Temas em Educação Corporativa: implicações e atuações para demandas contemporâneas
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Temas em Educação Corporativa - Fernando Pessoto
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Temas em educação corporativa : implicações e atuações para as de mandas contemporâneas. -- 2. ed. -- São Paulo : Vetor, 2020 Vários autores. Vários organizadores.
Bibliografia.
1. Aprendizagem organizacional 2. Avaliação psicológica 3. Desenvolvimento pessoal 4. Educação corporativa 5. Organizações 6. Psicologia.
18-20925 | CDD-370.113
Índices para catálogo sistemático:
1. Educação corporativa : Psicologia : Educação 370.113
ISBN: 978-65-86163-27-8
CEO - Diretor Executivo
Ricardo Mattos
Gerente de livros
Fábio Camilo
Diagramação
Rodrigo Ferreira de Oliveira
Capa
Rodrigo Ferreira de Oliveira
Revisão
Paulo Teixeira
© 2020 – Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer
meio existente e para qualquer finalidade, sem autorização por escrito
dos editores.
Sumário
Prefácio
1. Contribuição das habilidades sociais no âmbito organizacional: um manejo preventivo do estresse
Introdução
Habilidades sociais
Estresse
Considerações finais
Referências
2. Investigação teórica da educação corporativa em redes de franquias de alimentação
Introdução
Revisão da literatura
Considerações finais
Referências
3. Educação corporativa em redes de franquias de alimentação
Introdução
Os casos estudados
Análises dos resultados
Considerações finais
Referências
4. Reflexões sobre a inclusão de pessoas com deficiência no trabalho e a legislação no Brasil e em Portugal
Legislação brasileira e o cumprimento de cotas na situação de trabalho
A legislação portuguesa
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Considerações finais
Referências
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Introdução
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A aprendizagem como estratégia organizacional
Procedimentos metodológicos da pesquisa
Resultados e análises obtidas na pesquisa
Discussão
Considerações finais
Referências
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Introdução
Coaching executivo nas organizações
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Considerações finais
Referências
7. A TERCEIRIZAÇÃO NAS ATIVIDADES-FIM
Introdução
Referencial teórico
Metodologia
Resultados e discussões
Considerações finais
Referências
8. Gestão do conhecimento e suas implicações no novo cenário organizacional
Referências
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Introdução
Revisão de Literatura
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Resultados e discussões
Considerações finais
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As relações interpessoais e a satisfação no trabalho
Satisfação no trabalho e saúde mental: o papel das relações interpessoais
Referências
11. Recrutamento & Seleção por competências: a busca que revela a capacidade
Introdução
Considerações finais
Referências
12.Valores e características geracionais: um estudo em uma instituição de ensino superior
Introdução
Revisão bibliográfica
Geração Baby Boomers
Geração X
Geração Y
Metodologia
Considerações finais
Referências
13. Currículo e gestão na educação básica: diálogos possíveis com a educação corporativa
Introdução
O percurso
do currículo
Gestão e construção do currículo
Referências
14. Perspectivas do bem-estar no trabalho de um grupo de profissionais do setor bancário
Introdução
Método
Bem-estar no trabalho
Prazer e satisfação na realização da atividade profissional
Valorização e perspectivas de carreira
Mal-estar na atuação profissional
Estresse ocupacional
Falta de reconhecimento
Interferências nas relações familiares
Considerações finais
Referências
15. Prevalência da síndrome de burnout em professores das educações básica e superior
Introdução
Síndrome de Burnout e questões da prática profissional docente
Engagement
Estratégias de coping
Metodologia
Resultados e discussão
Considerações finais
Referências
16. Síndrome de burnout e estratégias de enfrentamento nas organizações
Felicidade e bem-estar no trabalho
Estresse ocupacional
Eustress e distress
Burnout
Burnout em docentes
Considerações finais
Referências
Sobre os autores
Organizadores
Conselho Editorial
Autores
Prefácio
Este livro reflete o esforço contínuo de pesquisadores e profissionais na busca por novos conceitos e práticas que possam resultar em desenvolvimento e ganho para o ser humano no contexto corporativo. A melhor compreensão dos fenômenos presentes neste ambiente leva a práticas mais assertivas e consequentemente na melhora do ambiente de trabalho e qualidade de vida.
O segundo volume de Temas em Educação Corporativa apresenta assuntos atuais e necessários para o crescimento individual e coletivo. Neste sentido inteligência emocional, cognição, habilidades sociais, estresse, inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, satisfação no trabalho e cultura e clima organizacional ajudam na reflexão dos novos caminhos e tendências mundiais, mas, sobretudo, dão apoio a práticas bem fundamentadas, com forte respaldo científico. Questões mais específicas, como novos ambientes (EaD), franquias, terceirização, gestão do conhecimento, recrutamento e seleção, valores geracionais e currículo também são abordados numa perspectiva atual e comprometida.
À primeira vista os assuntos aqui apresentados podem não parecer novidade, mas em um contexto de desenvolvimento e inovação constantes, temas já estudados podem receber significados muito diferentes, afetando toda a rede humana envolvida no processo corporativo. O atual desafio é conceber uma definição e consequente prática abrangentes o suficiente que favoreçam o desenvolvimento do ser humano, peça central e foco de atenção dos autores desta obra.
Assim a concretização destes capítulos configura o esforço na integração de conceitos teóricos com o ambiente de trabalho pautado na prática e nos compromissos éticos de entregar um conteúdo atual e relevante para profissionais envolvidos no contexto coorporativo, sejam estes psicólogos, administradores, pedagogos, entre outros. Sabemos que existem múltiplos fatores neste contexto, contribuindo para sua complexidade, bem como a necessidade da atuação multiprofissional voltada à humanização, portanto discussões e reflexões são sempre necessárias, sendo este material uma fonte de informações ou um início de um dialogo entre áreas cuja demanda se encontra no contexto coorporativo.
Boa leitura!
José Maria Montiel
Daniel Bartholomeu
Fernando Pessotto
João Carlos Messias
Mara Rúbia de C. A. Orsini
Marjorie Cristina Rocha da Silva
1. Contribuição das habilidades sociais no âmbito organizacional: um manejo preventivo do estresse
Bruna Machado Samora
Marjorie Cristina Rocha da Silva
Daniel Bartholomeu
José Maria Montiel
Fernando Pessotto
João Carlos Caselli Messias
Introdução
Estudos desde a década de 1990 já apontavam que o século XXI seria um século de grandes transformações no âmbito Organizacional, em que empresas iriam se mobilizar de modo a possibilitar melhores condições de trabalho a fim de seu melhor desenvolvimento em diferentes aspectos. Tais enunciados já possibilitavam observar que o foco central seria seus colaboradores, como forma de desenvolvimento em toda a estrutura de tais instituições. Apontamentos como de Bertero (2001) já eram presentes e estimulantes para novos desafios e esforços. O autor atribuía organizações como orquestras e apontava que:
A orquestra exibiria naturalmente e desde a sua criação, anterior ao surgimento de grandes organizações empresariais, a harmonia, integração, facilidade de comunicação, esprit de corps, capacidade de colaboração e evidentemente achatamento
, pela eliminação de hierarquias, que as empresas estão tendo enormes dificuldades em adquirir nestes dias de competitividade acirrada. (BERTERO, 2001, p. 84).
Tendo em vista tais apontamentos, essa realidade e possíveis mudanças são consideradas constantes no meio organizacional, e em especial é sabido que os indivíduos envolvidos nesse contexto tendem a estar em evidência e a diversas circunstâncias adversas e, até mesmo, preocupantes no que diz respeito à sua saúde, tais como ansiedade, depressão e corriqueiramente em condições de grande estresse em decorrência das inúmeras demandas. Em especial atenção ao estresse, é possível considerar que no momento em que o indivíduo se depara com uma situação embaraçosa e desgastante tende a ficar comprometido com esta condição. Com relação às suas manifestações a primeira fase do estresse visa amenizar o choque externo ao organismo, contudo, se ele permanecer de maneira intensa e se prolongar, o organismo torna-se mais sensível, com possibilidade de diminuição da resistência do sujeito manifestando doenças físicas e psicológicas (TRICOLI, 2010).
Retomando ao ambiente organizacional, o clima harmonioso no meio laboral é fundamental para o melhor desempenho do colaborador, e para isso é preciso que as organizações entendam a importância de capacitá-los e criar melhores condições de trabalho. Ainda, segundo os apontamentos de Neri (1997), as organizações que se interessam pelas mudanças em sua realidade devem estar atentas a determinados aspectos, tais como preocupação com valores, atitudes, hábitos, habilidades, conhecimentos e posturas, pois tais aspectos tendem a ser propiciadores de melhores condições de trabalho. Consequentemente as empresas conseguem progredir com maior velocidade, absorve as transformações, atualizam-se e promove qualidade de vida a seus funcionários. Em contraposição organizações que não aderem a esse tipo de atitude tendem a adiar seu crescimento e, por conseguinte, seu êxito, especialmente, de sua equipe, o que tende a acarretar sérias consequências, tais como emocionais, físicas e psicológicas, além da diminuição da competitividade.
Seguindo os apontamentos anteriormente mencionados e tendo em vista essa realidade, é possível mencionar que não houve um momento histórico, nem tampouco atribuição de que dominar as Habilidades Sociais seria tão determinante para o êxito das organizações e para a qualidade de vida dos envolvidos neste contexto. Porém entende-se que as Habilidades Sociais se referem a um conjunto de habilidades e comportamentos sociais que se adquirem no decorrer da vida com objetivo de lidar de maneira adequada e/ou apropriada às situações interpessoais também aplicáveis em situações de trabalho. Ressalta-se ainda que pessoas com deficiências em tais habilidades e comportamentos, como elogiar, manifestar opinião, interagir em grupo, entre outras, tendem a estar mais vulneráveis a complicadores pessoais e serem mais cobrados e inábeis em suas relações interpessoais, tais como em suas relações laborais.
Seguindo os preceitos supracitados, este capítulo tem como objetivo apresentar a importância do estudo e do treinamento de Habilidades Sociais no seguimento organizacional, apontando os princípios de desenvolvimento de Habilidades Sociais para interação em organizações de modo a favorecer uma alternativa viável para esse âmbito, possibilitando adequação nas relações, tais como na comunicação, diminuição do estresse, entre outros aspectos, com vista a melhores condições de trabalho e até mesmo de uma relação saudável. Para tanto serão abordados os temas Habilidades Sociais e estresse como forma de possibilitar uma melhor compreensão sobre a temática abordada nessa relação, especialmente no que tange à implicação das Habilidades Sociais no desenvolvimento do estresse inter-relacionado ao âmbito das organizações, ou seja, a ausência destas como preditoras nas complicações no estresse.
Habilidades sociais
A expressão Habilidades Sociais está relacionada à existência de diferentes classes de comportamentos sociais do repertório de um indivíduo, o qual objetiva lidar com demandas e contextos de maneira adequada (DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. A. P., 2001; MURTA, 2005; SILVA, 2004). Historicamente cabe ressaltar os apontamentos de Silva (2004), que Habilidades Sociais e comportamento assertivo como se referindo às mesmas habilidades individuais, porém a expressão comportamento assertivo foi substituída em 1970 por Habilidades Sociais. Cabe mencionar ainda segundo o mesmo autor que:
O comportamento assertivo é o comportamento interpessoal que envolve a expressão honesta e relativamente direta de pensamentos e sentimentos; ele é socialmente apropriado; quando uma pessoa está se comportando assertivamente, seus sentimentos e o bem-estar dos demais são considerados. (SILVA, 2004, p. 31).
Em relação às Habilidades Sociais é importante destacar que é possível compreendê-las por meio de duas etapas, não dissociadas: a avaliação e a intervenção. A avaliação destina-se ao reconhecimento de déficits e demasia comportamentais, sua existência e consequência, respostas emocionais conjuntas e crenças deturpadas que estejam envolvidas em comportamentos socialmente não habilidosos. Ainda segundo A. Del Prette e Z. A. P. Del Prette (1999) e Falcone (2001) são considerados processos de avaliação das habilidades sociais, entrevistas, inventários, técnicas derivadas da sociometria, autorregistros e observação direta do comportamento em situação real ao qual o indivíduo esteja vivenciando. O processo de intervenção é desenvolvido com base em tais informações visando desenvolver condições adequadas ao sujeito.
Seguindo os pressupostos em relação às Habilidades Sociais, cabe mencionar que não há uma idade definida para concretização em relação ao desenvolvimento delas, porém seu desenvolvimento de maneira mais significativa está atrelado à infância, período em que é possível o desenvolvimento das expressões emocionais de maneira mais espontânea. Ainda, por que tais habilidades estão sujeitas às experiências das aprendizagens (SILVA, 2004). Nesse contexto cabe mencionar os apontamentos de A. Del Prette e Z. A. P. Del Prete (2001) no que se refere que as relações entre pais e filhos tendem a criar estratégias de controle, responsabilidade e afetividade. Os autores ainda mencionam que estilos parentais têm relação direta no desenvolvimento das habilidades sociais e da competência social nessa população e que o bom desenvolvimento desse tipo de habilidades tende a desenvolver melhor autoestima, condutas pró-sociais, empatia, autocontrole e menor agressividade.
Em relação ao adulto, é possível compreender que as Habilidades Sociais resultam consequentemente de sua bagagem
e da influência do meio em que ele está inserido, ou seja, habilidades desenvolvidas e a relação com o contexto. Vale ressaltar que as Habilidades Sociais observadas em pessoas socialmente competentes e a demonstração de adequadas relações pessoais e profissionais são convenientes. Ainda é possível observar que apresentam ótima saúde física, mental e consequentemente sucesso profissional, bem como eficiente funcionamento emocional e psicológico. Outro aspecto, segundo Rubio e Anzano (1998) é que as Habilidades Sociais se apresentam, na estruturação da amizade e no fortalecimento de redes sociais, no trabalho, entre outras possíveis relações.
Indivíduos que têm deficiência em habilidades socias apresentam qualidade de vida ruim e diversos tipos de problemas como transtornos psicológicos, manifestados como, timidez, isolamento social, desajustamento escolar, problemas conjugais, entre outras manifestações (DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. 2001). Há estimativas de que a deficiência nesdas habilidades compromete aproximadamente 30% das relações das pessoas e podem ser observados em diferentes faixas etárias e em diferentes contextos como no meio organizacional (FURTADO; FALCONE; CLARK, 2003; WAGNER; OLIVEIRA, 2007). Nesse sentido, os indivíduos com deficiência em Habilidades Sociais acabam expondo suas dificuldades especialmente em suas relações interpessoais, mesmo não querendo. Burnier (2001) destaca que, muitas vezes, colaboradores estão inseridos em um contexto que exige diversas competências e habilidades, e saber administrar e utilizar tais capacidades requer esforços em relação a adequação. Mais especificamente, enfrentar competitividade no trabalho, que está presente em diversas circunstâncias é demasiadamente desgastante, porém importante. O autor aponta ainda que, de modo geral, os objetivos dos empresários/organizações são obrigados a sobreviver e progredir, de modo a aumentar a lucratividade no negócio, e com isso, reduzir custos, sem a perda da qualidade mesmo que, por vezes, demissões e descarte de mão de obra seja uma alternativa, visando à produtividade e adequação financeira.
A. Del Prette e Z. A. P. Del Prette (2003) descrevem que os atuais padrões organizacionais que definem a reorganização lucrativa têm emergenciado diferentes processos de trabalho e que se interligam de modo direto à natureza e a qualidade das relações interpessoais. Assim é possível observar que déficits em habilidades sociais no contexto organizacional, podem estar vinculados a dificuldades na relação com outras pessoas, ocasionando prejuízos na qualidade de vida, bem como diferentes outros comprometimentos. Em complemento Silva (2004) aponta que a aquisição de competências profissionais é igualmente importante neste contexto. O autor menciona que esta questão envolve diretamente o contexto organizacional por estar em constante mudança, seja por aspectos como incorporação, economia oscilante, culturas internas, entre outras. Tais aspectos estabelecem custos e limitam o desenvolvimento eficaz, podendo impossibilitar o desempenho profissional, com tendência a começar exigências de novas formas de atenção como instrumental para ajustes. É comum que dificultadores nesta relação e âmbito, e na adequação do indivíduo possam gerar ou até mesmo agravar sintomas e problemas, tais como o stress.
Conforme descrito anteriormente a promoção de Habilidades Sociais como forma de intervenção para lidar com o stress no ambiente organizacional tende a permitir que o colaborador possa, de maneira adequada/ajustada, fazer e responder perguntas, cumprimentar seus pares e pessoas, elogiar e ser elogiado, manifestar opiniões, sensibilidade para desenvolver trabalho em equipe, assertividade, resolver problemas, tomar decisões, mediar conflitos, bem como aprimorar questões como inteligência emocional e social (DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. A. P.; 2001, 2004). Ainda neste contexto Samora e Silva (2014) mencionam sobre a importância das Habilidades Sociais com outros indivíduos, pois o fato de conviver com pessoas com características diferentes pode contribuir para que o desempenho social seja competente. Nesse mesmo sentido, Pellegrini, Calais e Salgado (2012) afirmam que o desenvolvimento dessas habilidades proporciona aos indivíduos a percepção quanto às suas competências, designando a sua autoafirmação em solucionar problemas de modo adequado e, com isso controlando manifestações de estresse.
Em relação a possíveis manejos de intervenção e Markaman e Baron (2003) destacam que tais programas têm como objetivo aconselhar por meio de um modelo de mediação a respeito do perfil empreendedor e o desempenho organizacional, o qual objetiva a autoeficácia, identificação de oportunidades, dedicação para o capital humano e social. Acrescentam que as Habilidades Sociais estão correlacionadas ao principal sucesso dos empreendedores. Mais recentemente, Murta e Tróccoli (2009) realizaram um estudo com manejo do estresse ocupacional contando com 74 colaboradores da área administrativa. Foram utilizadas 12 reuniões psicoeducativas em que utilizaram o Inventário Multimodal do Manejo ao Estresse, Treino em Habilidades Sociais e Escala de Coping Ocupacional. Os resultados indicaram, para o escore geral de estresse, 2,46 no pré-teste e 1,72 no pós-teste, ao mesmo tempo em que as Habilidades Sociais foi de 0,44 no pré-teste e o pós-teste de 0,49. Os autores concluíram que o decrescimento do número de participantes com características de estresse quase alcançou outras intervenções psicoterápicas.
Bottcher (2012), em seu estudo, com o objetivo de reconhecer, descrever, e demonstrar uma relação entre estresse, habilidades sociais e variáveis pessoais em homens em um processo de recolocação para os cargos de gerência, obtiveram resultados importantes, no sentido de que quanto mais tempo de busca de emprego, pior é a percepção de habilidades sociais; quanto mais novo o profissional, pior a avaliação que ele faz de suas habilidades sociais e quanto maior a remuneração, melhor é a avaliação das habilidades sociais. Acrescenta, ainda, que indivíduos que utilizam habilidades sociais como uma expressão similar à network tendem a obter maior retorno em suas buscas, nesse caso, de trabalho. Assim, indivíduos que aplicam estratégias como um foco na solução dos problemas, nesse caso recolocação profissional, tendem a obter mais estratégias de controle do estresse e, com isso, melhor qualidade de vida.
À guisa de considerações cabe ressaltar que a maior parte dos indivíduos que apresentam habilidades sociais e não as utilizam seja por diferentes fatores tais como entendimento do ambiente, crenças, ansiedade, entre outros aspectos tendem a apresentar diversos comprometimentos em sua vida, e especialmente no âmbito profissional. Assim, deficiências sociais propendem a ocasionar qualidade de vida diminuída, com comprometimentos isolados ou conjuntos de aspectos físicos e/ou psicológicos e consequentemente manifestação de stress. Seguindo tais postulados será apresentado a seguir uma conceituação sobre o estresse, suas causas e possíveis consequências na qualidade de vida do indivíduo no âmbito profissional, com inferências em relação as habilidades sociais como manejo de auxilio na diminuição do estresse.
Estresse
Historicamente o termo estresse foi descrito pela primeira vez na área da saúde para apontar um conjunto de reações não indicadas observadas em pacientes comprometidos de patologias diversas (LIPP; MALAGRAIS 1996). Ainda segundo os autores, Hans Selye, em 1936, conceituou o estímulo do estresse como uma síndrome geral de adaptação
, sendo este conceito revisto em 1974 como uma resposta não específica do corpo a qualquer exigência
em diferentes contextos e situações. Mais recentemente Tricoli (2010) descreve que o estresse não deve ser tratado como uma doença pelo tipo de manifestação que apresenta. Contudo, é relevante se atentar aos variados sintomas ocasionados por essa manifestação, tais como baixa resistência do organismo, predispondo ou tornando o indivíduo vulnerável às diversas manifestações clínicas, especialmente àquelas com predisposição genética, e ao estilo de vida do indivíduo. Em relação à incidência das manifestações do estresse Nahas (2001) aponta que a Academia Americana de Médicos da Família descreve que aproximadamente em 75% das consultas médicas realizadas são comuns sintomas correlacionados ao estresse e/ou alterações que sucedem ele, em especial no âmbito do trabalho, os quais ocasionam gastos incalculáveis (CAMELO; ANGERAMI, 2008; BORGES-ANDRADE; PAGOTTO, 2010).
Em seus apontamentos Rossi (2007) descreve que o estresse não é totalmente ruim ou negativo, pois estimula o indivíduo a criar estratégias de buscas e, com isso, de desenvolvimento, porém quando deixa de estimular e começa a comprometer seu dia a dia é considerado prejudicial a saúde. Lipp e Malagris (1996) descrevem as fases do estresse, diferenciando-as pelo grau de comprometimento que tendem a ocasionar no indivíduo, sendo elas: alerta, resistência e exaustão. Nomenclaturas mais atuais incluem a fase de quase exaustão. Cabe mencionar que as duas últimas fases são consideradas comprometimentos mais severos e significativos.
Assim, a fase de alerta é o momento em que o indivíduo se confronta com um estressor, tais como mudança de horário, de condições de trabalho, de residência, de hábitos de dormir, férias, entre outros. Essa fase pode ser atribuída como uma manifestação que ativa uma reação de alerta de luta ou fuga
, o qual pode perseverar por algumas horas. Nessa fase, o estresse não causa danos e, de maneira geral, pode ocasionar melhor rendimento, motivação e energia. Tais manifestações são corriqueiramente observadas no âmbito organizacional. A resistência indica o período da busca pelo equilíbrio em que o sujeito busca lidar com os estressores e, finalmente, a fase de exaustão indica comprometimentos severos incluindo patologias (FILGUEIRAS; HIPPERT, 1999).
Cabe ressaltar, segundo os apontamentos de R. L. Fiamoncini e R. E. Fiamoncini (2003), que os motivos do estresse são diversos e têm efeito cumulativo no indivíduo, por exemplo, as condições físicas ou mentais excessivas tendem a provocá-lo, podendo refletir de maneira significativa naqueles trabalhadores que já estão com algum tipo de comprometimento, seja físico ou emocional. Alguns exemplos são, a saber: divergências com a chefia, problemas financeiros, problemas em casa, dificuldades na relação familiar e pessoal, entre outros. Segundo os autores, algumas causas de estresse profissional referem-se ao conteúdo do trabalho, como pressão para manter ritmo de produção; sentimentos de incapacidade; condições de trabalho desfavoráveis e ou inadequadas; questões administrativas organizacionais, cargos e salários; pressão econômico-sociais, como dinheiro, consumo, entre outros.
É reconhecido que determinadas atividades profissionais são propensas a ocasionar maiores comprometimentos no indivíduo, quer por questões administrativas organizacionais ou por sua natureza laboriosa. Estes últimos são mais atingidos/comprometidos por questões que envolvam estresse (FIAMONCINI, R. L.; FIAMONCINI, R. E., 2003). Os autores mencionam algumas dessas atividades, porém enfatizam que outras existem e devem ser consideradas, tais como ocupações bancárias, aeroviários, professores, agentes prisionais, profissionais de emergências médicas, policiais, entre outros. Ainda descrevem que a variedade de estressores evidenciada reporta-se ao relacionamento interpessoal nesse ambiente de trabalho. Outras condições são atreladas às interações entre pessoas, como níveis hierárquicos, autoridades ou subordinados; em todas as relações existe uma pré-conceitualização para possíveis conflitos (PASCHOAL; TAMAYO; 2004).
Os apontamentos de Cabussú (2009) são claros ao descreverem a necessidade de desenvolver técnicas e procedimentos que visem à eliminação ou diminuição do estresse, mesmo que de maneira a controlar possíveis desencadeadores. Nesse contexto, criar condições de tentar controlar o estresse, tecnicamente definido como coping, ou seja, estratégias de enfrentamento elaboradas para coordenar e se adaptar aos níveis variados de estresse. O autor ainda menciona que para isso é necessário o uso de recursos visando à integração de conceitos e fundamentos atrelados à saúde e ao bem-estar individual, situações que possibilitem melhora nos variados estímulos cotidianos, habilidades de solução de problemas, habilidades sociais, entre outros.
Retomando os aspectos atrelados ao estresse no trabalho, é possível observar um aumento significativo de estudos nessa temática. Tais estudos abrangem a pesquisa de categorias e descrições diversas, bem como em processos de intervenção ligados à prevenção e combate ao estresse. Nesse último, enquadra-se a contribuição das Habilidades Sociais em prol da saúde no ambiente de trabalho e especificamente do trabalhador. Entre os estudos nessa temática, é importante destacar as contribuições de Del Prette e colaboradores (2004) em estudo que aponta significativas contribuições para o enfrentamento do estresse com o auxílio das Habilidades Sociais. Em outra pesquisa, Murta e Tróccoli (2004) com o objetivo de detectar as origens de satisfação e insatisfação, utilizando um programa de manejo ao estresse ocupacional apoiado ao modelo de cognitivo-comportamental. Em ambos os estudos, os programas de intervenção foram percebidos como significativos e favorecedores para o desenvolvimento de habilidades sociais os quais favoreceram as relações interpessoais. Em relação a fontes de estresse Furtado e colaboradores (2003) em seu trabalho com universitários identificaram sete fontes de estresse em professores autoritários, a saber, intensa quantidade de matéria, excessivas provas, falta de tempo para diversão, dúvidas quanto às perspectivas com o futuro e receio de mau êxito nos estudos. Nessa população, as mulheres apresentaram médias mais elevadas, sendo possível inferir que estas têm mais predisposição a estresse. Em síntese a esta pesquisa, apontou que deficiências em Habilidades Sociais estão interligadas ao estresse.
Diante do exposto, fazem-se necessários novos estudos sobre o estresse e a importância do Treino das Habilidades Sociais nos diferentes contextos e, em especial, no aspecto de trabalho e, com isso, na área organizacional. Dessa maneira, empresas e organizações podem proporcionar a seus funcionários meios e ferramentas para lidar com os relacionamentos interpessoais e nas mudanças constantes nesse contexto. Seguindo o anteriormente descrito, ressalta-se o interesse do uso de vivências para promover o desenvolvimento saudável, uma vez que os indivíduos que tenham níveis elevados de estresse possam desenvolver melhores Habilidades Sociais, necessárias para o enfrentamento dos diversos possíveis estressores cotidianos. Nisso é viável que o indivíduo aprimore seu lado profissional e pessoal, porém que o viva de maneira saudável e, consequentemente, possa proporcionar melhores resultados no local que estiver inserido, como no caso de organizações.
Considerações finais
Com relação ao exposto até o momento, é possível aventar a importância do uso do Treino das Habilidades Sociais em diferentes contextos especialmente no âmbito organizacional de modo a poder avaliar, intervir e promover com treinos a eliminação e diminuição de situações desencadeadoras de estresse. Cabe ressaltar que este provoca diversos comprometimentos físicos e mentais nos indivíduos, e, se não forem reduzidos, podem ser prejudiciais à saúde deles. Ainda no contexto do trabalho, os indivíduos devem lidar com o estresse mesmo este estando às margens da quase exaustão
ou mesmo da exaustão
, configurando dessa