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Bovinocultura de Corte: Cadeia Produtiva & Sistemas de Produção
Bovinocultura de Corte: Cadeia Produtiva & Sistemas de Produção
Bovinocultura de Corte: Cadeia Produtiva & Sistemas de Produção
E-book608 páginas4 horas

Bovinocultura de Corte: Cadeia Produtiva & Sistemas de Produção

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Sobre este e-book

Reunidos em quatro partes, Agronegócio e Cadeia Produtiva da Carne Bovina, Sistemas de Produção de Bovinos de Corte, Nutrição e Alimentação de Bovinos de Corte e Manejo Reprodutivo de Bovinos de Corte, os conteúdos estão estruturados em uma sequência hierárquica que permite um entendimento dos principais temas inerentes à bovinocultura de corte. Assim, o NESPro faz mais uma entrega que simboliza o caminho trilhado nesses últimos 15 anos de Jornada que, para ser concretizada e se autossuperar a cada ano, contou com uma equipe determinada, sempre comprometida a dar o seu melhor.
IdiomaPortuguês
EditoraAgrolivros
Data de lançamento1 de out. de 2020
ISBN9786599237201
Bovinocultura de Corte: Cadeia Produtiva & Sistemas de Produção

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    Pré-visualização do livro

    Bovinocultura de Corte - Júlio Otávio Jardim Barcellos

    conteúdos

    Edição comemorativa dos 15 anos das Jornadas NESPro

    1

    Uma retrospectiva temporal dos sistemas de produção de bovinos de corte – o papel do NESPro

    ¹

    Júlio O. J. Barcellos, Alexandre V. Selistre, Amir G. Sessim, Andressa K. Caetano, Anna E. P. Gatelli, Anna I. C. Pereira Suñé, Antónia M. Paezano, Daniele Zago, Danielle D. Brutti, Everton D. Sartori, Fernando F. Velloso, Helena X. Fagundes, Joana G. Kuhn, Julia A. Lima, Louise D. Borges, Luís F. B. e Brum, Luiz A. V. Queiroz Filho, Marcela K. da Rocha, Maria C. M. Oliveira, Naiane T. Andrade, Odilene S. Teixeira, Sigrid M. Paiva, Sílvio R. O. Menegassi, Tainá M. Bartmann, Tamara E. de Oliveira, Télis A. Cumbe, Vanessa de Lima, Vanessa S. Fernandes, Vinícius A. Camargo, Yago M. da Rosa

    Contextualização

    A dinâmica da produção de gado de corte no Brasil passou por transformações importantes nas últimas décadas, a partir de externalidades emitidas pelo mercado até consolidar-se dentro da porteira. Elas desencadearam demandas, novas organizações dos processos produtivos e uma agenda científica e tecnológica disruptiva. A pecuária de corte brasileira mudou, alcançou o mundo e com ela vieram as grandes oportunidades e seus desafios. Na onda dessas mudanças, em 2006 surgiu o NESPro/UFRGS, como um núcleo de pesquisas voltadas aos sistemas de produção de bovinos de corte e à cadeia produtiva da carne. Hoje, passados quinze anos, é possível reconstruir essa caminhada e apresentar nossas contribuições científicas e tecnológicas a esse segmento do agronegócio.

    Nesta última década, a cadeia produtiva da carne bovina foi a protagonista entre as proteínas animais, pois ocupou as primeiras posições em produção e exportação internacional. Para isto, houve progressos científicos e novas tecnologias que asseguraram uma produção competitiva, alcançando mais de 160 mercados internacionais. No entanto, as percepções da sociedade, em pleno século XXI, se manifestaram numa direção, muitas vezes, antagônica à simples produção. A sociedade passou a considerar outros elementos intangíveis na valoração dos alimentos e novos critérios para produzir carne. A produção amigável com a natureza e com os animais foi a onda mais relevante e duradoura, o que impactou principalmente a produção brasileira, pois sempre esteve alicerçada nos seus recursos naturais. Assim, as respostas dos agentes foram imediatas e as demandas de pesquisas adequaram-se à esta realidade, agora na busca de respostas mais holísticas e com um objetivo de assegurar a sustentabilidade da produção de carne bovina nas dimensões ambiental, econômica, social e institucional.

    O NESPro, por ocasião de sua 1ª Jornada Técnica em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva, nos dias 28 e 29 de setembro de 2006, vislumbrou esse cenário e as tendências que viriam pela frente e na sua configuração como evento, procurou integrar as temáticas Tecnologia, Gestão e Mercado. A percepção do que estava ocorrendo e os novos desafios traziam elementos que colocavam a bovinocultura de corte, em particular, aos seus sistemas de produção e aos pecuaristas, a necessidade de utilizar um triângulo integrado pela gestão das tecnologias disponíveis, mas associadas ao mercado. Assim, fomos evoluindo e nos ajustando à conjuntura, ao futuro, mas sem descuidar do conhecimento consolidado, das técnicas de produção de base, dos problemas estruturais da pecuária de corte e dos ajustes necessários aos seus avanços (Figura 1).

    A pesquisa científica na agropecuária, deve estar alinhada com as suas principais demandas e contemplar uma visão de utilidade, de solução de problemas e de inovações. Este portfólio é a base que o NESPro, e sua equipe têm na sua missão e que cumpriram nesta década que ora findou. Nesta trajetória, sempre tivemos a preocupação de atuar em duas direções simultâneas e integradas. Uma voltada para a criação de respostas científicas que resultassem em alternativas tecnológicas para resolver problemas que ainda afetam a pecuária de corte. E, em outra, alinhada com o protagonismo científico de vanguarda ou com os novos problemas que certamente surgirão no futuro. Deste modo, em quinze anos de atuação, fomos ajustando a agenda de pesquisa e de tecnologia.

    Figura 1. Cronologia das Jornadas NESPro durante quinze anos de realização

    A produção científica e tecnológica

    A construção de uma agenda de pesquisa para compatibilizar a sua aplicabilidade com a profundidade científica, assegurando o caráter inovador e de oportunidade, é um desafio para qualquer grupo de estudos. Nesse sentido, uma das preocupações que tivemos no NESPro, foi, na medida do possível, contemplar esses elementos na elaboração e execução de um projeto de pesquisa. Como resultado desse trabalho foram produzidos novos conhecimentos ao longo dos últimos quinze anos, que foram traduzidos em tecnologias de processos ou organizacionais aplicadas à bovinocultura de corte ou à sua cadeia produtiva da carne bovina.

    Pesquisas na área de manejo animal

    O manejo animal é uma das bases da tecnologia de processos que tem um papel fundamental na produção de bovinos de corte, em particular quando os recursos são escassos ou a capacidade de conversão bioeconômica das tecnologias de insumos é desfavorável. Portanto, embora não crie a atratividade científica de muitas áreas de pesquisas, ainda, em gado de corte, constitui-se num alicerce tecnológico estratégico.

    Em meados da década de 2000, ainda havia um predomínio da pesquisa mais cartesiana em nosso ambiente. Assim, conduzimos uma linha de projetos voltados para uma idade intermediária ao primeiro acasalamento em novilhas, em especial, aos 18 meses de idade, como uma idade de transição dos sistemas convencionais de produção aos mais intensivos. Partimos da hipótese de que para melhorar a taxa global de prenhez em um rebanho, naqueles sistemas em que as primíparas eram as principais causadoras dos baixos índices, uma estratégia seria eliminar a presença de primíparas no período reprodutivo convencional. Assim, antecipamos o primeiro acasalamento para os meses de outono, aos 18 meses.

    Contudo, várias perguntas precisamos responder, quais os principais parâmetros reprodutivos específicos dessa novilha, numa estação do ano diferente da estação, as taxas de ganho de peso pós-desmame, os custos de recria e o impacto no sistema. Assim, por meio de vários projetos chegamos a conclusões importantes, como a importância do peso vivo no início do acasalamento, mas com uma magnitude mais significativa aos 18 meses do que no acasalamento aos 24 meses. De um modo geral, uma das conclusões foi que a novilha deve acrescentar em torno de 100 a 140 kg do desmame até o primeiro acasalamento aos 18 meses e que estes 140 kg podem ser divididos em três períodos: o primeiro inverno pós-desmame, a primavera e, por fim, o verão que antecede o acasalamento. No entanto, a taxa de ganho de peso nos 90 dias pré-acasalamento foi a variável mais importante para a taxa de prenhez, em particular pela quantidade de gordura estocada na novilha. Em sequência definimos sistemas de recria, seus custos e oportunidades para que a novilha chegue aos 18 meses com o desenvolvimento suficiente para a inclusão na reprodução. Portanto, esse conjunto de resultados criou um modelo de recria e de manejo reprodutivo para essa novilha que está sendo empregado por muitos pecuaristas.

    A avaliação dos efeitos da forma como ocorre a frequência de partos numa estação fixa de parição, foi comprovada por meio de dois estudos com uma população comercial de vacas de cria, mantidas em pastagens naturais. Concluiu-se que a concentração do eixo de parição, nos primeiros 21 dias é o determinante da taxa de prenhez do rebanho, especialmente nos anos limitados nutricionalmente. Em estudo adicional, a avaliação da subépoca de partos também influenciou as taxas reprodutivas de um rebanho comercial. Assim, a aplicação desses princípios tem sido uma prática de manejo, quando os pecuaristas têm poucos recursos alimentares para suas matrizes. Nestas condições, melhorar a condição corporal prévio a parição, reduz o intervalo parto-cio e aumenta a probabilidade de uma nova prenhez. Além disso, estratégias de manejo que aumentem a frequência de concepções nos primeiros 21 dias de serviço reprodutivo, em particular nas novilhas ao primeiro acasalamento, podem favorecer a maior prenhez na estação subsequente.

    Ainda na área de manejo animal, foram avaliadas as principais variáveis que determinam a prenhez de vacas de cria, em condições subtropicais com altos níveis de estresse, e, por meio de uma ferramenta avançada para a época, a regressão logística, foi comprovado que a data juliana de parto, portanto similar ao primeiro estudo do histograma de partos, foi a variável de maior impacto na prenhez subsequente.

    Por fim, num projeto de longo prazo, foram estudadas as variáveis de crescimento e de composição genética sobre a idade à puberdade de novilhas Braford. O estudo comprovou que à medida que aumenta a participação da presença de sangue zebuíno na composição racial do Braford, ocorre a necessidade de um maior percentual de peso da novilha em relação à vaca adulta para manifestação da puberdade. Também foi comprovado que a espessura de gordura de cobertura foi a variável que mais afetou a idade a puberdade. Níveis de IGF e de Leptina apresentaram elevadas correlações com o desenvolvimento folicular e, portanto, explicaram significativamente o modelo preditor da idade à puberdade, fenômeno até então pouco conhecido em raças sintéticas.

    A continuidade desses estudos ocorreu 15 anos depois, quando foram avaliados os efeitos da idade ao desmame na manifestação da puberdade de novilhas Brangus. A conclusão comprovou a hipótese que terneiras desmamadas com 35 dias podem alcançar a puberdade antes dos 15 meses, desde que tenham uma taxa de ganho de peso pós-desmame em torno de 0,700 kg/dia. Assim, a desmama de terneiras muito jovens não é um impeditivo para a inclusão da novilha Brangus num sistema de acasalamento precoce.

    O surgimento do agronegócio e dos conceitos de cadeias produtivas

    No período de 2005 a 2007 houve um direcionamento de muitas pesquisas para uma nova área do conhecimento que vinha despertando muito interesse de instituições públicas e privadas. Foi a época do surgimento de um novo referencial para a produção primária brasileira. Incorporou-se o conceito de agribusiness e iniciaram-se as pesquisas com cadeias produtivas, em particular, por nosso grupo dedicando-se às cadeias produtivas da carne bovina e ovina.

    Os primeiros estudos foram destinados a compreender a estrutura da cadeia produtiva da carne bovina no Brasil e seus aspectos organizacionais e de suas estratégias de coordenação. Neste caminho, foram estudados arranjos produtivos e as características preliminares para formação de um cluster na pecuária de corte no Sul do Brasil. Com o emprego da visão baseada em recursos, foram desenvolvidos estudos da construção de arranjos organizacionais para a produção de carne com denominações de origem, certificadas e com asseguramento de informações. Neste sentido, surgem os estudos com a aplicação de protocolos de certificação e suas dificuldades na cadeia produtiva da carne bovina. Em sequência, iniciam-se os trabalhos voltados à percepção do consumidor de carne para os aspectos da certificação, especialmente em relação à rastreabilidade na cadeia. Os resultados começam a demonstrar os itens de valor percebidos pelo consumidor e seus efeitos sobre as formas de produzir.

    A equipe do NESPro, no final da primeira década do ano 2000, conclui diversos estudos na área do agronegócio da carne. Do perfil do consumidor da carne ovina até a percepção internacional a respeito dos sistemas agroalimentares locais desenvolvidos no Brasil. Por fim, aplica a teoria das convenções e conclui que nas estratégias de coordenação de uma cadeia de produção, voltadas para a entrega de um produto específico, as relações de confiança entre os agentes constituem-se da base para o sucesso.

    No início da década de 2010 sai o primeiro estudo sobre qualidade da carne bovina com marca comercializada no varejo de Porto Alegre e a conclusão é de que a ausência de uniformidade e de parâmetros de maciez são os principais limitantes nessas iniciativas. De cada sete vezes que o consumidor comprava uma carne com marca, duas delas ficava insatisfeito. Posteriormente, são construídas as tendências dos consumidores de carne bovina como um direcionador para os agentes a montante da cadeia e como estrutura organizacional surge um projeto para estudar as alianças mercadológicas no Paraná. A pesquisa é inédita no Brasil e conclui que entre os elementos necessários para formar uma aliança estão a reputação do líder da organização, os critérios definidos de entrada dos participantes, a construção de objetivos comuns e o compartilhamento de informações.

    Na temática de mercado são relacionados vários estudos sobre a competitividade da carne brasileira no mercado internacional e a construção de clusters de destinos para ela. Estes estudos culminam com o surgimento das pesquisas sobre sustentabilidade, especialmente nos biomas do cerrado e da Amazônia, por meio do emprego da rastreabilidade e das externalidades emitidas pelos diferentes agentes da cadeia produtiva da carne bovina.

    De maneira inédita, é publicado o primeiro artigo com a análise do ciclo de vida na cadeia produtiva da carne bovina quantificando suas emissões e a pegada de carbono. O estudo, por meio de uma metodologia inovadora, demonstrou que com práticas de manejo é possível mitigar as emissões no bioma pampa. Isto resultou em preservação da biodiversidade e intensificação sustentável dos processos produtivos. Esta pesquisa inédita desencadeou vários estudos similares em universidades brasileiras. Na mesma linha, foi desenvolvido um projeto para avaliar os elementos que produzem a expansão da pecuária de corte no cerrado brasileiro e foi comprovado que à medida que os preços das commodities agrícolas melhoram de preço, ocorre uma redução no processo migratório da pecuária para as zonas limítrofes da Amazônia legal.

    Na segunda metade da década de 2010, os cenários apontavam pela presença cada vez mais intensa da China no mercado mundial de carne bovina e assim surgiu uma tese de doutorado para avaliar a relação sino-brasileira. Durante três anos foi conduzida a pesquisa com os agentes envolvidos na construção de uma base comercial para a carne bovina brasileira entre os dois países. Como resultado, a abertura de uma plataforma de informação unificada para os agentes da cadeia de abastecimento de carne bovina sino-brasileira foi recomendada para compartilhar as informações básicas de oferta, demanda, qualidade e data de entrega. Essa plataforma, adaptada às realidades chinesa e brasileira, poderia facilitar a velocidade e a qualidade do fluxo de informações, o que resultaria, de maneira geral, em uma cadeia de suprimentos mais resiliente e sustentável, e maior confiança entre os parceiros da cadeia de suprimentos e do consumidor final.

    A temática da nutrição animal e a andrologia bovina

    Os sistemas de produção passam por uma necessidade de intensificação, especialmente a cria bovina, e neste sentido buscamos estratégias de aumentar a produtividade por área com base nos recursos regionais. Assim, desenvolvemos um amplo estudo para aproveitamento do feno do campo nativo e de palha de arroz. Incialmente foi desenvolvido um estudo para avaliar as perdas do feno, em formato cilíndrico, armazenado a campo. Os resultados demonstraram ser desnecessário utilizar qualquer sistema de proteção contra as intempéries, pois o feno teve uma perda máxima de 10% de sua qualidade nutricional, principalmente da camada externa. Na sequência, foram desenvolvidos mais dois estudos, agora com feno de palha de arroz. O primeiro, avaliando o potencial nutricional e as características que afetam a qualidade do feno, comprovou que a fenação com a palha do arroz colhido nos meses de janeiro e fevereiro é superior em energia e digestibilidade. Além disso, as variedades precoces de arroz e o maior nível de produtividade da lavoura também originam fenos com melhor qualidade. No mesmo estudo, foi avaliado o efeito da inclusão de uma enzima celulase, associada a um sal proteinado, cujos efeitos foi a melhora da digestibilidade in vitro. Assim, as conclusões apontam uma alternativa do uso de um resíduo da lavoura de arroz, principal cultura da região da fronteira oeste do RS, por meio da conservação da sua palha, para melhorar a nutrição de vacas de cria no período de inverno.

    Após a comprovação do potencial nutricional do feno de palha de arroz foi conduzido um projeto para avaliar a intensificação num sistema de cria, com o dobro da lotação de vacas e a inclusão de feno suplementar. Os resultados comprovaram a eficácia de aumentar a carga para 1000 kg de peso vivo/hectare no pré-parto e agregar feno à vontade, mantendo os níveis reprodutivos do rebanho. Deste modo, ocorreu um aumento de 40% na produtividade do sistema e melhoria dos seus resultados econômicos.

    A busca de alimentos alternativos e a oportunidade de avaliar um derivado da indústria do biodiesel permitiu conhecer os efeitos do glicerol na alimentação de vacas leiteiras com resultados promissores para o seu aproveitamento. Na sequência da linha de estudo, foi desenvolvido um modelo preditor de consumo de alimento a partir dos níveis de nitrogênio presente nas fezes dos bovinos.

    A partir de um ingressante no NESPro, em 2008, dá-se início a uma nova área de pesquisa no grupo, especificamente sobre avaliação de touros, desde a quantificação dos índices de descarte de touros no exame andrológico até a resposta bioeconômica de utilizar touros aprovados previamente à monta a campo. Posteriormente, devido a eventuais mudanças climáticas, usando como modelo experimental o touro, foram desenvolvidos diversos estudos para avaliar os efeitos do estresse pelo calor sobre a qualidade seminal e a identificação de marcadores moleculares em animais mais adaptados. Um dos projetos mediu o potencial de adaptação de touros de raças britânicas, zebuínas e sintéticas, em cinco regiões brasileiras. Entre os resultados, foi demonstrado que a raça Braford, por exemplo, está adaptada para atuar na monta a campo nas regiões tropicais sem prejuízos na qualidade espermática. Além desses achados, vale ressaltar que parte do estudo teve suporte da metodologia que usa a termografia infravermelho na predição dos efeitos do calor sobre os parâmetros testiculares.

    No mesmo ano é escrito o primeiro apontamento sobre bem-estar e qualidade da carne, considerando aspectos de manejo no pré-embarque e no transporte até o abate. Esta linha volta ser desenvolvida seis anos após com estudos na área de comportamento animal.

    A linha pesquisa em sistemas de produção

    Na virada de década percebe-se a importância dos estudos integrados, sistêmicos e interdisciplinares, pois a complexidade das perguntas científicas mudou de dimensão. Assim, deu-se início a uma linha, que atualmente está consolidada, com uma entrega científica e tecnológica de grande repercussão para a cadeia produtiva da carne bovina, especialmente sobre os sistemas de produção. Como um dos primeiros estudos, foi desenvolvida a aplicação da metodologia do centro de custos em um sistema de cria. Os resultados demonstraram a viabilidade de utilizar o método na pecuária de corte e ainda a possibilidade de realizar simulações de intervenção tecnológica e predizer os resultados bioeconômicos.

    O simples desenvolvimento tecnológico e a introdução de técnicas de gestão nos sistemas atendem os elementos dentro da porteira, mas ainda carecem de uma análise dos aspectos comerciais da produção. Para conduzir estudos nessa área, optou-se por definir como objeto o produto da cria – o terneiro, com a finalidade de avaliar as principais variáveis que determinavam o preço durante a comercialização em leilões. Os resultados foram transformados em entregas à sociedade, com apontamentos de como os produtores podem organizar o processo da venda de seus terneiros, desde a formação dos lotes, definição das conformidades, estratégias de marketing entre outras ações.

    Na continuidade, alguns anos depois, foram repetidos os estudos no Estado de Santa Catarina e validados os resultados que haviam sido obtidos no RS. Em continuidade com o tema de estudo, optou-se por aplicar a mesma metodologia à comercialização de touros e, durante quatro anos, foram monitorados aproximadamente 20 leilões. A análise, por meio da regressão quantílica, demonstrou que um conjunto de variáveis, como peso vivo, condição corporal, idade e circunferência escrotal, afetam o preço do touro de forma diferente conforme o quantil que ele se encontra. Os quantis são percentis de classes de preços obtidos na venda de cada touro. Portanto, existem variáveis que adquirem maior ou menor relevância dependendo do valor obtido pelo reprodutor.

    Na área de sistemas de produção foram estudados tipos de terminação, a pasto, semiconfinado, confinado, integração lavoura-pecuária e seus efeitos sobre a qualidade da carcaça. Na mesma linha, foi criado um modelo preditor dos efeitos da suplementação em pastagens tropicais.

    Em 2011, dá-se um dos passos mais importantes na área de sistemas de produção, por meio de uma metodologia para definir a tipologia dos sistemas e a competitividade dentro da porteira. Os estudos demonstraram que as principais variáveis determinantes da competitividade estavam relacionadas com a eficiência tecnológica, gestão dos custos e recursos humanos. Posteriormente, são executados novos estudos destinados a desenvolver um modelo para definir as opções de intensificação dos sistemas e ainda contribuir para a tipologia deles. Neste sentido, desenvolve-se pela primeira vez a avaliação de custos em sistemas de produção em pastagens irrigadas apontando, de forma inédita, uma matriz de custos na atividade, constituída de parâmetros econômicos robustos.

    Um dos conceitos que o grupo começa a incorporar em seus estudos é a chamada análise de riscos tecnológicos, primeiro nos sistemas de cria e, posteriormente, nos sistemas integrados de produção. Finalizado esse conjunto de projetos com interesse sistêmico, surge uma nova pergunta de pesquisa que precisa ser respondida: Qual a principal razão do baixo nível de incorporação tecnológica nos sistemas de produção de bovinos de corte? Para responder a esta pergunta é desenvolvido um projeto, finalizado no ano de 2015, com as principais conclusões sobre as variáveis que determinam a adoção de tecnologias pelos pecuaristas. As conclusões do estudo apontam para o nível de escolaridade, participação em organizações de produtores, acesso à internet e a limitação de mão de obra nas propriedades rurais.

    Assim, com um conjunto de estudos robustos, há um amadurecimento científico e tecnológico do grupo, com a geração de competências e habilidades metodológicas que permitiram novos avanços. Uma demonstração disso foi um longo estudo sobre os efeitos de anomalias climáticas sobre o suprimento de bovinos para o abate, de modo a orientar a indústria frigorífica, em anos em que estão previstos fenômenos climáticos como el niño ou la niña.

    As inovações e o surgimento da meta-análise

    Na década de 2010, desenvolve-se em parceria com a Universidade do Colorado/EUA, um projeto na área de pecuária de precisão e chega-se a um modelo preditor da data do parto em vacas, por meio de um dispositivo intraruminal, com a capacidade de detectar as variações da temperatura corporal. As informações capturadas por este dispositivo são transmitidas por um sistema de RFID para uma base de armazenamento em tempo real. Com estas informações o monitoramento do parto é mais efetivo e econômico, pois somente serão acompanhadas aquelas vacas no momento exato do parto, com reduções expressivas nos custos operacionais.

    No mesmo caminho das inovações, em 2017, surgem os primeiros estudos com o procedimento metodológico da meta-análise, o que permite a execução de novos estudos e projetos. De forma pioneira, abre-se a linha de comportamento animal com pesquisas sobre procedimentos dolorosos em bovinos, como a castração e a descorna. São avaliadas as respostas fisiológicas de marcadores para o estresse e para dor. Esses resultados têm repercussão internacional pela dimensão das citações em outras pesquisas da área. Também sugerem procedimentos e recomendações para essas práticas com a finalidade de minimizar a dor e o estresse pelos animais, que preconizam técnicas menos cruentas e o uso de medicamentos.

    Com a ferramenta da meta-análise abrem-se novas oportunidades para estudos mais profundos e robustos. Assim, o grupo entra na área de programação fetal de bovinos e ovinos, na busca de um melhor entendimento dos fenômenos que integram a nutrição fetal e as suas implicações no desenvolvimento pré e pós-natal. Em ambas as espécies, o entendimento da fisiologia e dos mecanismos intrauterinos sugere que o terço inicial de gestação pode ser mais relevante para o desempenho futuro da progênie que o terço final.

    As competências com a ferramenta de simulação e de modelagem de sistemas permitiu avaliar dois sistemas de cria com a finalidade de intensificar ou aumentar a sua produtividade. Vale dizer que a conjuntura da ocupação do território do bioma Pampa, cada vez mais pressionada pelos cultivos agrícolas torna os sistemas de produção de terneiros mais vulneráveis. Neste sentido, foram avaliados os efeitos da irrigação de pastagens para a recria, com a finalidade de aumentar o número de matrizes no sistema, frente a situações de normalidade ou de anomalias climáticas. Os resultados comprovaram a baixa eficiência biológica de transformação em produto comercializável pela cria, mas demonstram que nos períodos de chuvas irregulares é viável o uso da irrigação para manter mais uniforme a produtividade e mitigar seus riscos. Na mesma linha, outro estudo avaliou a estrutura de um rebanho de matrizes, com base nas suas idades, e seus efeitos na produtividade e eficiência econômica do sistema. Além disso, mediu a resiliência do sistema em situações de restrições ambientais, em especial aquelas produzidas por problemas climáticos. Os resultados evidenciaram que a manutenção da vaca até os 6-7 anos conduz a uma estrutura de rebanho mais eficiente e resiliente ao longo dos anos.

    Por fim, num cenário em que os recursos são cada vez mais escassos, foi desenvolvido um projeto de avaliação das mudanças na matriz de uso do solo no bioma Pampa na ótica da produção de alimentos e da sustentabilidade. Este estudo analisou as variações no uso da terra observando que a permanência dos ecossistemas campestres pode estar ameaçada por outras categorias de uso, visto que ocorreu um decréscimo de mais de 25% na proporção de áreas de pastagens naturais. As alterações da paisagem do Pampa demandam novas estratégias de conservação em consonância com a produção lucrativa de alimentos. Por outro lado, a intensificação da agricultura aumentou drasticamente, tendo reflexos sobre o rendimento por hectare das lavouras e sendo responsável por grande parte do aumento da produção, o que apresenta um investimento no incremento vertical da produção de alimentos. Mesmo assim, a intensificação da produção deve ser incentivada com parcimônia. Além disso, o sistema vigente pode comprometer a disponibilidade de calorias para o mercado interno, podendo desestabilizar a segurança alimentar regional, uma vez que as culturas de maior crescimento são a soja e silvicultura, dedicadas à exportação e a produção de produtos não alimentícios, respectivamente. Tanto as alterações espaciais quanto a intensificação da produção de alimentos são influenciadas por diversos fatores como mercado, custos de produção e de oportunidade da terra e aderências às normativas legais.

    Por fim, seguindo uma tendência à mudança no comportamento dos consumidores de carne bovina, partindo para um consumidor que deseja novas experiências gastronômicas, foram pesquisadas, por meio de três projetos, aproximadamente 160 marcas de carne bovina no Brasil, suas características de rotulagem e informacionais. Simultaneamente, um estudo cross-country entre consumidores de carne bovina no Brasil e na Espanha e de forma local, as características dos açougues de luxo, como pista para a aquisição de carne diferenciada. Nos três estudos surgiram respostas consistentes: a maioria das marcas de carnes pertence à indústria frigorífica, o nível de informações não permite ao consumidor conhecer detalhadamente o produto, existe uma similaridade entre consumidores de carne bovina do Brasil e Espanha, mesmo com níveis de consumo muito diferentes, ambos os consumidores têm comportamentos que valorizam as certificações, propriedades sensoriais e inocuidade; as estratégias dos açougues de luxo buscam fidelizar o cliente, proporcionar experiências gastronômicas novas e desenvolver uma cadeia de suprimentos.

    O que estamos fazendo e o que vem por aí

    Nos sistemas de cria, dada a sua complexidade, ainda existem muitas indagações. Neste sentido, desenvolvemos um projeto inovador na área de desmama hiperprecoce de terneiros para avaliar os aspectos comportamentais, imunológicos e desempenho. Sob o enfoque comportamental e fisiológico, os terneiros jovens experimentaram os maiores níveis de estresse, em virtude das expressivas atividades de angústia, demarcadas pelo aumento de cortisol, maior vocalização e ato de caminhar. Logo, tais atividades impactaram na interrupção de comportamentos importantes nos primeiros dias após o desmame, como o ato de se alimentar, por exemplo. Também desencadearam alterações imunológicas desfavoráveis nas células leucocitárias (neutrófilos e linfócitos), assim como na relação neutrófilo:linfócito. No entanto, reconhece-se a necessidade de novas pesquisas nesse campo científico, uma vez que as alterações encontradas foram tardias ao momento do desmame. Esse fenômeno pode estar relacionado à memória de eventos estressantes, pois a exposição subsequente aos estressores pode ter ativado a rede neuroendócrina-imune.

    As mudanças comportamentais e fisiológicas ocasionaram menor ganho de peso nos primeiros dez dias após o desmame para terneiros desmamados aos 30 dias, o que somente foi recuperado após seis semanas. Esse reestabelecimento ocorreu depois que o trato gastrointestinal dos terneiros iniciou sua atividade de forma eficiente. No entanto, apesar de ao final do período experimental os terneiros desmamados jovens apresentarem peso superior àqueles desmamados convencionalmente, as alterações na estatura do animal não foram totalmente recuperadas até o término dessa pesquisa.

    Desse modo, a presente pesquisa caracterizou o desmame aos 30 dias de idade e ressalta-se que é preciso cautela na sua aplicação, pois, embora os terneiros atingissem a idade do desmame convencional com peso mais elevado e sem incidência de mortalidade, é fundamental aprimorar essa técnica, a fim de evitar perdas de peso expressivas no pós-desmame, momento crítico na vida do terneiro. Isso adquire importância, principalmente, naqueles sistemas em que o manejo, nos primeiros dias pós-desmama, não segue todos os cuidados especiais para animais dessa idade, seja por limitações nas instalações ou dos próprios recursos humanos que operacionalizam esse manejo. Nesse sentido, pesquisas visando modificações no manejo pré e pós-desmame, tais como a inserção de alimento sólido antes da separação física, suplementação com butirato e métodos de desmame diferentes do abrupto, são pontos relevantes a serem considerados.

    Na área de sustentabilidade vem sendo executado um projeto para criação de uma metodologia para criar um índice de sustentabilidade dos sistemas de produção do bioma Pampa.

    Ainda vêm sendo desenvolvidos estudos na área de custos alocados na intensificação da cria, comercialização virtual de terneiros e touros, a rastreabilidade como ferramenta de gestão para a cadeia produtiva da carne bovina do RS e de asseguramento do status sanitário, a cadeia de demanda da carne ovina, os efeitos comportamentais de vacas de cria nos resultados da IATF, o uso de taninos na nutrição de ruminantes, a exploração das variações do sistema de produção de bovinos em Moçambique, os efeitos bioeconômicos do desmame hiperprecoce e, por fim, os efeitos da consanguinidade de um rebanho Hereford sobre as características reprodutivas e de eficiência.

    O conjunto de ações de pesquisas coloca o NESPro como um dos principais grupos de estudos no Brasil, pois seus resultados têm sido traduzidos em entregas consistentes com aquilo que a bovinocultura de corte necessita. Além disso, esses resultados são traduzidos em produtos tecnológicos como apontamentos, relatórios, livros, textos em jornais, revistas e notas técnicas. Isto tudo tem sido possível ao longo destes quinze anos aqui retratados, por estarmos inseridos numa universidade forte, com uma reputação e conceitos que ultrapassam fronteiras. Como consequência, tem permitido o reconhecimento das principais agências de fomento à pesquisa e do apoio da iniciativa privada. Porém, acima de tudo, está o seu recurso mais importante, as pessoas.

    As pessoas que constituem nosso núcleo, aqui chegam com expectativas, alguns muito jovens, outros nem tanto, mas todos constroem e cultivam valores e princípios fundamentais, para criarem suas histórias e entregarem seus legados. Assim, essa equipe atua com a intensidade e o profissionalismo que lhes é exigido. Não sucumbem ao impossível e à pressão, pois acreditam e respondem com atitudes. Além disso, asseguram sempre as garantias de relações fraternas e companheiras, para que a trajetória, por mais árdua que seja, carregue as recompensas por ter feito um dia, de forma desprendida, aquilo que era necessário e útil. Por tudo isso, transformam o NESPro em parte de suas vidas. Dizemos ao futuro: estamos prontos. Que venha a XVI JORNADA NESPro!

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    Barcellos

    , J.O.J.;

    Selistre

    , A.V.;

    Sessim

    , A.G.; et al. Uma retrospectiva temporal dos sistemas de produção de bovinos de corte – o papel do NESPro. In:

    Barcellos

    , J.O.J.;

    Abud Lima

    , J.;

    Oliveira

    , T.E.; et al. Bovinocultura de corte: cadeia produtiva & sistemas de produção. V.3. ed. Guaiba: Agrolivros, 2020. p.19-32.

    Agronegócio e Cadeia Produtiva da Carne Bovina

    Agronegócio e Cadeia Produtiva da Carne Bovina

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    Os desafios para o setor de carne bovina no Brasil

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    Guilherme Cunha Malafaia

    Nas últimas quatro décadas a cadeia produtiva da carne bovina sofreu uma modernização revolucionária, sustentada por avanços tecnológicos dos sistemas de produção e na organização da cadeia, com claro reflexo na produtividade, na qualidade da carne e, consequentemente, no aumento da competitividade.

    Cabe contextualizar que esta evolução esteve sempre calcada em ativos estratégicos encontrados no país, tais como: condições climáticas favoráveis, disponibilidade de terras a preços baixos, oferta abundante de mão de obra, tecnologia de produção adaptada às condições do país, entre outros, o que determinou, de certa forma, a alavancagem da competitividade deste setor. Entretanto, percebe-se que na última década houve um movimento crescente de deterioração desses ativos, decorrente de uma forte pressão de custos, que, por sua vez, derivam de um grande aumento da remuneração e da escassez do fator de produção mão de obra, importante valorização das terras e crescentes restrições socioambientais.

    Esta nova realidade induz as organizações aos desafios de desenvolverem novos processos, métodos, sistemas, produtos e serviços que contribuam para promoção da eficiência e competitividade da mencionada cadeia, com preservação do meio ambiente, reduzindo as desigualdades sociais e econômicas. Esses desafios são de grande complexidade e demandarão uma enorme capacidade de adaptação.

    Considerando essas constantes transformações e com o objetivo de subsidiar a definição de agendas estratégicas públicas e privadas, o Centro de Inteligência da Carne Bovina (CICARNE) da Embrapa Gado de Corte, em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), realizou um amplo e complexo estudo sobre o futuro da cadeia produtiva da carne bovina no Brasil para os próximos vinte anos. O estudo contempla os resultados do monitoramento do ambiente externo, apresentando informações estratégicas de um conjunto de sinais e tendências que impactarão na referida cadeia, consolidando dez megatendências, conforme Figura 1.

    Figura 1. Megatendências para 2040

    Fonte: CICARNE / Embrapa Gado de Corte (2020).

    Entende-se por megatendências um conjunto de vetores de transformação fortemente interligados e que deverão impactar a referida cadeia produtiva no futuro.

    Constatou-se que movimentos importantes transformarão o setor nos próximos vinte anos. Para manter sua posição de liderança no cenário mundial – e mesmo para ampliá-la – alguns desafios serão enfrentados por toda a cadeia de produção de carne.

    O mercado consumidor se movimentará em duas direções. A primeira, mais óbvia, será a do crescimento, oriunda de novos mercados, em especial na Ásia. E a segunda será a sofisticação: cortes diferenciados e produtos de origem denominada irão abrir novas oportunidades de geração de valor ao mercado. O maior grau de exigência do consumidor será um grande gatilho transformador da atividade. A concorrência com outras fontes de proteína também forçará toda a cadeia a produzir melhor. O bem-estar animal será mandatório, da cria ao abate, por questões econômicas.

    A inovação digital será uma das duas maiores forças disruptivas para o mercado nas próximas duas décadas e servirá de força catalisadora no processo de transformação da cadeia, injetando gestão e inteligência na atividade. Esta aproximará o elo produtor do consumidor e terá papel central na certificação, rastreabilidade e qualidade do produto carne.

    A busca por soluções sustentáveis será brutal, transformando a indústria de insumos. Soluções biológicas irão ocupar espaço importante no manejo. A biotecnologia impactará desde o manejo na propriedade até a qualidade do produto final que chegará à mesa dos consumidores. Junto com o digital, a biotecnologia será a grande mola propulsora de transformações.

    O impacto social será muito relevante – muitos pecuaristas não conseguirão se adaptar e deixarão a atividade. A escala será um pilar importante no contexto produtivo. Haverá importante apagão de mão de obra, o qual será necessário formar e reter profissionais qualificados na pecuária e isso será um dos maiores desafios para todo o setor.

    A aposta é de muito desenvolvimento e sucesso para os bons gestores. Produziremos mais carne em menos área, liberando terras para a agricultura e silvicultura. Ocuparemos espaço no cenário internacional, exportando desde genética a produtos altamente especializados e de elevado valor agregado. Seremos uma pecuária altamente tecnificada, profissional, competitiva e uma referência global não só pelo gigantismo, mas também por sua tecnologia e qualidade.

    Por fim, cabe mencionar que os estudos de futuros apresentam alto grau de incerteza e complexidade, não sendo possível saber o que de fato vai ocorrer, principalmente quando se trabalha com horizontes temporais distantes. Tendências podem ser alteradas e eventos podem, de forma inusitada, surgir e mudar de forma substancial tudo aquilo que foi desenhado. Entretanto, é importante sempre olhar para o futuro

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