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Cemitério de elefantes
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Cemitério de elefantes
E-book87 páginas1 hora

Cemitério de elefantes

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Sobre este e-book

Bêbados em bares e parques, miseráveis e infelizes, velhos jornais dobrados nos bolsos, moças muito brancas a um passo da morte ou um passo atrás do prazer, tipos tristes, solitários, amores escondidos, ruas vazias, chuva fina. Gordos ou magros demais, sujos e doentes, angustiados, perdidos ou querendo se perder. Assim são os personagens de Dalton Trevisan, curitibano de 76 anos que é um dos mais importantes escritores brasileiros vivos, um mestre do conto curto, seco, cortante como o vento frio de Curitiba, cenário de seus personagens. É por suas ruas que andam, ou se arrastam, os elefantes do mercado de peixe, Dinorá, a moça do prazer, a gorda Carlota e sua filha Lili, Dorinha fraca do coração.Personagens comuns, em histórias onde não há grandes tragédias nem sujeitos excepcionais, como diz Fausto Cunha na apresentação deste Cemitério dos Elefantes, e que recomenda ao leitor: "Não se preocupe com as histórias. Se elas não terminarem, é porque os personagens regressaram à sua vida normal, ou Dalton não quis acompanhá-los por mais tempo. Todos eles estão vivos, a distância entre as páginas deste livro e a realidade é menor do que entre uma rua e outra."Cenário de suas histórias, Curitiba é também a caverna de ermitão do próprio Dalton, que estreou em 1945 com Serenata ao luar, que ele renega, assim como Sete anos de pastor, publicado no ano seguinte. Entre 1946 e 1948, editou a revista Joaquim, que trazia artigos de intelectuais como Antônio Cândido, Mário de Andrade e Otto Maria Carpeaux, traduções de Joyce, Proust e Sartre. Em 1959 lançou Novelas nada exemplares, ganhador do Prêmio Jabuti (assim como Cemitério dos Elefantes), que o autor não foi receber, dando início ao mito do recluso que não se deixa fotografar, não sai de Curitiba, não atende ao telefone, comunicando-se com o mundo por meio de bilhetes assinados apenas "D. Trevis". Fama que transformou em apelido o título de um de seus livros, O vampiro de Curitiba, e que ele alimenta, como no texto que costumava dar aos jornalistas em busca de entrevista: "O vampiro detesta as pessoas que não conhece. Não se acha figura difícil, esbarra diariamente consigo em todas as esquinas de Curitiba."É autor de 34 livros, foi traduzido para o espanhol, o inglês, o holandês, o polonês, o sueco e o dinamarquês, e teve seu A guerra conjugal adaptado para o cinema por Joaquim Pedro de Andrade em 1975.
IdiomaPortuguês
EditoraRecord
Data de lançamento21 de ago. de 2020
ISBN9786555871135
Cemitério de elefantes

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    Dalton Trevisan, gênio da estória curta... O maior contista brasileiro...

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Cemitério de elefantes - Dalton Trevisan

Obras do autor

234

33 contos escolhidos

A faca no coração

A polaquinha

A trombeta do anjo vingador

Abismo de rosas

Ah, é?

Arara bêbada

Capitu sou eu

Cemitério de elefantes

Chorinho brejeiro

Contos eróticos

Crimes de paixão

Desastres de amor

Desgracida

Dinorá

Em busca de Curitiba perdida

Essas malditas mulheres

Guerra conjugal

Lincha tarado

Macho não ganha flor

Meu querido assassino

Mistérios de Curitiba

Morte na praça

Nem te conto, João

Novelas nada exemplares

Novos contos eróticos

O anão e a ninfeta

O maníaco do olho verde

O pássaro de cinco asas

O rei da terra

O vampiro de Curitiba

Pão e sangue

Pico na veia

Rita Ritinha Ritona

Violetas e Pavões

Virgem louca, loucos beijos

21ª edição

2014

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Trevisan, Dalton

T739c

Cemitério de elefantes [recurso eletrônico] / Dalton Trevisan. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Record, 2020.

recurso digital

Formato: epub

Requisitos do sistema: adobe digital editions

Modo de acesso: world wide web

ISBN 978-65-5587-113-5 (recurso eletrônico)

1. Contos brasileiros. 2. Livros eletrônicos. I. Título.

20-65441

CDD: 869.3

CDU: 82-34(81)

Leandra Felix da Cruz Candido - Bibliotecária - CRB-7/6135

Copyright © 1977 by Dalton Trevisan

Capa: Poty

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Direitos exclusivo desta edição reservados pela

EDITORA RECORD LTDA.

Rua Argentina 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: 2585-2000

Produzido no Brasil

ISBN 978-65-5587-113-5

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Sumário

O Primo

O Caçula

Questão de Família

A Casa de Lili

Angústia do Viúvo

Duas Rainhas

À Margem do Rio

O Espião

Uma Vela para Dario

O Jantar

Ao Nascer do Dia

Dinorá, Moça do Prazer

Os Botequins

A Armadilha

Beto

O Roupão

O Baile

Caso de Desquite

O Coração de Dorinha

Dia de Matar Porco

Bailarina Fantasista

A Visita

Cemitério de Elefantes

O Primo

Primeira noite ele conheceu que Santina não era moça. Casado por amor, Bento se desesperou. Matar a noiva, suicidar-se, e deixar o outro sem castigo? Ela revelou que, havia dois anos, o primo Euzébio lhe fizera mal, por mais que se defendesse. De vergonha, prometeu a Nossa Senhora ficar solteira. O próprio Bento não a deixava mentir, testemunha de sua aflição antes do casamento. Santina pediu perdão, ele respondeu que era tarde — noiva de grinalda sem ter direito.

Se não falasse com ela, iria afogar-se no galho da pitangueira. Lavava a roupa, não deixava faltar botão, remendou a calça listada de brim. Mais que ela se enfeitasse, com banho no rio e fita no cabelo, Bento mastigava a raiva no prato de feijão.

Nervoso, comia pouco. Quase não dormia, olho aceso no escuro. A moça estirava-se a seu lado, nada que o pudesse consolar. Não resistindo ao desejo, dispunha dela como de uma dama, sem a menor delicadeza. Aconteceu três vezes, afinal a deixou em paz.

Esquecer o agravo não podia, ofendido com o primo. Ah, se ela houvesse contado antes... Quem sabe a perdoara. E berrava palavrão, zumbia a foice no ar, golpeava a laranjeira com o machado.

O retrato de Euzébio em grupo familiar: rostinho assustado de criança. Nada mais descobriu — ela fez cruz na boca. Recortou a silhueta do piá entre as pernas dos adultos, pendurou-a no espelho e, ao fazer a barba, que tanto a estudava?

De gênio manso, agora violento e mau. Na rixa de botequim, agrediu o amigo, arrancou nos dentes pedaço da orelha. Divertia-se matando corvo a tiro. Noite de chuva foi ao potreiro, malhou no cavalo até o estropiar.

Não era o mesmo e, que todos soubessem, deixou o bigode crescer. Ventre em fogo, suor frio escorria da testa. Enrolando o cigarro de palha, a pálpebra direita não piscava sozinha? Usou o chapéu de aba derrubada.

Decidiu entregar a mulher ao sogro Narciso. Merdoso, encheu de cachaça o copo de Bento e, sim, podia receber a filha; pena estivesse fora do prazo. Por que não ficava com a menina, não dona de casa, mas criada de servir?

Nojo do velho, Bento cuspiu e esfregou com a bota. Não expulsou a mulher e desgostoso passava os dias; entrando em casa, não a podia encarar. Porque não a olhasse, ela chorava. Insistia na faina, enrolando a massa do pão, o braço enfarinhado até o cotovelo. Ainda mais triste observá-la a furto, as lágrimas escorriam sem que as enxugasse. Intrigado porque não a abandonava, tinha pena dela que, além do mais, estava grávida. Se avisasse o primo que a viesse buscar? Já não sonhava abafar no travesseiro o rosto querido, antes precipitar-se do alto da pitangueira, a corda no pescoço e com berro de ódio.

Ao sair de manhã, depois do café com beiju (comovia-se ao surpreender a enorme barriga de Santina, olho vermelho de soprar as cinzas; a faceirice ingênua que, bem o sabia, já não

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