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Seja A Loba Única
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E-book442 páginas6 horas

Seja A Loba Única

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Sobre este e-book

"Não! Não é nada disso!" Eu implorei, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Eu não quero isso! Você tem que acreditar em mim, por favor!"
Então, a sua grande mão agarrou a minha garganta, me levantou do chão sem esforço. Os seus dedos tremiam a cada aperto. Ele estava apertando as vias aéreas vitais para minha sobrevivência.
Tossi, ofegante, enquanto a raiva dele queimava os meus poros e incinerava a minha alma. A quantidade de ódio que Joaquim sentia por mim era incalculável, e eu sabia que não havia como sair viva dessa situação.
"Como se eu fosse acreditar em uma assassina!" A voz do Joaquim era estridente contra os meus ouvidos.
"Eu, Joaquim, o Alfa da matilha Shine Star, rejeito você, Cláudia, como minha parceira e Luna." Dito isso, ele me jogou no chão como se eu fosse lixo, me deixando com falta de ar. Em seguida, ele pegou algo do chão, me virou e me cortou.
Ele fez um corte sobre a minha Marca de Matilha usando uma faca.
"E eu, por meio desta, condeno você à morte."

IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de jul. de 2023
Seja A Loba Única

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    Seja A Loba Única - PopNovel

    ÍNDICE

    Capítulo 1- Prólogo - Intocáveis

    Capítulo 2 - A Escrava

    Capítulo 3 - O Alfa

    Capítulo 4 - O ódio

    Capítulo 5 - O indesejado

    Capítulo 6 - A Cerimônia

    Capítulo 7 - A Rejeição

    Capítulo 8 - A Fuga

    Capítulo 9 - O Suicídio

    Capítulo 10 - A Deusa

    Capítulo 11 - A escolha

    Capítulo 12 - O renascimento

    Capítulo 13 - O milagre

    Capítulo 14 - A Matilha Dark Sky

    Capítulo 15 - O Trauma

    Capítulo 16 - A Amiga

    Capítulo 17 - O Luto

    Capítulo 18 - A Mudança

    Capítulo 19 - Os Novos Amigos

    Capítulo 20 - A Família do Alfa

    Capítulo 21 - A Recuperação

    Capítulo 22 - As Decisões

    Capítulo 23 - A Coruja

    Capítulo 24 - A União

    Capítulo 25 - A Família

    Capítulo 26 - O Futuro

    Capítulo 27 - O Arrependimento

    Capítulo 28 - A Verdade

    Capítulo 29 - Bem-vinda

    Capítulo 30 - A Raiva

    Capítulo 31 - A Invasão

    Capítulo 32 - O Apoio

    Capítulo 33 - O Confronto

    Capítulo 34 - O Encontro

    Capítulo 35 - O Gama

    Capítulo 36 - A Aliança

    Capítulo 37 - A Saudade

    Capítulo 38 - O Pesadelo

    Capítulo 39 - A Caçada

    Capítulo 40 - A Implantação

    Capítulo 41 - A Chegada

    Capítulo 42 - O Mistério

    Capítulo 43 - A Festa

    Capítulo 44 - O Soco

    Capítulo 45 - O Sobrinho

    Capítulo 46 - A Revelação

    Capítulo 47 - O Treinamento

    Capítulo 48 - O Esquecido

    Capítulo 49 - A Preocupação

    Capítulo 50 - O Pedido

    Capítulo 51 - O Conforto

    Capítulo 52 - A Retratação

    Capítulo 53 - A Colisão

    Capítulo 54 - O Impasse

    Capítulo 1- Prólogo - Intocáveis

    (Nota do autor: livro aborda os seguintes assuntos: Abuso, trauma, suicídio, processo de recuperação de trauma e recaída emocional. Portanto, este livro não é adequado para todos os leitores. Embora o argumento principal foque no sobrenatural, lobisomens e magia; a série acompanhará os efeitos do trauma e do abandono vivenciados pela protagonista feminina principal. Se você é sensível aos assuntos mencionados acima, não leia este livro pelo bem da sua saúde mental. Este é o único aviso. A partir daqui a escolha de ler o livro é de responsabilidade do leitor.)

    Sangue.

    O líquido carmesim escorria, cobrindo o meu rosto, ele partia da ferida aberta na minha testa. O seu gosto metálico se misturou com o sal das minhas lágrimas, e me serviu como uma lembrança da surra anterior. O meu corpo estava latejando, enquanto os punhos fantasmas e os sapatos com biqueira de aço se alojavam na minha carne. Sentia como se ainda estivesse sendo espancada. A cada movimento dos meus membros, a agonia se disparava pelo meu corpo frágil, até que me refugiei em um dos cantos sujo da minha cela.

    A cela que chamei de lar durante anos. Ela havia testemunhado o amadurecimento de uma criança assustada, se transformando em uma adolescente igualmente assustada. Às vezes, esqueço que as paredes testemunharam mais atrocidades cometidas contra o meu corpo do que sou capaz de lembrar.

    Por que fui presa? Suponho que você imagine que sou uma criminosa, que foi julgada e recebeu a sentença: culpada. A verdade é que os membros da minha matilha estavam convencidos de que eu era a responsável pela morte da minha Luna e da filha dela. Estamos falando de 8 anos atrás. A partir daquele dia, eu me lembrei de como eu era uma desgraça para todos os lobisomens. Eu suportei a raiva ardente que irradiava de cada um deles, que se materializava em golpes no meu corpo, agora esquelético. Cada hematoma e corte na minha pele morena passou a ser mensagens que diziam a mesma coisa, em harmonia.

    Você merece sofrer.

    Não importava o quanto eu gritasse ou chorasse, os meus apelos de inocência caíam em ouvidos surdos. Ninguém estava disposto a acreditar no meu lado da história. Ainda me lembro daquele dia como se fosse ontem, pois ele havia se queimado na minha mente.

    Isabella era a filha do grande Alfa Matt e da Luna Ana. Ela era a minha melhor amiga. O meu pai, Laércio, e a minha mãe, Sofia, eram os Betas do Alfa; sendo a minha mãe, a Beta feminina. As nossas famílias eram muito próximas uma da outra; e se incluíam também neste círculo de amizade, os Gamas, Enrique e Hailey. Eu e Isabella éramos como unha e carne. Não era para menos, as nossas mães nos criaram juntas e daí, o nosso vínculo se fortaleceu. Fazíamos juntas tudo o que as meninas costumam fazer; brincávamos de boneca, íamos à mesma escola, dormíamos no quarto uma da outra, enfim, estávamos sempre compartilhando as mesmas atividades. Se uma de nós estava em um determinado lugar, a outra não estava muito longe. Posso dizer que eu era mais próxima da Isabella do que da Priscila, a minha irmã mais velha, ou ela do Joaquim, o seu irmão mais velho. Não me interpretem mal, eu sempre amei muito a Priscila, mas a diferença de idade entre nós, dois anos, fazia com que ela preferisse estar com crianças da sua mesma idade.

    A Isabella tinha a doce inocência da mãe e o caráter autoritário do pai. Com o passar do tempo, os membros da matilha começaram a chamá-la de anjo, o que acabou se tornando o seu novo título: Anjo da Matilha. O sorriso e as gargalhadas dela eram contagiantes. Ela era capaz de iluminar os dias mais sombrios apenas com um sorriso ou uma risadinha.

    Os anjos são lindos, e Isabella era uma beleza. Os seus longos cabelos negros desciam até o meio das suas costas. Ela os tinha herdado da mãe. Os seus olhos azuis rivalizavam com o mais azul dos céus. As suas bochechas rechonchudas eram tão 'apertáveis', o que eu fazia sempre que ela me irritava. Eu tinha orgulho de chamar a Isabella de minha irmã. Eu tinha certeza de que cresceríamos juntas e nos tornaríamos uma dupla imparável. As filhas do Alfa e do Beta juntas? Era um time dos sonhos feito pela própria Deusa da Lua.

    Naquele dia fatídico, nós tínhamos nove anos, me sentia ousada, o oposto do meu normal comportamento tímido. Isabella era a corajosa, sem dúvida, 'culpa' dos seus genes Alfa. Eu tive a ideia de deixar de lado as regras para brincarmos no nosso lugar favorito: um lago no meio da floresta de carvalhos. Nós costumávamos ir até lá para brincar de pega-pega, fazer tortas de lama ou sonhar com a aparência dos nossos lobos. Os nossos pais sempre diziam que nós não deveríamos ir à floresta sozinhas, por causa de possíveis ataques de bandidos. No entanto, éramos uma dupla rebelde e desobedecíamos.

    Acreditávamos que éramos intocáveis.

    Enquanto isso, os nossos irmãos mais velhos estavam fazendo tudo o que os pré-adolescentes fazem. Do nosso lado, tocava então a ser desobedientes.

    Um belo dia, a Luna Ana, ou a tia Bela, como eu carinhosamente costumava chamá-la, nos seguiu e descobriu o que estávamos fazendo, ela nos repreendeu pela desobediência. Mas eu e Isabella não nos importamos e estávamos prontas para ir de novo. Pelo olhar da tia Bela, ela sabia que isso acabaria acontecendo.

    Este dia deveria ter terminado assim. Deveríamos ter voltado para a casa da matilha e continuado a viver as nossas melhores vidas, mas o destino tinha uma maneira doentia de se aproximar de pessoas inocentes.

    Eu deveria ter levado a sério os avisos dos nossos pais. A ousadia muitas vezes está acompanhada da estupidez, e naquele dia eu fui muito estúpida. Até aquele dia, nunca tínhamos sido atacadas, por isso eu realmente pensei que estávamos seguras. Foi só quando mais de uma dúzia de cães nojentos correram de todos os ângulos e nos encurralaram, que descobri que não estávamos em segurança.

    Meninas, corram para casa, agora! Não parem até chegar lá! A tia Bela gritou para nós, antes de se transformar em uma linda loba negra, pronta para nos proteger com todo o seu poder.

    Eu e Isabella corremos para salvar as nossas vidas. Nós agarramos a mão uma da outra, e corremos o mais rápido que nossas pernas erram capazes.

    Mas não fomos muito longe, um enorme bandido, sem nada a perder na vida, nos separou, literalmente. Me lembro quando olhei para trás e vi o grande bandido, parecia o líder do grupo, rasgando a minha tia como se ela fosse um pedaço de papel. O bandido moreno que havia separado Isabella de mim não teve remorso e nem consciência, pela forma como cravou a garra no corpinho dela. Os gritos da Isabella e da tia Bela ficaram para sempre gravados na minha memória. O sangue inocente delas cobriram o chão denso da floresta. Por algum motivo, eles pouparam a minha vida naquele dia, mas me deram uma mordida profunda no braço direito.

    O líder, um grande lobisomem, que então, tinha se transformado em humano, se aproximou de mim com o sangue da Luna pingando da sua mão, rosto e mandíbula. E então, ele estendeu a mão e pintou o meu rosto com o sangue delas, rindo. Eu nunca esqueceria aqueles olhos azuis profundos, quase injetados, olhando profundamente para a minha alma trêmula.

    Eu perdi a minha melhor amiga. Eu perdi a minha tia. Os seus corpos mutilados, sem vida, foram deixados em poças de sangue. E tudo que eu podia fazer era olhar. A minha cabeça estava vazia. Eu ainda sentia o calor da mão da Isabella na minha.

    Ela não está morta! Ela não podia estar morta!

    Certo?

    O que aconteceu depois foi um grande pesadelo. O calvário chegou tarde demais porque o ataque aconteceu sem aviso prévio. Um alarme, normalmente tocado pelas patrulhas quando acontece um ataque, não soou. Mais tarde, soube-se que os bandidos mataram os homens das patrulhas, aumentando o número de mortos. Eu ouvi o uivo do coração partido do Alfa Matt quando o vínculo de parceiros entre ele e a Luna Ana murchou e morreu. Eu ouvi os gritos do Joaquim, enquanto ele lamentava a perda da mãe e da irmãzinha; os uivos de tristeza de todos os membros da matilha. Mais tarde, naquele mesmo dia, os líderes da matilha Shine Star informaram a todas as matilhas vizinhas sobre a trágica perda após limpar a cena do crime.

    Então, nesse momento, todos os olhos se voltaram para mim. A garotinha coberta com o sangue da mãe e da filha assassinadas. Eu, a única sobrevivente do massacre, aquela que não deveria sobrevivido, passou a ser apontada como culpada. A pergunta era porque eu não tinha morrido.

    Por que eu, uma filhote de Beta, tinha conseguido sobreviver, enquanto a nossa Luna e o nosso Anjo tinham morrido?

    O que ninguém sabia era a dor que eu senti ao ver minha melhor amiga sendo espancada até a morte, ou os gritos distantes da Luna, que não conseguia suportar aquele ataque sozinha. Joaquim me encarou com uma tristeza nos olhos que era insuportável de vê-la. O Alfa Matt fez uma careta para mim com tanta repulsa, que era impossível para a minha mente infantil compreender o calor da sua raiva. Mas não era apenas o ódio que ele sentia. Havia ódio de todos os membros da matilha contra mim, incluindo dos meus próprios pais e da minha irmã mais velha.

    Assim que souberam que a ideia de irmos ao lago foi minha, o meu destino estava selado.

    Nesse dia, eu não perdi apenas a Isabella e a tia Bela. Eu perdi a minha família e a matilha inteira, os membros dela nunca mais me olharam da mesma forma. Eu fui oficialmente marcada como uma partícula de excremento de lobisomem. Eu, Cláudia, fui taxada de criminosa.

    Com o passar do tempo, Joaquim começou a me odiar também; eu não o culpo por isso. Por minha culpa, ele tinha perdido metade da família dele.

    Oito anos se passaram, e eu estava em uma cela de prisão, construída especialmente para o mais baixo de todos os lobisomens. No local havia outras celas, onde os guardas colocavam outros criminosos e bandidos para interrogá-los e torturá-los. Ser colocada na mesma prisão que verdadeiros bandidos dizia muito sobre como eu era visto pelos membros da matilha.

    Quando os guardas estavam entediados, eles jogavam os seus 'jogos' comigo. Ninguém poderia detê-los, ou se pudessem, não se importavam em fazê-lo. Eles me cortavam e me espancavam, só para ver o quanto eu aguentaria até desmaiar.

    No entanto, isso não era o pior de tudo. Havia um guarda, o que eu mais odiava e o que mais me aterrorizava. Ele levou o jogo a outro nível. Os seus jogos eram diferentes daqueles que eu tinha me 'acostumado'. Começaram quando eu tinha quatorze anos, mas, só conforme eu fui crescendo, entendi o que os seus 'jogos' significavam.

    Esses jogos me deixaram arrasada, machucada e me sentindo suja.

    Quando eu não estava no frio intenso da cela, eles me colocavam para trabalhar como uma escrava da matilha. Essa era a única razão pela qual o Alfa Matt ainda não tinha me executado; para esfregar o chão da casa da matilha de cima a baixo, lavar a roupa e a louça, eram apenas algumas das minhas tarefas. Eu estava proibida de chegar perto da comida, pois eles temiam que eu a envenenasse.

    Os rumores tinham mais peso contra os indefesos.

    Os Omegas supervisionavam a culinária. Os seus olhares odiosos não eram novidade para mim. Dar um passo dentro da cozinha da matilha equivalia a cuspir na cara deles. Para lavar a louça era o único momento que me permitiam entrar na cozinha, e esperavam que cada prato estivesse impecável. A cada 'ponto perdido', Rae, a cozinheira responsável, e o líder Omega, me atacavam com uma arma, a que eles escolhessem, que incluía facas. Às vezes, alguns Omegas sabotavam o meu trabalho de propósito, para depois me assistirem sendo espancada. A minha dor se tornou o entretenimento deles e, a julgar pelo sorriso sinistro no rosto de cada um deles, eles não planejavam parar tão cedo.

    Às vezes, as surras eram tão fortes, que eu precisava ser atendida pelo médico da matilha. Mas ele agia como o resto da matilha. Ele também me culpava pela perda delas. Então, ele me dava uma leve medicação para dor e me mandava embora. Nem uma única vez ele tratou as minhas feridas. Elas foram deixadas para apodrecer e se curar por conta própria. O meu corpo estava repleto de cicatrizes antigas e novas, que nunca recebiam o tratamento adequado.

    Eu não tinha um dia de folga. O Alfa determinou que eu não merecia descansar. Portanto, eu trabalhava sem descanso, do nascer ao pôr do sol; com as mãos num balde de água com sabão, de joelhos, esfregando a sujeira do chão. Nunca houve um momento de paz; o meu balde sempre foi derrubado, ou eu fui empurrada para dentro dele, ou fui atingida aleatoriamente no rosto ou nas costas por um membro qualquer da matilha. Era correto abusar dos escravos, na mentalidade deles. Pois os escravos eram servos, ao mesmo tempo em que serviam como sacos de pancada. Esse era o meu destino.

    Eu tive que aguentar tudo. Eu não tinha permissão para gritar, chorar ou implorar. Eu era a boneca silenciosa da matilha Shine Star. As bonecas não falam e muito menos reclamam; elas recebem o tratamento que merecem, segundo quem as domina. Mas a verdade, é que bonecas de brinquedo eram tratadas melhor do que eu estava sendo. Se uma filhote estragasse a sua boneca, a sua mãe as consertava e elas ficavam perfeitas novamente. A filhote ficava feliz até a próxima lágrima.

    Eu não tinha ninguém para me 'consertar'. A minha mãe abandonou esse dever e o meu pai preferiu agir como se eu não existisse. Priscila, a minha amada irmã, participou do meu tormento, junto com as suas amigas. Sendo a irmã mais velha, alguém poderia pensar que ela não hesitaria em me proteger, mas pelo contrário, ela sentia um imenso prazer em me machucar.

    Mas eu não posso dizer que o abandono deles é o que doía mais. As surras pareciam as mesmas para mim, a menos que fosse dada pelo Alfa Matt ou Joaquim. Dado seu status e a quantidade de poder que fluía através do sangue Alfa deles, a sua brutalidade era suficiente para me deixar incapacitada por vários dias.

    Eles me culpavam pelo fim da família deles. Para eles, eu tinha arrancado o coração da nossa matilha. No entanto, no fundo, eu acreditava que eles sabiam que eu era inocente, mas como precisavam de um bode expiatório para seus sentimentos de raiva, eu me encaixava bem nesse projeto.

    Apesar de toda a dor pela qual estava passando, eu ainda tinha esperança. Esperava encontrar o meu parceiro um dia, a outra metade da minha alma. Cada lobo tem um parceiro, o seu amante eterno, escolhido pela própria Deusa da Lua. Esperava que o meu parceiro, quem quer que fosse, me tirasse daquele inferno e me amasse como eu era.

    Isso era tudo que eu desejava. Aquele pouquinho de felicidade através do vínculo de parceiro.

    'Por favor, Deusa da Lua. Conceda-me essa felicidade, salve-me deste lugar!'

    'Por favor…'

    Capítulo 2 - A Escrava

    E se... o que você é se as pessoas que deveriam te amar podem te deixar como se você não fosse nada? -Elizabeth Scott

    Cláudia

    Aplausos e palavras de encorajamento irromperam do quintal, ecoando pelo ar da floresta como se fossem sirenes.

    Os meus olhos espiaram a comoção através da janela da cozinha; os apertei um pouco por causa do brilho do sol. Eu tinha a visão completa do jardim verdejante da frente, o que me permitiu testemunhar o espetáculo, como se estivesse em um assento na primeira fila. Membros da matilha, de todas as idades, se reuniram em torno de um garoto na puberdade, de cabelos loiros; era o dia do seu primeiro turno. A sua mãe o confortava colocando a cabeça dele no colo dela, já o seu pai o tinha treinado para suportar a dor. O pequeno José não fazia nada para abafar o bom humor, mas alimentava a manifestação de apoio a ele. O amor e o cuidado que irradiavam dos membros da matilha eram palpáveis, sobrecarregando os meus sentidos, a ponto de eu sentir uma estranha sensação ao meu redor.

    O amor deles por José me sufocava; me fazia lembrar que eu nunca teria o que ele tinha.

    Os primeiros turnos sempre foram um evento para se celebrar na matilha Shine Star, pois marca a passagem sagrada de um filhote para um lobo completo. Comparando com a vida dos humanos, seria quando alguém entra na puberdade. No momento da primeira vez, os membros da matilha se reúnem em torno do jovem, que muda dentro de uma atmosfera de amor e compaixão, que transmite bons desejos. Todos os presentes se lembram de quão dramática e dolorosa é a primeira mudança, pois eles já passaram por isso. Por isso estão ali, para proteger o jovem e fortalecer o seu vínculo com a matilha. Os seus pais atuam como guias e os membros da matilha com o seu total apoio. É, honestamente, o momento que cada filhote de lobo espera, pois sabem que eles são queridos pela sua comunidade.

    O estalar dos ossos do jovem encheu os meus ouvidos. Quase me encolhi por causa do ruído alto e estridente. Observei o pelo preto brotando da sua carne pálida e seu rosto se transformando em um focinho de lobo. Assim como o turno começou, ele terminou. Cada membro foi parabenizar o garoto pela sua entrada oficial no Wolfhood, com um tapinha na cabeça ou uma carícia no seu pelo preto como tinta. José soltou um uivo de puro deleite, e o resto dos membros uivaram junto com ele, o som sacudiu até mesmo os alicerces da casa da matilha.

    Poderia ter sido eu? Se eu não tivesse sido condenada a uma vida de dor e servidão. Eu teria tido uma celebração como essa? Eu poderia ter sentido o amor e a admiração dos membros da matilha e dos meus pais? Durante a minha mudança, eu estava sozinha na minha cela fedorenta, e suja aos doze anos de idade. Eu não tive ninguém para me guiar, nem conforto e apoio. Eu não tive ninguém para me animar enquanto sentia dor. Não ousei uivar, pois os guardas teriam me espancado até que eu ficasse em silêncio.

    'Você se esquece, eles não nos consideram parte desta matilha.' A minha loba falou através de nosso elo mental. Ela deve ter sentido a minha tristeza, como sempre. 'Mas isso não faz com que deixemos de existir, que não tenhamos apoio e a comemoração que merecíamos; dói muito ser tratada assim.'

    'Tanto faz', respondi com tristeza, guardando os últimos pratos. Eu carregava a marca da matilha Shine Star no meu ombro direito, um lobo uivando para uma lua crescente, mas seria um dia amargo no purgatório antes que eu fosse considerada um membro. 'Não adianta ficar deprimida por algo que nunca ia acontecer, Eve.'

    Peguei o meu balde e o enchi com sabão e água morna, e comecei a esfregar o chão da cozinha com a escova de náilon. Os meus joelhos ossudos estavam vermelhos e cheios de bolhas, devido ao trabalho constante, e os meus dedos pareciam passas. No entanto, tinha descoberto que quanto mais cedo os dedos perdessem a sensação, mais fácil seria de trabalhar, e eu contava com essa 'ajuda'.

    Eve, a minha linda loba branca, era a minha única amiga e confidente. Amizades eram impossíveis de se conquistar, muito menos alguém para ter uma conversa fiada. Cinco anos atrás, fiquei horrorizada ao ver que havia me transformado em um lobo branco. De acordo com a história sobre a vida dos lobisomens, os lobos brancos são os mais raros. Havia uma chance em um milhão de alguém ser um lobo branco. E, no entanto, eu era, única. A escória mais baixa da Terra, segundo os membros da minha matilha, era especial. Eu me achava especial.

    Mas o Alfa Matt garantiu que eu me lembrasse que não havia nada de especial em mim. Eu era inútil e nojenta. Segundo ele, ser uma loba branca não apagava e não apagaria os meus pecados do passado. Ele bateu em mim e na Eve, solidificando os meus pensamentos sombrios de que era melhor se eu morresse. Fiquei dias sem conseguir andar ou me ajoelhar. A brutalidade dele sempre foi o que eu mais temia, pois ele era o poderoso Alfa. Só de pensar nele se elevando sobre mim com os punhos levantados, o meu corpo estremecia.

    No momento em que os membros da matilha entraram em casa, eu já tinha terminado de limpar o chão da cozinha. Esgueirando-me sem ser vista, comecei a trabalhar na infinidade de banheiros. O meu corpo estava doendo, mas a única motivação que eu tinha era, quanto mais cedo eu terminasse, mais cedo eu poderia ficar sozinha. Eu não estava com humor para encontrar nenhum membro da matilha nesse dia, não que eu tivesse nos outros dias. Mas, os problemas sempre mostravam sua cara feia para uma pessoa como eu.

    Eu estava limpando os corredores, imersa nos meus pensamentos, quando fui empurrada para frente. Sem ter  nada para me agarrar, escorreguei no chão imaculado, caindo de joelhos. As velhas bolhas estouraram e vazaram, enquanto eu sibilava silenciosamente de dor.

    Eu pensei ter sentido o cheiro de algo rançoso. A voz vil soou pelo ar. Eu me virei para ver Priscila, a minha irmã mais velha, com Laerte à sua esquerda. Priscila, dois anos mais velha, era mais alta do que eu, com um metro e setenta. A sua pele morena podia absorver os raios do sol por dias. Os seus longos cachos negros balançavam a cada movimento que ela fazia; e a blusa azul que ela usava revelava os seus braços musculosos. Os profundos olhos castanhos dela revelavam as intenções sombrias que ela tinha, e involuntariamente, causaram arrepios na minha espinha.

    Laerte era outra beleza; o seu cabelo castanho rivalizava com o da seda. Ela era a namorada do nosso futuro Alfa e destinada a ser a próxima Luna. A sua pele não devia nada a beleza grega: era morena; com hipnotizantes olhos castanhos em forma de amêndoa e lábios em forma de arco de cupido, destinados a fazer qualquer homem cair de joelhos. Ela nunca escondeu o ódio que sentia por mim, sempre que podia, me punia.

    'Você não é ninguém', ela me dizia.

    Priscila e Laerte eram melhores amigas desde da infância, assim como eu e Isabella. Os seus sorrisos zombeteiros e acenos de cabeça uma para a outra me disseram o que estava por vir. Eu queria correr, mas não podia. Como eu poderia? Aquelas duas iriam me perseguir e me arrastar de volta, me chutando e gritando comigo. Elas eram, de longe, mais fortes do que e portanto, poderiam me destruir se quisessem. Naquele momento, os meus olhos imploravam para Priscila me deixar em paz.

    Porém, com um movimento rápido, Priscila pegou o esfregão, passou sobre mim e depois despejou a água sobre minha cabeça. Fechei os olhos e permiti que a água com sabão caísse sobre o meu corpo, encharcando o meu vestido esfarrapado. Como de costume, não emiti nenhum som e nem chorei. Eu sequer choraminguei. Eu apenas olhei para o chão e esperei pela próxima parte da tortura.

    Qual é mesmo a citação que os humanos diriam nesse caso? 'O mais bonito poderia esconder o mais malvado?'

    A água não ajudou em nada a diminuir o cheiro. Priscila zombou, parada atrás de mim; a sua voz cheia de desgosto. Ela cheira como um cachorro molhado. Nesse ritmo, toda a matilha vai perder a fome. Eu sei, porque estou prestes a fazer isso.

    Eu tenho uma ideia. Eu ouvi a resposta da Laerte, a maldade era evidente na voz dela. Então, uma mão se estendeu e agarrou o meu cabelo crespo, quebradiço e sem vida, graças aos muitos dias sem ser lavado como se deve. Ela me arrastou pelo chão. Eu não conseguiria escapar das garras da morena que tinha como missão de vida causar o maior inferno na minha vida. As minhas fracas tentativas não fizeram nada para impedir sua missão ou suas risadas.

    Elas me puxaram até um banheiro vazio que eu tinha acabado de limpar e me jogaram contra o chão. Ouvi o barulho de uma torneira sendo aberto na minha frente, em seguida, jatos de água começaram a encher a banheira. O vapor rapidamente tomou o banheiro. Priscila colocou o pé na minha coluna, ordenando que eu ficasse parada.

    Eu estava tremendo de medo do que estava por vir. Como eu poderia não estar apavorada? Os meus braços estavam muito doloridos de todo o trabalho que tinha feito, e mais ainda, pelo peso do pé dela sobre mim.

    Já está cheia? O fedor está fazendo os meus olhos lacrimejarem, Priscila zombou.

    Quase, Priscila! Passe-me os sabonetes. Ouvi o esguicho de embalagens de plástico e o barulho da água. Droga, essa m*rda está quente!"

    Perfeito! Hora do seu banho, cadela! Elas me forçaram a ficar descalça e então, sem aviso, me jogaram na banheira com água escaldante. Os meus gritos reverberaram nas paredes do banheiro, abafando o riso demoníaco das duas. Elas me seguraram o máximo que puderam dentro da água escaldante, me insultando sobre como eu estava imunda e como eu deveria ser grata por estar sendo limpa. Eu lutei, desesperada para escapar da prisão escaldante. A água quente lentamente, mas seguramente, entrou nos meus pulmões, me queimando de dentro para fora.

    Seria aquele o dia da minha morte?

    O que vocês estão fazendo, meninas? Uma terceira voz rouca se pôde ouvir banheiro e, assim, a diversão da Priscila e Laerte se acabou. Elas me soltaram para que eu rastejasse para fora da banheira; tossindo a água quente dos meus pulmões. Eu tinha reconhecido a voz, era o meu pai, o Beta Santiago.

    Oi, Laércio! Você parece bem hoje! Laerte elogiou com um sorriso no rosto.

    Vocês não têm nada melhor para fazer do que incomodar a escrava? O meu pai perguntou.

    Eu não conseguia me lembrar da última vez que ele se referiu a mim como sua filha. O meu coração parecia uma pedra no peito. Portanto, isso não deveria me incomodar depois de todo esse tempo, mas me incomodava.

    Nós estávamos apenas limpando isto, pai. O desgosto anterior tinha desaparecido da voz da Priscila, que de repente, estava cheia de uma doçura repulsiva. 'Isto'. Eu era apenas uma coisa para elas. O fedor estava chegando no corredor!

    Ouvi o meu pai suspirando. Priscila, se limpe e limpe a bagunça no corredor. Laerte, Joaquim perguntou por você.

    Oh! Bem, essa é a minha deixa para sair. Laerte deu um abraço de lado na minha irmã. Temos planos para a sua passagem, para a cerimônia Alfa, que precisamos discutir. Encontre-me na garagem mais tarde para que possamos ir às compras!

    Não vamos usar o meu carro desta vez! Val ainda não nos perdoou por apoiarmos o dele! Priscila berrou, enquanto seguia atrás da sua amiga, com um ataque de riso. Senti a presença do meu pai por mais um momento. Ele era incapaz de me olhar nos olhos. Quando tentei me levantar, escorreguei no chão molhado. Eu esperava, não, eu rezava para que o meu pai me falasse algumas palavras de conforto. Eu não estava pedindo muito, estava? Eu só queria saber se uma pequena parte dele ainda se importava comigo... ainda me amava...

    Mas, 'nojento' e uma batida de porta foram tudo o que consegui.

    A dor se espalhou pelo meu corpo enfraquecido, enquanto os meus olhos ardiam com lágrimas não derramadas. Não precisei olhar para minha carne para saber que o marrom ficou vermelho com a queimadura. Se eu fosse humana, certamente teria morrido. Mas só tenho a agradecer a Eve por me ajudar a me curar. Não era muito, considerando que ambas estávamos fracas, mas ela ajudou a diminuir a minha dor para que eu pudesse me levantar.

    'Cláudia…', Eve choramingou na minha cabeça.

    'Eve, por favor. Não diga nada.' Eu respondi, me sentindo derrotada. 'Talvez as coisas fossem melhores se eu estivesse morta. A morte é melhor do que isso.'

    'Você não pode desistir ainda, Cláudia. Devemos viver, pois nosso parceiro está em algum lugar lá fora. Ele é a nossa única chance de felicidade.' Ela latiu de volta.

    Eve estava certa. Tinha que haver alguém lá fora que queria uma lobisomem quebrada e machucada como eu, certo? Olhei para o espelho acima da pedra-sabão pela primeira vez depois de muito tempo, e as comportas se abriram. Um soluço pesado escapou de dentro de mim, enquanto eu lentamente cobria o meu rosto com as minhas mãos trêmulas. O meu cabelo encaracolado, torto pelas costeletas forçadas e cachos enfraquecidos grudados na minha pele, naquele momento, manchada de vermelho, com hematomas coloridos cobrindo o meu corpo da cabeça aos pés. As minhas bochechas estavam encovadas, as bolsas sob meus olhos estavam pesadas e os meus lábios estavam com crostas. A minha única peça de roupa, um vestido cinza feio, sem mangas, estava grudado em mim, como uma segunda pele. Alguém deve me querer, ou então, qual era o sentido de tudo isso? Devia continuar esperando por ele. Quanto mais eu olhava no espelho, mais enojada eu me sentia.

    A garota no reflexo era nojenta. Eu era nojenta.

    A quem eu estava enganando? Quem iria querer essa coisa feia que refletia no espelho? Caí de joelhos, engasguei com os meus soluços angustiantes por um bom minuto. A dor e o abandono da minha família inundaram o meu corpo, me fazendo chorar ainda mais. Eu estava sozinha, em uma casa cheia de estranhos que o único que queriam eram me atormentar. Por que eu não poderia simplesmente morrer?

    'Deusa da Lua, por que me submeter a este destino horrível? Você acha que eu mereço tal tratamento? Responda-me!'

    'Por favor…'

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    Não se aproxime, querida! É uma abominação e não quero que você se machuque!

    É como um monstro, mamãe?

    É sim, ela matou a nossa Luna e o nosso Anjo. Você quer estar perto dela?

    Não, mamãe…

    Nunca entendi como os pais podiam instalar o ódio nos filhos. Eu nunca machucaria aquela garotinha. Do lado de fora, sob os fortes raios do sol, eu estava esfregando as roupas dos membros da matilha, na única tábua de lavar. As máquinas de lavar que funcionavam estavam no porão, mas porque usá-las quando a matilha poderia me fazer de escrava. Quando eu poderia lavar suas roupas à moda antiga? Eu odiava lavar roupas, mas também era a única vez que eu podia sentar sob o sol.

    Eu podia sentir Eve se coçando para correr, mas eu a forcei a parar. A última vez que saí para correr, eu tinha quatorze anos. Eu estava tentando fugir. Eu não só fui arrastada de volta pelas patrulhas da fronteira, mas o Alfa fez de mim um exemplo, ao me derrotar na frente de toda matilha. Eu teria morrido naquela época, mas o meu pai impediu que ele me matasse.

    Ele não fez isso por amor. Foi pelo desejo de continuar a me usar como uma escrava da matilha quando eu crescesse. O que ainda acontecia aos meus dezessete anos. Por mais que eu quisesse fugir, não aguentaria outra surra

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