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A terra de gelo: Série Bekhor, #2
A terra de gelo: Série Bekhor, #2
A terra de gelo: Série Bekhor, #2
E-book278 páginas3 horas

A terra de gelo: Série Bekhor, #2

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Sobre este e-book

Debbie não é mais a mesma desde que o guardião da árvore da vida levou o corpo de Bekhor. Ela não pode suportar a ideia de estar para sempre separada daquele a quem ofereceu todo o seu amor. No mais profundo de seu coração, está convencida de que ele está vivo. Mas quanto mais as semanas passam, mais a dúvida se instala em seu espírito.

Doutor em ciências da religião pela Universidade de Montréal, Alain Ruiz é autor de vários romances e guias práticos com mais de 130.000 exemplares vendidos, entre os quais a série Ian Flibus (Ian Flix) que conheceu grande sucesso no Québec e as crônicas de Braven Oc, também adaptadas para a HQ. Alain Ruiz é casado e pai de 3 filhos.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento12 de jan. de 2020
ISBN9781071526040
A terra de gelo: Série Bekhor, #2

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    A terra de gelo - Alain Ruiz

    Biografia de Alain Ruiz

    Doutor em ciências da religião pela Universidade de Montréal, Alain Ruiz é autor de vários romances e guias práticos com mais de 130.000 exemplares vendidos, entre os quais a série Ian Flibus (Ian Flix) que conheceu grande sucesso no Québec e as crônicas de Braven Oc, também adaptadas para a HQ. Alain Ruiz é casado e pai de 3 filhos.

    Bibliografia de Alain Ruiz

    Cool, Raoul (Cool Raul: Adolescente não é aborrescente!, traduzido por Randhal Santos)

    Octave s’habille selon les saisons (leitura fácil)

    Cybo le petit robot, faire sa toilette, c’est chouette (leitura fácil)

    Ma première bible (ilustrações de Mika)

    Série les chroniques de Braven Oc (romance). Disponível também em história em quadrinhos.

    L’Épée de Galamus

    Le Cri des Eaux salées

    L'académie des homoplantes

    L’île aux dragons

    Série La ligue des pirates (Ian Flibus no Québec).

    L'Île aux treize os

    Les Joyaux de Pékin

    La Ligue des pirates

    La Terre des Géants

    L'Escarboucle des sages

    Les Oubliés de la Cité d'Or

    Les Larmes du maharadjah

    Série Bekhor

    Le Jardin interdit, tome 1 (O Jardim Proibido, tomo 1, traduzido por Paula Berinson)

    La Terre de glace, tome 2 (A terra de gelo, tomo 2, traduzido por Paula Berinson)

    Les enquêtes de Frank Meyer

    Meurtre à la ligne (Assassinato na linha traduzido por Bruno Éverton de Jesus Freitas)

    L'assassin du vendredi (O assassino das sextas-feiras traduzido por Jéssica Oliveira Freitas)

    Meurtre en 50 nuances de gris (Assassinato em 50 tons de cinza, traduzido por Bruno Éverton de Jesus Freitas)

    L’assassin sifflera trois fois

    Journal d’un meurtre

    Guias práticos

    52 pensées positives pour devenir un sportif de haut-niveau (Alain e Agnès Ruiz)

    52 pensées positives pour réussir ses études (Alain e Agnès Ruiz)

    52 pensées positives pour une vie de famille épanouie (Alain e Agnès Ruiz)

    Comment en finir avec le pipi au lit

    1- O DESAPARECIMENTO

    Um sedã preto de vidros escuros desembocou na rua quase deserta. Passou à frente de dois jovens ciclistas, parados na calçada, que voltaram a cabeça ao vê-lo desacelerar ao nível deles. Com o olhar colado no veículo, os rapazes por um instante acreditaram que o motorista ia baixar o vidro do carro para pedir informações, mas o carro continuou a avançar e finalmente estacionou na frente do prédio situado no fim da rua. Pouco depois, dois homens, de terno e exibindo óculos escuros, saíram dele. O que estava do lado do carona segurava um pacote. Com um passo firme, foi ao encontro de seu colega na calçada e conversou um momento com ele, ao mesmo tempo em que olhava na direção do edifício. Em seguida, ambos afastaram-se do veículo quando os rapazes de bicicleta aceleraram em sua direção. Sentindo o incidente iminente, um dos dois indivíduos voltou-se bruscamente e agarrou com firmeza o guidão da primeira bicicleta, que parou imediatamente. O rapaz quase caiu de lado, mas instintivamente colocou os pés no chão para se segurar, enquanto seu amigo freava justo a tempo, colocando-se de viés. Imobilizados pela surpresa, eles de repente ficaram aterrorizados ao notar uma coronha de revólver que se destacava do estojo dissimulado pela jaqueta. Tomados de pânico, eles se preparavam para abandonar a bicicleta no lugar e desatar a correr quando o homem em questão se endireitou e finalmente lhes deixou o campo livre. Os jovens ciclistas não procuraram compreender. Com gesto rápido, colocaram o pé no pedal da bicicleta e dispararam sem se voltar.

    Com o sorriso nos lábios, os dois homens de estatura imponente observaram a fuga dos rapazes, depois entraram na aleia como se não fosse nada. Após haver guardado os óculos de sol no bolso do casaco, eles entraram no edifício e olharam os nomes que figuravam nas caixas de correio.

    Brenda Cohen regava a samambaia quando bateram à porta. A mulher de longos cabelos ruivos, antropóloga e professora na Universidade da Califórnia, pegou uma toalha para enxugar as mãos e foi abrir.

    —   Senhora Cohen?

    — Sim, sou eu.

    — Bom dia. Sou o agente Gattuso, do FBI. E este é o agente Briggs.

    Os dois homens apresentaram ao mesmo tempo os distintivos do FBI, guardados em uma pequena pochete de couro preta.

    — Do FBI? Espantou-se Brenda.

    — Sim. Sinto muito incomodá-la, senhora, mas a senhora conhece certo senhor McAllister? Lawrence McAllister, para ser mais exato? 

    — Sim. O que aconteceu com ele? Não me diga que ele...

    — Não. Enfim, não temos razão para pensá-lo no momento, mas seu desaparecimento nos foi assinalado pelo departamento de polícia de San Diego. Segundo o diretor do asilo «A Flor da Idade», o senhor McAllister está desaparecido há dois dias. Teria a senhora uma ideia de onde ele poderia estar?

    — Não, sinto muito. Ele não me disse nada...

    Debbie, que acabava de sair do quarto ao ouvir falar do senhor McAllister, foi ao encontro de sua mãe diante da porta. A jovem de dezoito anos, de cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo, escutou a troca de ideias com a maior atenção, ao mesmo tempo em que segurava uma maçã apenas começada.

    — Pois bem, pelo que sei, o senhor McAllister não nos deve satisfações, continuou Brenda Cohen. Se decidiu sair de viagem por alguns dias sem nos informar a respeito, está em seu direito. Aliás, não vejo no que isso interessa o FBI.

    — Concordo, senhora Cohen. Nossa intervenção foi pedida porque esse caso é mais espinhoso do que parece à primeira vista. E voltando ao senhor McAllister, se ele tivesse desejado viajar, sem dúvida teria pego a mala e mudas de roupa, o que parece que não foi o caso. A arrumadeira afirmou que não faltava nada no quarto. Além disso, o senhor McAllister não avisou os funcionários a respeito de uma eventual viagem.

    Brenda e Debbie começaram a se preocupar seriamente.

    O agente Briggs interveio, por sua vez:

    — Encontramos este pequeno pacote em seu quarto. Está endereçado a certa Debbie. O diretor do asilo nos disse que ele poderia estar destinado à filha da senhora, que o visita com bastante regularidade. Pode nos confirmar?

    — Sim, é exato, respondeu imediatamente Brenda antes de voltar a cabeça. Minha filha tem muita afeição pelo senhor McAllister, como eu, aliás.

    Vendo sua mãe se afastar da soleira da porta para lhe ceder o lugar, Debbie avançou e se apresentou, exibindo um ar surpreso:

    — Eu me chamo Debbie.

    O agente Briggs olhou brevemente para a jovem, antes de lhe entregar o pequeno pacote. Sentindo-se de repente incomodada com a maçã na mão, Debbie a estendeu a sua mãe para se liberar. Em seguida, pegou o pacote e o observou por alguns instantes, sem, no entanto, procurar abri-lo. Notou o silêncio dos dois agentes, que continuavam com os olhos apontados para ela. Compreendeu imediatamente que eles esperavam vê-la abrir a embalagem diante deles, mas por razões de confidencialidade, absteve-se de responder favoravelmente a sua demanda silenciosa.

    O agente Gattuso finalmente perguntou:

    — Pode nos dizer quando foi a última vez que a senhora viu o senhor McAllister, senhora Cohen?

    — Pois bem... faz três semanas, mais ou menos, respondeu Brenda. Estive muito ocupada desde que retomei minhas aulas na universidade.

    — E a senhorita, senhorita?

    — Oh! Eu, foi há quatro ou cinco dias. Sim, cinco dias exatamente.

    — Foi vê-lo sozinha? Quis saber o agente Briggs.

    — Não, estava com um amigo. Por quê?

    — Podemos saber o nome deste amigo?

    Debbie hesitou. Sua mãe compreendeu seu silêncio: com os recentes conflitos que ambas tinham tido com as autoridades, ela preferiu responder para evitar agravar sua situação dissimulando informações.

    — Ele se chama Félix Rogombé. É meu assistente de curso na universidade.

    — E onde ele está neste momento?

    — Pois bem, provavelmente em casa, replicou imediatamente Brenda, um pouco irritada. Mas espere! Os senhores não estão achando que ele poderia estar implicado neste desaparecimento!

    — É o que tentamos determinar, senhora.

    — Os senhores não estão falando sério!?

    — Pelo contrário, levamos este assunto muito a sério. É uma questão de segurança nacional.

    — De segurança nacional! Mas em que o desaparecimento de um velho centenário poderia constituir uma ameaça para nosso país?

    — É que é possível que ele tenha sido raptado na tentativa de lhe subtraírem informações a respeito das descobertas de seu pai.

    — Mas quem?

    — É o que tentamos descobrir, senhora Cohen. Não descartamos nenhuma pista. Sabemos que Lawrence McAllister foi seu mentor e que com frequência ele a aconselhou em suas pesquisas. Também estamos a par da pequena desventura que a sua filha e a senhora tiveram no Zimbábue.

    — Nesse caso, os senhores também deveriam saber que pus fim a minhas pesquisas desde nosso retorno a San Diego. Minha filha e eu sofremos muito com essa história. Esforçamo-nos agora para voltar a ter uma vida normal.

    — Compreendemos perfeitamente, senhora Cohen, mas se trata de uma investigação federal. É, portanto, imperativo encontrar Lawrence McAllister. Por conseguinte, antes de se deixar levar por suas ocupações, teríamos ainda duas ou três perguntas a lhe fazer, se a senhora nos permitir.

    — Muito bem. Continue.

    — Sabe se o senhor McAllister tem inimigos?

    — Não, não que eu saiba. É um homem muito cativante e jovial. Tem sempre alguma coisa divertida para dizer. Portanto, não vejo realmente quem poderia lhe querer mal.

    — Ele recebia outras visitas além das de sua filha, da senhora mesma e desse Félix Rogombé?

    — Acho que não.

    — Saberia a senhora se ele havia tido ou se ainda tem uma relação amorosa com uma das pensionistas do asilo?

    — Recentemente, acho que não. Ele nos disse ter tido uma paixonite alguns meses depois de nossa partida de San Diego, mas a dama morreu desde então, tanto que não tivemos a oportunidade de conhecê-la. 

    — Bom. Muito bem. Por ora isto é tudo, concluiu o agente Gattuso, esboçando um leve sorriso de polidez. Agradecemos à senhora por ter tido o tempo de responder nossas perguntas. Mesmo assim deixo com a senhora meu cartão, caso seja necessário. Se a senhora souber alguma coisa ou se, por acaso, Lawrence McAllister vier a entrar em contato com a senhora, faça-nos sabê-lo imediatamente, certo?

    — Entendido, não falharemos, respondeu Brenda antes de perguntar: e o filho do senhor McAllister, William, está a par do desaparecimento do pai?

    — Sim. Conseguimos ir ter com ele enquanto estava em um encontro em Washington, mas ele nos afirmou que não via o pai há meses.

    — Disso sabemos! Não há nada de novo sob o sol...

    — Por que a senhora diz isso? Quis saber o agente Gattuso.

    Brenda de repente se sentiu pouco à vontade. Subitamente se deu conta de que suas palavras podiam prejudicar seu diretor, embora essa não fosse de modo algum sua intenção. Certamente, ela continuava a se ressentir por não tê-la apoiado o suficiente quando o exército detivera sua filha e Bekhor contra a vontade, mas ela o sabia incapaz de fazer mal ao pai. Apressou-se, pois, a corrigir o erro.

    — Sinto muito. Espero não ter dado aos senhores uma falsa impressão sobre William McAllister. Seu pai e ele não são, digamos, «muito próximos». Eles têm muito carinho um pelo outro, posso assegurá-lo, mas jamais tiveram realmente tempo de confessá-lo. Isto dito, quero crer que não seja tarde demais...

    — Também o esperamos, senhora. Por ora, não temos nenhuma certeza de que Lawrence McAllister tenha sido raptado. Talvez tenha sido vítima de uma crise de Alzheimer, o que explicaria por que foi embora sem levar nada. Dada sua idade muito avançada, seria bem possível.

    Brenda Cohen se absteve de responder à observação do agente. Para ela, era um pouco difícil acreditar que Lawrence McAllister tivesse sido vítima de uma crise de Alzheimer, pois da última vez que se viram ela o achara perfeitamente lúcido, em boa forma física e de uma vivacidade de espírito sempre tão notável. No entanto, tinham ficado um ano e meio sem se ver, mas esse lapso de tempo não parecia ter tido nenhum efeito sobre este idoso, agora com cento e cinco anos. Todavia, sendo a ideia de um eventual rapto pouco crível, preferia acreditar em uma crise passageira de seu velho amigo.

    Brenda cumprimentou os dois agentes e fechou a porta, antes de morder maquinalmente a maçã vermelha, bem suculenta como gostava. Perdida em seus pensamentos, esquecera-se de que era a de Debbie.

    2 - A CAIXA

    Brenda Cohen se aproximou da filha, que acabava de colocar sobre a mesa da sala de jantar o pequeno pacote que o agente lhe havia entregue. Mordeu mais uma vez a maçã, quando Debbie voltou a cabeça e a pegou em flagrante delito.

    — E então, minha maçã está gostosa?

    — Hum... sim, respondeu Brenda antes de se dar conta de seu gesto, a boca cheia. Oh! Sinto muito, minha querida. Esqueci completamente que era a sua... Tome...

    — Tudo bem, mamãe, pode acabar de comê-la. Não vou privá-la desse prazer. Tornarei a pegar outra depois de ter aberto este pacote do senhor McAllister.

    Debbie retirou a embalagem sem mais tardar e descobriu seu conteúdo com certa surpresa.

    — Mas não pode ser! Exclamou. É a caixa de madeira que pertencia a sua mãe!

    — Uau! É magnífica! Maravilhou-se Brenda. Ele já tinha lhe mostrado?

    — Sim. Foi pouco depois de partirmos as duas para o Zimbábue. Foi um dos raros objetos que ele guardou da mãe. Ela também o recebera da dela, que a recebera da dela etc. Esta caixa tem pelo menos cento e cinquenta anos, acho.

    — É bem possível, a julgar por sua aparência, fez notar a antropóloga. Estes motivos em volta são característicos da arte otomana. Em todo caso, esta caixa está em perfeito estado. Lawrence lhe deu um belíssimo presente.

    — É verdade, mas não sei muito o que pensar de um gesto de tão grande generosidade para comigo. Ele já me havia ofertado este colar de pérolas que lhe tinha sido oferecido por seu amigo yanomami, lembra-se disso? É estranho, mas tenho a impressão de que ele está procurando se desfazer progressivamente de seus bens mais preciosos, como se quisesse anunciar que logo iria deixar esse mundo.

    — Compreendo o que está sentindo, Debbie, mas diga a si mesma que, cedo ou tarde, ele deverá partir. É muito idoso.

    — Sei bem disso, mamãe, mas preferiria que ele ainda permanecesse conosco por anos. É um homem tão transbordante de vida... Com ele, nunca nos entediamos. Tem sempre uma história apaixonante para contar, e eu não queria que isso parasse. Gostaria que o senhor McAllister pudesse me ver entrar na vida adulta, que conhecesse meu futuro marido e, por que não, nossos filhos...

    — Ei! Não tão depressa, minha querida! Alarmou-se Brenda, quase se engasgando com seu pedaço de maçã. Você acabou de fazer dezoito anos, então não precisa apressar as coisas. Tem tempo para se casar e ter filhos.

    — Eu sei, mamãe, mesmo assim espero que o senhor McAllister possa ao menos conhecer meu primeiro filho...

    — Sim, bom, está bem, veremos, resignou-se Brenda antes de mudar de assunto. Posso ver mais de perto sua bela caixa?

    — Oh! É claro.

    Debbie estendeu o objeto à mãe, que o olhou com muita admiração. Brenda estava muito impressionada com o excelente estado de conservação da caixa e de seus motivos de decoração apenas marcados pelos efeitos do tempo. Achou que sua filha tinha sorte. Estava claro que o senhor McAllister a apreciava muito. Imediatamente, sentiu um pouco de ciúmes, pois ela mesma jamais recebera presente tão precioso por parte de seu mentor, mas sentiu vergonha de ter ciúmes da própria filha. Não tinha razão de senti-lo. Ao contrário, devia antes estar orgulhosa e feliz por Debbie, pois ela realmente o merecia, dado seu apego particular a seu velho amigo. Sua filha sempre encontrava uma desculpa para ir ao asilo lhe fazer uma visitinha. E o fazia sem esperar nada em troca. Queria simplesmente fazer um pouco de companhia a um idoso com quem tinha prazer em conversar.

    Brenda sabia que a filha tinha um grande coração e que era muito devotada. Afastou, pois, todo pensamento negativo de seu espírito e devolveu a Debbie a caixa, gratificando-a com um generoso sorriso.

    A jovem colocou o presente na mesa e tirou-lhe a tampa. O cofre estava vazio, mas ela não ficou realmente surpresa com isso. O revestimento interior era de veludo de cor vermelha. Então, diante do olhar maravilhado de sua mãe, lembrou-se: 

    — De vez em que o senhor McAllister me mostrava essa caixa, ele me garantiu que ela continha um fundo falso.

    — Está falando sério?

    — Seriíssimo. Eu também na hora acreditei que ele estava brincando, como o faz, aliás, com frequência, mas afinal estava muito sério. Até me desafiou a encontrar a forma de abrir esse fundo falso, o que imediatamente tentei fazer, você me conhece.

    — E então?

    — Pois bem, tomou-me tempo, mas acabei por abri-la.

    Debbie fechou a tampa da caixa e a ergueu no ar, olhando atentamente o motivo das pequenas ripas de madeira. Refletiu por um momento tentando se lembrar de cada etapa, depois dedicou-se à manobra. Começou por fazer deslizar uma primeira ripa de madeira para a direita, depois uma segunda para a esquerda. Em seguida virou o objeto de lado, antes de deslocar uma terceira. Esperou então ver o compartimento secreto se abrir, mas nada aconteceu. Decepcionada, observou novamente a caixa em todos os sentidos. Finalmente, mordeu os lábios.

    — Bom. Evidentemente, começamos mal.

    — Bah! Se você já abriu, vai findar por conseguir.

    — Certamente, mas da primeira vez, o senhor McAllister me ajudara um pouco.

    — Nesse caso, minha filha, chegou a hora de se jogar sem rede. Conhecendo sua perseverança, tenho certeza de que vai conseguir abrir este caixa. E quem sabe? Talvez o senhor McAllister tivesse uma boa razão para lhe oferecer esta caixa agora, enquanto seu desaparecimento acaba de nos ser assinalado.

    — Acha que ele poderia ter nos deixado uma mensagem? 

    — Não sei, mas me pergunto por que ele lhe ofereceu esta caixa quando sabia que você conhecia a existência desse fundo falso. Aliás, por que não procurou lhe entregar este pacote em mãos? Afinal, ele a vê com frequência.

    — Talvez quisesse fazê-lo, mas um acontecimento inesperado pode tê-lo impedido. Quer ele deva ter partido subitamente, quer, como o suspeitam os dois agentes, tenha sido raptado.

    — É bem possível, infelizmente, mas prefiro não considerar esta última hipótese por ora. Se você conseguir abrir esse fundo falso, poderemos sem dúvida resolver a questão.

    Fortemente encorajada por sua mãe, Debbie recolocou as ripas da caixa em sua posição de origem e recomeçou a manobra. Tentou várias combinações, esforçando-se por se lembrar do que havia feito pela primeira vez na presença do senhor McAllister, mas sem o menor resultado. Quase perdendo a esperança, preparava-se para desistir quando uma frase pronunciada pelo velho lhe voltou à memória.

    — Lembro-me de que o senhor McAllister recitara uma espécie de fórmula mnemônica para decorar a combinação que abre esta coisa. Acho que ele tinha falado de um gato.

    — De um gato?

    — Sim, é exatamente isso. Agora tenho certeza! Espere um pouco... Acho que ele tinha dito que o gato primeiro estica os bigodes, depois levanta as orelhas... ou o inverso, não sei mais...

    Sem esperar, Debbie imediatamente associou o gesto à palavra

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