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Bailares Gaúchos de Antanho - Tomo I
Bailares Gaúchos de Antanho - Tomo I
Bailares Gaúchos de Antanho - Tomo I
E-book442 páginas4 horas

Bailares Gaúchos de Antanho - Tomo I

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Sobre este e-book

"BAILARES GAÚCHOS DE ANTANHO" traz um punhado histórico, musical e coreográfico sobre temas bailáveis gaúchos de antigamente. Desejamos buscar principalmente um ganho cultural para o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), não para hoje, mas principalmente para as futuras gerações. Apresentamos esta pesquisa histórica sobre bailes antigos, buscando informações nos registros do extinto Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (I.G.T.F.) sobre os temas Dandão, Lobisomem, Marrequinha da Lagoa, Riachão, Tremedal, Polca Mancada, Tirana Grande, Sapateio, Chico, Rancheira Marcada, Ratoeira, diversos chotes, quadrilhas, valsas, dentre outras danças ensinadas pelo Tio Belizário (Augustinho Manoel Serafim).
Temos também buscado nos últimos anos prestigiar e divulgar a riquíssima obra da saudosa folclorista professora Lilian Argentina, cujo acervo pessoal somado ao que está nos arquivos do IGTF, trará incontáveis ganhos ao Movimento atual, abrindo um leque com inúmeras "novas" danças, até hoje desconhecidas do público tradicionalista.
Todas as informações trarão um ganho importantíssimo para revivenciá-las no seio dos Centros de Tradições Gaúchas, entidades culturais, e demais sociedades recreativas, estudantis, bibliotecas, etc, para que se possa trazer à tona estes conhecimentos hoje "empoeirados" e um tanto quanto "secretos", podendo vivenciá-los novamente de forma espontânea como "novos" temas bailáveis, que outrora estiveram vigentes em nosso Rio Grande.
A folclorista Lilian Argentina é a mentora mor das principais pesquisas folclóricas do IGTF, tendo ido a campo, revisado e catalogado quase todas as pesquisas que encontramos no MARS, juntamente com as outras bravas pesquisadoras Martly Schol, Rose Marie Reis Garcia e Sônia Campos.
Isso merece todo nosso aplauso pois comprova que em pleno século passado, época de todo um preconceito, e até sentimento de machismo, notamos e comprovamos que também foram as mulheres peças fundamentais de todo um processo cultural enriquecedor, mas, infelizmente, o nome delas ficou de lado, por motivos ainda duvidosos, tendo toda a "fama" cultural em nosso Estado ficado apenas em nome dos homens pesquisadores de danças.
Essa será uma oportunidade ímpar de, postumamente, prestarmos nossos agradecimentos a esta pioneira pesquisadora e folclorista gaúcha, Lilian Argentina, que também merece ser estudada pelas gerações futuras. Nosso objetivo maior como pesquisadores na área tradicionalista é que estes temas bailáveis voltem a ser divulgados pelos grupos de danças. Mas não só isso. Fundamentalmente, que retorne ao povo o que é do povo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de out. de 2020
ISBN9786588067734
Bailares Gaúchos de Antanho - Tomo I

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    Bailares Gaúchos de Antanho - Tomo I - José Moacir Gomes dos Santos

    Paz.

    A Importância da Dança

    "Em cada passo

    Percorremos diversos caminhos

    Em cada giro

    Viajamos o mundo

    Em cada olhar

    Transmitimos desejos,

    Em cada toque

    Multiplicamos sensações,

    Em cada queda

    Transcendemos a emoção

    Em cada dança

    Sonhamos; com os pés no chão

    A dança acompanha o homem desde sua aparição e em organização social. Foram diversas as formas pelas quais esta atividade se manifestava: ele dançava como meio de comunicação, acasalamento, interação de grupos, relações sociais, etc. A dança é a arte mais antiga que se conhece, dela surgiram às chamadas representações teatrais, as formas de entretenimento coletivo e não se tem notícia de um povo, por mais primitivo que seja que não saiba dançar.

    Com o surgimento do ser humano, surgiu a dança, que o acompanhou como forma de comunicação, de adoração aos Deuses, de bravura, de vitórias em guerras, e de despedida aos mortos. O homem nasce dançando, porque faz parte de sua natureza.

    Ao longo da história, a dança teve seus significados e sentidos transformados, e aperfeiçoados, até que, com a aristocracia do século XV, a dança passou a ser executada nos grandes salões dos palácios, quando surge a Dança de Salão.

    A dança é definida como linguagem do indivisível, expressão de movimentos através da sua organização em experiências que transcendem a palavra e a mímica.

    Dançar era considerado uma recreação sadia para a mente e um exercício para o corpo, e a música, assim como hoje em dia, era complemento essencial, que dava forma aos diferentes tipos de dança.

    Independente da forma como se manifeste, a música/dança revela sociedades e comportamentos humanos, e trata-se de expressão cultural em contínuo processo de mutação, tanto quanto a sociedade na qual ela está inserida.

    As danças diferiam conforme as classes sociais, enquanto as danças entre as classes mais pobres eram mais locais e tradicionais, as danças para as classes altas buscavam sempre novos estilos vindos de fora. Muitos artesãos viajavam para o exterior e retornavam à corte com danças vindas de vários lugares da Europa.

    Tais influências estrangeiras existiam tanto na dança, quanto na música da corte. Quando uma dança nova era introduzida à corte, ela teria de ser aprendida primeiramente por mestres, para assim ser adequadamente empregada para os demais.

    O estudo histórico da dança, se tomada como um fenômeno isolado, como uma prática e uma técnica voltada apenas à sua reprodução ou como forma artística e estética em si mesma, tende a constituir-se como simples descrição de um estilo de dança do passado – sob o risco frequente de se pautar em concepções contemporâneas e, por isso, anacrônicas.

    Faz-se necessário compreender os sentidos da dança em sua época, os significados que tornam possível seu desenvolvimento de uma maneira e não de outra, os valores que a conectam a uma sociedade e a uma cultura específicas e as relações estabelecidas em tal prática e os atores sociais participantes.

    No caso das danças de corte, acreditamos ser imprescindível retirá-la do isolamento de sua autonomia estética e inseri-la no complexo universo simbólico e político da etiqueta e do cerimonial que confere sentido à realidade social do milênio passado, não só no período oitocentista, mas também nos séculos que o antecederam. É importante compreender os sentidos da dança no contexto da sociedade, como exercício de distinção do status, bem como oportunidade de autopromoção.

    Os gestos eram importantes códigos da linguagem corporal que permitiam a identificação moral, social e psicológica da pessoa. "Não há intimidade que não revelem". A dança talvez seja a técnica corporal que melhor exprime essa exteriorização absoluta dos movimentos.

    Essa arte social por excelência visa fazer-se esquecer da existência de um corpo próprio para impor uma autoapresentação que satisfaça às normas do grupo.

    A efetiva integração é condição imprescindível para que os parceiros consigam dançar juntos. Isso torna o ato de dançar um verdadeiro exercício de diplomacia e tolerância.

    De acordo com o momento histórico e com o contexto sociocultural, a dança foi moldando-se e adaptando-se com o intuito de satisfazer as necessidades do homem e acabou por dar origem às danças que conhecemos e praticamos nos dias de hoje. Percebe-se que, assim como outras linguagens artísticas, a dança não seja estanque, mas esteja sempre em transformação.

    A identidade das pessoas é refletida e definida na sociedade através dos seus movimentos corporais em virtude da forte ligação entre corpo e identidade. A partir de sua prática cotidiana diz-se poder sentir o quanto a maneira como nos movemos interfere em nossa relação, tanto com os espaços que habitamos, quanto com as pessoas com as quais dividimos estes espaços. Além disso, os benefícios que podem ser gerados à saúde e ao bem-estar emocional são demonstrados nos estudos.

    No Brasil a dança de salão foi trazida inicialmente pelos portugueses no século XVI e, posteriormente, por imigrantes de outras nacionalidades europeias. Nos séculos XVII e XVIII, sob influência da Espanha chegava ao Brasil o Fandango e as danças sapateadas. Em seguida o Minueto, oriundo de Paris.

    As primeiras danças a chegarem em terras brasileiras eram de salão, mas não de pares enlaçados; era sem enlace entre o casal, graciosa e equilibrada nos movimentos. A mistura cultural entre europeus, negros africanos e indígenas, propiciou a formação da nossa cultura, especialmente para a dança e a música brasileira, transformando-se de danças estrangeiras (contradanças, quadrilhas, polca e valsa) a brasileiras (maxixe, lambada, samba de gafieira).

    A dança é feita a partir de movimentos do corpo, sejam eles movimentos coreográficos, previamente pensados, estudados ou improvisados. A dança é uma manifestação corpórea que traduz as necessidades de cada um que dança.

    É uma comunicação não verbal do pensamento interno, por meio do corpo, uma manifestação do pensamento em movimento. E, ainda, é uma linguagem corporal que, por meio de movimentos, gestos e intenções vem comunicar uma ideia, sensação ou afeto, partindo-se de uma situação subjetiva.

    Portanto, a dança é uma arte criativa e cênica, que tem como objetivo o movimento e, como ferramenta, o corpo.

    Ela é imanente do corpo, impossível separar a dança do corpo que dança.

    Quem dança se desprende do chão, conforme a tonalidade sonora, se eleva. A dança é a linguagem da troca sonora com os movimentos dos pés. Quando o bailarino se liberta do mecânico, começa a dançar. E quando exercita a sensibilidade do prazer, chega à alma o sentimento da dança.

    (J.C. Paixão Côrtes)

    Dança é Vida, é Alma, é Sentimento.

    Ler é Enriquecedor

    Ler é distinguir e saber reunir as letras, percorrer com os olhos o que está escrito ou impresso, em voz alta ou baixa, tomar ou dar conhecimento de um conteúdo, ou seja, fundamentalmente, é um testemunho oral da palavra escrita e compreender o que está escondido.

    Leia mais: busque fontes bibliográficas de diferentes vertentes ideológicas; geralmente desbravar o desconhecido traz descobertas mais verdadeiras do que a simples manutenção do pensamento simplista e redundante.

    Não faz mal pra cultura individual ler assuntos variados, autores divergentes do seu pensamento de base. Além de te trazer conhecimentos faz você entender que pensar diferente de você é enriquecedor. Você adentrar o terreno inimigo ou desconhecido muitas vezes é a única forma de você crescer como estrategista e intelectual. Ler e conhecer só nos qualifica.

    Se basear apenas em uma única fonte ou pensamento pré-determinado apenas faz você disseminar o óbvio, regurgitar ou papagaiar verdades não completas, ou parcialmente verídicas. Sempre leia, releia e leia novamente um tema buscando pontos que venham a convergir no crescimento do grupo que você está inserido e não apenas pessoal.

    Pessoas vêm e vão. Conhecimentos propagados ressoam ao infinito. Não seja apenas disseminador do que te disseram ou pior ainda do que te disseram de alguém que disse de outro. Como um telefone sem fio.

    Beba direto da fonte, das fontes originais sempre, de diversas épocas e autores. Isso gera crescimento pessoal e é enriquecedor para quem convive com você. Ninguém pode tirar de você aquilo que você absorveu. E você não vai transmitir mais do que você absorveu. Em outras palavras: ninguém ensina mais do que sabe.

    Parafraseando nosso saudoso mestre Paixão Côrtes que dizia: tem muita gente falando demais, documentando pouco, analisando menos e concluindo definitivamente à moda e como lhe convém, E dizendo por aí: "o fulano disse que é assim".

    Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição

    "Sou Tropeiro sou Rio Grande

    e por onde quer que eu ande,

    levo esta marca comigo"

    (Carla Zambiasi)

    O Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição foi fundado no dia de São Pedro, padroeiro do Rio Grande do Sul, a 29 de junho de 1953, em Porto Alegre, pelo folclorista João Carlos D’Ávila Paixão Cortes.

    E sobre o seu surgimento: era 29 de junho de 1953. Local: Avenida Borges de Medeiros - 541 em Porto Alegre, na cobertura do prédio da Farsul. Começava mais uma reunião da patronagem do 35 CTG, pois ali, funcionava a sua sede, local cedido pela Farsul. Na pauta, vários assuntos e entre eles um que causaria muita discussão entre todos os presentes, pois se referia às danças gaúchas. Após resolverem a pauta do dia, chega a vez do assunto mais polêmico da noite.

    Naqueles tempos, Paixão Côrtes e Barbosa Lessa, estavam no auge de suas pesquisas e como se sabe, era com o 35 CTG que Paixão e Lessa divulgavam suas descobertas. Porém não existia um grupo específico de dançarinos, como temos hoje, as invernadas artísticas. Na época, havia um grupo de pessoas, sócias do 35 CTG que participavam das montagens dos temas pesquisados. Quando solicitavam ao 35 CTG para apresentarem tais danças, todos participavam.

    Paixão Côrtes, preocupado com a qualidade das apresentações, levou nessa noite uma proposta à patronagem, para criarem um grupo específico para tais apresentações (invernada artística). Proposta esta que não agradou nem um pouco a maioria dos presentes. Após muita discussão, Paixão Côrtes e um pequeno grupo de dançarinos se retiraram da reunião. Saíram muito chateados e se dirigiram até a Rua Riachuelo, na Churrascaria "La Churrasquita."

    O assunto continuou o mesmo, as danças gaúchas. Foi quando surgiu a ideia de formarem um grupo de danças para levar aqueles temas coreográficos que Paixão e Lessa estavam descobrindo, para os palcos de Teatros.

    Em função de suas pesquisas, Paixão Côrtes era chamado de "Tropeiro da Tradição." Então, nascia ali, naquele momento, 29 de junho de 1953, dia de São Pedro, Padroeiro do Rio Grande do Sul, o Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição.

    Dentro do atual Movimento Tradicionalista Gaúcho, se constitui no primeiro grupo artístico independente que, de forma pioneira, desenvolveu uma atividade de espetáculos, na década de 1950. Abria-se, assim, um novo e pioneiro horizonte no trato da arte musicoreográfica de projeção nativista rio-grandense, enfocando a ótica profissional folclórica.

    Composto por jovens preocupados em preservar cultural e artisticamente as tradições rio-grandenses, lançou à época, ineditamente, inúmeros temas coreográficos que, hoje em dia, são apresentados pelos CTGs.

    Desse primeiro período, vale citar a reconstituição de danças inéditas como Faca Maruja, Fandango, Dança dos Facões, Tirana do Ombro, Sarrabalho e outros bailes sapateados.

    No transcorrer desses 67 anos, os Tropeiros da Tradição deram sempre especial atenção às fontes originais das pesquisas, não só referentes às características musicais ou coreográficas dos temas, como também à reconstituição do vestuário, com a maior fidelidade possível.

    Despido da preocupação específica de concorrer em festivais, rodeios e concursos para obtenção de troféus e premiações, tem sua atenção voltada à importância e o prazer de dançar e cantar realmente nossos temas, de forma espontânea e mais fiel possível, preservando assim a autóctone tradição gaúcha.

    Para tanto, busca fontes informativas criteriosas e documentação de época, consulta estudos de diversos autores e se vale de importantes elementos culturais vigentes no cenário literário rio-grandense, para atender seu pensamento:

    O ensino dos temas coreográficos não se exaurem no palco e na premiação, mas se trata de um aprendizado contínuo, que inclui muito mais do que o mero exercício físico de dançar em si, mas que reflete a cultura e a alma de um povo.

    Espetáculo Festa no Galpão do C.F. Tropeiros da Tradição (1953), sob a direção do folclorista J.C. Paixão Côrtes (Acervo Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição).

    Programa do espetáculo Festa no Galpão(1953) (Acervo Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição).

    Reprise do espetáculo "Festa no Galpão (1997) (Acervo Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição).

    Os Tropeiros da Tradição e as Reconstituições

    Depois de publicado o livro Danças Gauchescas e a Carta de Vacaria, falei para o senhor Paixão que era o momento de lançar outro livro com as danças inéditas. Num final de semana, no início de 1994, fomos até Cidreira com a proposta de montarmos as danças que estavam guardadas e esquecidas – só citadas em livros. Inicialmente o senhor Paixão recusou.

    Passamos o dia conversando sobre o assunto, mas entre nossa insistência e a recusa, no final do dia venceu a insistência pois o senhor Paixão já estava todo empolgado. Na segunda feira seguinte começou a escrever.

    Ele escrevia, nos passava os rascunhos e o meu filho Rodrigo Gomes dos Santos digitava. Nós fazíamos as correções e levávamos uma cópia para o senhor Paixão conferir, e novamente imprimíamos uma nova cópia. Assim fizemos dança por dança.

    Quando tínhamos algumas que achávamos que estavam prontas, reuníamos o grupo de danças dos Tropeiros da Tradição, dava uma cópia para cada par montar a dança. Quando surgia alguma parte que eles não entendiam, nós anotávamos e levávamos para o senhor Paixão esclarecer melhor.

    Depois, montamos todas as danças com os Tropeiros da Tradição e levamos o senhor Paixão a um ensaio para mostrar-lhe as danças reconstituídas. Assim foi feito o livro "Danças Tradicionais Rio-grandenses - Achegas".

    Em dezembro de 1994, foi feito o lançamento do livro em Passo Fundo-RS, juntamente com o primeiro curso prático.

    Depois, com os Tropeiros da Tradição, íamos para os rodeios fazendo uma dança nova de entrada e outra de saída e, dessa forma, fomos divulgando as danças recém-reconstituídas.

    Na área educacional, os Tropeiros da Tradição promoveram cursos extensivos a todos os Centros de Tradições sobre: Danças Gaúchas: Atualização musicoreográfica; Danças Inéditas Tradicionais Rio-Grandenses e Vestuário Gaúcho.

    O grupo também dispõe de uma biblioteca especializada sobre temas musicoreográficos e sobre indumentária, que são fundamentais ao estudo de suas apresentações.

    Os Tropeiros também tiveram sua participação e contribuição no vestuário. Tomou este grupo a iniciativa de em 1996 realizar em Canoas-RS, o primeiro curso sobre Vestuário Gaúcho masculino e feminino. Em 1997 o mesmo incorporava o Departamento de Extensão da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA, onde promoveu novamente o curso sobre o tema.

    Paixão Côrtes, em mensagem de divulgação do Espetáculo Danças e Andanças de 1999, comemorando 46 anos do Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição, relatou que viveu um momento sublime de subir ao palco, para junto dos companheiros tradicionalistas, depois de quase meio século, realizar as ideias que motivaram a fundação deste grupo, que se constitui no mais antigo elenco musicoreográfico da arte nativa folclórica do Rio Grande do Sul. Foi a oportunidade de consolidar a identidade cultural do Rio Grande através da dança gaúcha de projeção folclórica. Na ocasião, saudou a tropeirada amiga:

    Reverencio a todos que te integraram ao longo dos tempos e que, de uma maneira ou de outra, deram o melhor de si, de sua alma, de sua arte, de sua vida, para consolidar a identidade da terra rio-grandense através da nossa dança gaúcha.

    Acrescentou Paixão Côrtes (1999) que isso se deve em razão da fundamentação dos propósitos iniciais de buscar persistentemente, nas fontes criteriosas de pesquisa, documentação séria para preservar, cultural e artisticamente, as nossas raízes campechanas, fosse na música, canto, dança e vestuário, fugindo, outrossim, de modismos, uniformizações, robotizações que despersonificam e desfiguram o vivenciar espontâneo dos hábitos e costumes da gente farroupilha.

    Complementou ainda na mesma ocasião, que é de indiscutível mérito que três gerações de tropeiros, com muita dedicação e carinho, deram conscientemente continuidade a estas realizações na área folk-tradicionalista, em espetáculos, em festivais, clubes, convenções, teatros e logradouros públicos, não só no nosso estado, como pelo Brasil e exterior, numa renovada, ampla e continuada valorização das manifestações populares rio-grandenses.

    O Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição, que, nos últimos 29 anos, reconstituíram e lançaram para o movimento Tradicionalista Gaúcho vários temas musicoreográficos, principalmente no palco sagrado da Vacaria, dentre outros tantos lugares acolhedores e hospitaleiros por onde lançamos empreitada, cita-se vários desses temas, dentre eles: Graxaim, São Gonçalo do Amarante, Chico do Porrete, Dança dos Facões, Valsa da Mão Trocada, Valsa das Cadenas, Tirana do ombro, Faca Maruja, Jardineira, Careca Caiu N’Água, Chote Carreirinho do José Fragoso, Chegadinho, Siscadinho, Chote Solado, Os Lanceiros, Feliz Amor, Sapateio, O Chico, Tirana Grande, Marrequinha da Lagoa, Chote de Roda Grande, Polca Mancada e tantos outros, e com isso, os Tropeiros da Tradição cumprem a missão de devolver para o povo temas coreográficos que eram, outrora, de sua propriedade.

    Em 2016, juntamente com o amigo tradicionalista Rinaldo Souto, vivenciamos um capítulo especial da nossa história, com o lançamento do livro "Passos & Compassos das Danças Gaúchas".

    Em 2017, a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa homologou os agraciados com o Prêmio Vitor Mateus Teixeira de 2017, nas suas 19 categorias, sendo o Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição homenageado com o título de melhor Grupo de Dança Gaúcha.

    A Comissão avaliadora da premiação é formada por dois representantes do Sindicato dos Músicos profissionais do Rio Grande do Sul (Sicom/RS), um representante do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), um representante da Fundação Vitor Mateus Teixeira e um representante do Departamento de Cultura da Assembleia Legislativa do RS.

    O Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria é considerado a maior festa tradicionalista do sul do país. E nós do Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição estivemos presentes em diversas oportunidades, fazendo o que há 67 anos nos foi confiado: preservar, reconstituir e divulgar temas musicoreográficos ainda desconhecidos.

    Na última edição não foi diferente, estivemos presentes avaliando o concurso de danças e no domingo dia 09/02/2020, no palco principal, novamente deixamos nosso legado, onde apresentamos ao público seis novos temas: Sapateio, Tirana Grande, Marrequinha da Lagoa, O Chico (Chico Sapateado), Polca Mancada e Chote de Roda Grande.

    Corpo de baile e agrupamento musical do Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição por ocasião do 32º Rodeio Internacional da Vacaria (2018).

    Corpo de baile e agrupamento musical do Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição por ocasião do 33º Rodeio Internacional da Vacaria (2020).

    Rodrigo Gomes dos Santos e Adriana Secconelo, participação do C.F. Tropeiros da Tradição, na Ilha Terceira – Açores – Portugal, durante o Festival Internacional da Terceira (1996). Acervo C.F. Tropeiros da Tradição.

    Nos seus 67 anos de existência, os Tropeiros da Tradição ampliaram o repertório de suas danças, estando hoje com uma gama invejável de bailes de projeção folclórica, afora um histórico de um rico repertório musi-vocal gauchesco e internacional.

    Suas atuações na Argentina, Uruguai, Paraguai e Portugal resultam num intercâmbio salutar que enriqueceu ainda mais suas apresentações com temas nativos desses países, com a devida caracterização.

    Realizou em parceria com a Prefeitura Municipal de Canoas o Rodeio Internacional de Canoas durante 14 anos, grandioso evento para divulgação da nossa arte, num total de 14 edições.

    Por fim, dançar bem é uma expressão de arte.

    "Viva a dança! Dançar não é mero exercício físico. Dançar também é cultura".

    Estilo Campeiro

    FEGART- Festival Gaúcho de Arte e Tradição de 1992 (Acervo José Moacir Gomes dos Santos).

    Em março de 1991, iniciamos nossa luta pela desuniformização e pelo fim do militarismo em nossas danças tradicionais, juntamente com a invernada adulta do CTG Brazão do Rio Grande de Canoas-RS; nesta época, a rigidez com que dançavam era impressionante.

    O nosso apelido veio em seguida, os jécas. Por muito tempo fomos chamados assim. Íamos aos rodeios e éramos ridicularizados, zombados, a gozação corria solta, chegaram os jécas, era o que ouvíamos.

    E nós aguentávamos firme, sabíamos o que estávamos fazendo e aonde queríamos chegar. Nós conversávamos com o senhor Paixão e dizíamos que ele precisava escrever sobre o assunto, para ver se revertíamos toda aquela situação; ele nos respondia: me deixem quieto no meu canto, não quero mais me envolver. E nós seguimos participando dos rodeios e a gozação correndo solta.

    Em 31de maio de 1991, o Senhor Paixão foi fazer uma palestra no CTG Porteira do Rio Grande de Vacaria-RS onde estavam grande parte dos instrutores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

    Durante a palestra, o Senhor Paixão instigou os presentes com alguns questionamentos a respeito do rumo que o movimento havia tomado, danças engessadas, trajes uniformizados, tudo o que estávamos tentando mudar e éramos criticados. Dessa palestra resultou um manifesto chamado A CARTA DE VACARIA.

    Em julho de 1991, realizamos o primeiro curso musicoreográfico na cidade de Canoas. Esse curso reforçou junto à invernada artística o trabalho que estávamos realizando. Em dezembro de 1991 fomos à Santo Antônio da Patrulha-RS no rodeio promovido pelo CTG Cel. Chico Borges e continuávamos a ouvir todo o tipo de deboche.

    No dia seguinte conversamos com o Senhor Paixão, dizendo-lhe que estávamos jogando a toalha no chão, que se ele não escrevesse sobre o assunto, nós iríamos desistir. Passaram-se alguns dias, ele nos telefonou dizendo que tinha uma cópia do manifesto de Vacaria e que ele iria aproveitar e escrever em cima do assunto. Dissemos que se isso acontecesse, nós daríamos um jeito de publicar.

    O senhor Paixão escrevia e nos passava os rascunhos, a saudosa Luci dos Santos e a Maria Eliana iam digitando; nós preocupados, pois havíamos prometido que iríamos publicar e estava difícil arrumar patrocínio.

    Fizemos um boneco do livro e fomos à luta. O companheiro João Albino Aquino conseguiu um patrocínio junto a Xerox do Brasil e fizemos três mil cópias. Tínhamos que fazer a capa e o saudoso parceiro Camilo Ferrari, juntamente com Deoclides Agostinho da Silva (Kid), patrocinaram.

    O Paulo Silveira conseguiu que a gráfica Linck grampeasse os livros sem custos. O proprietário da Gráfica nos ensinou como fazer uma tábua com um sarrafinho em dois lados para dobrarmos as folhas; fizemos duas.

    Reunimos toda a gurizada na nossa residência e fizemos uma linha de montagem: dois dobrando as folhas, pois tínhamos duas tábuas para isso, outros juntando as folhas, outros conferindo, outros colocando a capa, e depois de tudo conferido, levamos para a gráfica grampear e fazer os recortes.

    Assim foi feito DANÇAS GAUCHESCAS E A CARTA DE VACARIA.

    Durante o 19º Rodeio Internacional de Vacaria, em fevereiro de 1992, estávamos lá, de barraca em barraca distribuindo os livros.

    No 20º Rodeio Internacional de Vacaria em fevereiro de 1994, já estava valendo o jeito Jéca de dançar, e assim ficamos conhecidos por mais alguns anos.

    No decorrer do tempo, substituíram o jeito Jéca pelo jeito da Vacaria, depois o estilo da Vacaria e por fim, passaram a chamar de estilo Paixão Côrtes. Hoje está consagrado como ESTILO CAMPEIRO.

    Todo o grupo sabia que o que estávamos fazendo não traria como resultados títulos e premiações, mas eles não estavam preocupados com o ganhar, e em nenhum momento fomos cobrados pela patronagem do CTG Brazão do Rio Grande pelos resultados

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