Joias do Rio
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Sobre este e-book
Em "Joias do Rio", um livro de cronicas, Saturnino não se desmente e elege 14 sítios emblemáticos da cidade – as suas "catorze belezas essenciais" – como objeto principal e único de suas narrativas.
Engana-se, porém, quem supor que, face ao momento crítico que atravessa o Rio, o escritor tenha se deixado levar por um clima nostálgico e melancólico.
O livro é delicioso de se ler, sem nenhum saudosismo, um tour inteligente e rico de informações pelos recantos mais bonitos da cidade, uma redescoberta de um Rio de Janeiro que ainda existe e tem mil histórias para contar.
Nesta viagem pelo tempo e espaço descobrimos, só para dar um exemplo, que o túnel que liga o Botafogo a Copacabana foi construído no final
dos anos 1800 e inaugurado pelo então presidente Floriano Peixoto; que Figueiredo Magalhães era um médico importante de Copa e que o Peixoto era um sorridente português dono da chácara que veio a se tornar o não menos simpático bairro Peixoto. Da Lagoa Rodrigo de Freitas, ele faz uma verdadeira arqueologia sobrepondo as suas diversas fases, e com pitadas anedóticas: vocês sabiam que Rodrigo de Freitas era o jovem amante (e depois marido) da já balzaquiana Dona Petronilha, proprietária da fazenda que ladeava o lago?
E para quem quiser pular etapas, duas dicas: delicie-se com a crônica Jardim Botânico, uma ode à vida, um passeio pela memória e pelo afeto, por "este sítio que é a própria divindade, a natureza, aberta, olorosa e acolhedora a qualquer um". E com a cronica Praça Mauá, e seus olhos voltados para o novo e para o futuro: "Que benfazeja revolução, a Nova Praça dos anos dois mil".
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Pré-visualização do livro
Joias do Rio - R. Saturnino Braga
Copyright © 2020 R. Saturnino Braga
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.
Edição: Haroldo Ceravolo Sereza
Editora assistente: Danielly de Jesus Teles
Assistente acadêmica: Bruna Marques
Projeto gráfico e diagramação: Mari Ra Chacon
Capa: Danielly de Jesus Teles
Revisão: Alexandra Colontini
Imagem da capa: Fotografia de Marc Ferrez. Homem olhando a paisagem. Praia de Botafogo. Morro do Corcovado ao fundo, 1890.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
___________________________________________________________________________
B795j
Braga, Saturnino
Joias do Rio [recurso eletrônico] / Saturnino Braga. - 1. ed. - São Paulo : Alameda, 2020.
recurso digital
Formato: ebook
Requisitos dos sistema:
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-65-86081-23-7 (recurso eletrônico)
1. Rio de Janeiro (RJ) - História. 2. Livros eletrônicos. I. Título.
20-64013 CDD: 981.53
CDU: 94(815.3)
____________________________________________________________________________
Conselho Editorial
Ana Paula Torres Megiani
Eunice Ostrensky
Haroldo Ceravolo Sereza
Joana Monteleone
Maria Luiza Ferreira de Oliveira
Ruy Braga
alameda casa editorial
Rua Treze de Maio, 353 – Bela Vista
CEP: 01327-000 – São Paulo – SP
Tel.: (11) 3012-2403
www.alamedaeditorial.com.br
Sumário
Apresentação
Copacabana
A Praça Mauá
A Lagoa Rodrigo de Freitas
Jardim Botânico
O Bairro da Urca
Museu Ferroviário
Os morros primordiais
As praças da minha vida
Floresta da Tijuca
Museu e Parque da Cidade
O Parque do Flamengo
Parque de Madureira
Quinta da Boa Vista
Os morros monumentais
Em memória de
Nicolas Durand de Villegagnon
O primeiro encanto com a beleza
Apresentação
Marc Ferrez. Rua das Laranjeiras, c. 1887
Vivo no Rio e penso no Rio, claro. Olho, me encanto, respiro e penso:
Rio, meu querido Rio de Janeiro,
Fevereiro e Março – é assim mesmo como cantou o Gil
Calorosamente.
Quero te pôr na pauta das lembranças benfazejas
Do mundo.
E invoco toda uma cascata de razões.
Se disponho de mais tempo, por exemplo, na varanda pela manhã, se penso no Rio com mais vagar, acabo por ingressar num espaço-tempo metafísico, das coisas abençoadas capazes de resistir a toda sorte de maus tratos. Sei que me afasto muito das pautas de pensamento do nosso mundo, mas... é assim mesmo, vai e volta. A temática do pensamento da humanidade hoje está praticamente unificada, globalizada. Evidentemente, ela muda; vai se enrolando e mudando muito devagar, a gente envelhecendo em outro ritmo vai acompanhando sem se dar conta. Agora, porém, neste momento especial em que vivemos, muda em todo o mundo com velocidade nunca dantes suportada e, frequentemente, faz de nós navegadores mareados, desorientados, isso a gente percebe.
E, neste tumulto de chamadas e convocações, não há mais, hoje, na cabeça de ninguém, no tempo que sobra do trabalho, da televisão e do celular, não há mais questão metafísica nenhuma. Nada. Alguns ainda pensam em Deus de vez em quando, assim com certo automatismo que nem gera indagações. Nem de longe aquelas preocupações salvacionistas terríveis de um passado antigo que durou mais de mil anos.
Não tenho nada a julgar e dizer sobre o fato, se é bom, se não é. Simplesmente é. Vou à missa aos domingos porque gosto de Jesus e como aquele pão sacralizado em memória dele. Nem penso em salvação.
Laemmert & C. Portão do Passeio Público, c. 1885
Fala-se de um materialismo excessivo, mas eu prefiro me calar; não por política, mas comigo mesmo; prezo muito a ciência e conheço bem a gravidade do saudosismo nos nossos julgamentos; lembro bem da minha primeira comunhão, toda branquinha, na roupinha, no livrinho, no meu coraçãozinho; lembro da missa aos domingos como obrigação, do dever da comunhão na Páscoa, ainda em jejum, depois da confissão tão ingênua.
Antanhos.
Quando Nietzche proclamou a morte de Deus ainda havia algum questionamento nesta área; houve certa indignação e cresceu, por isso mesmo, sua importância como filósofo-vate insuperável.
Hoje, não mais. O homem assumiu por inteiro o seu destino; e explicitou o seu desígnio: a extensão da vida até a imortalidade. Se for preciso, a humanidade mudará de planeta, já existe este projeto-disparate. Eu, fico e morro afogado no Rio.
A temática do pensamento da humanidade hoje está praticamente unificada, globalizada. Evidentemente, ela muda; vai se enrolando e mudando muito devagar, a gente envelhecendo em outro ritmo vai acompanhando sem se dar conta. Agora, porém, neste momento especial em que vivemos, muda em todo o mundo com velocidade nunca dantes suportada e, frequentemente, faz de nós navegadores mareados, desorientados, isso a gente percebe.
E, neste tumulto de chamadas e convocações, não há mais, hoje, na cabeça de ninguém, no tempo que sobra do trabalho, da televisão e do celular, não há mais questão metafísica nenhuma. Nada. Alguns ainda pensam em Deus de vez em quando, assim com certo automatismo que nem gera indagações. Nem de longe aquelas preocupações salvacionistas terríveis de um passado antigo que durou mais de mil anos.
Não tenho nada a julgar e dizer sobre o fato, se é bom, se não é. Simplesmente é. Vou à missa aos domingos porque gosto de Jesus e como aquele pão sacralizado em memória dele. Nem penso em salvação.
Fala-se de um materialismo excessivo, mas eu prefiro me calar; não por política, mas comigo mesmo; prezo muito a ciência e conheço bem a gravidade do saudosismo nos nossos julgamentos; lembro bem da minha primeira comunhão, toda branquinha, na roupinha, no livrinho, no meu coraçãozinho; lembro da missa aos domingos como obrigação, do dever da comunhão na Páscoa, ainda em jejum, depois da confissão tão ingênua.
Antanhos.
Quando Nietzche proclamou a morte de Deus ainda havia algum questionamento nesta área; houve certa indignação e cresceu, por isso mesmo, sua importância como filósofo-vate insuperável.
Hoje, não mais. O homem assumiu por inteiro o seu destino; e explicitou o seu desígnio: a extensão da vida até a imortalidade. Se for preciso, a humanidade mudará de planeta, já existe este projeto-disparate. Eu, fico e morro afogado no Rio.
Mas não há mais revoltados contra Deus e suas injustiças, mas contra o próprio homem feito moeda e ouro, o homem-capital que comanda e oprime a humanidade, faz guerras eficientes e covardes.
E a temática convocatória da razão se materializou então na política, obra eminente do homem.
Líderes religiosos de grande acatamento, como o extraordinário Papa Francisco, o querido Papa Francisco, ou o grande Dalai-Lama, exercem ainda forte influência humanística e filosófica – política por consequência; vedados, entretanto, de explicitá-lo. E o trágico que se soma ao sinistro é que, no momento agora, temerário, faltam líderes verdadeiramente políticos de visão e envergadura que o mundo já teve – eu vi: um Churchill, um De Gaulle, um Roosevelt, um Vargas. Saudosismo, mais uma vez? Olha o perigo: quem sabe? Pepe Mujica, porém, aparece para iluminar o quadro cinzento: impressionou-me profundamente. Sim, profunda e demoradamente. Inacabadamente. Há, sim, a pequenez do Uruguai. Sim, mas há também a reconhecida força moral do Uruguai.
E enquanto Mujica cresce – crescerá sem dúvida – e eu acredito muito também no Lula ao fim de toda esta perseguição – os temas políticos de maior dimensão bagunçam o planeta, abrem espaços enormes para a violência eficaz, e não encontram pelo mundo vozes convincentes, sequer audiências convencíveis: a guerra, a paz, a negociação política, o diálogo, o terrorismo, o fórum mundial, a democracia, a preservação do planeta, a tragédia próxima.
Só o PIB e a bomba atômica nos mísseis convencem.
Fazer o quê?
Bem, pelo menos, cultivar mais cuidadosamente os sentimentos doces, os afetos, no coração e no pensamento, cultivar com propósito, encontrar tempos de enlevo dentro do ranger funesto desta maquinaria que nos tritura, escapar, por minutos que seja, da sua lógica operacional e voltar-se para o lado, olhar ali o ser humano com carinho e buscar um relacionamento de fraternidade. Era a terceira das grandes promessas do século das