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A Engenhoca
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E-book415 páginas4 horas

A Engenhoca

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Sobre este e-book

Um romance cativante, cheio de mistério, que se passa tanto na Escócia do século XVIII, como no futuro, narrada por um médico recém-licenciado.

Um livro de suspense cheio de intriga, passado em dois períodos temporais muito contrastantes, onde certas pessoas são forçadas a fazer escolhas difíceis.

Conheça a vida das pessoas durante a turbulenta Escócia do século XVIII, onde um pai de família recebe ma oportunidade única. Permitir-lhe-á a sua consciência fazer sacrifícios que assegurarão a futura prosperidade da Escócia e da sua família?

A outra parte da história passa-se num futuro próximo, onde o mundo se uniu num sistema coletivo ultra organizado, incluindo organizações de saúde. Siga um médico recém-licenciado na sua jornada de descoberta, desalento e esperança.

Os leitores perguntar-se-ão: Quanto poder é considerado demasiado poder? Em quem podemos confiar? E está a fazer-se o suficiente para prevenir que esta ameaça se torne uma realidade?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de nov. de 2019
ISBN9781071518335
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    A Engenhoca - Asher Lewis Stam

    A Engenhoca

    Escrito por Asher Lewis Stam

    Segunda edição

    Berne Convention for the Protection of Literary and Artistic Works de 9 de setembro de 1886, completada em Paris a 4 de maio de 1896, revista em Berlim a 13 de novembro de 1908, completada em Berna a 20 de março de 1914, e revista em Roma a 2 de junho de1928, em Bruxelas a 26 de junho de 1948, em Estocolmo a 14 de julho de1967, e em Paris a 24 de julho de 1971.

    Nota do autor: Contive-me propositadamente de escrever conversas em dialeto escocês, não por não gostar, mas puramente para tornar o romance inteligível para todos os leitores. Espero que o aprecie, mesmo que seja escocês.

    PARTE I

    Capítulo 1

    York, Inglaterra

    Estamos em Maio de 2038 e o agradável calor do sol consolava o pescoço do cavalheiro ajoelhado da lápide recentemente colocada. Uma borboleta verde esvoaçou no ar morno e pousou graciosamente na lápide. O homem considerou a chegada da borboleta e fez um esforço para limpar as lágrimas com a sua mão. Levantando-se, deu uma olhadela rápida à lápide, fechou os olhos e inspirou profundamente, recuperando do luto e angústia que acabara de experienciar ao visitar esta campa.

    Abrindo os olhos, sentiu uma energia renovada e, subsequentemente, deixou o cemitério.

    O nome do cavalheiro é Bob Chandall. As últimas semanas tinham sido extremamente duras para ele. O seu pai, que ele tinha acarinhado tão profundamente, tinha falecido. Para piorar as coisas, para as pessoas de fora, ele tinha falecido abruptamente, num piscar de olhos, sem mostrar sinais de que sofria fosse do que fosse. No entanto, lentamente, Bob começava a aperceber.se do que acontecera. A sua aceitação aumentava e ele percebia que a aceitação era um mal muito menor do que a pontada miserável que a melancolia trazia. Talvez conseguisse aceitá-lo melhor agora, pensou para si próprio.

    Quando Bob tinha acabado de sair do cemitério, recebeu uma notificação no seu módulo de pulso. O resultado da autópsia chegara. Bob agarrou na sua chave eletrónica e saltou para dentro do carro, e o carro conduziu-o para o hospital de York.

    Entrando no hospital, parou ao reparar na fila. Seria apenas uma curta espera, esperou ele.

    Quinze minutos mais tarde, um médico aproximou-se da sua cadeira e disse: ‘Siga-me, Bob.’ O doutor estendeu-lhe a mão ao chegarem a uma porta com uma placa que dizia: Dr. Marshall – Casos Especiais.

    Bob fez uma careta à placa. Entraram no quarto e o doutor fechou a porta atrás de si. Antes de o médico se sentar, ele disse instantaneamente: ‘Muito saudável era o seu pai, Sr. Chandall.’

    Seguiu-se um momento de silêncio.

    Apercebendo-se que o médico tinha causado o silêncio propositadamente, Bob olhou-o com curiosidade, ‘Mas, doutor, se ele era tão saudável, porquê a... morte?’

    ‘Não tenho bem a certeza, Sr. Chandall. Parece que o coração parou, pois não há sinais quaisquer outras ocorrências irregulares.’

    ‘E se for envenenamento?’

    ‘Não, pode eliminar essa hipótese.’

    Massachusetts, EUA.

    ‘Vais chegar atrasado’, notou Andy van Solteren num tom afável e morno. Richard, o irmão do Andy, olhou para o copo, agora quase vazio, e bebeu o último gole. ‘Tens razão. Vamos!’

    Entraram no carro e este conduziu-os à Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts. Andy conectou o ecrã do carro com o seu módulo de pulso e ligou uma música de dança independente qualquer de há duas décadas atrás.

    ‘Não quero celebrar demasiado depressa’, riu-se Richard.

    ‘Até parece que vais falhar, Rich’, respondeu Andy.

    ‘Acho que não.’ Disse, hesitante, ‘Estou só um pouco nervoso.’

    Quando chegaram ao recinto, ambos repararam no parque de estacionamento quase completo. ‘Aqui estamos,’ disse Richard. Trocaram um dá cá mais cinco e dirigiram-se à entrada. Nos degraus, um dos professores entregou-lhes um programa.

    ‘Está nervoso, Richard?’, perguntou ele.

    Richard sorriu. ‘Só um bocadinho.’

    Os dois irmãos olharam sofregamente para o programa. Andy olhou por cima do ombro para o grande relógio branco. ‘Quinze minutos para os resultados,’ exclamou ele. ‘E depois seguimos para a cerimónia dos chapéus!’

    Richard recebeu uma mensagem no seu módulo de pulso. ‘A mãe e o pai já cá estão. Estão sentados perto da frente,’ disse ele a Andy.

    Andy e Richard dirigiram-se à fila de cadeiras e viram os pais na frente. A mãe de Richard estava com um ar orgulhoso, com um grande sorriso na cara. O pai de Richard anuiu, como se legitimasse a constatação de Richard do orgulho da sua mãe.

    Todos se sentaram e esperaram pacientemente pelos anúncios. O barulho agudo de um microfone perfurou os ouvidos de todos os presentes.

    ‘Desculpem, desculpem,’ disse um pequeno homem careca, que era um dos professores de química, subindo os degraus de madeira da plataforma. Olhou para a audiência e esperou que os últimos presentes de pé se sentassem. O homem sorriu e disse, ‘Todos os professores aqui da Universidade de Massachusetts estão extremamente orgulhosos dos estudantes que passaram os últimos anos a trabalhar duro para obter um título. É com um misto de sentimentos que tornaremos públicos os resultados e teremos que vos deixar ir. Será uma pena ver-vos partir, ainda que saibamos que seja merecido.’

    O homem careca convidou um Sr. Chestnut a subir à plataforma. Sr. Chestnut, o diretor, tinha o dobro do tamanho do homem careca e os sorrisos e risinhos da audiência foram instantâneos. Richard arrebitou as orelhas.

    ‘Está na altura de anunciar os finalistas deste período.’ A audiência estava agora silenciosa com a crescente antecipação. ‘Começaremos com os estudantes que têm agora o seu grau de doutorado:

    Cathleen Shaw. Christopher Sangley. Raj Sajit. Rachel da Silva...’ Olhou para a lista que segurava e continuou, ‘... e finalmente, Richard van Solteren.’ Andy deu mais cinco a Richard como anteriormente, mas desta vez com mais fervor. Richard era o mais alto, ambos tinham cabelo louco e olhos azuis como o oceano.

    Depois do anúncio do resto dos nomes de estudantes que obtiveram outros graus, Richard dirigiu-se ao interior do edifício com os restantes felizes finalistas, e pegaram nos seus trajes e chapéus, prontos para a cerimónia.

    Richard não gostava particularmente do traje verde e do chapéu que tinha posto, mas não se queixou, pois não tinha escolha. Saindo do edifício, tapou os olhos com o braço para evitar o forte sol direto. Voltando à zona da plataforma, esperou ao lado dos degraus.

    Eventualmente, todos os estudantes recém-graduados estavam em fila e, um por um, foram receber o diploma que tão avidamente desejavam, e dar um aperto de mão ao Sr. Chestnut, ainda que este último motivo não tivesse grande relevância. Quando chegou a vez de Richard, a sua mãe levantou-se e tirou uma fotografia com a sua máquina.

    Capítulo 2

    A noite aproximava-se e Richard chegou a casa. Estava muito satisfeito consigo próprio, mas também exausto do dia. Os seus pais tinham preparado um churrasco surpresa para celebrar, todos os seus amigos tinham sido convidados, e quase todos estavam presentes.

    Ao entrar no apartamento, foi direito ao frigorífico e pegou numa garrafa de cerveja gelada. Abriu-a e sentou-se na varanda. O tempo estava realmente glorioso para o mês de maio, e Richard estava a absorver toda a força do sol. Ele fechou os olhos.

    O seu módulo de pulso vibrou e ele abriu os olhos para verificar quem lhe tinha mandado mensagem. Viu que fora Kim Park, um bom amigo, que lhe mandara uma mensagem de vídeo. Na mensagem, Kim felicitava-o pela graduação, tinha visto no site de Richard. Kim disse também que tinha estado a pensar nos planos futuros de Richard. Perguntou a Richard se queria fazer uma videochamada com ele dentro de cinco minutos. Cinco minutos mais tarde, Richard fez uma videochamada para Kim. ‘Olá, Richard!’, exclamou Kim, ‘recebeste a minha mensagem, portanto?’

    ‘Olá, Kim, já não falamos há muito, meu! Como está o teu trabalho em Harvard?’ Referia-se ao Instituto Clínico de Harvard, Boston.

    ‘Bem, era por isso que queria falar contigo. É o seguinte; o meu trabalho está a ir bem, mas ouvi há umas semanas que nos devemos preparar para grandes mudanças muito em breve. Parece que se vão perder muitos postos de trabalho.’

    Houve um momento de silêncio da parte de Richard. ‘Isso é uma grande chatice então!’, exclamou ele.

    ‘Achei que tinha que te contar, sabendo que mencionaste o Instituto Clínico de Harvard muitas vezes no passado. Ainda estavas a pensar candidatar-te a um trabalho lá?’

    ‘Ia, até me dizeres isso! Obrigada por me dizeres. Não posso acreditar.’

    ‘Bem, eu tive uma ideia, Richard.’

    ‘Ah, sim? Bem, estou aberto a opções, principalmente agora!’, disse Richard com uma pequena gargalhada.

    ‘Olha, ainda mantenho o contacto com o meu tio de Seoul. Ele trabalhou toda a vida lá, num centro médico chamado ESEN. Ele disse-me que se alguma vez perdesse o emprego aqui nos Estados Unidos, poderia candidatar-me a um trabalho lá, na Coreia do Sul. Ele disse que ultimamente têm havido algumas oportunidades de trabalho.’

    Richard agradeceu-lhe pelo interesse pessoal e deambulou na informação durante um momento para a deixar assentar. ‘Nunca pensei em ir para fora no primeiro ano da minha carreira.’

    ‘Eu sei. Mas dá-te uma oportunidade, certo?’

    ‘Parece uma boa opção. Qual é a probabilidade de eu conseguir emprego lá?’

    ‘O meu tio conhece alguém que te pode ajudar. Apesar do senhor estar reformado, pode definitivamente falar bem de ti a algumas pessoas influentes no recrutamento de pessoal.’

    ‘A sério?’

    ‘Sim. Trabalhaste duro para o teu diploma e tens boas notas. Não vais querer trabalhar num bar de hambúrgueres durante os próximos 5 anos. Tenho a certeza que vais gostar da Coreia, desde que te lembres de algumas coisas que já te contei. Desde que a Coreia do Norte melhorou o seu historial em termos de direitos humanos, Seoul, na Coreia do Sul, tornou-se ainda mais apelativa para os expatriados.’

    ‘Vou pensar bem nisso mais um pouco.’, disse Richard. ‘E desculpa, agora tenho que descansar porque estou exausto de um churrasco que tivemos. Foi uma pena que não tenhas podido estar connosco, a propósito. Ligo-te na próxima semana se decidir ir, e se quiser mais informação.’

    ‘Tudo bem, Richard. Falamos depois, amigo.’

    Quando a conversa terminou, Richard pensou afincadamente. Esta decisão teria que ser tomada com sabedoria. Quanto mais pensava em trabalhar numa parte próspera da Ásia, mais apelativo se tornava.

    Na manhã seguinte, Richard fez o pequeno-almoço e decidiu pesquisar mais coisas sobre Seoul e o Centro Médico, e o que leu não o demoveu.

    Mandou uma mensagem ao seu irmão para se encontrarem na manhã seguinte no ‘Madison’, o bar-restaurante que ficava ao virar da esquina. Richard estava ansioso por descobrir o que o seu irmão acharia da ideia. ‘Achar-me-á louco?’, pensou consigo próprio.

    Na manhã seguinte, no bar, Richard falou-lhe da hipótese que tinha de ir trabalhar para Seoul, Coreia. O seu irmão reagiu de forma surpreendentemente positiva à ideia.

    ‘Esperava que saísses de casa em breve.’, notou Andy. Andy aparentemente tinha deambulado sobre o assunto bastante tempo antes da graduação de Richard. Ele sabia que Richard era um tipo aventureiro, que abraçaria de bom grado um desafio, e portanto esta ideia de emigrar para Seoul não o surpreendeu de todo.

    Ao sair do bar, Richard sentiu-se revitalizado com a aprovação do seu irmão, ainda que soubesse que teria imensas saudades dele se deixasse Boston.

    Richard olhou para o seu módulo. Um lembrete apareceu no ecrã: ALEXANDER. CERIMÓNIA DE ABERTURA DA FUNDAÇÃO GIVE HOPE ÀS 12:45.

    Richard suspirou. Alexander era o seu tio. Era um tipo amigável, mas Richard não gostava do seu lado político. Não falavam muito um com o outro.

    O tio Alexander via fundações, títulos e política como as únicas soluções para os problemas do mundo. Richard não conseguia ver a eficácia de tudo isso. De facto, a opinião de Richard era muito diferente da opinião geral dos cidadãos da América do Norte, e mesmo da maioria dos cidadãos do resto do mundo. Richard compreendia porque é que tantas pessoas se agarravam à política para obterem segurança e esperança, uma vez que nos últimos cem anos o mundo tinha mudado imenso, principalmente nos últimos quinze anos.

    Apesar das mudanças dramáticas e das tentativas de paz, Richard tinha vontade de esquecer a política e estava a ficar farto do entusiasmo das pessoas pelas reformas políticas constantes, pelas disputas e esclarecimentos. Por muito que não gostasse de política, Richard não ia perder a cerimónia de abertura da mais recente fundação criada pelo seu tio. Toda a sua família estaria presente, e muitos dos meios de comunicação nacionais estariam lá para captar o tumulto que rodeava a abertura desta nova conceção.

    Ele vestira as suas roupas mais elegantes e chegara mesmo a horas. Havia alguns carros caros estacionados na gravilha, pelo que o seu carro parecia muito modesto no meio daqueles animais reluzentes.

    Ele seguiu os balões vermelhos até aos degraus de mármore e viu fotógrafos alinhados de cima até baixo da escadaria, olhando para o tio de Richard, que envergava um fato claro com uma gravata brilhante. Estava igual aos balões, pensou Richard para si próprio. O seu tio tinha definitivamente uma figura corpulenta, e as suas bochechas rosadas brilhavam ao sol.

    Ele estendeu os braços com entusiasmo para o público, revelando o propósito da fundação ao microfone. ‘Como já estão a par, depois de todas as mudanças, da eliminação da corrupção, e da afinação que sofremos, o mudo está mais que nunca a precisar de homens e mulheres jovens e inteligentes para guiar as pessoas a um futuro seguro e protegido.

    A FUNDAÇÃO GIVE HOPE será a derradeira plataforma para esses jovens conhecerem a dedicação daqueles que, durante anos, investiram muito tempo e energia em várias obras de caridade e agências de auxílio em vários projetos por todo o mundo.

    Serão ensinados a conduzir projetos futuros para que o mundo veja que a América do Norte está empenhada em permanecer como uma união especial de adultos generosos, em vez de retroceder a velhos hábitos. Desta forma, o mundo não sofrerá de uma escassez de distribuição de alimentos, educação ou material médico.’ O aplauso que se seguiu foi impressionante. Um mar de flashes das câmaras dos repórteres encandearam Alexander. Alexander sorriu e convidou o senador a cortar a fita vermelha. Agora, ainda se tiraram mais fotografias. Richard estava impressionado, mas não emocionado. Qual é o sentido desses projetos, afinal?, pensou ele para si próprio. Era estranho que ele duvidasse da forma de como as coisas estavam planeadas; sendo um estudante graduado de medicina e tudo, ele deveria sentir-se genuinamente motivado a apoiar o seu tio. Afinal, o seu diploma estava parcialmente ligado a material médico.

    Richard não tinha problemas por não se sentir entusiasmado com a fundação, sem sentimentos de culpa por não ter grande interesse pelo GHM (Supervisor da Saúde Global).

    Os seus pensamentos foram abruptamente interrompidos ao ouvir a voz do seu tio atrás de si. ‘Richard! Que prazer ter-te aqui. Por favor junta-te a nós na casa de chá daqui a dez minutos. O resto da família também estará lá’, e sorriu.

    Richard teve precisamente tempo para se espremer entre os colegas do Alexander para chegar às sanduíches de salmão e agrião.

    Ao entrar na casa de chá envidraçada, viu a sua família. Estava uma mulher a falar com eles, vestindo um vestido roxo muito caro, e que sentiu a presença de Richard quando ele se aproximou.

    Ela virou-se para ele e sorriu-lhe. ‘Que prazer conhecê-lo. Deve ser o Richard. O seu tio fala muito de si.’ Richard teve vontade de a contradizer, mas deteve-se.

    Trocaram um aperto de mão e a mulher apresentou-se. Chamava-se Sophia. Não era difícil para Richard deduzir que ela era a mais recente namorada do seu tio. Então és a sua última aquisição, pensou para consigo.

    Ela tinha um tom autoritário e confiante que aborrecia Richard. O último caso do seu tio só tinha durado seis meses, mas pelo menos tinha sido menos chata que esta Sophia. ‘Então, onde vive, Sophia? Por perto?’, perguntou ele.

    ‘Não, Los Angeles. Vou ficar aqui até Domingo.’

    ‘Então tem que voltar ao trabalho na segunda?’

    ‘Sim, eu trabalho dos quartéis-general da GHM de Long Beach.’

    ‘Oh, a sério? Foi aí que conheceu o Alexander?’

    Com um sorriso, ela disse, ‘Sim, foi onde conheci o seu adorável tio! Trabalho como Relações Públicas e o seu tio apareceu um dia numa reunião com os meus chefes de equipa.’

    ‘Gosta de trabalhar para o GHM?’, perguntou o pai de Richard.

    ‘Pode crer que sim. E desde que instigaram o voto anual há uns anos atrás, fizeram-se progressos muito rápidos na Califórnia.’

    ‘Deve ser bom viver perto do mar.’, Disse a mãe do Richard.

    ‘Temos linhas de costa gloriosas na Califórnia, e temos o porto com maior taxa de crescimento do oeste dos EUA, em Port City. Ficaria muito impressionada pelo encanto da zona.’ Richard reparou no lado de RP de Sophia, estando ela a fazer publicidade de forma apaixonada e informativa com a maior facilidade.

    ‘Ah, desculpem a demora.’ Alexander entrou na sala. Foi direito a Sophia e abraçou-a com força.

    ‘Esta é a minha querida Sophia.’ Seja, pensou Richard, vamos ver se dura mais de seis meses.

    Alexander acenou a um dos empregados e chegaram simultaneamente dois empregados com um carrinho de baldes de gelo com garrafas de champanhe. Tal qual a minha casa, sorriu interiormente Richard.

    Deu uns goles no champanhe, as bolhinhas eram refrescantes. O champanhe era frutado. Olhando na direção dos pais de Richard, o tio Alex disse, ‘Considerando que o aniversário do CVA (Comité de Voto Anual) se aproxima, tinha esperança que os vossos dois filhos quisessem juntar-se a mim no grande dia.’

    Richard e Andy ficaram ambos espantados. Alexander continuou, ‘Foram convidados mais cinco para promover o próprio fundo que prepararam, e será num local especial. Vai passar em direto na televisão.’

    Um momento de silêncio.

    ‘Claro que sim!’, disse a irmã de Alexander, a mãe de Richard.

    Richard voltou-se para ela rapidamente. ‘Hmm, não devíamos falar sobre isto primeiro?’

    ‘Não sejas tolo’, disse Sophia, sorrindo. ‘O vosso tio está a ser muito bondoso ao fazer isto.’ Richard sentiu-se tratado como uma criança, mas não ripostou.

    ‘E esta... localização especial. Podemos saber com antecedência onde é?’, perguntou Richard.

    Alexander estalou os dedos a um dos empregados e este deixou o champanhe e desligou as luzes. O empregado, em seguida, carregou num botão de um pequeno ecrã que estava ao lado da porta. Todos olharam para cima, imitando Alexander.

    Então, começou um pequeno filme no teto branco abobadado da casa de chá- Andy olhou para o seu tio com assombro enquanto Richard abanava a cabeça.

    O filme revelava a localização do evento: Allen County Courthouse, Fort Wayne, em Indiana!

    O flime revelava que haveria uma procissão introdutória de esculturas de homens e mulheres famosos e reverenciados que tinham ajudado a estabelecer o DDP (Plataforma Diplomática & Democrática), e que tinham colaborado para o seu sucesso na América do Norte, desde a sua introdução em 2032. Para abrir a procissão, haveria um discurso de Sir Thomas Kindle, diretor do DDP no Canadá, nos EUA, e no México. O discurso aconteceria fora do edifício em si, onde se podia ver a impressionante iluminação do interior em mármore.

    Richard estava verdadeiramente e bastante abalado por isto.

    O irmão dele falou. ‘Alex, isto é fantástico.’

    Richard anuiu entusiasticamente e aparentava estar fascinado por tudo.

    ‘É exatamente o que querias, Alex’, disse a mãe de Alexander, e por isso abraçou Alexander, simplesmente porque sabia que este tinha trabalhado extremamente duro para chegar a esse ponto.

    Capítulo 3

    Sir Thomas Kindle. Uma figura ponderosa. Um político histórico, com risca ao meio no seu cabelo liso. Tinha um ar jovem, apesar de estar perto da casa dos cinquenta.

    Nascera para ser grande, nascido em 1989 numa família de génios ricos de West Virgínia, tinha estudado Economia na universidade. Interrompera prematuramente os estudos quando se apercebera que queria ser alguém conhecido pelas massas.

    Fora então que se dedicara ao estudo do Direito, e após se tornar no presidente do município de Williamsburg, a ex-capital de West Virgínia, aos 37 anos de idade, mudou-se para se juntar ao Instituto Monetário Americano como consultor. Teria preferido manter-se como presidente de Williamsburg, mas a situação não lhe deu outra hipótese. As reformas monetárias globais tinham começado no ano anterior e a derrocada que Thomas via a aproximar-se impeliu-o a agir.

    Thomas Kindle era um admirador de Stephen Zarlenger, que tinha lançado reformas monetárias no último século. O livro de Stephen Zarlenger, ‘A Ciência Perdida do Dinheiro’, tinha mudado toda a conceção de Thomas sobre os princípios do dinheiro. Obcecado pelo tema: dinheiro sendo uma mitologia e um meio para o poder, Thomas estava decidido a colocar os seus ideais em ação nas suas funções.

    Quando Thomas descobriu que estava longe de ser o único a almejar por um sistema monetário mais globalizado, rapidamente encorajou os colegas a pensar seriamente sobre as mudanças que introduziriam no senado, e mais tarde nas Nações Unidas. A ideia da globalização monetária suportada por ouro fora uma teoria que já circulara décadas antes: entendidos chineses e brasileiros tinham tido ideias semelhantes, e não demorou até que esta nova ideia se tornasse uma mania nos círculos económicos. Nenhum deles podia ignorar o facto de o sistema atual em funcionamento já ter ruído, e estar apenas a funcionar por um fio.

    Assim como uma ilha erodida e afundada pelas águas, e tratada cruelmente por tempestades tumultuosas, a economia era um terreno baldio que quase se afogara. Drenada pela falta de bom senso nas despesas, e pelos cortes falhados por todo o globo, a economia recebera o golpe final.

    Apesar das boas intenções governamentais de reunir todas as pessoas debaixo do mesmo estandarte, numa tentativa de tolerância e justiça, em 2023 a recessão cresceu na Europa de Leste, à exceção da Polónia. A União Europeia tivera que ser reestruturada deixando os países mais pobres, maioritariamente situados mais a sul, sentindo-se enterrados, e deixados à sua própria mercê. Os países mais ricos, a norte e oeste, sentiram-se uns felizardos. Sérios investimentos internos em ciência e tecnologia levaram a uma pausa temporária no medo e, consequentemente, o otimismo cresceu.

    O que não esperavam foi a onda que se seguiu: as pessoas. As pessoas comuns dos países ricos tinham desenvolvido ‘consciência’, ainda que de pouca dura. Provavelmente devido aos anos de incerteza e medo do colapso dos seus próprios países, as pessoas tornaram-se mais conscientes da necessidade de trabalhar em equipa para ultrapassar situações difíceis.

    Fora no início de 2025, numa ligeira repetição da década anterior, que os países mais pobres se juntaram em protesto contra o desequilíbrio no continente. Exigiam promessas que não fossem quebradas. Dezenas de milhares apoderaram-se das ruas, e após isso os seus líderes políticos chamaram-nos para recusar o tratamento que tinham estado a receber por parte dos países mais ricos.

    À semelhança de uma bola de neve a crescer progressivamente, pararam de importar bens, com embargos e sanções nesses países mais ricos, o que os atingiu duramente. Apesar da sua impressionante força policial, prepararam-se para evitar os protestos inflamados do seu próprio povo, e decidiram por unanimidade que já era altura de falar com a União da América do Norte, a China, o Japão e a Austrália sobre os rumores dos planos de melhoramentos monetários, usando as principais moedas de apoio. A localização fora ultrassecreta na altura.

    Thomas fora, claro, convidado juntamente com os seus colegas e o presidente dos EUA, naquele verão de 2025 para ir à tal localização secreta, que era numas montanhas da Nova Zelândia. O que se iria decidir durante essa reunião ficaria carimbado nos livros de História.

    Após 2 semanas de conversas progressivas, a resolução foi tomada para se chegar a um plano claro, usando as ideias a que os economistas, incluindo Thomas Kindle, tinham chegado. Ficara decidido que se a ONU concordasse, o resultado do planeamento seria revelado anos mais tarde, em 2029. A internacionalização e a globalização estavam a tornar-se numa realidade.

    Exigir informação sobre as discussões e obter algumas respostas limitadas fora o suficiente para os media tirarem a conclusão de que os governos tinham finalmente chegado a um plano de ação para resolver o problema da desigualdade, em vez das promessas vazias do término da pobreza.

    Para o cidadão comum, isto significava simplesmente uma saída das divisões que se tinham vindo a construir, e um alívio dos problemas que acompanhavam as recessões, nomeadamente altas taxas de desemprego e falta de habitações sociais. Nas zonas mais gravemente atingidas, os cidadãos reagiram festejando nas ruas e regozijando-se em suas casas. Nesta reviravolta de acontecimentos, as pessoas afeiçoaram-se à ideia do alívio.

    2026 e 2027 foram denominados os ‘Anos do Otimismo’.

    Sentindo-se privados do direito de ir contra os cidadãos, os governos concordaram em juntar-se em 2029, o ano proposto. Thomas Kindle estivera a trabalhar duramente para chegar a um plano, em estreita colaboração com os seus colegas economistas nomeados dos outros países.

    Então, 2029 fora o ano em que a ‘Cimeira para a

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