Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

O Exército de Imortais - Folclórika - Livro 1
O Exército de Imortais - Folclórika - Livro 1
O Exército de Imortais - Folclórika - Livro 1
E-book210 páginas8 horas

O Exército de Imortais - Folclórika - Livro 1

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Amaldiçoado pela gigantesca cobra de fogo, Mboi Tatr, o reino de Akakor há séculos vive em uma guerra desigual contra criaturas ferozes e imortais. Com pouca esperança, seus líderes não sabem que estão sendo traídos por um grupo que busca incansavelmente ver a segunda maldição de Mboi Tatr se concluir: a de que voltaria a vida para consumir o mundo em chamas. Mas, o mestiço Räel, um encantador de flechas, ao descobrir o plano macabro, sai no encalço do grupo a fim de impedí-los, para isso colocará sua vida em risco quando poderes muito maiores que os seus entram no conflito.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de ago. de 2018
ISBN9788595940772
O Exército de Imortais - Folclórika - Livro 1

Relacionado a O Exército de Imortais - Folclórika - Livro 1

Ebooks relacionados

Ficção Geral para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de O Exército de Imortais - Folclórika - Livro 1

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    O Exército de Imortais - Folclórika - Livro 1 - Glauco J S Freitas

    O Exército de Imortais é para Cezar Augusto

    No passado, antes do nascer dos homens, Mboi Tatr, a grande cobra de fogo, era o senhor daquele continente, e Ciy, sua rainha. Seus filhos habitavam a terra e o mar, a floresta e a montanha, os céus e os oceanos; todos monstros devoradores, criaturas vis que enxergavam graça na destruição e júbilo na matança.

    Quando surgiu o homem, os filhos de Mboi Tatr viram-se ameaçados: os humanos dominaram as planícies para que pudessem plantar; os homens arrebanharam os animais para que não precisassem caçar; os homens desviaram as águas para suas cidades de madeira e pedra; e os homens expulsaram os filhos do Rei de suas casas.

    Vendo a ameaça sobre seus filhos, Mboi Tatr declarou guerra ao homem e, combatendo sozinho, quase aniquilou a nova raça, mas os humanos descobriram a magia e, usando-a, eles o derrotaram. Exausto, o Rei se pôs a dormir.

    Por um século a cobra de fogo permaneceu adormecida, acordando quando seus poderes eram plenos mais uma vez. Ao acordar, viu que o mundo tinha mudado, viu que seus filhos se escondiam nas cavernas e nos subterrâneos e que sua rainha o traíra: solitária diante da ausência de Mboi Tatr, Ciy foi seduzida pela Noite, de quem tivera três filhos: os anhangás, os kury e os andurahs.

    Cego em sua ira, Mboi Tatr marcou os filhos da Noite com suas chamas, para que, em todos os cantos do mundo, o estigma dos bastardos os seguisse. Então, abocanhou a cabeça de Ciy, deixando-a morta em sua torre, incapaz de apodrecer para que, pela eternidade, seu corpo decapitado fosse o estigma da adúltera. Levando seus filhos à guerra, o Rei aniquilou o continente, levou o caos a todo canto, a ruína a cada cidade, e o fogo a cada homem.

    Destruídos, os homens, de quem a magia havia escapado, buscaram nos poucos cujo sangue de magista ainda era forte, seus bastiões. Não foi o suficiente. Desesperançados, então, os homens imploraram pela ajuda dos filhos da Noite, e estes, a modo de vingarem sua mãe Ciy, aliaram-se aos humanos em guerra contra o Rei.

    Por trinta anos a guerra perdurou, mas Mboi Tatr foi derrotado e, na hora de sua morte, o Rei usou o pouco de poder que ainda lhe restava para amaldiçoar seu continente: Meus filhos herdarão a centelha da imortalidade! Não importa, humanos, quantas vezes vocês os matem, eles retornarão à vida quando a estrela iluminar sua casa! Imortais até o dia do meu retorno, quando o mundo arderá, e vocês, com ele!

    Mboi Tatr extinguiu-se num último fulgor incandescente, banhando seus filhos com as centelhas de sua imortalidade, desaparecendo do mundo, que foi, então, herdado pelos humanos e seus aliados. Uma terra devastada, mas que sob as cinzas ainda era fértil. Um reino que sobreviveria.

    Faziam três séculos da morte de Mboi Tatr e, como prometido em suas palavras, seus filhos imortais ainda dividiam o mundo com os humanos e os filhos da Noite, mantendo o fogo da guerra aceso. Outra promessa fora feita pelo Rei: voltaria à vida. E essa promessa também se cumpriria…

    Muito em breve.

    CAPÍTULO 1

    ARQUEIRO

    1

    Ele observa o acampamento dos capelobos por entre as árvores. A madrugada chega ao fim, quando as sentinelas afrouxam sua vigília à espera do sol. Vestia sua capa com o capuz sobre a cabeça, cobrindo o elmo prata fosco — símbolo de legionários que, não há muito tempo, haviam caído numa guerra que nunca poderiam ter vencido — que lhe esconde o rosto. Seu arco na mão esquerda com uma flecha cruzada no centro, planejando as mortes com cuidado, imaginando quanto tempo levaria para que os lanceiros capelobos o tivessem ao alcance. Não que se preocupasse com eles, já os matara as centenas, mas gostava de agir assim: sempre se desafiando a ser mais rápido, mais preciso, mais mortal.

    Quando resolve atacar, nota a presença de um anhangá entre os capelobos. Hesita por um segundo. O que um anhangá faz aqui?, ele se pergunta, mas a questão não mudará seus planos e a resposta não lhe interessa, portanto, ele puxa a corda até a orelha e dispara a primeira flecha.

    2

    Um casal de magistas se aproxima da clareira, escondendo-se atrás das grossas árvores que a cercam. O rapaz, vestindo um casaco acolchoado, traz consigo, numa espécie de coldre sobre as costelas, uma baqueta Tátera, capaz de lançar uma poderosa Bola de Fogo. Em sua mochila, uma enorme quantidade de orbes — esferas de vidro carregadas com magia — de Campo de Fogo.

    A garota, sua irmã, tem nas mãos uma baqueta Fulgênica, não mais que o objeto de um iniciante, e como quase todos os magistas da Akademica, veste uma túnica mágica, quase que um uniforme da própria instituição. Porém, diferentemente do que se esperaria, traz sobre a cabeça um Chapéu da Magista, um objeto mágico que, se não era raro, exigia um certo nível de poder para que fosse usado — ao menos eficientemente.

    — Vou usar os orbes para encurralá-los — diz o irmão —, e você acaba com eles.

    A irmã apenas assente.

    O rapaz vira a bolsa e os orbes se espalham alinhados, numa distância exata um do outro, no chão à sua frente. Ele dá o sinal à sua irmã, saindo os dois de trás das árvores. Antes que possam atacar, uma flecha surge do outro lado da clareira, atingindo um capelobo que carregava espada e escudo e usava um elmo — se é que se podia chamar aquele pedaço de metal torcido de elmo — no olho direito.

    3

    O arqueiro dispara mais duas vezes antes de sair da cobertura que as árvores lhe davam e caminhar na direção do acampamento. Um capelobo é atingido na coxa direita e o anhangá, com um movimento de cabeça, escapa da flecha que o atingiria. Esta mesma flecha se crava no pescoço de um guerreiro capelobo que vestia cota de malha e elmo, logo atrás dele. Mais duas flechas são disparadas, atingindo dois capelobos desarmados, um na parte de trás da cabeça e outro no espaço entre seu grande nariz e os olhos.

    O esguio anhangá avança contra o atacante brandindo uma espada longa. Abaixando-se, o arqueiro escapa do golpe que lhe arrancaria a cabeça, então se esquiva para a direita, fugindo de uma feroz estocada. Um terceiro golpe, uma nova estocada, vem em sua direção, e o homem encapuzado usa o arco para desviar do golpe à sua esquerda, girando em seu eixo e dando um passo à frente: um movimento fluido, como um passo de dança, sacando a besta em suas costas e arrancando o olho direito de um lanceiro com uma seta. Ele larga a arma no chão e alcança uma flecha presa na cabeça de um cadáver capelobo que estava próximo. Ele a dispara contra um segundo lanceiro, que gorgoleja sangue ao ser atingido no pescoço.

    Matava os capelobos assim, de longe, pois sabia que se deixasse que se aproximassem, estaria perdido. Os capelobos eram brutos, tão altos quanto um homem e extremamente fortes. Não eram lá muito inteligentes, exceto quando se tratava da matança, e suas cabeças de tamanduá não os ajudavam a ter uma feição perspicaz. As mãos desses monstros terminavam em selvagens garras e poderiam esmagar a cabeça de um humano.

    O anhangá ataca novamente e o arqueiro esquiva-se de um corte vertical, que vinha de cima, e de uma nova estocada que o segue. Uma terceira investida, de baixo para cima, o força a bloquear o golpe com seu arco, que se parte ao meio. O anhangá continua atacando, gritando insultos e ameaças, e o encapuzado saca uma Lâmina Sangrenta: uma espada de corte perfeito, que jamais perderia o gume, forjada pela união de outras duas, ambas ainda manchadas com o sangue das vidas que tiraram. À luz do fogo, quase se podia ver as manchas espectrais de um vermelho rubro iluminando-se com o brilho da espada.

    A esgrima não é uma das principais habilidades da maioria dos arqueiros, mas este a empunhava com maestria. Ele bloqueava e contra-atacava com ferocidade. Golpes de cima para baixo, estocadas, cortes horizontais e diagonais: ele parava todos com facilidade, e seus contra-ataques, ora passavam rentes à carne, ora faziam sangrar o inimigo, e, num descuido, o anhangá é atingido no pescoço por uma estocada.

    Sangue lhe escapa pela boca e as pernas perdem força. Caído de joelhos, a espada lhe foge da mão e logo ele deixa de respirar, sendo jogado ao chão pelo pé do arqueiro, que o empurra, retirando a espada de sua traqueia.

    O encapuzado limpa a lâmina de sua espada em suas calças de couro curtido e a embainha. Ele apanha seu arco partido no chão onde o largara, olhando-o com certo desapontamento, e então o joga nas chamas da fogueira que marcava o centro do acampamento, ouvindo sua madeira estalar nas chamas.

    Ele caminha até o local de onde veio e apanha duas bolsas, trazendo-as para perto da fogueira enquanto o casal de magistas observa de trás das árvores. De lá eles assistem ao arqueiro ir de corpo em corpo, apanhando tudo de valioso que encontra, e o anhangá é o primeiro a ser pilhado. Seus cabelos compridos já começavam a perder seu brilho de chama, mas ainda iluminavam seu delicado rosto de pele cinzenta e olhos alaranjados. Sua espada longa e seu amuleto são jogados próximo às mochilas do encapuzado, que também encontra uma bolsa de moedas no corpo.

    Lanças, moedas e alimento são encontrados no acampamento capelobo, além de elmos e cotas de malha, mas estes são abandonados pelo arqueiro onde estavam: são muito pesados para se carregar. O mesmo acontece com escudos de madeira e espadins, abandonados lá mesmo.

    De onde estão, os irmãos enxergam as mochilas iluminadas pela fogueira e distinguem o brilho dourado e prateado que vaza do interior.

    O magista parece irritado, e sua irmã, decepcionada. Planejavam dominar aquela clareira com fogo: para ele, já era algo comum, mas, para ela, seria uma primeira vez. Ele não deixaria que roubassem seu acampamento e, quando o arqueiro se afasta um pouco mais, o rapaz deixa o abrigo que a árvore lhe dava:

    Anz'Tasa Kipha!

    Os orbes de Campo de Fogo se acendem em brasa e flutuam na altura de seu peito antes de dispararem, todas as oito ao mesmo tempo. Elas atingem o chão próximo e cercam o arqueiro com suas chamas. O rugido infernal do fogo denunciou o ataque e, se não fosse por isso, o encapuzado teria sido atingido pelas labaredas.

    — O que está fazendo? — indaga a irmã aos berros, esforçando-se para que sua voz se sobrepusesse ao incêndio.

    — Pegue as mochilas! — replica o irmão, ignorando o protesto dela.

    — Você não pode atac…!

    — Pegue as mochilas! Rápido! — os rugidos do irmão não deixam escolha e a garota corre até o centro do acampamento, apanhando os pertences do arqueiro.

    É claro, ela não consegue carregá-los, mas usa toda a sua força para arrastá-los, levando-os até seu irmão, que dispara sua baqueta Tátera e erra o arqueiro por pouco. O encapuzado enfrenta as chamas, escapando daquele círculo infernal, mas o magista ataca-o vez após outra com sua baqueta e empurra-o para as árvores.

    Dividindo o peso, o casal de magistas foge para dentro do bosque com o saque. Eles se movem à beira do córrego, indo rápido a sudeste, claramente se dirigindo à Porto Primeiro — a capital do Reino de Akakor. Quando já estão a uma boa distância eles param de correr, passando para um caminhar apressado, sempre voltando a cabeça por cima dos ombros.

    O horizonte começa a se iluminar com o início de um novo dia, exibindo o céu violeta de um dia de calor que estava para nascer.

    — Não acredito que me obrigou a fazer isso! — começa a irmã. — Não acredito que atacou aquele homem! Não acredito que roubamos as coisas dele!

    O rapaz suspira diante da inocência de sua irmã.

    — Não faremos de novo… Prometo — ofega o irmão.

    — E por que não? — Ela sorri.

    O rapaz é pego de surpresa.

    — Quanto dinheiro podemos ganhar com tudo isso?

    Seu irmão abre um largo sorriso em meio à barba crespa e escura. Não tinham ido ali pelo dinheiro, e a bem da verdade, só atacara o arqueiro por insensata vingança, mas, ao menos, ela se divertira.

    — Não sei, temos de ver tudo o que há dentro das mochilas, mas… Por baixo… — Ele toma uma pausa como se fizesse contas. — Acho que uns dois mil.

    — E quanto ganharíamos naquele acampamento?

    — Bem menos de mil. — NÃO tinham ido lá pelo dinheiro.

    — Então lucramos o dobro, ou o tripl…! — Uma seta passa por eles e se prende a um galho retorcido à beira do córrego. Os dois seguem a trajetória inversa e se deparam com o arqueiro, que claramente não escapara ileso do incêndio, mirando-os com uma segunda besta carregada.

    Ele olha da garota para o rapaz, apontando sua besta e sendo retribuído com olhares de espanto, como se os magistas estivessem diante de um fantasma.

    Como ele chegou tão rápido? — o magista se pergunta, examinando o arqueiro e vendo que este não usava botas encantadas como ele suspeitava.

    O magista então imagina que o arqueiro fosse um Bandeirante, mas seus equipamentos diziam o contrário e, mesmo vestindo aquele elmo, seus cabelos chamejantes não poderiam ser tão bem escondidos. Então ele usou 'Freima'…, mas a magia nunca o traria tão longe, tão rápido. Um arqueiro extremamente experiente poderia conhecer outra magia, Azáfama, mas, novamente, os equipamentos estavam muito abaixo do que alguém assim usaria.

    — Ponham as mochilas no chão. — A voz do arqueiro era a de um jovem, mas trazia a impetuosidade necessária.

    Os magistas obedecem à ordem e largam as bolsas roubadas no gramado.

    — As de vocês também.

    A garota olha para seu irmão e, contrariado, ele acena com a cabeça. Os dois largam suas mochilas, que caem pesadas no chão.

    — Joguem suas baquetas para cá! — E agora o arqueiro desperta a ira dos magistas, afinal, Um magista nunca se separa de sua baqueta. O arqueiro percebe os irmãos inquietos, prontos para reagir e aperta o gatilho. Um risco de sangue surge no rosto da irmã mais nova, no local em que a lanceta,  uma seta com cabeça de lança, a atingiu de raspão. — Agora!

    Vendo o sangue escorrer pelo rosto de sua irmã, o rapaz arremessa sua baqueta Tátera na direção do arqueiro — que recarregara sua besta a uma velocidade absurda —, mas há fúria em seu rosto.

    — Agora você! — A voz grave do arqueiro traz a magista de volta à realidade. Ela, que olhava para seus dedos ensanguentados após tê-los levado ao corte em sua face, joga sua baqueta Fulgênica fora. — Agora traga as bolsas até aqui.

    Se a garota sentiu alguma insegurança, conseguiu não demonstrá-la enquanto arrastava as quatro

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1