Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Lugares: contos
Lugares: contos
Lugares: contos
E-book54 páginas39 minutos

Lugares: contos

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Um relógio que pressagia a hora derradeira, um legista cujo o corpo é usurpado por um espírito, o medo ancestral em uma floresta... Há algo à espreita nos sete contos de Lugares ! Os personagens criados por Olavo Wyszomirski deveriam viver situações comuns, mas uma presença que não pode ser mencionada - as vezes sequer detectada - faz com que as histórias tomem rumos surreais. O leitor que aprecia contos de mistério, suspense e terror ficará impressionado e arrepiado com Lugares.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de nov. de 2015
ISBN9786580535163
Lugares: contos

Relacionado a Lugares

Ebooks relacionados

Romance de Suspense para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Lugares

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Lugares - Olavo Wyszomirski

    Fotógrafo

    A coisa na floresta

    O leito do rio é de cascalho e o curso d’água, sereno. Há uma pedra enorme, gigante, cujo topo não consigo divisar. Deve ter uns três metros de altura e está coberta de liquens. Lembra-me um altar. Em cima, um deus. O ídolo tem vários braços, forma de símio e rosto tomado. Cipós cobrem-lhe a face. Então, meus dedos esfregam-lhe os olhos, depois a testa e, por fim, vejo o que as veias verdes dos cipós tentavam ocultar.

    O medo parece uma coisa viva dentro de mim.

    William Hunt

    Meu nome é Ramiro. Ramiro José Sanchez. Nasci na província de Palo Alto, Novo México, mas moro atualmente na Espanha, onde trabalho como violador de corpos. Sem falsa modéstia, sou um dos melhores. Como médico legista, exerço a profissão destrinchando cadáveres mutilados à procura de pistas que ajudem a solucionar crimes terríveis. Mas a minha experiência com a medicina legal não me preparou para enfrentar os eventos que tiveram início em setembro de 1947. Porque, a despeito de toda carga emocional e asco que o meu tipo de trabalho possa despertar nas pessoas mais sensíveis, ninguém está apto a dizer que fui, ou continuo sendo, um insano. Porque a natureza da tragédia que se abateu sobre minha pessoa não tem nada a ver com o lado físico ou carnal com o qual eu lido por força da profissão. O que aconteceu não foi um desígnio de Deus por violar o corpo de uma pessoa morta cujo merecido descanso deveria ter sido respeitado. Mas pertubou-me profundamente, a ponto de minha vida jamais ter sido a mesma desde então. Os fatos chegam a beira da loucura e podem comprometer a autenticidade de minha narrativa. Contudo, é necessário observar que não tenho antecedentes de esquizofrenia ou doenças de ordem psicológica em minha família e que, como homem da ciência, jamais me interessei por ocultismo, paranormalidade ou coisas afins.

    Sou filho de Maria Aparecida Puentes e José Carrera Sanchez, dois honestos e iletrados lavradores chicanos cujo único objetivo de suas existências foi educar o filho para proporcionar-lhe uma vida diferente. Quando formei-me, abandonei a minha terra natal e cheguei ao Velho Mundo imigrado num cargueiro americano. Uma vez na Espanha, iniciei a minha pós-graduação com muito esforço e, após concluir o doutorado, logo me vi assumindo a cadeira de professor titular de medicina legal da faculdade mais conceituada do país. Por conta de meu sucesso como legista, toda a veracidade do meu estranho caso pode ser conferida nos jornais e publicações científicas de época. Ao que parece, sofri de uma estranha amnésia que foi amplamente divulgada pela imprensa especializada da Europa. Durante quase sete anos, entre setembro de 1947 e junho de 1954, eu desenvolvi uma personalidade secundária. O corpo era o meu, o de Ramiro José Sanchez, mas os gestos, o modo de falar e o comportamento pertenciam a um outro alguém. O que intrigou os psicólogos e psiquiatras de então não foi tanto o surgimento desse segundo eu, mas o fato de que ele acabou por suplantar completamente o primeiro. Quem é da geração passada certamente se lembrará disso.

    A coisa toda, de fato, ocorreu de maneira muito repentina. Foi numa segunda-feira que a estranha amnésia apareceu. Era 10 de setembro de 1947

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1