A Captura da Educação pelo Capital: Movimento Social de Professores e Intelectuais Orgânicos em Ação
()
Sobre este e-book
Já no processo de redemocratização do Brasil (1980-1990), os movimentos sociais de educadores fortaleceram-se e criticaram o rumo que tomava a educação. Apresentaram propostas comprometidas com a superação da desigualdade social e da baixa qualidade educacional, recrudescidas pelo processo de refuncionalização do Estado.
Nada mais justo que em 2003, com a eleição presidencial de um líder do movimento sindical, os movimentos sociais de professores fossem movidos pela esperança de que o Brasil avançaria na conquista de direitos culturais, políticos e sociais, principalmente na educação. Afinal, ele é "um dos nossos". Aconteceu, porém, que a feição de governo popular reverberou e o governo tornou-se o opositor invisível para os movimentos sociais. E mais: é possível que tal feito tenha transformado uma parcela dos movimentos em seu contrário – teria se tornado conservadora?
Em A captura da educação pelo capital: movimento social de professores e intelectuais orgânicos em ação você compreenderá, de um lado, as ações, tendências, posições e estratégias ocorridas no interior dos movimentos sociais no seu embate com o governo e suas repercussões nas políticas da educação pública brasileira. De outro, a capacidade de o governo utilizar as categorias cooptação, atração e intimismo à sombra do poder como instrumentos poderosos de sedução de líderes da classe popular, e a sua respectiva transformação em intelectuais orgânicos funcionais ao sistema, com a missão de elaborar políticas públicas educacionais e dispor a sua intelectualidade e o seu reconhecimento pelos movimentos sociais na defesa dos interesses do governo.
Leia mais títulos de Iria Brzezinski
Pedagogia, pedagogos e formação de professores Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLDB/1996 contemporânea: Contradições, tensões, compromissos Nota: 5 de 5 estrelas5/5LDB 1996 vinte anos depois: projetos educacionais em disputa Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a A Captura da Educação pelo Capital
Ebooks relacionados
Educação e Contextos Diversos: Implicações Políticas e Pedagógicas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTempo e Docência: Dilemas, Valores e Usos na Realidade Educacional Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGestão Democrática da Educação no Brasil: A Emergência do Direito à Educação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasManacorda e Mészáros: O papel da educação escolar na transformação social Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFormação de professores e Direitos Humanos: Construindo escolas promotoras da igualdade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO lugar da pedagogia e do currículo nos cursos de Pedagogia no Brasil: reflexões e contradições (2015-2021) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFormação continuada dos professores no ensino superior: conhecimento, competências e atitudes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFilosofia Da Educação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAprendizagem na Universidade.: Participação do estudante Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSupervisão de Ensino: privatização do público ou direito à Educação? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEducação como conhecimento do ser humano na era do antropoceno: uma perspectiva antropológica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPotência de Agir e Educação Ambiental – Aprendendo com as Lentes de Espinosa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasReflexões sobre os modelos de seleção de gestor escolar: Escola pública Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPolíticas de avaliação em larga escala:: análise do contexto da prática em municípios de pequeno porte Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEducação: do senso comum à consciência filosófica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCompetência e competências: Contribuição crítica ao debate Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGestão Democrática: Impasses e Desafios para Elaboração de uma Lei Estadual Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCurrículo, Formação de Professores e Trabalho Docente na Contemporaneidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasExperiências da Educação: reflexões e propostas práticas: Volume 6 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA reflexão e a prática docente: Considerações a partir de uma pesquisa-ação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPolíticas de formação docente para a educação profissional: realidade ou utopia? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPolítica Educacional e Papel do Estado em Tempos Atuais: Análises, Perspectivas e Possibilidades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDesafios e perspectivas das ciências humanas na atuação e na formação docente Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPedagogia da transgressão: Um caminho para o autoconhecimento Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGestão de Organizações de Ensino: Uma Perspectiva Pedagógica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasReflexões sobre a educação no século XXI: da tecnologia à inclusão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCenários de Mudança na Educação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEducação, conhecimento e formação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDocência, Políticas Educacionais e Tecnologias:: Desafios à Formação Continuada do Professor do Ensino Médio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeorias e Práticas da Pedagogia Social no Brasil (v. 2) Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Filosofia para você
O Livro Proibido Dos Bruxos Nota: 3 de 5 estrelas3/5Entre a ordem e o caos: compreendendo Jordan Peterson Nota: 5 de 5 estrelas5/5Platão: A República Nota: 4 de 5 estrelas4/5Baralho Cigano Nota: 3 de 5 estrelas3/5Sociedades Secretas E Magia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Minutos de Sabedoria Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Príncipe: Texto Integral Nota: 4 de 5 estrelas4/5Tudo Depende de Como Você Vê: É no olhar que tudo começa Nota: 5 de 5 estrelas5/5PLATÃO: O Mito da Caverna Nota: 5 de 5 estrelas5/5Aprendendo a Viver Nota: 4 de 5 estrelas4/5Política: Para não ser idiota Nota: 4 de 5 estrelas4/5Humano, demasiado humano Nota: 4 de 5 estrelas4/5Em Busca Da Tranquilidade Interior Nota: 5 de 5 estrelas5/5Aristóteles: Retórica Nota: 4 de 5 estrelas4/5Viver, a que se destina? Nota: 4 de 5 estrelas4/5Além do Bem e do Mal Nota: 5 de 5 estrelas5/5A lógica e a inteligência da vida: Reflexões filosóficas para começar bem o seu dia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Schopenhauer, seus provérbios e pensamentos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tesão de viver: Sobre alegria, esperança & morte Nota: 4 de 5 estrelas4/5A voz do silêncio Nota: 5 de 5 estrelas5/5A ARTE DE TER RAZÃO: 38 Estratégias para vencer qualquer debate Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Arte de Escrever Nota: 4 de 5 estrelas4/5Você é ansioso? Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Categorias relacionadas
Avaliações de A Captura da Educação pelo Capital
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
A Captura da Educação pelo Capital - Iria Brzezinski
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Dedicamos este livro a todos os brasileiros inconformados com...
... o baixo nível da qualidade da educação pública brasileira;
... os responsáveis pela elaboração e pela aprovação de leis que dificultam avanços rumo à educação pública, gratuita, estatal, inclusiva, republicana e de qualidade, socialmente referenciada em todos os níveis e para todos os brasileiros;
... a falta de interesse da classe hegemônica em promover políticas educacionais de formação e valorização dos profissionais da educação;
... os militantes dos movimentos sociais que, fascinados pelo poder da classe dirigente, abandonaram a defesa das suas
antigas convicções e passaram a legitimar programas governamentais conservadores;
... os intelectuais orgânicos vinculados à classe popular que foram atraídos pela classe dominante e passaram a integrar a categoria de intelectuais orgânicos funcionais ao sistema.
E, por fim,
... as pessoas acríticas e conformadas, que nada fazem para mudar e abrir novos circuitos da história da educação brasileira.
PREFÁCIO
O movimento social, particularmente o movimento de trabalhadores, tem se apresentado com significativa importância no processo social brasileiro. A Primeira República (1889-1930) foi marcada, desde seus primórdios, pela presença de um trabalhador que tinha na orientação anarcossindicalista sua principal vertente. No início do século XX, greves e movimentações de trabalhadores foram marcantes e muitas conquistas setoriais aconteceram. A partir da década de 1920, o movimento social torna-se mais expressivo, seja pela presença do ‘tenentismo’, Coluna Prestes, seja pelo movimento popular urbano, que se apresentaram fortes e deram sentido ao Movimento de 1930. Destaque-se também a criação do Partido Comunista, em 1922, requalificando o movimento social na perspectiva da luta de classe.
O Estado no período, definido como oligárquico, mesmo tido como liberal e não intervencionista, reprimiu e sempre fez uso da força para conter as greves e mobilizações de trabalhadores, de militares (tenentes) e de populares, recorrendo às vezes à situação de estado de sítio
e de outros recursos institucionais, como suporte da repressão.
O pós-1930 foi marcado por particularidades na questão do movimento social que valem ser destacadas. Antes de tudo, pelo esvaziamento de toda movimentação trabalhista, camponesa e popular¹. Essa desqualificação reflete-se na estruturação das políticas trabalhistas, gestadas no governo Getúlio Vargas, especialmente no Estado Novo, 1937-1945. A legislação trabalhista, CLT/1938, desconheceu a trajetória de luta anterior, regulando somente o trabalho urbano, além de atrelar o sindicalismo ao Estado. O populismo
que se estabeleceu e que vai marcar o pós-1930, bem como a 3ª República, 1946-1964, tem a centralidade no Estado intervencionista, mais que isso, em mecanismos de cooptação de trabalhadores, sindicalistas, intelectuais e do movimento social e popular. O clientelismo alimenta o processo eleitoral, elegendo políticos populistas com recursos, empregos e meios fornecidos pelo Tesouro Público, pelo Estado. O Movimento de 1964 tem na questão do populismo um de seus argumentos e possível justificativa.
Nessa direção, apresenta-se com muita propriedade A captura da educação pelo capital: movimento social de professores e intelectuais orgânicos em ação. No livro, os autores Iria Brzezinski e Rubson Marques Rodrigues, retomam a trajetória do movimento social, com destaque para a educação pública. O resgate que é feito do movimento social, sua caracterização e percurso, nas contradições e disparidades de governos e propostas, dos intelectuais e de seu papel nessa trajetória, torna esta obra indispensável ao educador e, por que não, ao estudioso do Brasil. A educação pública brasileira na sua abrangência nacional é construção recente. Daí ser também recente a articulação de professores em associações de classe, sua sindicalização e seus movimentos. A recuperação dessa história, do movimento social de professores, da sua importante presença, na resistência e oposição nos chamados anos de chumbo
, evidenciada no debate que o livro apresenta, reforçando a importância da discussão aqui proposta e do necessário debate em aberto e propositadamente não concluído.
No livro, o movimento social de professores é trabalhado não somente na perspectiva da sua história, nos confrontos no regime militar, nas contradições na Nova República nos governos ‘socialdemocratas’ – FHC, Lula da Silva. A análise vai adiante na forma como o intelectual orgânico do movimento social passa a compor o mundo oficial
e tem seu discurso e sua atuação revisados na ótica governista, distante do mundo da vida
.
Na sequência, são apesentadas as mudanças na política educacional do governo FHC, quando sob inspiração do Consenso de Washington o governo brasileiro propõe a reforma do Estado tendo por base os princípios do neoliberalismo, sendo o Estado Mínimo um dos fins da pretendida reforma. Assim, a educação pública brasileira foi reprogramada, institucional e financeiramente, perdendo conteúdo e qualidade, com base nos princípios neoliberais e segundo os postulados do Banco Mundial. E, conforme os autores, o sucesso desse alinhamento do Estado e da educação à lógica do capital e neoliberal, deveu-se muito à participação de intelectuais orgânicos, atraídos pelo governo. Tem-se a captura da educação pelo capital
.
Vejo como ponto central do livro a proposta de reconstrução de um novo movimento social de professores
, em que o novo
apresenta-se por se eleger a educação com qualidade
como proposta a ser assumida pelo movimento social de professores. O chamado do livro pode ser tido como utópico, por apresentar a educação como fator de emancipação do povo brasileiro, contudo a proposta, além de despertar a pretendida perplexidade, oferece um caminho a ser trilhado por um novo movimento social de professores.
Vale a aposta e o desafio.
F. Itami Campos
Doutor em Ciência Política (USP)
Goiânia, janeiro de 2018.
APRESENTAÇÃO
As principais motivações que nos levaram à escrita da obra A captura da educação pelo capital: movimento social de professores e intelectuais orgânicos em ação foram: a) indignação diante da baixa qualidade da educação pública brasileira; b) inquietação com a afinidade entre o discurso do governo e a luta de uma parcela dos movimentos sociais de professores pela educação pública de qualidade socialmente referenciada, para todos e em todos os níveis; c) incompreensão da disparidade entre a prática e o discurso do governo no trato da educação nacional, bem comum tão importante para a emancipação dos brasileiros; d) anseio pela universalização da educação de qualidade como condição de progressiva transformação da consciência dos brasileiros rumo à superação das condições objetivas da reprodução capitalista da sociedade.
Definidas as motivações, buscamos compreender o papel dos movimentos sociais de educadores e dos intelectuais orgânicos, bem como sua influência nas políticas educacionais. Neste livro, confirmamos que somente se pode falar em movimento social desde que esteja definida a força opositora – o contra movimento – que estranha a ordem estabelecida, contra a qual os movimentos se lançam em embates na disputa por recursos a que ambos dão valor. Nesse caso, os movimentos sociais terão no governo o opositor contra o qual lutam para a conquista de cidadania.
Em tais embates e disputas a favor da educação de qualidade socialmente referenciada, por nós pesquisados, constatamos que houve mudanças na essência da qualidade das lutas dos movimentos sociais de educadores, à medida que se alterava a visibilidade do opositor.
Nos tempos de chumbo da Ditadura Militar o opositor, como governo de exceção, era bem definido e as ações dos movimentos sociais manifestavam-se no campo da resistência ativa. No processo de redemocratização do País, nos anos 1980-1990, os movimentos sociais de educadores fortaleceram-se e criticaram o rumo que tomava a educação. Apresentaram propostas comprometidas com a superação da desigualdade social e da baixa qualidade educacional, recrudescidas pelo processo de refuncionalização do Estado, para se adequar às orientações do capital globalizado. O governo no período de 1985 a 2002, na condição de opositor, sofreu diminuição da sua visibilidade e as ações dos movimentos se mantiveram na arena de luta, algumas vezes, estrategicamente, como resistência passiva e múltiplas vezes como resistência propositiva. Citamos como exemplo de ação propositiva os projetos e as propostas do Fórum em Defesa da Escola Pública na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a realização das Conferências Nacionais da Educação.
Quando um líder do movimento sindical, advindo da classe dos trabalhadores, assumiu a Presidência do Executivo nacional como representante do governo popular, o opositor perdeu a visibilidade, sobretudo pelos impactos sofridos em decorrência de alianças partidárias que sustentaram um presidencialismo de coalizão, e uma parcela dos movimentos sociais passou a revelar marcas de posições conservadoras.
Antonio Gramsci foi o farol que nos iluminou para compreender o empenho do governo em atrair os líderes das classes populares para as hostes do poder instituído com distinções econômicas e sociais. Concretizada a atração, os líderes foram subsumidos pelo governo e passaram à condição de intelectuais orgânicos funcionais ao sistema. Nessa categoria, trataram de desqualificar o pensamento crítico, defenderam a estrutura da sociedade vigente, que antes condenavam, elaboraram propostas de políticas educacionais alinhadas com o capital globalizado e emprestaram seu prestígio para sua aprovação.
Florestan Fernandes, todavia, socializou suas ideias, que nos levaram a compreender que são os homens e as mulheres em grupos, e confrontando-se como classes em conflito, que abrem ou fecham os circuitos da história. No atual contexto, em que desafortunadamente a educação ainda se mantém capturada pelo capital, convidamos o leitor a ousar abrir conosco um novo circuito da história da educação brasileira, em favor da conquista dos direitos sociais tão aviltados pelo governo de exceção.
Sumário
INTRODUÇÃO
1
PAIXÕES HUMANAS A SERVIÇO E A DESSERVIÇO DA
HUMANIZAÇÃO DOS SERES HUMANOS
1.1 | Paixão pelo poder
1.2 | O que é poder
1.3 | Estado moderno e intelectual orgânico gramsciano: breve retomada histórica
2
MOVIMENTOS SOCIAIS: CONCEPÇÕES E HISTÓRIA
2.1 | Conceituando movimentos sociais
2.2 | Novos movimentos sociais no contexto da opção do Brasil pelo neoliberalismo
2.3 | Surgimento e efervescência dos movimentos sociais de professores
3
MUDANÇAS INTRIGANTES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DE
PROFESSORES NO EMBATE COM O GOVERNO (OPOSITOR)
3.1 | Educação em questão: ela pode deseducar?
3.2 | Visibilidade do opositor (período da ditadura militar): movimentos sociais
de resistência ativa
3.3 | Enfraquecimento da visibilidade do opositor (período da redemocratização
do Brasil): movimentos sociais de resistência passiva
3.4 | Desaparecimento da visibilidade do opositor (período do novo governo de
feição popular): movimentos sociais conservadores?
4
EDUCAÇÃO EM QUESTÃO
4.1 | A captura da educação pelo capital
4.2 | O papel dos intelectuais orgânicos entre os movimentos sociais
e o governo (opositor)
4.3 | Reconstrução de um novo movimento social de professores
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
A motivação deste livro é decorrente das intrigantes contradições entre o baixo nível da educação pública brasileira e o discurso das autoridades governamentais, que propaga ser a educação vetor fundamental de desenvolvimento cultural e socioeconômico do País.
Ainda nesse campo, causa estranheza a disparidade entre a prática e o discurso do governo, assim como a afinidade do discurso do poder instituído com as propostas do movimento social de educadores, em defesa da educação pública e de qualidade socialmente referenciada para todos os brasileiros e em todos os níveis. Para os alienados, o discurso político convence e basta. Nos segmentos conservadores da sociedade, ele desperta entusiasmo. Para os sujeitos do movimento social de educadores, porém, essa afinidade é motivo de indignação.
A conjunção desses fatores sinalizou a importância de buscar compreender as contradições que envolvem a falta de políticas públicas com capacidade para melhorar o nível da qualidade da educação brasileira, a ação dos movimentos sociais de educadores no embate com o poder instituído, além do papel desempenhado pelos intelectuais orgânicos nesse concerto. E a busca dessa compreensão toma maior vulto à medida que se constata a captura da educação pelo capital, a exemplo do que ocorre globalmente, nos fluxos intensos das dinâmicas econômicas, tecnológicas e ideológicas.
Apesar da existência de inúmeros estudos acerca dos movimentos sociais de educadores e da sua defesa da educação pública de qualidade, ainda é significativo perquirir o movimento social de educadores a respeito dos resultados das suas lutas no conflito estabelecido com o poder instituído. Nesse contexto, intentou-se compreender tendências, posições, estratégias, fluxos e refluxos ocorridos no interior dos movimentos sociais e suas repercussões na educação pública do País.
As categorias Estado, poder, contradições e intelectual orgânico, além de tantos outros aspectos, são partes determinantes da realidade social e atravessam este livro na tentativa de compreender as mudanças ocorridas no movimento social de educadores no embate estabelecido com o governo. A análise desse cenário histórico desvelou relações contraditórias em dois movimentos dialéticos: antagonismo e reciprocidade. O antagonismo se explica pela relação de conflito entre o Estado e os movimentos sociais na disputa de recursos e/ou direitos econômicos, culturais, políticos e sociais que a ambos interessam. A reciprocidade, por sua vez, alimentou as contradições existentes entre as partes. As contradições são primordiais para análise da sociedade, considerando-se que aspectos da realidade social são mais bem apreendidos quando relacionados à totalidade social.
O registro anterior iluminará, como ponto de partida, as ações praticadas pelo movimento social de educadores brasileiros, que se organizaram e reeducaram seus atores sociais a partir do final dos anos 1970. Como ponto de chegada, situa-se a luta pela superação das desigualdades, a conquista de direitos, em uma composição histórica de lutas, conquistas e desconstruções que ultrapassam três décadas. A propósito desse concerto, recorda-se que só se pode falar em movimento social na medida em que se tem clara noção do direito ou bem social pelo qual se luta e do opositor contra o qual se estabelece o conflito.
Durante o regime militar, em que o opositor era visível e definido, os atores sociais despertaram a consciência de classe, o espírito de solidariedade e definiram as estratégias de luta para romper os limites impostos pelo modelo da sociedade vigente. Nesse espaço e tempo, os movimentos sociais de educadores construíram história. Organizaram-se