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Eliseo em 100 perguntas: O roteiro cinematográfico segundo Eliseo Altunaga
Eliseo em 100 perguntas: O roteiro cinematográfico segundo Eliseo Altunaga
Eliseo em 100 perguntas: O roteiro cinematográfico segundo Eliseo Altunaga
E-book136 páginas2 horas

Eliseo em 100 perguntas: O roteiro cinematográfico segundo Eliseo Altunaga

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Sobre este e-book

Uma conversa com Altunaga é uma aula de roteiro, de cinema, de vida e de conexões culturais. As suas classes estão sempre lotadas, com ouvintes, com outros professores, mergulhados no vaivém das suas palavras. Palavras furiosas, irreverentes, exatas, permanentes. Este livro é o registro de uma série de conversações que mantivemos entre 2009 e 2016 em diferentes locais: desde a sua casa em Havana, passando pelo 'El Rapidito' (o emblemático café da EICTV), até em casa em Santiago do Chile, hotéis, cafés e reuniões via skype. Assim, fui capturando as palavras de Eliseo. Pouco a pouco. Em fragmentos. Durante anos. Este não é um livro sobre roteiro, nem tem essa pretensão. É um livro sobre a paixão de um homem pelo cinema, pelo roteiro, pelos filmes e pela vida. Eliseo Altunaga nunca levou material escrito, nem nada preparado para os nossos encontros. Espero que ao ler este livro tenham a sensação de estar tomando um café com o Mestre, deixando-se levar pelas suas palavras e pelos labirintos conceituais do seu universo cheio de sabedoria, cinema e vida.' - Julio Rojas
IdiomaPortuguês
EditoraBrLab
Data de lançamento1 de mar. de 2019
ISBN9788564290037
Eliseo em 100 perguntas: O roteiro cinematográfico segundo Eliseo Altunaga

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    Eliseo em 100 perguntas - Julio Rojas

    título original ​

    Eliseo en 100 Preguntas: El guión cinematográfico según Eliseo Antunaga.

    Publicado por Tripio Films Ediciones, 2016.

    © Julio Rojas, 2018

    editor Rafael Sampaio

    coordenação editorial Alita Mariah e Samantha Alves Silveira

    tradução Iana Cossoy Paro

    revisão Ana Paula Gomes

    projeto gráfico e capa Cão Fila

    Dados de Catalogação na Fonte (cip)

    Andrea de Oliveira Alves CRB 8ª Região 8963

    R645  Rojas, Julio.

    Eliseo em 100 perguntas: o roteiro cinematográfico

    segundo Eliseo Altunaga. / Julio Rojas; ​

    tradução de Iana Cossoy Paro – São Paulo: Klaxon, 2018.

    124 p.

    isbn 978-85-64290-02-0          

    cdu 791.3

    1. Cinema. 2. Eliseo Altunaga. 3. Roteiro e crítica cinematográfica. I. Título.                     

    agradecimentos

    Aymara Mainet Fernández

    Beatriz Carvalho

    Eliseo Altunaga

    Julia Mariano

    Julio Rojas

    Mariana Lopes

    2018

    São Paulo

    Klaxon

    Para Solange e Paula

    PRÓLOGO

    Admiração. Esse é o motor deste registro. Admiração pelas palavras desse ser oral, vestido quase sempre de branco, com uma bolsa de couro marrom e com um brilho de alegria em seus olhos que parece não ligar para sua idade. Altunaga, talvez o mais importante consultor de roteiros de língua hispânica, mestre de várias gerações, caminha pelos corredores da Escola de Cinema de San Antonio de los Baños como se tivesse todo o tempo do mundo; para, escuta e responde a qualquer aluno que tenta capturar isso que o Mestre faz. Uma conversa com ele é uma aula de cinema, de vida e de conexões culturais que desmonta as histórias e volta a montá-las, do seu jeito, com uma lógica nova. Todos querem falar com Eliseo. Suas aulas estão sempre cheias de ouvintes, de outros professores, submersos no vai e vem de suas palavras. Palavras furiosas, travessas, exatas, permanentes. Quis manter algo disso, talvez com um fim egoísta: guardar, neste livro, parte dessa magia oral reservada a poucos. Eliseo nunca escreveu livros de roteiro. São apenas ele e suas palavras. Capturei um pouco disso. A seguir, a transcrição de uma série de conversas que tivemos entre 2009 e 2016 em diferentes lugares: sua casa, o Rapidito (a emblemática cafeteria da EICTV), minha casa, hotéis, cafeterias. Este não é um livro de roteiro e não pretende ser. É um livro sobre a paixão de um homem pelo cinema, pelo roteiro, pelos filmes e pela vida.

    Eliseo Altunaga nunca levou material escrito nem nada preparado a estes encontros. Só escutava as perguntas e começava a falar, enquanto eu deixava meu gravador ligado. A ordem das conversas é cronológica.

    Julio Rojas

    Apartamento de Eliseo. Vedado, Havana, Cuba.

    JULIO ROJAS Eliseo, você é de Camagüey. Como era a vida quando você morava lá?

    ELISEO ALTUNAGA Havia uma espécie de sociedade semi patriarcal, ou seja, funcionava muito o sistema de trocas, porque no século XIX a moeda praticamente não funcionava nessa zona. Era uma zona muito especial e havia muita relação com o sul dos Estados Unidos, e essa relação aumentava com as intervenções norte-americanas.

    Você mencionou que foi criado com mulheres.

    Minha família era basicamente de mulheres. Tinha a minha avó, que era costureira. Eu brincava no seu ateliê. E vinham todas as mulheres consertar coisas. Era uma costureira que transformava peças, mas tinha sucesso porque cobrava pouco. Então, eu ouvia as mulheres conversarem. E diziam coisas tremendas que eu, criança, ouvia. É inacreditável tudo o que se diz em um lugar como aquele.

    E tudo isso acontecia em meio a uma educação salesiana, que te orientava ao mundo dos livros. Era assim?

    Sim. Foi a educação salesiana que fez com que eu me incorporasse na literatura. Foram os livros com a história religiosa, com esse caráter mágico, mítico, nos quais aparecem diabos, anjos, profetas. Eu era muito versado em História Sagrada, porque naquela época não se dizia Bíblia, mas História Sagrada. E também tinha a vida dos santos, as pessoas dessas histórias em que apareciam anjos, demônios. Tive todo esse mundo no começo: ficava louco, imaginando anjos e demônios à noite, quando tinha que ir dormir. Sempre me perguntava coisas, e às vezes tinha conflitos com alguns dos sacerdotes por causa das minhas perguntas. Perguntava a eles: bom, como é o céu, como é um inferno, do que é feito e o que é um anjo?, e queria saber se por acaso os anjos faziam cocô, ou não. Eu sempre perguntava sobre coisas que aconteciam no mundo mágico. Acho que isso me magnetizou profundamente na direção das histórias que vieram depois. Além de me dar certos olhares sobre as coisas, era um mundo que me interessava profundamente. Sempre estive rondando a História Sagrada e também, é claro, as missas cantadas, um espetáculo que falava de como se criava esse mundo místico, e que me deu um senso de espetáculo muito intenso.

    Suponho que havia toda uma faceta de Santeria com a sua avó, não?

    Um verdadeiro exército de espíritas, de protestantes de todo tipo invadiu a zona de Camagüey. Havia muito espiritismo, não como agora, que está misturado com a Santeria, mas era um espiritismo no qual aparecia um morto e em que, uma vez a cada quinze dias, você via um mestre espírita fazendo círculo. Ali minha avó fazia sua sessão de espiritismo e dava conselhos sobre a vida, sobre as coisas práticas. Minha outra avó também está na minha vida. Aparece em um romance meu que se chama En la prisión de los sueños. Ela veio da cidade de Trinidad, que era uma zona muito escravista, que está mais no centro, e em uma época em que houve um acontecimento que se chamou A guerrinha do 12: um massacre contra os negros, no ano 1912, em Cuba. Minha avó viveu com seus filhos, que estavam vinculados ao movimento, e se estabeleceu em Camagüey; ela se chamava Flora e minha outra avó, que era de Camagüey, se chamava Maria.

    Como era a sua relação com a Flora?

    Foi uma pessoa muito especial. Minha avó Flora decidiu que ia ter filhos com um mesmo sobrenome, e teve filhos brancos, negros e amarelos, mas chamava o cunhado e ele dizia que eram seus. E a todos nos registrou Altunaga.

    E onde você estava na época da Revolução?

    Quando saí da escola, me meti em uma carpintaria em Camagüey, e ali trabalhava; além disso, meu pai era comunista e minha mãe era do movimento 26 de Julho. Eu me vinculei ao Partido e comecei a trabalhar, a organizar a Juventude Socialista da Província junto com outras pessoas. Era uma coisa bastante ambígua, porque cada um fazia muitas tarefas diferentes, até que, quando a Revolução triunfou, fui Secretário Geral da Juventude Socialista na Província, que era a Juventude do Partido Comunista. Não era a juventude do 26 de Julho, que era o movimento que havia triunfado em Cuba, encabeçado por Fidel Castro; este era um partido comunista que existia à margem. Nessa época eu tinha uns 17, 18 anos.

    Em plena adolescência…

    Sim. Mas já tinha toda a educação dos padres, toda essa formação. Bom, antes da dissolução desse partido, fiz um evento onde participavam católicos e comunistas. Estava muito difícil atuar na imprensa quando chegou a Revolução. Eu sabia os hinos comunistas e os hinos católicos. Quando cantavam os católicos, eu cantava; e quando cantavam os comunistas, eu cantava também. Tinha esse olhar que podia ver uma coisa paralela à outra. E isso desde criança: era pobre, mas fui educado em uma escola de meninos ricos, então tive a capacidade de possuir esses dois olhares.

    Quando essa organização se dissolveu, fui para a Serra Maestra com os Cinco Picos, um grupo que defendia que os jovens mantivessem relação com aquela região onde havia se estabelecido uma resistência épica contra a ditadura. Nós subíamos cinco vezes até o alto da montanha. Depois disso, fui para Havana como parte desta Organização.

    Você costumava ir com regularidade a Havana?

    Não, ia muito pouco a Havana. Fui mais quando a Revolução triunfou, nas reuniões da juventude.

    Esses dois olhares dos quais você fala ao lembrar da sua formação intervieram de alguma forma na sua escrita? ​

    Como você começou a escrever?

    Acho que a experiência mais importante da minha vida foi a Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños. Mas, antes de chegar lá, tive um longo percurso que começou com o jornalismo. Era o começo da Revolução em Cuba, e fizeram um jornal local em Camagüey que se chamava Adelante. Primeiro escrevi poesia, depois alguns artigos sobre cultura. Para mim esse foi realmente o início da escrita. Em Havana, por meio da atividade política, trabalhei em um programa de televisão, que era da União de Jovens Comunistas. Mas se limitava a tratar de coisas mais relacionadas ao jornalismo.

    E o que você escrevia lá?

    Escrevia seções, notícias. Mas foi depois, no rádio, em que mais treinamento eu tive. Em um determinado momento fomos à Serra Maestra. Depois da ação no rádio, o movimento foi crescendo, e alcançou várias gerações, mas naquele momento foi a primeira vez em que se dava uma conotação épica ao grupo de jovens que ia às montanhas para a colheita de café como contribuição à mão de obra camponesa. Lá criamos um jornal já esquecido, que se chamava De nuevo en las montañas. Vínhamos de uma revista política, um grupo de pessoas do qual saíram intelectuais importantes, como Félix Guerra e Norberto Fuentes. Depois, decidimos fazer uma seção desse jornal na rádio de Santiago de Cuba. Então fui para lá e comecei a fazer ficção sem saber nada sobre como fazê-la. Depois fiz esquetes cômicos. Descobri que tinha uma veia cômica. Ainda lembro com nostalgia desses tempos: recordações de café e de rádio.

    Você fazia radioteatro?

    Na emissora existia um corpo dramático, ou seja, um elenco fixo de atores. Eu escrevia para eles esses esquetes de que te falei. Eles eram interpretados em um programa bastante experimental; era uma mistura entre reconstruções de ficção, notícias e depoimentos. E eu, com tudo isso, comecei a criar uma espécie de composição híbrida. Por diferentes motivos, depois voltei para Havana, e lá comecei a trabalhar na Rádio Havana Cuba, uma emissora que ainda continuava fazendo jornalismo. E também trabalhava na Rádio Progresso, em um programa muito experimental que se chamava Cuba no mundo.

    E o que você fazia nele?

    A gente pegava uma notícia e trabalhava sobre ela, às vezes com poemas de Neruda ou com poemas do turco Nazim Hikmet. Depois inseríamos informações. Uma vez por semana havia teatro-testemunho, um programa influenciado pelo teatro de Peter Brook e pelo cinema-verdade, de Jean Rouch, e uma série de outras coisas. Nesse momento, também comecei a escrever um programa experimental para a televisão porque, como estávamos no começo da Revolução, as

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