Coletânea de Temas da Clínica de Pequenos Animais
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Coletânea de Temas da Clínica de Pequenos Animais - Almir Pereira de Souza
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES
Aos nossos familiares e, em particular, às Marias, do Socorro e Mercês (in memoriam),
mães de Almir e Rosangela, a luz de nossas vidas.
AGRADECIMENTOS
A Deus por nos dar a luz, a paciência, o discernimento e a força necessária para continuarmos a jornada em busca do conhecimento.
Aos colegas professores do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) que, direta ou indiretamente, apoiaram-nos no desenvolvimento deste livro.
Aos médicos(as) veterinários(as), ex-alunos(as) da graduação e da pós-graduação da Medicina Veterinária da UFCG que, ao realizarem seus trabalhos de conclusão de curso (monografia, dissertação, tese) com afinco e dedicação, tornaram possível a realização deste sonho.
Aos funcionários do Hospital Veterinário da UFCG, que sempre nos deram o suporte necessário para desenvolvermos nossas atividades acadêmicas.
Aos animais que, sem pedir, sem se voluntariar, participaram dos projetos de pesquisa que resultaram na elaboração de alguns capítulos desta obra.
À sociedade brasileira, objetivo maior do nosso trabalho, que de forma laboriosa nos deu e continua dando as condições para trabalharmos. Esta é uma das formas que temos de retribuir o investimento feito em nossas carreiras profissionais.
APRESENTAÇÃO
Há muito temos repetido diversas vezes que o cão e o gato são mais do que animais de estimação, são membros da família que os adotam. De fato, só dessa maneira é possível entender o amor incondicional demonstrado por essas famílias para esses seus membros de quatro patas. Seguindo essa máxima, a Medicina Veterinária de Pequenos Animais tem cada vez mais se desenvolvido para poder atender aos anseios das famílias que buscam nos profissionais da área respostas para as suas angústias, notadamente quando esse seu ente querido encontra-se enfermo. Essa nova realidade por si só justifica o trilhar dos Médicos Veterinários que se dedicam à área de Clínica Médica de Pequenos Animais, a desenvolverem novas especialidades que possam complementar seus conhecimentos e, assim, poderem oferecer melhores serviços à sociedade. Sendo assim, surgiu a questão: Como podemos contribuir para o crescimento da área de Clínica de Pequenos Animais?
. A princípio, pensamos que o fato de virmos publicando diversos artigos em revistas especializadas por si só representaria essa contribuição. Mas é fato que essas publicações nem sempre estão disponíveis para todos os profissionais e estudantes que queiram complementar seus estudos. Dessa forma, para podermos participar do preenchimento da lacuna existente entre a academia e a sociedade em geral, reunimo-nos e decidimos montar esta obra, intitulada Coletânea de Temas da Clínica de Pequenos Animais. Com ela, queremos deixar à disposição dos estudantes e médicos veterinários assuntos novos, atualizados, que contribuam para trazer respostas para algumas questões do dia a dia de trabalho com esses pequenos pacientes que, muitas vezes, não são encontradas na literatura já disponibilizada. Afinal, fazer Clínica em toda a sua magnitude é um desafio pessoal diário que necessita contar com o apoio de todos que são verdadeiramente apaixonados por esses animais e pela área como um todo. Trazemos aqui uma contribuição obtida ao longo dos anos de trabalho na academia, desenvolvida com a participação de muitos outros profissionais, e, juntos, acreditamos que iremos acrescentar mais uma pedra na construção do conhecimento na Clínica Médica de Pequenos Animais.
Boa leitura a todos.
Sumário
1. CÃES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA DESCOMPENSADA – ESTAMOS SOLICITANDO OS EXAMES LABORATORIAIS NECESSÁRIOS?
Olivia Maria Moreira Borges
Almir Pereira de Souza
Antonio Fernando de Melo Vaz
2. TÉCNICAS DIAGNÓSTICAS APLICADAS À CARDIOLOGIA VETERINÁRIA DE PEQUENOS ANIMAIS
Gabryelly Katherynny Xavier dos Santos
Almir Pereira de Souza
3. FISIOPATOLOGIA E TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA EM FELINOS DOMÉSTICOS
Alricélia da Silva Camboim
Rosangela Maria Nunes da Silva
4. TRATAMENTO DA DIROFILARIOSE CANINA COM A ASSOCIAÇÃO DE IVERMECTINA E DOXICICLINA
Ivana Fernandes Vidal
Almir Pereira de Souza
5. LESÕES CARDÍACAS E RENAIS NA LEISHMANIOSE CANINA
Ermano Lucena de Oliveira
Almir Pereira de Souza
6. A INFLUÊNCIA DA DIETA SOBRE A SAÚDE DOS RINS DE CÃES
Diane Cristina de Araújo Dias
Fernanda Vieira Henrique
Almir Pereira de Souza
7. SPIRULINA COMO SUPLEMENTO ALIMENTAR E TERAPÊUTICO EM CÃES
Waleska Fernandes Oliveira Amador
Rosangela Maria Nunes da Silva
8. CERATOCONJUNTIVITE CANINA SECA E PROTEÍNAS INFLAMATÓRIAS DE FASE AGUDA
Francisco Charles dos Santos
Atticcus Tanikawa
Almir Pereira de Souza
9. CITOLOGIA: SABEMOS UTILIZAR ESSA FERRAMENTA DIAGNÓSTICA?
Olivia Maria Moreira Borges
Leonardo Mendes Tôrres
Almir Pereira de Souza
10. UTILIZAÇÃO DA IMAGEM TERMOGRÁFICA EM CADELAS COM NEOPLASIAS MAMÁRIAS
Ermano Lucena de Oliveira
Rosangela Maria Nunes da Silva
Bonifácio Benício de Souza
11. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS
Gisele Cândida Ramalho
Olivia Maria Moreira Borges
Almir Pereira de Souza
12. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS EM CADELAS COM NEOPLASIA MAMÁRIA
Alricélia da Silva Camboim
Olivia Maria Moreira Borges
Atticcus Tanikawa
Almir Pereira de Souza
13. SÍNDROME DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO CANINA
Jessyka Costa Gois
Rosangela Maria Nunes da Silva
Almir Pereira de Souza
Sobre OS AUTORES
CAPÍTULO 1
CÃES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA DESCOMPENSADA – ESTAMOS SOLICITANDO OS EXAMES LABORATORIAIS NECESSÁRIOS?
Olivia Maria Moreira Borges
Almir Pereira de Souza
Antonio Fernando de Melo Vaz
1.1. ASPECTOS GERAIS DA AVALIAÇÃO CARDÍACA
A avaliação e o diagnóstico dos distúrbios que afetam o sistema cardiovascular de pequenos animais são de fundamental importância, tanto para a prevenção de complicações como para a instituição de uma adequada modalidade terapêutica. Nesse contexto, a abordagem do paciente com doenças crônicas, em especial as cardiopatias, deve ser bastante criteriosa, devendo-se utilizar todos os métodos diagnósticos, incluindo desde anamnese, avaliação física, exames de imagem e laboratoriais, até o bom senso para julgar cada um deles.
Mesmo que já sejam conhecidas as consequências da ativação dos mecanismos compensatórios e deletérios que uma ICC desencadeia em um sistema orgânico, poucas são as literaturas que abordam detalhadamente possíveis recomendações e interpretações de exames laboratoriais, citando-se, na maioria delas, apenas exames de imagem como principal opção diagnóstica ou de acompanhamento de tratamento (MUZZI et al., 2000; MORAIS, 2008; MAIA et al., 2009; ALVES et al., 2012).
Embora o diagnóstico por imagem seja uma ferramenta potencial, em determinadas situações limita-se à não exposição, ou abrange inadequadamente as alterações sistêmicas que um organismo pode estar sofrendo diante de uma injúria cardíaca de curso crônico ou de extrema agudização (BELERENIAN et al., 2003). Nesse aspecto, exames que melhor demonstrem o panorama sistêmico do paciente cardiopata, tais como urinálise, hemograma, pesquisa de hemoparasitas, painel bioquímico hepático e renal, dosagem de cálcio, sódio, fósforo, potássio, glicose, relação proteína/creatinina urinária, gamaglutamil transferase urinária e os biomarcadores cardíacos, são importantes aliados. Eles trazem, além de indicações sobre possíveis patologias cardíacas e extracardíacas, maior segurança na abordagem terapêutica das alterações observadas em cada paciente (BELERENIAN et al., 2003; FREITAS et al., 2014).
Desse modo, neste capítulo buscamos analisar a frequência de solicitação de exames e as alterações laboratoriais encontradas em 51 pacientes com ICC descompensada, descrevendo a importância e aplicabilidade desses achados na rotina da clínica médica de caninos.
Para desenvolver este estudo realizamos o levantamento e analisamos todos os prontuários clínicos de cães atendidos pelos médicos(as) veterinários(as) plantonistas da Clínica Médica de Pequenos Animais (CMPA) do Hospital Veterinário (HV) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campus de Patos-PB. Deles, extraíram-se, ao final, 51 animais sem predisposição quanto à raça, sexo ou idade que as avaliações clínica e radiográfica demonstravam sinais de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) descompensada. Distribuímos os dados, conforme a avaliação do histórico e parâmetros clínicos, em animais portadores de ICC direita (ICCD), ICC esquerda (ICCE) e ICC mista (ICCM).
Após a seleção, buscamos tabelar individualmente todos os dados de exames laboratoriais disponíveis nos prontuários, totalizando a frequência de solicitações e análise dos seus resultados. Para melhor elucidarmos os dados obtidos, realizamos a tabulação, via programa Excel, buscando-se realizar análise descritiva e comparativa dos achados entre os grupos.
1.2 ANALISANDO CÃES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Dos 51 animais que avaliamos, observou-se que a idade variou de três a 18 anos (7,4 + 4,1), prevalecendo, no tocante ao sexo, as fêmeas (34/51). Na avaliação racial, identificamos que predominaram cães sem raça definida (SRD) (15/51) e poodle (15/51). Quanto aos grupos, 62,7% dos animais enquadraram-se na ICCE (32/51), 19,6% na ICCM (10/51) e 17,7% na ICCD (9/51). Em 43,7% dos animais com ICCE (14/32) pudemos observar aumentos de volume de aparecimento crônico e na maioria dos casos de evolução rápida, localizados em regiões de cabeça, tronco e membros, sendo a mama o sítio mais frequente.
Ao confrontarmos os dados que obtivemos com os já descrito na literatura para a epidemiologia da maioria das cardiopatias (BELERENIAN et al., 2003; MORAIS, 2008; CAVAGUCH et al., 2010), observamos prevalência de animais senis. Com o avançar da idade ocorrem alterações fisiológicas irreversíveis, resultando em disfunções orgânicas que podem ser intensificadas por fatores relacionados a doenças crônicas concomitantes, especialmente as que envolvem o sistema cardiovascular (SPAGNOL et al., 2006), devendo-se ter um maior cuidado na avaliação e investigação laboratorial nessa categoria de pacientes.
O exame citológico, aparato laboratorial importante para os 43,7% (14/32) dos animais com ICCE com aumento de volume, não foi solicitado, dificultando a obtenção do diagnóstico etiológico dessas alterações. Tais achados poderiam, em função da elevada incidência de neoplasias observada na região de estudo (ANDRADE et al., 2012), vir a serem processos neoplásicos. Nos animais idosos, a presença de condições mórbidas crônicas, tais como a ICC e a insuficiência renal crônica (IRC), muitas vezes dificulta a detecção precoce de uma doença neoplásica, podendo mascarar os primeiros sinais clínicos das neoplasias ou a real situação de uma doença crônica envolvida, a exemplo das cardiopatias (LUCAS; RODRIGUES, 2015).
Relativo à frequência de exames laboratoriais solicitados pelos clínicos, tabulamos 345 análises, em que o hemograma com pesquisa de hemoparasitas (51/51), dosagem de ureia (49/51), creatinina (49/51), alanina aminotransferase (ALT) (41/51) e fosfatase alcalina (FA) (34/51) foram os exames mais frequentes.
Tabela 1. Frequência de exames laboratoriais solicitados para cães com ICCE, ICCD e ICCM.
ICCE: insuficiência cardíaca congestiva esquerda; ICCD: insuficiência cardíaca congestiva direita; ICCM: insuficiência cardíaca congestiva mista; ALT: Alanina aminotransferase; FA: fosfatase alcalina; PT: proteína total; ALB: albumina; GLO: globulina; GGT: gamaglutamiltransferase.
O hemograma e a pesquisa de hemoparasitas, apesar de não serem exames específicos para o diagnóstico de alterações cardiovasculares, auxiliam-nos quando suspeitamos de um processo inflamatório e/ou infeccioso com envolvimento cardiovascular, especialmente na endocardite bacteriana (BELERENIAN et al., 2003; MORAIS, 2008; MAIA et al., 2009) e miocardite por erliquia ou leishmania (DINIZ, 2006). Esse exame também é fundamental quando desejamos avaliar a presença de anemia, seja ela por uma disfunção renal nos casos de insuficiência renal crônica (IRC) oriunda de uma ICCE ou ICCM (MORAIS, 2008), ou por hemólise e hemorragia decorrentes de hemoparasitas (DINIZ, 2006), corroborando alguns dos resultados encontrados na avaliação hematológica e bioquímica do nosso estudo.
Tabela 2. Alterações encontradas nas avaliações hematológica, bioquímica sérica e urinária de cães cardiopatas com ICCE, ICCD e ICCM.
ICCE: insuficiência cardíaca congestiva esquerda; ICCD: insuficiência cardíaca congestiva direita; ICCM: insuficiência cardíaca congestiva mista; PPT: Proteínas plasmáticas totais; ALT: Alanina aminotransferase; FA: Fosfatase alcalina.
A alta frequência nas solicitações de ALT, FA, ureia e creatinina nos permitiram avaliar parcialmente o funcionamento hepático e renal dos pacientes cardiopatas, uma vez que essas análises permitem a identificação, mesmo que tardiamente, de injúrias nesses órgãos. Porém pode-se constatar que, diante da insuficiência ou ausência de outros componentes essenciais para uma completa avaliação do quadro clínico, como análise de fósforo, sódio, potássio, cálcio, relação proteína/creatinina urinária, urinálise, gama glutamil transferase (GGT) urinária, proteína plasmática total (PPT), albumina, globulinas, glicose e biomarcadores cardíacos (MORAIS, 2008; FREITAS et al., 2014), não foi possível avaliar e dimensionar adequadamente a dinâmica e a extensão das alterações renais e hepáticas dos pacientes cardiopatas do estudo.
Dentre os exames laboratoriais realizados, constatamos como achados mais frequentes na avaliação hematológica (anemia, trombocitopenia e elevação de PPT); bioquímica (elevação da ALT, FA e ureia); e urinálise (proteinúria, piúria, leucocitúria, hematúria e cilindrúria) (Tabela 2), o que está de acordo com os achados que encontramos na literatura (BELERENIAN et al., 2003; SYKES et al., 2006; CAVAGUCHI et al., 2010).
Os achados de anemia, leucocitose e trombocitopenia encontrados, podem, além da ICC, ser reflexo de uma síndrome paraneoplásica, especialmente para os portadores de ICCE, numericamente mais afetados e com 43,7% (14/32) dos animais apresentando aumento de volume com possibilidade de neoformação. Quando presentes, as síndromes paraneoplásicas podem levar à anemia, trombocitopenia, leucocitose neutrofílica, coagulação intravascular disseminada, hipergamaglobulinemia, hipercalcemia e hipoglicemia (LUCAS; RODRIGUES, 2015).
A frequência total de anemia e trombocitopenia que nós observamos deve ser cautelosamente considerada e avaliada, uma vez que, além de ser característica de manifestação primária de uma síndrome paraneoplásica (LUCAS; RODRIGUES, 2015), pode estar relacionada a parasitemias, como na erliquiose, babesiose, tripanossomíase, dirofilariose e leishmaniose, doenças de alta incidência na região (BELERENIAN et al., 2003; TANIKAWA et al., 2013), assim como na insuficiência renal aguda (IRA) e IRC, ou, ainda, estar relacionada à ativação do sistema nervoso simpático (SNS) observada nas ICC (MORAIS, 2008).
É conhecido que pacientes com ICC descompensada fatalmente desenvolvam comprometimento hepático e/ou renal ao longo do tempo, e isso foi algo que foi possível observarmos no quesito bioquímica sérica, em que os cães com ICCM e ICCD apresentaram maior frequência na elevação da ureia, ALT e FA, demonstrando comprometimento da circulação portal em caráter agudo ou crônico oriundo dos mecanismos compensatórios e deletérios da ICC. Na avaliação laboratorial, dos cães com endocardite, 61 apresentaram alterações, sendo as mais frequentes a elevação de ALT, FA, GGT (70%) e creatinina (28%), e azotemia (42%) (SYKES et al., 2006), demonstrando, juntamente com os achados do estudo, a importância desses índices na avaliação e acompanhamento terapêutico do cão cardiopata ou com suspeita de cardiopatia.
Os achados de proteinúria, piúria, cilindrúria, hematúria, glicosúria, leucocitúria e demais parâmetros provenientes da urinálise podem sugerir, além de um processo infeccioso e inflamatório do sistema urinário, a presença de IRA e IRC (BELERENIAN et al., 2003; MORAIS, 2008), o que nos faz ressaltar a importância de também solicitar a urinálise com maior frequência na avaliação de cães com ICC descompensada, fato pouco verificado no estudo.
A quantificação das análises bioquímicas renais, enzimas urinárias, proteína urinária, fração de excreção de eletrólitos, taxa de filtração glomerular, urinálise com ênfase na observação do sedimento urinário têm grande valor como exames sensíveis de injúria renal precoce decorrente ou não de cardiopatias, auxiliando não somente nessa rápida identificação, mas também na determinação da progressão da doença renal e da eficácia do tratamento (FREITAS et al., 2014). A ausência dessas análises não nos permitiu verificar tais benefícios, uma vez que, além de não ter sido solicitada a maioria dos exames acima citados, apenas nove dos 51 animais avaliados tiveram a urinálise como uma das solicitações de exame.
Adicionalmente, a proteinúria, achado mais frequente da urinálise dos animais que analisamos (Tabela 2), além de identificar pacientes com elevado risco de dano progressivo renal (RUGGENENTI et al., 1998) e aumento da morbidade cardiovascular (BRANTSMA et al., 2008), também é um fator de risco associado ao desenvolvimento de crise urêmica e óbito (JACOB et al., 2005). Essa alteração tem valor diagnóstico e prognóstico na detecção inicial da síndrome cardiorrenal, bem como na avaliação da eficácia terapêutica e da progressão da doença renal de origem cardíaca (ROSSI et al., 2012), reforçando mais ainda a importância de se realizar a urinálise na avaliação de um paciente cardiopata com ICC, principalmente descompensada.
Embora não tenham sido solicitadas, as dosagens de biomarcadores cardíacos e de eletrólitos são fundamentais na avaliação clínica de um paciente cardiopata (DINIZ, 2006; MORAIS, 2008), podendo auxiliar, respectivamente, no dimensionamento lesional cardíaco, em especial as que cursam com envolvimento do miocárdio (DINIZ, 2006; KUMAR et al. 2010), e nos quadros de hiponatremia e hipocalemia oriundos da ativação do SNS e sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA) (BELERENIAN et al., 2003; MORAIS, 2008; CAVAGUCHI et al., 2010; FREITAS et al., 2014).
Diante dos dados expostos neste capítulo, concluímos que alterações dos parâmetros laboratoriais, em especial hematológicos, renais e hepáticos, estão presentes em pacientes cardiopatas, o que confirma a necessidade de se solicitar para todos os pacientes com a patologia em questão tais exames. Outrossim, recomendamos que, além dos procedimentos laboratoriais de rotina, exames mais específicos, como avaliação de eletrólitos, biomarcadores cardíacos e de citologia, nos casos de presença de tumores, devam ser incluídos para a avaliação sistemática do paciente cardiopata descompensado.
REFERÊNCIAS
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CAVAGUCHI, D. K.; PINCELLI, V. A.; BOCHIO, M. M.; RIBEIRO, R. C. M.; BRACARENCE, A. P. F. R. L.; PEREIRA, P. M. Aspectos clínico-patológicos e epidemiológicos da endocardite bacteriana em cães: 28 casos (2003-2008). Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 1, p. 183-190, 2010.
DINIZ, P. P. V. P. Miocardite em cães com Erliquiose monocítica. 136f. 2006. Tese (Doutorado) − Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Botucatu, São Paulo.
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JACOB, F.; POLZIN, D. J.; OSBORNE, C. A.; NEATON, J. D.; KIRK, C. A.; ALLEN, T. A.; SWANSON, L. L. Evaluation of the association between initial proteinuria and morbidity rate or death in dogs with naturally occurring chronic renal failure. Journal of the American Veterinary Medical Association, Ithaca, v. 226, n. 3, p. 393-400, 2005.
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MUZZI, R. A. L.; MUZZI, L. A. L.; PENA, J. L. B.; NOGEUIRA, R. B. Cardiomiopatia dilatada em cão − Relato de caso. Ciência Rural, Santa Maria, v. 30, n. 2, p. 355-358, 2000.
ROSSI, G.; GIORI, L.; CAMPAGNOLA, S.; ZATELLI, A.; ZINI, E.; PALTRINIERI, S. Evaluation of factors that affect analytic variability of urine protein-to-creatinine ratio determination in dogs. American Journal of Veterinary Research, Chicago, v. 73, n. 6, p. 779-788, 2012.
RUGGENENTI, P.; PERNA, A.; MOSCONI,