RASSELAS: Príncipe da Abissínia
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RASSELAS - Samuel Johnson
Samuel Johnson
A HISTÓRIA DE RASSELAS,
Príncipe da Abissínia
Título original:
"The Full History of Rasselas,
Prince of Abissinia"
1a edição
img1.jpgIsbn: 9786586079487
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Prefácio
Prezado Leitor
O Dr. Samuel Johnson sem dúvida alcançou a fama, e conquistou um lugar na história, com seu seminal Dicionário da língua inglesa. Quatro anos depois publicou seu primeiro e único romance, Rasselas, que narra a história do herói de mesmo nome, o príncipe da Abissínia. Rasselas vive no vale tranquilo onde ele e outros filhos e filhas reais são protegidos das incertezas da vida humana, com todos os seus desejos satisfeitos, até sucederem no trono. Mas, aos 26 anos, Rasselas se sente infeliz e impaciente com sua vida perfeita. Guiado por um sábio, Imlac, foge do vale em companhia da irmã, Nakayah, e resolve explorar o mundo e descobrir a fonte da verdadeira felicidade.
Uma parábola na tradição literária de Bunyan, as aventuras e longas conversas de Rasselas fornecem um veículo para as reflexões morais de Johnson sobre uma variedade espantosa de temas, como poesia, educação, solidão, razão e paixão, juventude e velhice, pais e filhos, casamento, poder, dor, loucura e desejo.
Embora nesse livro as habilidades do Dr. Johnson como romancista sejam ofuscadas por sua força como moralista, Rasselas continua interessante hoje como testemunho das preocupações predominantes do lluminismo e pelo humor e pela universalidade das reflexões de Johnson sobre esses temas.
A obra Rasselas Príncipe da Abissínia faz parte da famosa coletânea: 1001 livros para ler antes de morrer
LeBooks Editora
O patriotismo é o último refúgio do canalha
Dr. Samuel Johnson
Sumário
APRESENTAÇÃO
Sobre a obra
I - Descrição de um Palácio num Vale
II - O Descontentamento de Rasselas no Vale Feliz
III - As Necessidades de Quem não Necessita de Nada
IV - O Príncipe Continua a Sofrer e Meditar
V - O Príncipe Planeja sua Fuga
VI - Uma Dissertação sobre a Arte de Voar
VII - O Príncipe Encontra um Sábio
VIII - A História de Imlac
IX - Continua a História de Imlac
X - Continua a História de Imlac. Uma Dissertação sobre a Poesia
XI - Continua a Narrativa de Imlac. Uma Referência à Peregrinação
XII - Continua a História de Imlac
XIII - Rasselas Descobre o Meio de Fugir
XIV - Rasselas e Imlac Recebem uma Visita Inesperada
XV - O Príncipe e a Princesa Abandonam o Vale e Veem Muitas Maravilhas
XVI - Chegam ao Cairo e Acham Todo Mundo Feliz
XVII - O Príncipe se Associa a Jovens Vivazes e Alegres
XVIII - O Príncipe Encontra um Homem Sábio e Feliz
XIX - A Vida Bucólica, num Relance
XX - O Perigo da Prosperidade
XXI - A Felicidade da Solidão. A História do Eremita
XXII - A Felicidade de uma Vida em Consonância com a Natureza
XXIII - O Príncipe e a Irmã Dividem entre si a Tarefa de Observar
XXIV - O Príncipe Examina a Felicidade dos Altos Cargos
XXV - A Princesa Procede à sua Investigação com mais Empenho do que Êxito
XXVI - A Princesa Continua a Comentar a Vida Privada
XXVII - Dissertação sobre a Grandeza
XXVIII - Rasselas e Nekayah Continuam a Conversar
XXIX - Continua O debate sobre o Casamento
XXX - Imlac Chega e Muda o Rumo da Conversa
XXXI - A Visita às Pirâmides
XXXII - Dentro da Pirâmide
XXXIII - A Princesa se Depara com uma Desventura Inesperada
XXXIV - Voltam ao Cairo sem Pekuah
XXXV - A Princesa Definha com a Falta de Pekuah
XXXVI - Pekuah Ainda é Lembrada. A Evolução da Dor
XXXVII - A Princesa Tem Notícias de Pekuah
XXXVIII - As Aventuras da Senhora Pekuah
XXXIX - Continuam as Aventuras de Pekuah
XL - A História de um Sábio
XLI - O Astrônomo Revela a Causa de sua Angústia
XLII - Explica-se e se Justifica a Opinião do Astrônomo
XLIII – O Astrônomo transmite a Imalac as suas Ordens
XLIV – O Perigoso Domínio da Imaginação
XLV - Conversam com um Velho’
XLVI - A Princesa e Pekuah Visitam o Astrônomo
XLVII - O Príncipe Chega e Introduz um Novo Assunto
XLVIII - Imlac Discorre sobre a Natureza da Alma
XLIX - Conclusão, em que Nada se Conclui
APRESENTAÇÃO
Sobre o autor
img3.jpgSamuel Johnson (Lichfield, 18 de setembro de 1709 - Londres, 13 de Dezembro de 1784), também conhecido em língua inglesa como Dr Johnson, foi um escritor e pensador inglês que conhecido por suas notáveis contribuições à língua inglesa como poeta, ensaísta, moralista, biógrafo, crítico literário e lexicógrafo. Possivelmente o mais distinto homem de letras da história da Inglaterra
, Johnson é personagem de uma das mais reconhecidas biografias do mundo da literatura": Life of Samuel Johnson de James Boswell.
Filho de um livreiro, Samuel Johson foi obrigado a abandonar os estudos em Oxford por falta de recursos e passou a ganhar a vida como preceptor e tradutor. Juntando algum dinheiro, fundou uma escola particular, mas fracassou no empreendimento.
Em 1737, com seu aluno David Garrik, foi para Londres, onde iniciou intensa atividade de crítico e jornalista. Em pouco tempo conquistou grande reputação, confirmada com a publicação de A vida de Richard Savage, em 1744 e do Dicionário da língua inglesa, em 1755. Ao mesmo tempo, colaborou com a revista The Rambler (1750/52) e depois em The Idler, (1758/60).
A influência literária de Samuel Johnson tornou-se cada vez maior, especialmente depois que criou em 1764 um clube literário com os amigos Edward Gibbon, Joshua Reynolds, Oliver Goldsmith e Edmund Burke. Johnson é o autor de uma famosa frase:
O patriotismo é o último refúgio do canalha
.
Em 1765 apresentou uma edição comentada das obras de Shakespeare e sua perspicácia crítica afirmou-se ainda mais quando demonstrou que as obras atribuídas ao poeta Ossian na verdade não eram de sua autoria. Esta revelação está em seu livro de viagens Jornada às ilhas da Escócia, de 1775.
Johnson publicou também um romance de muito sucesso - A história de Rasselas, príncipe da Abissínia, de 1759 -, que foi escrito em poucos dias. No campo da crítica literária, sua obra-prima foi Vidas dos mais eminentes poetas ingleses (1779/83), em quatro volumes, e que continua a ser um dos textos fundamentais da estética do neoclassicismo inglês.
Sobre a obra
A História de Rasselas, Príncipe da Abissínia é uma novela ou, mais rigorosamente, uma narrativa de fundo moral, do crítico e poeta inglês do século XVIII Samuel Johnson. Escrita em circunstâncias bastante especiais, a obra foi concebida e entregue ao editor em apenas uma semana, com o objetivo de obter recursos para pagar os funerais da mãe do autor.
Apesar da insólita gênese, o livro vem merecendo tanto novas reedições quanto a atenção dos leitores. Para isso contribuem as reflexões moralizantes de Johnson, associadas à curiosidade europeia pela vida e pelo pensamento do oriente. Escrita no chamado século das luzes, A História de Rasselas, Príncipe da Abissínia traz muito do gosto da prosa doutrinária do século anterior. Sendo essencialmente crítico, Johnson faz sua única incursão pela prosa de ficção mesclando um enredo simples com diálogos e discussões destinados à elevação e ao entretenimento do leitor.
A história se resume à inquietação do príncipe Rasselas, que vive num vale isolado e seguro, destinado a servir de morada aos filhos dos reis. Protegidos das lutas e misérias do mundo, os príncipes são confinados a uma vida luxuosa e sem problemas, inscientes das guerras, da fome e demais tragédias que atormentam os homens.
O vale feliz, como era chamado, tinha apenas plantas e animais inofensivos e capazes de tornar a existência mais venturosa naquela região banhada por um lago e protegida por montanhas intransponíveis. Uma espécie de paraíso artificial, as únicas entradas eram uma cachoeira gigantesca, por onde escapavam as águas nascidas no lago (intransponível, portanto,), e uma caverna ao pé da montanha.
Mas como uma vida venturosa e sem incertezas também conduz à infelicidade, Rasselas procura descobrir um meio de fugir do vale feliz e obter a inquieta felicidade de conhecer o mundo. Nós, leitores, compartilhamos com ele o desejo e a expectativa das aventuras que um mundo desconhecido oferece. Mas Johnson confina demasiadamente os seus personagens a aventuras espirituais. Eles são excessivamente castos para se depararem com o turbilhão de acontecimentos do mundo. A exemplo do construtor do vale feliz, o autor também cria um mundo parcial, formado por questionamentos existenciais e reflexões filosóficas cabíveis em conversas amenas.
Quando o Príncipe Rasselas consegue escapar do vale feliz e começa a percorrer o mundo, somos nós, leitores, que nos sentimos prisioneiros de um mundo limitado, urdido pelo autor. Nada de emoções fortes nem de acontecimentos que denunciem a degradação do homem. Assim como os personagens, estamos protegidos pela prosa edificante de Samuel Johnson.
RASSELAS, PRÍNCIPE DA ABISSÍNIA
I - Descrição de um Palácio num Vale
Vós que escutais com credulidade os sussurros da fantasia e perseguis com ansiedade os fantasmas da esperança, que esperais que a velhice cumpra as promessas da juventude e que as deficiências do presente sejam supridas pelo amanhã — prestai atenção à história de Rasselas, príncipe da Abissínia.
Rasselas era o quarto filho do poderoso imperador, em cujos domínios se inicia o curso do Pai das águas, cuja generosidade se derrama em riachos de abundância e espalha por meio mundo as colheitas do Egito.
De acordo com o costume de gerações e gerações dos monarcas daquela região tórrida, Rasselas ficava confinado em um palácio particular, com os outros filhos da realeza abissínia, até que a linha de sucessão o chamasse ao trono.
O lugar, que a sabedoria ou a habilidade dos antigos haviam destinado a ser a residência dos príncipes abissínios, era um vale espaçoso no reino de Amhara, cercado por todos os lados de montanhas cujos cumes sobrepairavam a parte central; A única passagem pela qual se podia entrar era uma caverna sob um rochedo, que há muito se discutia se era obra da natureza ou do engenho humano. A saída da caverna era encoberta por um bosque denso e a entrada para o vale era fechada com portões de ferro, forjados por artífices do tempo antigo, tão pesados que nenhum homem poderia abri-los ou fechá-los sem a ajuda de máquinas.
Das montanhas à volta, desciam regatos que enchiam o vale de viço e fertilidade, formando no meio um lago habitado por peixes de todas as espécies e frequentado por todo tipo de ave que a natureza tinha ensinado a mergulhar as asas. A água que sobrava desse lago escoava por um córrego que entrava por uma fenda escura na montanha do lado norte e cascateava, com barulho assustador, de precipício em precipício, até não mais se ouvir.
As encostas das montanhas eram