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Alma de cabrocha: Uma autobiografia cheia de samba
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Alma de cabrocha: Uma autobiografia cheia de samba
E-book238 páginas2 horas

Alma de cabrocha: Uma autobiografia cheia de samba

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Sobre este e-book

A história de Therezinha Monte, carioca, nascida na Zona Norte carioca, professora e jornalista, se confunde com a do Rio de Janeiro. Nos anos 1980 nem existia a expressão empoderamento feminino, mas ela provou que era possível uma jovem, baixinha, loura, de olhos claros ser presidente de uma escola de samba carioca, a Unidos do Cabuçu. Tomou posse em 1982 e, dois anos depois, a escola foi campeã na inauguração do Sambódromo, com o enredo homenageando a cantora Beth Carvalho, que levou a agremiação para o primeiro grupo do desfile das escolas de samba. Por 17 anos, ela comandou com mão forte milhares de pessoas, sem dividir o seu mandato com ninguém. Sua marca foi a inovação: fez obras notáveis na quadra da escola, inventou enredos criativos homenageando celebridades vivas, que participavam ativamente do desfile e propiciaram a busca de patrocínio, abriu as portas da Cabuçu para artistas famosos, levou para a quadra espetáculos teatrais, bailes funk e shows LGBT, abrigou carnavalescos que se tornaram estrelas depois e, ainda, participou diretamente das decisões capitaneadas pelos banqueiros de bicho cariocas, tradicionalmente os presidentes das agremiações carnavalescas.
Este livro, porém, além de contar a história dos carnavais da Cabuçu e da política do carnaval nas décadas de 1980 e 1990, é também um delicioso relato de "causos" das escolas de samba, desde o componente que perdeu a dentadura na avenida a baianas chorosas por não conseguirem colocar óculos gatinho cor-de-rosa que, na verdade, eram para a ala infantil. Therezinha colecionou com uma memória invejável estas deliciosas histórias por anos, até ser quase obrigada pelos amigos a contá-las. E são muitas! Para divertir, pesquisar e pensar sobre a importância da mulher em um posto de comando tão inusitado, que até hoje poucas, menos de meia dúzia, também alcançaram.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de ago. de 2018
ISBN9788554730147
Alma de cabrocha: Uma autobiografia cheia de samba

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    Alma de cabrocha - Therezinha Monte

    Therezinha Monte

    ALMA DE CABROCHA

    Uma autobiografia cheia de samba

    Copyright © 2018 Therezinha Monte

    Copyright © 2018 desta edição, Letra e Imagem Editora.

    Todos os direitos reservados.

    A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98)

    Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

    Entrevistas e Edição de Texto: Tania Carvalho

    Pesquisa: Alejandra M. Farran e Silvia Viviana Nievas

    Transcrição de entrevistas: Clara Landolfi

    Revisão: Priscilla Morandi

    Foto de Capa: Nana Moraes

    Todas as fotografias são do arquivo pessoal de Therezinha Monte. Todos os esforços foram feitos para dar o devido crédito aos fotógrafos, porém a identificação nem sempre foi possível. Contudo, a autora agradece a todos pelo registro de sua trajetória.

    dados internacionais de catalogação na publicação (cip) de acordo com isbd

    M772a Monte, Therezinha

    Alma de cabrocha [recurso eletrônico]: uma autobiografia cheia de samba / Therezinha Monte. - Rio de Janeiro : Letra e Imagem, 2018.

    246 p. : il. ; ePUB

    Inclui índice.

    ISBN: 978.85.5473-014-7 (Ebook)

    1. Autobiografia. 2. Música. 3. Memórias. 4. Samba. 5. Escolas de samba. I. Título.

    cdd: 927

    2018-713 CDU 929:78

    Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949

    Índice para catálogo sistemático: 1. Autobiografia : Música 927

    2. Autobiografia : Música 929:78

    www.foliodigital.com.br

    Folio Digital é um selo da editora Letra e Imagem

    tel 2558-2326

    letraeimagem@letraeimagem.com.br

    www.letraeimagem.com.br

    Dedico este livro a todos os familiares e amigos que insistiram tanto para que eu o fizesse. Espero que não se decepcionem.

    prefácio

    A capitã da resistência

    Os debates que se sucedem no Brasil e lançam luz ao enfrentamento destemido com que mulheres de norte a sul do País buscam ressignificar o seu papel na sociedade contemporânea ratificam a importância de Therezinha Monte no processo que consolida dia a dia a importância da participação feminina nos diferentes segmentos que constituem as instituições brasileiras. 

    Precursora na desconstrução de paradigmas que impunham um abominável coadjuvantismo da mulher no exercício de atividades dominadas majoritariamente pelo homem, Therezinha desbravou trilhas, pavimentou caminhos e tornou-se protagonista de sua própria história, assumindo em 1982 a presidência da Unidos do Cabuçu, escola nascida em 1945 a partir de um time de futebol que, durante o período carnavalesco, se convertia em bloco e reunia as comunidades do Morro do Barro Preto, da Favela do Barro Vermelho e do Amor, localizadas na região que compreende os bairros de Engenho Novo, Lins e Méier.

    Therezinha fez história. Oriunda de classe média, sem nunca ter morado na favela, conquistou uma gama de torcedores fiéis que ia de simples desfilantes ao mais alto escalão da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA), de cuja diretoria fez parte. Tanto que foi a primeira mulher a presidir uma escola de samba por meio de eleições diretas. Dois anos após dar início ao comando da agremiação, na qual permaneceu por 16 anos, divididos em oito mandatos, levou a Cabuçu à conquista do primeiro título na Marquês de Sapucaí, com um enredo-exaltação a Beth Carvalho. Um marco. Também escreveu um capítulo laborioso de sua biografia ao ser umas das pioneiras no setor a buscar parcerias com a iniciativa privada para o financiamento dos desfiles. 

    Jornalista por formação, Therezinha Monte enveredou por caminhos curiosos, tendo sido responsável pela organização dos concursos de Miss Brasil no período áureo do campeonato de beleza. No entanto, dedicou mesmo a maior parte da trajetória ao universo do samba, com o qual sempre estabeleceu uma profunda relação de respeito, idolatria e amor incondicional. Figura na lista de mulheres importantes na consolidação da maior festa popular do Brasil, ao lado de outras líderes femininas que chegaram à presidência de um grêmio recreativo carnavalesco, entre essas Carmelita Brasil (Unidos da Ponte, 1957), Andreza Moreira da Silva (União do Jacaré, depois Unidos do Jacarezinho, em 1965), Elisabeth Nunes (Salgueiro, 1986), Esclepildes Pereira (Pildes Pereira, Vila Isabel, em 1987), Lícia Maria Caniné, a Ruça (Vila Isabel, 1987), Neide Domicinina Coimbra (Império Serrano, 2002), Eli Gonçalves, a Chininha (Mangueira, 2008) e Regina Celi (Salgueiro, 2010). 

    Em Alma de cabrocha, esta obra que nos impulsiona a uma alegre e entusiasmada viagem ao lado de personagens simbólicos da cultura brasileira, não há espaços para elegias. A poesia contida na biografia de Therezinha Monte é antinostálgica. Sem melancolia, resgata o passado com precisão narrativa, disseca o presente com ternura, traduz otimismo quando se vislumbra o futuro. É por isso que Therezinha sempre foi (e continua sendo) uma mulher à frente de qualquer tempo, símbolo de resiliência, capitã da resistência. 

    Nilcemar Nogueira

    Sambista e Secretária Municipal de Cultura

    2018

    apresentação

    Uma mulher de garra

    Conheço de outros carnavais é a expressão perfeita para definir a minha relação com Therezinha Monte. Vizinhas de rua, nos conhecemos em 1983, quando ela era presidente da Unidos do Cabuçu e engendrou com meu irmão Lula Carvalho nas areias da praia do Leblon o enredo Beth Carvalho – Enamorada do Samba, que colocou a escola de samba do segundo grupo no ano de 1984, o primeiro do Sambódromo, no Olimpo das grandes agremiações.

    Carnavais se passaram, Therezinha trocou o Leblon por Copacabana e nos vimos em momentos esparsos pela rua, em lançamentos de livros, em teatros – atenta que é da vida cultural da cidade em que nasceu e ama, o Rio de Janeiro.

    No início de 2017, nos comunicamos por uma rede social, e ela me fez perguntas sobre a minha atividade de ghost-writer, pois muita gente insistia que ela contasse a sua história como presidente de uma escola de samba, em que os causos e fatos pitorescos são muitos. Quem primeiro pensou nisso foram duas argentinas, Alejandra M. Farran e Silvia Viviana Nievas, que convenceram Therezinha a transformar a sua vida em livro e pesquisaram intensamente a partir disso nos arquivos de jornais cariocas. Estava lançada a semente. O projeto não foi adiante, talvez pela dificuldade da distância entre os dois países, mas a pesquisa jamais se perdeu e está presente em vários momentos deste livro.

    Marcamos um encontro, fui recebida com carinho em seu lindo e aconchegante apartamento em Copacabana e conversamos por horas. Expliquei como trabalhava, a partir de uma série de entrevistas, e fiz a pergunta que muitas vezes Therezinha já escutara: Por que você mesma, que é jornalista, não escreve o livro?. Therezinha não hesitou: Porque não conseguiria, ia começar a escrever, achar que faltava algo e aumentar mais e mais o texto. Não iria funcionar. Definitivamente não é verdade. Faltou somente um pouquinho de coragem e paciência, com certeza.

    Generosa, ela fez questão de que eu aparecesse neste livro, embora como ghost writer tenha como norma desaparecer depois de tudo pronto, porque, como explico sempre, a história, as ideias, as palavras, o ritmo e a respiração são de quem generosamente reparte a sua vida comigo. Eu somente tento ser a pessoa que organiza o quebra-cabeça. Therezinha, porém, insistiu e me venceu com um argumento: Por que você não quer aparecer no meu livro?. E aqui estou eu, uma escritora-fantasma não tão fantasma assim, para contar para você os bastidores da realização de Alma de Cabrocha.

    Nossas entrevistas aconteceram semanalmente por três meses. Therezinha praticamente fazia dever de casa e, sempre que eu chegava, tinha tudo anotado, tópicos sobre os quais não gostaria de esquecer. Uma vida tão intensa de alguém que foi coordenadora do concurso de Miss Brasil, o celeiro de celebridades dos anos 1950 e 1960, presidente por 17 anos de uma escola de samba, funcionária pública que agitou as regiões administrativas por onde passou, jornalista com passagens em rádio, jornais, revistas e televisão, só organizando bem para que nada se perca. E, tenha certeza, alguma coisa vai ser esquecida, porque nem a boa memória e a pesquisa são capazes de abranger tantos detalhes.

    Therezinha não é de alongar histórias. Gosta de se atentar aos fatos e, por muitas vezes, fiz com que ela repetisse casos para que a cada narrativa ela aumentasse um ponto. Como boa jornalista, ela percebia o truque: Já falei isso, mas acabava concordando em repetir. Bem-humorada, tirou do baú algumas fofocas da corte carnavalesca e histórias que ficarão no folclore da história das escolas de samba, como uma vez em que Therezinha encontrou algumas baianas chorando pouco antes do desfile porque haviam recebido óculos que, além de não caberem, não tinham rigorosamente nada a ver com a fantasia. Ou quando um homenageado da Cabuçu cismou que um maestro internacional seria ótimo para reger a bateria.

    Mais do que tudo, porém, este livro é o depoimento de uma mulher que revolucionou um universo dominado por homens, tanto à frente das escolas de samba como em cargo de direção na poderosa liga das escolas, a LIESA. Criada por um pai feminista, que acreditava na força das mulheres, Therezinha prestou este tributo à sua memória se tornando a mais importante presidente de escolas de samba, o que é reconhecido por todos da comunidade do Cabuçu (que ainda gostam de chamá-la de presidente) e pelos historiadores do samba carioca. Enfim, uma mulher de garra, como definiu Sérgio Cabral, pai, um dos maiores conhecedores do samba do Rio de Janeiro

    Leia as suas palavras, sinta a emoção do seu depoimento, compartilhe do prazer que tive em ajudá-la a fazer este livro; enfim, curta a cabrocha que existe nesta loura, de olhos claros, que durante quase duas décadas foi a dama de ferro do samba carioca. Sem perder a ternura, jamais.

    P.S. – Infelizmente as únicas coisas que serão impossíveis de compartilhar serão as deliciosas empadinhas, os canapés e até o bolo no dia do meu aniversário que encerravam semanalmente as nossas conversas. Bom papo e boa comida, regados a suco de manga feito na hora pela Dete dos Reis ou pela Vera Ferreira, dariam outro livro. De receitas de bem viver, é claro, que Therezinha conhece bem. Com ou sem samba!

    Tania Carvalho

    2017

    samba rasgado

    Portello Júnior e Wilson Falcão

    Uma cabrocha bonita cantando e sambando

    Quem não admira

    Gingando seu corpo que mesmo a gente espiando

    Parece mentira

    Cabrocha que só fala gíria

    Que tem candomblé no seu sapateado

    Cabrocha que veio do morro

    Trazer pra cidade o samba rasgado

    Para eu cantar um samba

    Não precisa orquestração

    Gosto mais de uma cuíca, um cavaquinho

    Um pandeiro e um violão

    (...)

    Na formatura do curso ginasial

    1

    Pensamentos coloridos

    Quando penso na minha infância, lembro da cor do céu de antigamente: um azul tão forte que procurava na caixa de lápis de cor e jamais achava algo igual. O azul do céu do passado só existe lá, nem este celeste perdurou.

    Quando penso na minha infância, a memória me traz de volta outra cor: vinho, a cor da minha primeira bicicleta. Eu queria muito ganhar uma, mas meu pai, que me achava terrível, me negava este presente. Um dia ele apareceu com uma bicicleta cor de vinho, e jamais me esqueci dos momentos de alegria e liberdade, além dos tombos, que ela me proporcionou na Zona Norte do Rio de Janeiro. Quando comprei meu primeiro carro, escolhi um Ford Corcel... cor de vinho.

    Quando penso na minha infância, olho para a parede do meu escritório e relembro a minha fascinação pela cor fúcsia. Alguém ainda chama assim o rosa forte, fechado? O fúcsia era a cor preferida da minha caixa de lápis de cor importada, que ganhei de um tio da Marinha Mercante. Ninguém tinha uma caixa como a minha. E mais: ninguém tinha um lápis fúcsia. Um dia, um colega de classe do primeiro ano primário roubou meu lápis e foi obrigado a devolver. Fúcsia é, então, para mim, o símbolo de tudo que perdi e um dia recuperei.

    Quando penso na minha infância, acho que me lembro de uma chuva multicolorida de confetes na rua Zulmira. Somente acho, porque saí de lá quando tinha apenas um ano, mas, de tanto me contarem que a rua entre Tijuca e Vila Isabel era famosa pelas batalhas de confete nos anos 1920, 30 e 40, isso acabou virando uma memória.

    Quando penso na minha infância, rio pensando no meu pai no carnaval, com um lençol branco, apenas com dois furos nos olhos, junto com meu avô, que era bem carnavalesco, andando pela rua e assustando as pessoas. Os vizinhos nem sabiam que era o médico da rua que estava fazendo palhaçada, até que um dia ele foi desmascarado – não literalmente – pelos seus clientes Seu Gualberto e Dona Eudóxia: Doutor, estou reconhecendo este sapato.

    Quando penso na minha infância, me recordo de uma pia branca toda quebrada. E eu em cima dos cacos. Minha mãe achou que eu havia me pendurado e ocasionado o desastre. A culpa foi, porém, da Guiomar, minha

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