A Rainha do Harém
De L P Baçan
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A Rainha do Harém - L P Baçan
I – A Caminho de Paris
O ruído das turbinas não incomodava os passageiros da classe especial daquele voo das British Airway. Olhando pela janela, Dorothy Sanders tinha a impressão de que o aparelho descansava imóvel e leve sobre flocos de algodão. Adorava voar, adorava viajar. Gostava da agitação, do movimento, do não parar em parte algum e estar em todos os lugares. Como jornalista de uma importante revista americana, tinha esse privilégio agora. O mundo lhe parecia pequeno e ela o conhecia.
Era estranha aquela sensação. Já visitara todos os continentes, conhecia todos os aeroportos famosos, mas estava absolutamente convicta de que nada vira. Para uma garota nascida no interior do Oregon, já fora mais longe do que pudera imaginar quando, debruçada na janela de sua casa, olhando as plantações, imaginava até onde ia aquele mundo. Na época ele lhe parecia pequeno, delimitado pelas colinas que cercavam a pequena fazenda. À medida que foi vencendo etapas e distâncias, mais e mais aquele mundo crescia e, paradoxalmente, diminuía.
Sorriu de suas lembranças quando o comandante da aeronave caminhou pelo corredor ao seu lado. Ela já o conhecia de viagens anteriores. Era um homem alto, de ombros largos e sorriso cativante. Suas maneiras inspiravam uma calma surpreendente e, ao mesmo tempo, uma inquietação que, naturalmente, apenas as mulheres entendiam.
— Olá! — sorriu ele, apoiando-se ao encosto da poltrona diante de Dorothy. — Por onde tem andado?
— Pergunta boba! — riu ela. — Como vai, Kevin?
— Voando — brincou ele, e os dois riram. — Vai cobrir algum importante acontecimento em Paris?
— Não, apenas uma conexão.
— Ainda hoje?
— Não, amanhã cedo. Tenho que aguardar um colega que se encontra na Espanha. Um fotógrafo.
— Ah, entendo! Para onde vão em seguida?
— Oriente Médio.
— Aquele país em evidência, não é?
— Como adivinhou?
— Os olhos do mundo estão voltados para lá — sorriu ele, olhando-a de um modo que a fazia estremecer perturbada — Estarei livre à noite. Só voarei amanhã também.
Havia uma clara sugestão nas palavras dele e no modo como ele a olhava. A jornalista entendeu isso.
— É um convite, comandante? — desafiou ela.
— Se quiser encarar assim... Onde se hospedará esta noite?
— No Hotel Marceaux, da Rua Caumartin.
— Poderíamos tomar um aperitivo no café de La Paix e depois nos divertimos em algum ponto interessante... Conheço um bom restaurante na Champs Elysees...
— Roteiro aprovado — concordou ela.
— Às oito está bom para você?
— Está ótimo. E você, onde se hospeda?
— Tenho um apartamento, algo simples para minhas estadas aqui em Paris e... — sorriu ele, como se deixasse o resto por conta da imaginação dela.
— Muito cômodo, não? — sorriu ela com ligeira malícia.
— Até lá e uma feliz aterrissagem — despediu-se ele, passando adiante.
Dorothy inclinou-se para o lado e, por instantes, voltou a cabeça para olhá-lo se afastar. Depois se reclinou em sua poltrona, olhando para o alto pensativamente.
* * *
Num café esfumaçado e suspeito da zona do cais em Marselha, dois homens se encontraram. Um deles se vestia com sobriedade extrema. Suas roupas eram bem talhadas e caras. A expressão de seu rosto era calma, extremamente calma como se ele vivesse alheio a tudo que o cercava.
O outro homem, que agora bebericava um uísque, tinha olhos miúdos e brilhantes que pareciam atentos a tudo que acontecia ao seu redor. Vestia-se com roupas comuns. Um paletó surrado em estilo americano sobre uma camiseta de marinheiro, molhada de suor à altura do peito.
O homem elegante acendeu um cigarro e, por instantes, fitou o outro com desconfiança.
— Bebe alguma coisa? — indagou o homem de olhos miúdos.
— Vinho branco, por favor!
O outro fez um sinal para um garçom e pediu uma garrafa do melhor vinho branco que tinham ali.
— Vai nos desculpar, senhor, mas nossa adega não é das melhores. A freguesia, sabe... — riu ele, apontando para as mesas ao redor deles.
— Compreendo — respondeu o outro, demonstrando estar claramente aborrecido com tudo aquilo.
Momento depois o garçom os servia. O homem elegante apanhou a garrafa e examinou o rótulo. Fez uma careta de desagrado. O garçom fez menção de levar de volta o pedido, mas ele reteve a garrafa, ordenando com um gesto, que ela fosse aberta. Degustou um pouco do vinho. Não aprovou nem desaprovou. Seu rosto permaneceu impassível. Ele encarou o homem à sua frente e indagou:
— Tem certeza que ele chega hoje?
— Absolutamente, senhor.
— É de confiança?
— Um profissional no gênero.
— Há de compreender que todos aqueles detalhes mencionados na carta são imprescindíveis.
— Tenho sua carta comigo e posso lhe afirmar com convicção que ele é o homem exato para esse trabalho.
— O preço?
Os olhos miúdos do homem que bebia uísque brilharam mais intensamente. Ele fez contas mentais, examinou o homem diante de si, calculou a importância do trabalho. Não se tratava apenas de fazer um preço pelo trabalho de um profissional. Havia os outros detalhes que teriam de ser preparados para que tudo corresse perfeitamente.
— Eu pensei em algo como... Cinco milhões de dólares — disse, enquanto levantava o copo diante dos olhos e, ao mesmo tempo, examinava a reação do outro.
Nada