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Assassinato Na Noite de Estreia
Assassinato Na Noite de Estreia
Assassinato Na Noite de Estreia
E-book275 páginas3 horas

Assassinato Na Noite de Estreia

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Sobre este e-book

Um assassinato rouba a cena na noite de estreia, no teatro comunitário da pequena cidade de Bradley.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de jul. de 2022
ISBN9781667438221
Assassinato Na Noite de Estreia

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    Assassinato Na Noite de Estreia - Elizabeth Spann Craig

    CAPÍTULO UM

    — Não fazia ideia de que você era tão fã de teatro, Myrtle. — Miles olhou para os ingressos que Myrtle tinha nas mãos como se fossem uma cobra venenosa.

    — E eu não sou. Mas esses são de cortesia. Não dá para resistir, né? São de graça e eu não vou perder essa chance de jeito nenhum! —Myrtle estava entusiasmada e agitava os ingressos no ar como se tivesse acabado de ganhar na loteria.

    — Como foi que você conseguiu esses ingressos, mesmo? — Miles tinha todo o jeito de quem tinha planejado passar a noite em casa tranquilamente e estava contrariado ao ver seus planos irem por água abaixo.

    — Com a Elaine — disse Myrtle.

    Elaine era casada com o filho de Myrtle, Red.

    — Ela trabalha como voluntária no teatro comunitário e eles não vão poder ver a peça hoje à noite. A babá deu o cano — explicou Myrtle.

    — Achei que você era a babá deles.

    — A outra babá — falou Myrtle, com um tom paciente de quem está lidando com uma criança difícil. —A que não é confiável. Eu me ofereci para ajudar, mas Elaine falou que não se importa de ir dormir mais cedo.

    — Qual o nome da peça? — perguntou Miles. — Não é algo extravagante, é? Faz tempo que não tenho vontade de nada muito fantasioso.

    — Não é Sonho de uma noite de verão, Miles. — Ela deu uma olhada no ingresso. — Chama-se Mal-estar.

    Miles fez uma careta. — Parece de mau agouro.

    — Acho que você é quem deve estar sentindo algum mal-estar. Nunca vi ninguém com tamanha má vontade para sair e se divertir. Não faz mal, vou achar alguém para ir comigo. Seu problema, Miles, é que você se acostumou demais a diversões simplórias. Assistir novelas fez mal para o seu gosto.

    — Mas foi você que me fez ficar viciado em novela! — protestou Miles.

    — Porque A Promessa do Amanhã é um estudo fascinante da vida cotidiana, só por isso. Sei que as personagens nas novelas são caricatas, mas sempre parecem tão verdadeiras... Todos nós somos guiados pelas nossas paixões. — Fez uma pausa, significativamente. — Você é guiado pela sua paixão por organizar a despensa e colocar tudo em ordem alfabética que, provavelmente, é o que você vai fazer hoje à noite em vez de sair. Tudo bem. Vou apresentar um pouco de cultura para a Vanda.

    Talvez tenha sido essa parte sobre organizar a despensa que incomodou Miles. Talvez ele simplesmente não quisesse imaginar a Vanda no teatro da comunidade. Myrtle tinha que admitir que ia ser complicado para a Vanda. Vanda não tinha um carro que funcionasse. Myrtle teria que pegar a vidente na casa dela e a própria Myrtle não tinha carro. Havia, também, o fato de que a Vanda provavelmente não aguentaria assistir à peça inteira sem fumar um cigarro. Vanda fazia Miles se sentir agitado desde que ele descobrira que eram primos. O senso de responsabilidade resultante desse fato estava saindo caro... para Miles. Fossem quais fossem suas razões, ele aceitou de repente o convite de Myrtle, com azedume.

    — Está bem, eu vou. Sair à noite. OK.

    — Estou impressionada com seu entusiasmo — falou Myrtle, arrastando a voz . — Pode ser às sete e meia? Você me pega, então?

    — Se não estiver muito ocupado organizando minha gaveta de meias — resmungou. Soltou um suspiro.

    — Essa conversa me lembrou que precisava conversar com você sobre uma coisa.

    — O quê?

    — Sei que a Puddin te deixa louca — disse ele, referindo-se à empregada de Myrtle.

    — Qual é a novidade?

    — Por acaso você estaria interessada em mandar a Puddin embora e contratar outra pessoa? — perguntou Miles.

    Myrtle olhou para ele. — Bem, claro que sim. Mas você sabe tanto quanto eu que estou condenada a ficar com a Puddin, é como um casamento ruim. Se eu a mando embora, perco o Dusty. E eu não posso ficar sem meu jardineiro porque ele é o único que corta a grama e usa a tesoura de podar em volta dos meus gnomos. A Puddin e ele são como um pacote.

    — Eu sei — falou Miles.  — Reparei que seus gnomos estão com força total no jardim da frente e nos fundos. O que foi que o Red aprontou dessa vez?

    Myrtle achava que Red era um bom filho, exceto pelo fato de que ele tinha o péssimo hábito de se intrometer. E quando ele fazia isso, ela espalhava sua vasta coleção de gnomos no jardim. Ele detestava os gnomos. Pior ainda quando ela punha todos no jardim da frente, onde ele podia enxergá-los da sua casa, que ficava do outro lado da rua.

    — Ele sugeriu que eu não devo dirigir à noite. Ele foi muito preconceituoso com a minha idade. Especialmente porque a minha vista está muito melhor que a vista fraca dele — falou Myrtle, melindrada.

    — Mas essa discussão é completamente teórica. Você nem tem carro — falou Miles.

    — Ainda assim, foi completamente desnecessário. Foi uma ofensa digna de ser punida com gnomos. Talvez até alguma outra punição seja necessária. Talvez tenha que chamar o Red pelo seu verdadeiro nome, em vez do apelido.

    Miles arregalou os olhos.

    — Você quer dizer que ele tem outro nome?

    — É claro que ele tem outro nome! Quem é que põe o nome de Red no filho? No Sul, é costume colocar nomes que sejam tradicionais na família, mesmo que depois a gente tenha que usar um apelido para evitar que as crianças fiquem zombando do filho na escola. É uma tradição — falou Myrtle.

    — Como o Red se chama? O nome de que todo o mundo zombaria, qual é? — perguntou Miles.

    — Horácio. Ele é o nono Horácio da família. Era praticamente obrigatório que ele se chamasse assim  — falou Myrtle. — Se não, eu seria perseguida pelos fantasmas de todos os Horácios passados.

    — Sorte dele ser ruivo, assim ganhou um apelido imediatamente — murmurou Miles.

    — Eu acho que uma pessoa cujo nome foi inspirado em um peregrino não tem direito a falar nada  — respondeu Myrtle, fungando.

    — Myles Bradford não foi um peregrino — respondeu Miles com firmeza.  — Myles Standish foi um peregrino.  William Bradford também. Myles Bradford, peregrino, é uma invenção da sua imaginação hiperativa.

    Myrtle ignorou o comentário.

    — Mas voltando ao início da conversa, em quem você pensou para substituir a Puddin? Se bem que qualquer um é melhor do que ela.

    Miles limpou a garganta.

    — Vanda.

    Vanda!

    — Sim. Ela apareceu em casa ontem. Estava precisando de... ajuda financeira —disse Miles.

    — Apareceu na sua casa? Não me diga que ela foi com um daqueles carros decrépitos — disse Myrtle.

    — Não, os carros estão todos parados, suspensos em blocos de cimento. Acho que ela foi a pé. Levou o dia todo.

    Myrtle pôs a mão na cabeça.

    — Não acredito. De novo. Não é à toa que ela está um palito. Dessa vez ela pediu dinheiro mesmo? Ela não costuma fazer isso.

    — Ela não pediu nem um centavo. Ela pediu ajuda para arrumar um emprego. Vanda falou que estava cansada de ter que lutar incessantemente para sobreviver.

    Myrtle levantou as sobrancelhas. — Ela disse isso?

    — Não com essas palavras. Eu estou traduzindo para ela. Ela falou algo parecido com: não tenho grana e tô cheia.

    — Entendi — Myrtle assentiu. — Mas o que é que ela sabe fazer?

    Ficaram pensando nisso em silêncio por um momento.

    — Bom, de certa forma, ela administra o seu pequeno negócio - disse Miles.

    — Ler a sorte na própria casa não é a mesma coisa que ser contadora, nem nada parecido — contestou Myrtle. — Não acho que a gente consiga fazê-la passar por gerente de escritório de um negócio qualquer, se é nisso que você está pensando.

    — E ser empregada doméstica? Não para você, eu sei. Mas para alguma outra pessoa? Ela deve pelo menos saber fazer limpeza.

    — Acho que sim, se precisasse. Mas acho que ela não leva muito jeito para isso. Ela não é nenhuma especialista em limpeza e organização. É só ver onde ela e o maluco do Dan vivem. Não dá para dizer que é limpo.

    Miles levantou as mãos, concordando.

    — Desisto. O que você acha que ela sabe fazer?

    — Eu pensaria nos seus dons e nos seus interesses — respondeu Myrtle. — Em outras palavras, nos seus dons de vidente.

    — Acho que não serviriam para nada no mundo dos negócios — falou Miles. — A menos que ela trabalhe na bolsa de valores.

    Myrtle estalou os dedos.

    — Já sei. Claro! O horóscopo no jornal. Sloan, meu editor, está reclamando há um tempão porque a gente não podemos manter alguém para escrever o horóscopo. A Vanda vai ser perfeita!

    — Tirando o fato que a Vanda é analfabeta, claro — falou Miles.

    — Eu posso dar um jeito— disse Myrtle.

    — Você vai ensinar a Vanda a ler e escrever? — duvidou Miles. — Eu sei que você é professora aposentada, mas a Vanda seria um desafio e tanto. Até para você.

    — Não, eu posso revisar o que ela escrever.  Ela pode enviar os horóscopos do jornal com antecedência e eu posso corrigir. Vai dar certo. E com certeza é o que mais se encaixa com ela — comentou Myrtle.

    — Mas você não tem que pedir aprovação do Sloan primeiro?

    — Ele vai ficar aliviado por ter uma solução. Mas, claro, vou ter que levá-la até o escritório da Gazeta de Bradley um dia. Tenho certeza de que Sloan vai concordar — falou Myrtle.

    — Fico feliz com isso. Vou até a casa da Vanda de tarde para avisá-la. Mas agora, estou morrendo de fome. Tudo bem se eu fizer almoço para nós, já que estou aqui?

    Myrtle concordou, pensativa, e se sentou com cuidado em uma poltrona. — Claro. Mas você vai precisar ter criatividade.

    Myrtle tinha a impressão de que a despensa estava vazia. Miles deu voltas na cozinha por alguns minutos. Abriu e fechou a despensa. Abriu e fechou a geladeira.

    — Tem um pouco de pasta de amendoim — anunciou. — Mas não tem geleia.

    — Você sabe que é possível comer um sem o outro — observou Myrtle. No entanto, seria uma refeição bem sem graça.

    Mais barulho de portas e louças.

    — Não tem presunto — ele continuou.

    Myrtle deu um suspiro.

    — Mas tem um pouco de peru — falou Miles, animado.

    — Pelo amor de Deus, vamos comer o peru, então.

    Miles olhou solenemente para ela da porta da cozinha.

    — Eu comeria. Porque estou com fome. Simples assim. Mas não tem maionese na geladeira. E não tem pão.

    — Miles, você deveria ser ator. Nunca vi tanto drama em busca de comida. Desista. Parece que estamos a ponto de comer picles com tempero, se continuar assim. Red vai me levar ao mercado mais tarde e vou abastecer a despensa. Mas, agora, vamos comer no Bo´s. Podemos pedir para viagem e vir comer aqui.

    Myrtle percebeu o olhar de Miles para direcionado para televisão. E rapidamente acrescentou: — E não vamos perder a novela porque programei para gravar.

    Decidiram que Miles dirigiria até a lanchonete. Infelizmente, era um lugar muito popular e o estacionamento estava cheio. Também não havia vagas na rua e Miles tentou encontrar um lugar na parte detrás da lanchonete. Eles descobriram que havia carros parados em fila dupla e até parados em lugares improvisados. Ele desceu a rua principal novamente até encontrar uma vaga. Myrtle tinha certeza de que teria sido mais rápido se eles tivessem ido a pé. Dentro, a lanchonete também estava cheia. Ao entrarem, tiveram que ficar parados próximo à porta porque havia clientes esperando.

    — Deveríamos ter ligado e pedido por telefone — falou Miles, desanimado.

    — É, mas a gente teria que levar as sacolas engorduradas para casa e acabaríamos engordurados também. Não se preocupe, Miles. Tem gente entrando e saindo. Vamos conseguir uma mesa logo.

    Uma garçonete loira usando maquiagem demais nos olhos se aproximou e contradisse Myrtle imediatamente:

    — Oi. Tem uma espera de quarenta minutos, queridos, vocês aguentam ficar de pé tanto tempo? — Seus olhos cheios de rímel duvidavam.

    — Preferimos fazer o pedido e levar. Vai demorar menos, certo? — respondeu Miles.

    — Uns quinze minutos.

    Miles olhou para Myrtle, interrogativamente.

    — Ora, faça-me o favor! Eu posso esperar em pé por quinze minutos sem desmaiar!

    A garçonete assentiu e posicionou a caneta no bloco de pedidos já gasto.

    — Qual é o pedido?

    — Um cachorro-quente com queijo e chili — respondeu Myrtle prontamente. — Com fritas.

    Como sempre, Miles fez cara de enjoo ao ouvir o pedido de Myrtle. O seu era mais saudável. — Salada de frango e uma porção de frutas frescas.

    — Certo. Fica pronto rapidinho — falou a garçonete, se equilibrando em saltos absurdamente altos.

    Um homem de meia idade que aguardava sentado em um banco na área de espera  viu Myrtle e se levantou, gesticulando e mostrando o assento que ele acabara de desocupar. Myrtle sabia que essa era uma das poucas vantagens de ter oitenta anos e aproveitou a oportunidade. Outro homem de meia idade se levantou, olhou para Miles e apontou para o seu lugar. Miles fingiu não ver, ainda um pouco incomodado com a sua idade. Pelo menos, era o que Myrtle achava. O homem voltou a se sentar. A porta da frente não parava de abrir e clientes continuavam a entrar, então Miles afastou-se da porta e ficou em pé próximo a Myrtle. Myrtle entortou a cabeça para o lado e escutou atentamente por um minuto. Então, ela cutucou a calça de Miles:

    — Miles! A mesa bem atrás de nós está cheia de atores e atrizes da peça de hoje à noite!

    Miles olhou para eles.

    — Eles estão ensaiando? Parecem tão agitados!

    — Não, acho que estão só discutindo alguma coisa entre eles. Você sabe como essa gente de teatro é temperamental.

    Myrtle e Miles ficaram escutando, Myrtle de costas para a mesa e Miles de frente para eles. Uma das atrizes falava com desdém sobre o figurino barato e os problemas com o som e a iluminação. Outro ator reclamava que tinha poucas falas e pouco tempo no palco, e que os ensaios não valiam a pena. Pensativo, Miles falou:

    — Estou impressionado como eles estão falando tudo isso enquanto nós estamos aqui, prestando atenção em tudo, obviamente. Você acha que eles simplesmente nos ignoram porque estão acostumados a ter plateia?

    — Não, acho que é porque somos velhos, Miles. Eles nem veem a gente. Bem-vindo à velhice. É como usar uma capa de invisibilidade — falou Myrtle.

    Myrtle se virou para a mesa também para demonstrar o que estava falando. As conversas e discussões continuaram iguais. Myrtle viu uma jovem bronzeada usando um vestindo curto vermelho, com cabelos castanhos até a cintura, que falava:

    — Meu problema não é a falta de falas. Eu tenho tanto tempo no palco, tantas falas, é difícil me lembrar de todas! — Ela fez uma careta, como se fosse horrível ser uma estrela. Mas seus olhos brilharam com uma satisfação maldosa.

    Uma mulher magra, de aproximadamente quarenta anos e cabelos ruivos, disparou:

    — É bom você se lembrar de todas as suas falas ou então você não vai conseguir ir muito longe nessa profissão. Não pense que você consegue se manter por muito tempo só com aparência e juventude.

    A jovem bronzeada apenas sorriu para ela.

    — Já volto. Tenho que retocar minha maquiagem.

    Mas ela não parecia estar usando nenhuma maquiagem. A ruiva jogou o seu guardanapo amassado sobre a mesa.

    — Chega. Não suporto mais trabalhar com a Nandina. Ela se acha tão importante.

    — Ela é importante. Ela é a protagonista da peça — observou um jovem com cara de estudante e óculos de aros pretos.

    — Foi um erro — falou a ruiva entre dentes.  — Essa aí não serve para nada.

    Uma loira magra com cabelos cortados curtos, no estilo pixie, pareceu reprimir um sorriso. Ela usava um top florido com uma estampa psicodélica e parecia estar se divertindo muito.

    — Verônica, você devia tentar armar uma pegadinha para ela. Como aquela da última peça, você inscreveu a Tina em todas as listas de mala direta do país. Aposto que ela está tentando sair debaixo da pilha de catálogos até agora...

    O jovem de óculos disse rapidamente:

    — Verônica, você está irritada porque não faz mais papéis de protagonistas jovens. Você deveria encarar a realidade. Você está velha demais para esses papéis.

    Ao ouvir isso, Miles grunhiu. — Para mim, ela parece uma menina.

    — Cala a boca, Skip! — falou uma voz masculina.

    Myrtle observou atentamente as costas do homem que havia falado isso. Tinha cabelos loiros compridos, um corpo musculoso e usava uma jaqueta branca esportiva. Como ele estava de costas, ela não conseguia ver o rosto, mas ele emanava força e estilo. Skip levantou a sobrancelha num gesto que parecia ensaiado:

    — Você está defendendo a Verônica? Desde quando, Blaine?

    — Eu defendo todos os membros do elenco — falou Blaine bruscamente. — Quanto à Nandina, é fácil esquecer como as coisas eram quando éramos novatos.

    — O que faz mais tempo para uns do que para outros — observou Skip sarcasticamente.

    Verônica revirou os olhos.

    Myrtle notou que os olhos da grande maioria dos homens do lugar se voltaram para a mesma direção. Ela se virou para ver uma jovem, aparentemente Nandina, caminhando em direção à mesa. Andava com movimentos fluidos, como se desfilasse numa passarela. Um ligeiro sorriso apareceu nos seus lábios ao sentir que todos olhavam para ela. Ela se sentou ao lado de Blaine. Nandina se voltou para um homem silencioso e observador do outro lado da mesa e lhe deu um sorriso afetado. — Roscoe, você está tão calado que eu nem notei que você estava aqui. Me diga, como está a Josie? Faz tanto tempo que não nos falamos! Vou ligar para ela hoje. Dessa vez vou ligar mesmo, em vez de ficar adiando.

    Roscoe enrubesceu e olhou para Nandina com raiva. Miles levantou as sobrancelhas para Myrtle. Por um momento, Myrtle pensou que o homem de cabelos escuros e barba ia pular do outro lado da mesa e esganar a jovem. Mas ele a ignorou, terminando de comer o último pedaço da sua refeição com mãos trêmulas. Miles levantou as sobrancelhas, se inclinou e disse:

    — Esse Blaine parece ser bem amigo da Nandina.

    Myrtle abandonou completamente a premissa de que não deveria ficar escutando a conversa. O grupo de atores não dava a mínima para Myrtle e Miles mesmo. Ela se levantou e observou. De fato, a mão de Blaine estava no joelho de Nandina sob a mesa. Myrtle notou que a moça com o cabelo pixie também havia percebido e sorria afetadamente. A escuta da conversa foi interrompida pela voz açucarada da garçonete gritando detrás do púlpito:

    — Clover e Bradford! Está pronto!

    — Que pena — falou Myrtle. — Isso estava melhor que A Promessa do Amanhã.

    Em silêncio, percorreram a curta distância até a casa de Myrtle com as sacolas engorduradas no chão, na parte detrás do Volvo de Miles. Finalmente, Myrtle disse:

    — Se a peça de hoje à noite for

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