.
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ESTOU PROFESSOR. E AGORA? - Aguinaldo de Oliveira
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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2019
Prefácio
Encontrando a luz
A primeira luz geralmente é encontrada sem grandes intenções, mas logo que reconhecida é colocada em um lugar de destaque. Algumas luzes necessitam de cuidados especiais, outras estão quase prontas. Na medida em que são identificadas ao longo da jornada, são postas em evidência devido à importância de cada uma. Assim se forma uma coleção; e quanto maior a coleção, mais valiosa a luz se torna.
O que torna uma peça importante dentro de uma coleção é o olhar atento do colecionador na busca por algo único, de valor inestimável. Contudo, o valor não está na avaliação do outro ou na comparação entre coleções, pois cada item possui um valor especial, e este reside no fato de ter sido reconhecido por alguém.
Esta é a postura que acreditamos ser a de um professor: uma pessoa que, em sua jornada, reconhece o brilho especial e único de cada aluno (luz) que encontra, conferindo-lhe atenção, cuidado, zelo. Depois desse encontro, certamente a luz se sentirá valorosa, não diante daquele de quem recebeu cuidado, mas diante de si mesma, por meio daquilo que o encontro produziu em si.
Ser professor é colecionar luzes. Algumas brilham muito, outras brilham pouco; uma é robusta, outra, tímida. Mas cada uma tem sua cota de contribuição para formar uma constelação.
A escolha em colecionar é pessoal. Mesmo que o tempo nos leve, as histórias e as peças
colecionadas permanecem em destaque. É o que ocorre com a presente obra que o leitor tem em mãos. Cada capítulo apresenta uma história. A cada página lida um motivo para o leitor também iniciar a sua coleção. Afinal, quando se encontra a própria luz, é impossível não iluminar as pessoas ao seu redor.
A história desta obra teve início quando professores inquietos e curiosos decidiram não estar professores; compreenderam o chamado para serem mais que meros reprodutores de conhecimentos. Foi em uma sala de aula de uma pós-graduação que começaram a (re) construir novas histórias.
Os capítulos que se seguem apresentam experiências pessoais de professores pesquisadores que assumiram as rédeas de suas carreiras. Tem a história de arquiteto que se tornou perito em avaliação; de artista que apreendeu as inúmeras possibilidades das metodologias ativas e do ensino híbrido; de um empresário e gestor que, a partir de um trabalho voluntário, se apaixonou pela docência; de uma matemática que nos apresentou a paixão por essa ciência à luz dos jogos e da ludicidade; de uma psicóloga que deixou seu consultório para apresentar novas experiências para além da sala de aula; de um professor de Direito e seu olhar para o ensino jurídico sob a perspectiva da Psicologia Positiva, apresentando um novo roteiro para o palco onde quem brilha não são as luzes de cena, e sim os alunos.
Fez jus à composição desta coletânea pôr em evidência o professor gestor, bem como o fazer pedagógico em tempos de complexidade. Ademais, ficou mais que clara a importância de novas metodologias para o Ensino Fundamental, em especial no que diz respeito ao ensino da língua.
Enfim, são textos que trazem um novo olhar para a educação e os desafios do professor no século XXI.
ESTOU PROFESSOR, E AGORA? Um Profissional e Sujeito da Ação é um encontro com a luz. Luz que é a chama do professor para (re) construir histórias e se tornar guardião da chama de cada aluno.
Glaucia Yoshida e Daniel Vieira.
Sumário
O professor na era da complexidade
Gláucia Yoshida
O papel do professor como mediador no espaço não escolar
Ana Lourdes de Castro Schiavinato
A realidade de professores ao tornarem-se gestores: sou professor, estou gestor, e aí?
Renata Rodrigues de Sousa
Futuro incerto: uma reflexão crítica sobre os desafios do professor universitário na sociedade pós-moderna
Márcia Amina Asmar Passos
Jogos como instrumento avaliativo na disciplina de matemática
Cijane Augusta Teixeira Martins
Avaliação da aprendizagem na escola contemporânea
Rosângela D. Ribas Lopes
A integração entre ensino e mercado de trabalho: um estudo de caso acerca do Programa Miniempresa, da Junior Achievement, em Goiás
Aguinaldo Fernandes de Oliveira
Psicologia positiva: caminho para a transformação do ensino jurídico brasileiro
João Paulo Leão Hilário
Blended learning: inserção de ações disruptivas no ensino superior
Sthephane Aparecida Godoi
Histórias para além da sala de aula
Daniel Vieira
Tendências didático-metodológicas na ensinagem de língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental
Tálita de Oliveira Borges
ESTOU PROFESSOR, E AGORA? Um profissional e sujeito da ação é uma coletânea de textos cujos temas resultam da contínua busca de professores por uma alta performance. Uma dessas buscas é pela Especialização em Formação de Professores: Didática e Gestão Educacional. Diante das inquietações dos professores desse curso, surgiram temas que tratam dos mais complexos desafios que permeiam a atividade docente – desde questões identitárias da profissão até processos avaliativos e proposições de alternativas metodológicas e didáticas.
O professor, na era da complexidade, depara-se, em primeiro lugar, com a questão identitária da atividade docente em seus aspectos filosófico e conceitual de Ser e Estar professor. Em segundo lugar, contextualiza os cenários da educação contemporânea no que tange às demandas de integração de saberes, compreensão do pensamento complexo e concepção de uma postura de curadoria em tempos de acesso às inúmeras informações viabilizadas pela tecnologia.
Diante disso, apresentamos, aqui, uma discussão acerca da construção da carreira. Entendemos que Ser professor é um processo contínuo de busca, curiosidade, formação; é, sobretudo, a convicção de um chamado, não como sacerdócio ou missão, mas como profissão.
Ser ou Estar professor
Qual a diferença entre o Se e o Estar professor? O trabalho é uma das maiores expressões da essência humana. Passamos a maior parte do tempo de nossas vidas trabalhando. Por meio do trabalho expressamos quem somos; nos realizamos como seres humanos ou nos sucumbimos em meio a uma existência sem sentido. O trabalho que realizamos pode ser fruto de um chamado, tornando-se um propósito de vida, ou restringir-se à sobrevivência. Posto isso, a ideia de Ser relaciona-se com essência, com aquilo que é da constituição e da natureza de algo.
Nesse caso, o Ser professor tem a ver com a própria identidade, não no sentido de identificação, e sim na sua constituição identitária. Contudo, não nascemos algo; tornamo-nos. Não nascemos professores; tornamo-nos professores. Portanto, o Ser professor é fruto de uma trajetória marcada por inúmeras transformações. Já o ESTAR professor é efêmero, transitório e, às vezes, passageiro. Pode estar relacionado com tempo, circunstâncias ou estado momentâneo. Estar algo em algum momento não significa ser definitivo, pode ser uma contingência e depende de fatores alheios às escolhas. Há, por conseguinte, uma grande distância entre o Ser e o Estar professor.
Na contemporaneidade, Ser professor é mais complexo do que antes. É desejável que o trabalho docente não fique restrito à sala de aula. Os alunos devem ser levados a encontrar sentido naquilo que fazem. Da mesma forma, o professor deve encontrar sentido naquilo que faz. O professor que É professor sempre se faz novo e atual. Aquele que reconhece verdadeiramente o sentido do seu trabalho – e isso é a essência do Ser professor – espanta-se com o conhecimento e não suporta o guardar para si, levando-o aos que lhes foram confiados.
Com relação aos alunos, Moran (2004:14) diz que: o novo professor tem que aprender a gerenciar e integrá-los ao seu ensino
. Portanto, trazer o aluno para perto de si, atribuindo significado ao ensino, é a grande essência da atividade docente.
A concepção do Ser professor é profunda e exige reflexão. Freire (2008:33) ensina que: Para escutar, não basta só ter ouvidos. Escutar envolve perceber o ponto de vista do outro (diferente ou similar ao nosso), abrir-se para o entendimento de sua hipótese, identificar-se com sua hipótese para compreensão do seu desejo
. O escutar é algo que deve fazer parte do Ser professor, pois isso é o que possibilitará a ele trazer para si aquele que é escutado. Esse ato é o que garante a verdadeira compreensão do que o outro deseja e tem necessidade.
Em tempos de complexidade
Vivemos em tempos de complexidade e de inúmeras demandas. Somos indivíduos unos e atuantes no diverso. As situações são diversas. Neste sentido, os olhares para interpretá-las devem ser amplos. Diante desse cenário, indagamos: Como está a educação em tempos de complexidade? Quem é o professor neste contexto? Como manter os estudantes motivados, engajados e preparados para superarem os desafios atuais e futuros?
Um dos dilemas dos educadores no tempo presente diz respeito ao fato de que as habilidades mais fáceis de ensinar e testar são também as mais fáceis de digitalizar, automatizar e terceirizar. Não há dúvida de que o conhecimento avançado de uma disciplina sempre será importante. As pessoas inovadoras ou criativas geralmente têm habilidades especializadas em um campo do conhecimento ou em uma prática.
Entendemos que o sucesso educacional não está mais vinculado ao reproduzir conhecimento, mas em extrapolar o que conhecemos e aplicar esse conhecimento em situações novas. Em outras palavras, as pessoas não são mais recompensadas por terem conhecimento; são recompensadas pelo que podem fazer com esse conhecimento. Por conseguinte, a educação vincula-se cada vez mais à criatividade, ao pensamento crítico, à comunicação, à colaboração, à capacidade de reconhecer e explorar o potencial das novas tecnologias; e não menos importante, às qualidades do caráter, que contribuem para as pessoas conviverem bem e a trabalharem juntas, bem como construírem uma humanidade sustentável.
O professor é o mediador entre os saberes e suas múltiplas aplicabilidades. Assim, pode e deve trabalhar de forma transversal e interdisciplinar, compreendendo as mais variadas demandas do ser humano em uma sociedade complexa. Atualmente, observamos que o descompasso entre o avanço tecnológico e as ciências humanas repercute, irremediavelmente, na comunicação entre distintas áreas do conhecimento.
Todo conhecimento implica multiplicidade de experiências e saberes. E isso consiste no processo vital de formação de todo sujeito. Religar a diversidade dos saberes e compartilhá-los é a principal proposta de uma educação para a complexidade. O exercício do pensamento complexo se apresenta como aposta ética, epistemológica e como estratégia cognitiva para compreender a complexidade dos fenômenos do mundo.
Necessário se faz, portanto, um efetivo posicionamento da educação frente a uma compreensão profunda do sujeito. Um professor, em tempos de complexidade, deve ser capaz de olhar para o aluno, não como aquele que é sem luz
, mas em sua essência.
A fragmentação de saberes não promove a ligação entre áreas do conhecimento, limitando e dificultando a aprendizagem dos envolvidos no processo. Neste sentido, podemos afirmar que o essencial, na abordagem da complexidade, é o entendimento de que o todo necessita das partes, assim como as partes necessitam do todo, a fim de que ambas se efetivem. Isso não se trata de desvalorizar o avanço do pensamento disciplinar, mas de não o considerar como a única via de desenvolvimento.
Desse modo, é imprescindível encontrarmos formas de aproximar, conectar e interligar esses saberes, compondo um fluxo que caminhe entre, no meio, e além das próprias áreas de conhecimento. Sobre isso, Morin (1998:138) tece a seguinte consideração:
Ora, o problema da complexidade não é o de estar completo, mas sim do incompleto do conhecimento. Num sentido, o pensamento complexo tenta ter em linha de conta aquilo de que se desembaraçam, excluindo, os tipos mutiladores de pensamento a que chamo simplificadores e, portanto, ela luta não contra o incompleto, mas sim contra a mutilação. Assim, por exemplo, se tentarmos pensar o fato de que somos seres simultaneamente físicos, biológicos, sociais, culturais, psíquicos e espirituais, é evidente que a complexidade reside no fato de se tentar conceber a articulação, a identidade e a diferença entre todos estes aspectos, enquanto o pensamento simplificador ou separa estes diferentes aspectos ou os unifica através de uma redução mutiladora. Portanto, nesse sentido, é evidente que a ambição da complexidade é relatar articulações que são destruídas pelos cortes entre disciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos de conhecimento. De fato, a aspiração à complexidade tende para o conhecimento multidimensional. Não se trata de dar todas as informações sobre um fenômeno estudado, mas de respeitar as suas diversas dimensões; assim, como acabo de dizer, não devemos esquecer que o homem é um ser bio-sociocultural e que os fenômenos sociais são, simultaneamente, econômicos, culturais, psicológicos, etc. Dito isto, o pensamento complexo, não deixando de aspirar à multidimensionalidade, comporta no seu cerne um princípio de incompleto e de incerteza.
É neste contexto de complexidade que o Ser professor se encontra. Esse profissional, que é uno, trabalha com o diverso: diversidade de pensamentos, comportamentos, expectativas de alunos, além das suas, é claro. Neste sentido, ele deve compatibilizar, moderar e mediar conhecimentos e saberes, articulando aspirações, intensões e sonhos em uma realidade de incertezas. Neste contexto, Estar professor não coaduna com o desafio e a grandeza do ofício. Somente a convicção plena dessa escolha profissional poderá engajar o sujeito no cumprimento efetivo de sua atividade. O professor, na era da complexidade, deve atuar como curador da informação, orientando e estimulando seus alunos.
Dessa forma, a tecnologia torna-se coadjuvante no processo de aprendizagem significativa, sendo esta pautada pelo compromisso docente, em sua entrega genuína, e discente, em sua efetiva aprendizagem.
A carreira docente
Todo profissional quer ter sucesso na carreira. Todavia, é necessário repensarmos esse conceito, principalmente em uma sociedade consumista, capitalista e narcisista como a ocidental. Em muitos países, a carreira docente é considerada nobre, e os profissionais que a exercem são vistos como pessoas iluminadas. Porém, independentemente do local onde pretende atuar, é fundamental questionar as reais motivações para investir na área.
É muito comum encontrarmos docentes que atuam enquanto tal simplesmente por não conseguirem uma colocação no mercado em suas formações de origem, seja para complementar a renda, seja por falta de uma verdadeira vocação.
Assim, é fundamental direcionarmos um novo olhar para isso. Ser professor não é sacerdócio e nem missão, e sim profissão. Uma vez definida a carreira conscientemente, resta-nos indagar:
Em que área desejo atuar? É possível ser professor em diversos níveis: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior, tanto em graduação quanto em pós-graduação. É possível ainda atuar como professor particular de reforço ou instrutor em treinamentos específicos.
Quais competências devo desenvolver? Na carreira de docente, o professor