Pensamentos que penso quando não estou pensando
De Rubem Alves
5/5
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Sobre este e-book
Que bom que ele sabe, não é!? Mas a explicação vale. Há os pensamentos diurnos, aqueles que a gente pensa porque tem de pensar. Incluem obrigações, raciocínios matemáticos, históricos, conjunturais. Análise das circunstâncias em que estamos mergulhados no dia a dia, esforços variados para compreender os outros e suas atitudes.
Mas, felizmente, há também aqueles pensamentos que surgem do nada. Em geral, além de imprevistos, eles são divertidos, frutos de uma observação de um outro Eu que vive escondido dentro de nós. São imagens que nos levam por caminhos nunca dantes trilhados, que tangenciam nossa atenção desperta.
O livro traz uma reunião de ideias e pensamentos nascidos assim, num golpe de vento, num estalo.
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Pensamentos que penso quando não estou pensando - Rubem Alves
Pensamentos que penso quando não estou pensando
RUBEM ALVES
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Pensamentos que penso são
os pensamentos que EU penso.
Pensamentos que são objetos
que um tal de EU usa e dos
quais também abusa.
Mas quando não estou pensando,
os pensamentos pensam por
conta própria e aparecem.
Eu não os penso. Eu os vejo.
Sumário
Sobre a música clássica e a Coca-Cola
Sobre lobos e virtudes
Liturgia do silêncio
Meu pai
Nona
Quantos anos você não tem?
Música
A bela azul
Amizade
Padre Léo
Jai
Oblíquo
As lâmpadas e a inteligência
Educação
Sucesso
Maturidade
Albert Camus
Os pés têm a mesma idade
Susto
O benefício da dúvida
Da tragédia e da beleza
Comunhão
Inspiração
Como as nuvens...
Céus
Ética e trapaça
Dropes: Do prazer de ler
Fala
Exílio
Pedido da alma
Outro nome
Do desejo de aprender
Mulher com uma vela
Relatório
Sugestão
Mosaicos
Bom lugar para uma sepultura
Dropes: Autores
Diário
Boiadeiros e psicanalistas
O múltiplo e o simples
De onde? Quem gostaria?
Casamento
Bolha Terra chamando...
Notas
Sobre o autor
Outros livros do autor
Redes sociais
Créditos
Sobre a música clássica e a Coca-Cola
Fernando Pessoa teve a missão de escrever o primeiro slogan de propaganda para a Coca-Cola em Portugal, imagino que lá pelos anos trinta. Ele bebeu uma vez, não gostou. Bebeu outra vez, não gostou. Bebeu uma terceira vez e gostou. Veio-lhe então a ideia: A princípio, estranha-se; depois, entranha-se
. Absolutamente genial! A primeira vez que bebi Coca-Cola, eu disse: Tem gosto de verniz
. Como todos os meus colegas bebiam Coca-Cola e gostavam, pra não ser diferente, bebi de novo. E bebi de novo. Até que gostei. Agora é automático, quando chego ao restaurante Bem-Bom, vou logo pedindo: Uma Coca com gelo e limão
. Como é gostoso... Aí mandei um e-mail para o Artur da Távola, que apresenta aquele maravilhoso programa Quem tem medo de música clássica?
, dizendo que o gosto pela música clássica era igual ao gosto pela Coca-Cola: A princípio, estranha-se; depois, entranha-se
. Quem vence o período da estranheza chega inevitavelmente à fase da entranheza. Aí, então, é prazer para o resto da vida. Se você ainda está na fase da estranheza
, vai esta sugestão: prove, com paciência. Para começar, ouça o poema sinfônico de Grieg, Peer Gynt: linda música, linda estória...
Só para que você fique com água na boca, adianto que essa é uma peça teatral publicada em novembro de 1867, em Copenhague, capital da Dinamarca, escrita pelo dramaturgo norueguês Henrik Ibsen. Ela conta as aventuras e desgraças do jovem Peer Gynt. O compositor Grieg a musicou na forma de um poema sinfônico com melodias muito bonitas.
Sobre lobos e virtudes
Um lobo, tendo ouvido um sermão que São Francisco pregou aos bichos, converteu-se e resolveu tornar-se um santo também. Procurou os mestres espirituais e perguntou-lhes o que devia fazer para se tornar um santo. Eles lhe disseram que o caminho da santidade começa com as abstenções: ele deveria começar por abandonar aquelas coisas de que mais gostava. E o que ele mais gostava era de comer cabritos. Assim, os mestres espirituais concluíram, o caminho de um lobo que deseja ser santo começa com um grande jejum, até perder a vontade de comer cabritos. Saiu, então, o lobo, decidido a jejuar. Depois de muito caminhar sem nada comer, cabeça baixa e estômago faminto, viu repentinamente um cabrito que comia capim distraidamente na encosta da montanha. A visão do cabrito deu-lhe água na boca. Pensou então: acho que vou adiar o meu jejum por uns dias, até me acostumar. Aproximou-se, assim, solobeiramente (sorratei-ramente só se aplica aos ratos) do cabrito. Este, percebendo a aproximação do lobo, correu, saltando sobre as rochas da montanha – era um cabrito montês