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A paixão mortal de Paulo
A paixão mortal de Paulo
A paixão mortal de Paulo
E-book159 páginas1 hora

A paixão mortal de Paulo

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Sobre este e-book

Neste novo livro que confirma o autor como um dos mais hábeis contistas atuais, Rinaldo de Fernandes explora o gênero com talento e criatividade, flertando com as narrativas curtas e os minicontos, criando um mosaico variado de tramas, personagens e situações que revelam muito de nossa condição humana nos tempos de hoje.
IdiomaPortuguês
Editora7Letras
Data de lançamento28 de set. de 2020
ISBN9786586043655
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    A paixão mortal de Paulo - Rinaldo de Fernandes

    Sumário

    Diário de Suzi, 11 anos

    Os filhos de Rosa

    Impostação de cansaço

    Tem nada, puta!

    Carne cansada

    Margarida

    Uma história de amor

    Um rio para coçar

    Borboletas sem osso

    Bolsa de família

    Divagação sobre um rato

    Útero

    Onde um cão com plumas?

    Dia de mar

    O que faz sombra neste lugar?

    Quem imuniza o meu filho?

    Eu tenho vergonha de minha mãe

    Capim para deleite

    Buço

    Chuva

    Gaivota é bicho sem passeio

    O último olhar à morada

    Estrume

    Os olhos de minha boneca

    Sete cavalos

    Carneiros dormindo

    A poesia é uma burla?

    Aula de gordura

    Os açúcares de Ana

    A morte do circo Fon-Fon

    Eu dou pancada em porco

    Eu imito voo de pássaro com os dedos

    Sala de espera

    Porcaria

    O divorciado

    Elefante empoeirado

    A janela

    Missa distante

    Peça sobre peça

    Colina de encantar, chuva de beber

    Feijão com buzina

    Joelhos apodrecidos

    Dedos

    Rios que de súbito enchem

    Encontro com o pai

    Modos de oração

    O morto

    Luana e Rosa

    A menina

    A mão de Lucinha

    O diabo nu

    Mulher no acostamento

    O prego

    Escova

    Chão

    O cacto

    Orelha perfumada

    Lado morto

    O ressentimento

    Pelejas de vaga-lumes

    Açúcar de coco

    Cambota

    Dois besouros

    Bem-te-vi emborcado

    Crime na casa de praia

    Pescoço de frango

    O filho dos outros

    Talvez morrer antes

    Mãe à beira da estrada

    Encontro com a mãe

    Carta

    O jabuti

    O areal das garças

    Montanha com endereço

    O último café

    Cheiros do filho

    A porta

    Sorriso

    A morte da música

    O saxofone

    Os feios

    Beatriz e suas pernas

    Experiência com urso

    A maçã golpeada

    Homem no parque

    Masturbação

    Marido caçador

    Rio de luto

    O cavalo morto

    A mulher

    Os três filhos

    João do circo

    Acordar de mãos

    A notícia

    A mulher que sequestrou Chico Buarque

    Nada que eu faço te torna feliz

    O encontro

    Um jantar para a amante

    Uma hóstia para o meu marido

    Degustação de cortinas

    Feijão perfumado

    Chulé

    O cachorrinho

    A paixão mortal de Paulo

    A suicida

    O mistério da casa azul

    Manifesto de rancor

    Adornos

    Farelos de mamão

    Vento vagabundo

    Sr. Avelino

    Texto de orelha

    Sobre o autor

    jabuti de bermuda

    para Júlio de Fernandes

    Meu filho já não brinca com seus antigos brinquedos. Esqueceu um jabuti de bermuda na prateleira. Fez, para os seus carrinhos, um grande estacionamento escondido sob a cômoda. Embolou um super-herói de pano dentro da gaveta. Uma máscara que pôs no carnaval, jogada no quintal, vem sendo pisoteada pela chuva. Meu filho cresce, a criancinha que foi vai ficando para trás. Tenho saudade de vê-lo deitado no piso da sala, rodeado de brinquedos, o rostinho junto da cerâmica. Não sei o que escutava pondo o ouvido no piso. Mas era como se ouvisse as batidas, entre abrandadas

    e contundentes, do coração deste pai.

    dois dedos de sol

    para Laura de Fernandes

    Se, rosto com rosto, vejo o colchão da perspectiva de Laura, os ramos da colcha evoluem para todo o quarto.

    Se cheiro a chuva estampada na colcha, é como se uma cascata de repente paralisasse, cansasse nas bochechas

    de minha filha. Se abro a janela para dois dedos de sol, eles já douram nos brinquinhos dela.

    a ascensão da cor

    para Allyne Andrade

    Folhas secas que, com o vento, disparam raspando o chão carregam uma ideia de borboleta. Se o vento se intensifica – aí não é a ideia, já é a cor do voo acima da copa do flamboyant. E se a cor ascende para interpor-se

    às montanhas – aí já é o traje do arco-íris.

    [R. de F.]

    meu decálogo do verdadeiro contista

    1. Seja impiedoso. Se isso não bastar, cresça para a crueldade.

    2. Dê capins ao bizarro.

    3. Nunca conte a história por inteiro:

    não bata palmas para o leitor.

    4. Pegue à unha a palavra para a sua frase.

    5. Não insista verso na prosa. O poema tem outra porta.

    6. Não seja um moralista, mas uma testemunha.

    7. Jamais se dê por satisfeito. Uma vírgula

    pode salvar um personagem.

    8. Você nasceu com seis pescoços: Poe, Maupassant, Tchekhov, Machado, Mansfield e Cortázar.

    9. Jamais dê ouvidos ao insulto: Isso dá um conto!.

    10. Seja impiedoso. Se isso não bastar,

    cresça para a crueldade.

    [R. de F.]

    Diário de Suzi, 11 anos

    7h30

    Hoje eu acordei longe de minha mãe. Foi a primeira vez que eu acordei longe dela. Tem roupa aqui no meu quarto que está embolada, tem uma casca de limão seca que não sei quem trouxe. Não sei o que vou fazer com meus livros tão desarranjados, minha farda por passar. A farda nem tanto, eu posso passar, mas meus livros só minha mãe sabe pôr em ordem. Eu gosto quando ela coloca eles emparelhadinhos, um em cima do outro, na ordem que vou estudar na semana. Vem logo, mãe. Vem, eu sei que você tá na lanchonete. Foi plantão?

    11h30

    Mãe, cadê você? Um passarinho baixou em cima da janela, mãe, tão lindinho! Sabe aquele passarinho que você me mostrou no ponto do ônibus, o que estava em cima do cavalo amarrado? O cavalo do carroceiro? Era daqueles. Ah, mãe, mas eu fiquei com tanta pena daquele cavalo! Ainda bem que o passarinho veio pousar nas costas dele. Ou será que o passarinho tava era bicando a ferida nas costelas do coitado?

    14h00

    Almocei refrigerante com biscoito. Fui em seu quarto e senti sua presença, sabia? Era você, eu tenho certeza, mãe! Você se escondeu de mim, se trocou e foi trabalhar de novo. Fez essa zorra de se esconder pra me bater um susto? Olhe, mãe, não se faz isso com uma filha! Lembra o que a vó disse: filha é árvore em que vento não chove. Mãe, e vento chove? Quem chove não é a água?

    18h00

    Mãããeeee... onde você está? Sabe a casca do limão seca no meu quarto? Eu varri. Também limpei o pó da mesinha, tirei a roupa e pus na máquina. Quando você voltar você me engoma. Vixe! Você me engoma é você engomar minha roupa, entendeu? Se você me engomar você me queima. Que hora você volta da lanchonete? Traz pra mim um pastel daqueles vermelhos? Eu estou sozinha aqui, mãe, mas aquele passarinho da janela teve uma hora que meteu ali o bico dele, como se quisesse me falar. Ou então vir bicar os meus dedos. Ele é ruim, sabia?!

    22h00

    Minha mãe, onde você... É a segunda noite que durmo sem você. Tenho medo do escuro, você sabe disso. Tanto tempo aí nessa lanchonete?! E eu queria comer o pastel vermelho. Você vai me trazer o pastel vermelho? Muita movimentação aqui no bairro. É ronco de uns motorzão, correria. Ouvi umas pessoa carregando um menino gemendo, o menino dava tanto grito de dor, mãe... O passarinho vai bicar a dor desse menino, será? Sabia que me passou essa pergunta pela cabeça?

    23h00

    Mããããeeeeeee!

    Os filhos de Rosa

    para Maria Fernanda Tavares

    1.

    Não sei se alguém já passou por isso. E eu não desejo que passe. Trabalho desde os 13 anos na casa do seu Ravi. Ele é muito atento comigo, me paga o que acordamos. Dona Úrsula, a mulher dele, anda assim apetrechada, mas é também uma pessoa do acordo. Quando cheguei aqui ela embirrava comigo, não queria que eu botasse short, tinha uns pedreiros construindo o quartinho dos fundos, elevando o muro. Eu tenho o Jonas, de 14 anos, e o Jesus, de 18. Jonas usa o cabelo curtinho. O pai dele foi embora aí pro Goiás, não sei bem. Quando foi a festa de aniversário do Rodolfo, o filho do seu Ravi e da dona Úrsula, quando foi a festa de 15 anos dele, dona Úrsula me convidou para trazer o Jonas. O Jonas... Eu não gosto de contar isso, porque me vem saliva... O Jonas... Ele estava reunido com os amiguinhos do Rodolfo,

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