O fantasma de Canterville e outras histórias
De Oscar Wilde
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Sobre este e-book
Oscar Wilde
Oscar Wilde (1854–1900) was a Dublin-born poet and playwright who studied at the Portora Royal School, before attending Trinity College and Magdalen College, Oxford. The son of two writers, Wilde grew up in an intellectual environment. As a young man, his poetry appeared in various periodicals including Dublin University Magazine. In 1881, he published his first book Poems, an expansive collection of his earlier works. His only novel, The Picture of Dorian Gray, was released in 1890 followed by the acclaimed plays Lady Windermere’s Fan (1893) and The Importance of Being Earnest (1895).
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O fantasma de Canterville e outras histórias - Oscar Wilde
Esta é uma publicação Principis, selo exclusivo da Ciranda Cultural
© 2020 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda.
Traduzido do original em inglês
The Canterville Ghost
Texto
Oscar Wilde
Tradução
Thalita Uba
Preparação, diagramação e revisão Casa de Ideias
Produção, projeto gráfico e edição
Ciranda Cultural
Ebook
Jarbas C. Cerino
Imagens
Rene Martin/Shutterstock.com;
Lilis Nur Hayati/Shutterstock.com;
Klara Viskova/Shutterstock.com;
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
W671f Wilde, Oscar, 1854-1900
O fantasma de Canterville e outras histórias [recurso eletrônico] / Oscar Wilde ; traduzido por Thalita Uba. - Jandira, SP : Principis, 2021.
80 p. ; ePUB ; 1,8 MB. - (Clássicos da literatura mundial)
Inclui índice. ISBN: 978-65-5552-284-6 (Ebook)
1. Literatura inglesa. 2. Contos. I. Uba, Thalita. II. Título. III. Série.
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura inglesa : Contos 823.91
2. Literatura inglesa : Contos 821.111-3
1a edição em 2020
www.cirandacultural.com.br
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O FANTASMA DE CANTERVILLE
Capítulo I
Quando o sr. Hiram B. Otis, ministro norte-americano, comprou a Mansão Canterville, todos lhe disseram que ele estava cometendo uma tolice, visto que o local era, sem sombra de dúvidas, mal-assombrado. Até mesmo o próprio lorde Canterville, que era um homem da mais indubitável honra, sentira a obrigação de mencionar o fato ao sr. Otis, quando eles se reuniram para discutir os termos do contrato.
– Nem mesmo nós nos arriscamos a viver neste lugar – contou lorde Canterville. – Isso desde que minha tia-avó, a duquesa-viúva de Bolton, sofreu um surto, do qual nunca se recuperou plenamente, provocado por duas mãos esqueléticas que tocaram seus ombros quando ela estava se vestindo para jantar e sinto-me na obrigação de lhe contar, sr. Otis, que o fantasma já foi visto por vários membros da minha família, bem como pelo vigário de nossa paróquia, o reverendo Augustus Dampier, que é membro do King’s College, de Cambridge. Depois do infeliz incidente com a Duquesa, nenhum de nossos criados mais jovens quis continuar conosco e lady Canterville frequentemente não conseguia dormir à noite, por causa dos ruídos misteriosos que vinham do corredor e da biblioteca.
– Milorde – respondeu o ministro –, ficarei com os móveis e com o fantasma pelo valor avaliado. Venho de um país moderno, onde temos tudo que o dinheiro pode comprar, com todos os nossos vivazes jovens alvoroçando o Velho Mundo e levando embora suas melhores atrizes e cantoras de ópera, acredito que se houvesse um fantasma na Europa, em pouquíssimo tempo ele estaria sendo exibido em um de nossos museus públicos, ou percorrendo o país como uma atração.
– Receio que o fantasma realmente exista – alertou lorde Canterville, sorrindo –, embora talvez tenha resistido às ofertas de seus empresários empreendedores. É bastante conhecido há três séculos, desde 1584, para falar a verdade, e sempre apareceu para preludiar a morte de algum membro de nossa família.
– Bem, o médico da família também aparece nessas circunstâncias, lorde Canterville. Porém fantasmas não existem, caro senhor, e não acho que as leis da natureza abririam uma exceção para a aristocracia britânica.
– Vocês são, certamente, muito naturais na América – comentou lorde Canterville, sem entender muito bem a última observação do sr. Otis –, e se você não se importa em ter um fantasma na casa, não há problema algum. Apenas lembre-se de que eu o alertei.
***
Algumas semanas depois, a compra foi concluída e, ao final da temporada, o ministro e sua família se mudaram para a Mansão Canterville. A sra. Otis, que, assim como a srta. Lucretia R. Tappan, da rua West 53rd, costumava ser uma celebrada beldade em Nova Iorque, agora era uma mulher de meia-idade muito bonita, com belos olhos e um perfil deslumbrante. Muitas americanas, ao deixarem sua terra natal, costumam assumir uma aparência adoentada, julgando ser uma expressão do refinamento europeu, mas a sra. Otis nunca cometeu esse erro. Para falar a verdade, ela era, em muitos aspectos, bastante inglesa e configurava um exemplo excelente do fato de que temos quase tudo em comum com os americanos hoje em dia, à exceção, é claro, da língua. Seu primogênito, batizado pelos pais, em um rompante de patriotismo, de Washington, algo que ele nunca deixou de lastimar, era um jovem de cabelos claros, bastante bem-apessoado, que se destacara por sua diplomacia americana ao liderar o grupo de cotilhão do Newport Casino durante três temporadas consecutivas e sua fama de excelente dançarino era conhecida até em Londres. Gardênias e a aristocracia eram seu único fraco, fora isso, tratava-se de um rapaz extremamente sensato. A srta. Virginia E. Otis era uma garota de 15 anos de idade, ágil e graciosa como uma corça, cujos grandes olhos azuis refletiam uma admirável franqueza; era uma amazona e tanto também. Certa vez, derrotara lorde Bilton em uma corrida de cavalos ao redor do parque, vencendo por uma margem considerável, bem diante da estátua de Aquiles. Tal feito fascinara o jovem duque de Cheshire, que a pediu em casamento na mesma hora e foi mandado de volta, em meio a muitas lágrimas, para o internato de Eton naquela mesma noite por seus tutores. Na sequência vinham os gêmeos, que costumavam ser chamados de malhadinhos
, visto que viviam sendo açoitados. Eram meninos adoráveis e, à exceção do respeitável ministro, eram os únicos verdadeiros republicanos da família.
Como a Mansão de Canterville ficava a onze quilômetros de Ascot, a estação ferroviária mais próxima, o sr. Otis havia solicitado que um breque fosse buscá-los e eles partiram eufóricos em sua jornada. Era uma bela noite de julho e o ar estava perfumado com o aroma delicado dos pinheiros. Volta e meia, eles ouviam a voz doce de um pombo-torcaz ou avistavam, em meio aos ramos sibilantes, o peito lustroso de um faisão, pequenos esquilos os espiavam dos galhos das árvores à medida que eles prosseguiam e os coelhos escondiam-se em meio aos arbustos e atrás dos outeiros cobertos de musgo, com seus rabinhos brancos eriçados. Quando chegaram à via que levava à Mansão Canterville, contudo, o céu foi subitamente tomado pelas nuvens, uma quietude curiosa pareceu pairar no ar, um bando enorme de gralhas passou silenciosamente por cima de suas cabeças e, antes que eles pudessem chegar à casa, gotas pesadas de chuva começaram a cair.
Uma senhora elegantemente vestida de preto, com touca e avental brancos, estava parada na escada para recebê-los. Era a sra. Umney, a governanta, que o sr. Otis, diante do pedido veemente da sra. Canterville, concordara em manter empregada. Ela fez uma breve reverência quando todos saltaram do veículo e disse, de modo pitoresco e cerimonioso:
– Desejo-lhes as boas-vindas à Mansão Canterville.
Todos a seguiram, passando pelo belo átrio em estilo tudoriano, até chegarem à biblioteca, um salão longo, de teto baixo, ladeado por paredes de carvalho negro, com grandes janelas de vitrais em ambas as pontas. Lá, o chá já estava servido para a família e, depois de tirarem os casacos, sentaram-se e começaram a olhar em volta, enquanto a sra. Umney os servia. Subitamente, a sra. Otis avistou uma mancha vermelha opaca no chão diante da lareira e, sem conferir muito significado àquilo, comentou com a sra. Umney.
– Receio que algo tenha sido derramado ali.
– Sim, senhora – respondeu a velha governanta baixinho. – Sangue foi derramado naquele local.
– Que horror! – exclamou a sra. Otis. – Não gosto nem um pouco de ter manchas de sangue na sala de visitas. Ela deve ser removida imediatamente.
A velha sorriu e