Utopia
De Thomas More
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Sobre este e-book
Thomas More
Thomas More (1478-1535) was an English lawyer, judge, philosopher, statesman, and humanist. Born in London, he was the second of six children born to Sir John More and his wife Agnes. From 1490 to 1492, he served as household page for Archbishop of Canterbury John Morton, who introduced him to Renaissance humanism and nominated him for a spot at the University of Oxford. After two years of learning Latin and Greek, he left to study law and was called to the Bar in 1502. Two years later, he was elected to Parliament, launching his political career in earnest. In 1516, while serving as Privy Counsellor, More published Utopia, a work of political philosophy and social satire that describes the customs of a fictional island nation. After a series of prominent posts in the court of King Henry VIII, More succeeded Thomas Wolsey as Lord Chancellor in 1529, making him one of the most powerful men in England. His three-year reign was mired in controversy, as he worked to impede the influence of the Protestant Reformation through the persecution of heretics and the suppression of Lutheran books, especially the Tyndale Bible. In 1530, he refused to sign a letter to Pope Clement VII that sought to annul Henry’s marriage to Catherine of Aragon, damaging his relationship with the King and distancing himself from clergymen loyal to the crown. After resigning in 1532, he further enraged the King by refusing to attend the coronation of Anne Boleyn, leading to a series of charges orchestrated by Thomas Cromwell. His refusal to take the Oath of Supremacy, which recognized the King as the figurehead of a new Church of England, would culminate in his being found guilty of high treason in 1535. Five days after his trial by jury, More was beheaded at Tower Hill. Recognized as a martyr by the Catholic Church, he was canonized as a saint in 1935 by Pope Pius XI.
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Utopia - Thomas More
Esta é uma publicação Principis, selo exclusivo da Ciranda Cultural
© 2021 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda.
Traduzido do original em inglês
UtopiaTexto
Thomas More
Tradução
Beatriz S. S. Cunha
Revisão
Ciro Araujo
Produção editorial e projeto gráfico
Ciranda Cultural
Ebook
Jarbas C. Cerino
Imagens
Alhovik/Shutterstock.com;
Strelch/Shutterstock.com;
Anastasiia Guseva/Shutterstock.com
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
M835u More, Thomas
Utopia [recurso eletrônico] / Thomas More ; traduzido por Beatriz S. S. Cunha. - Jandira, SP : Principis, 2021.
128 p. ; ePUB ; 4,3 MB. - (Clássicos da literatura mundial)
Tradução de: Utopia
Inclui índice. ISBN: 978-65-5552-357-7 (Ebook)
1. Literatura inglesa. 2. Ficção. I. Cunha, Beatriz S. S. II. Título. III. Série.
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura inglesa : Ficção 823.91
2. Literatura inglesa : Ficção 821.111-3
1a edição em 2020
www.cirandacultural.com.br
Todos os direitos reservados.
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Introdução
Thomas More, filho de John More, magistrado da Bancada Real, nasceu em 1478, em Milk Street, na cidade de Londres. Após sua educação primária na St. Anthony’s School, em Threadneedle Street, ainda garoto, foi entregue aos cuidados do cardeal John Morton, arcebispo da Cantuária e lorde Chanceler. Era comum, na época, que pessoas abastadas ou influentes e filhos de boas famílias estabelecessem uma relação de patrono e cliente. O jovem vestia a libré de seu protetor e a acrescentava ao seu patrimônio. O patrono, por sua vez, utilizava-se de sua riqueza ou influência para ajudar o jovem protegido a avançar no mundo.
O cardeal Morton havia sido anteriormente bispo de Ely, mandado à Torre por Ricardo III. Depois, exerceu ferrenha oposição a Ricardo, e trabalhou como principal conselheiro de Henrique VII, sendo por ele nomeado arcebispo da Cantuária em 1486, e lorde Chanceler nove meses mais tarde. Em Utopia, Thomas More registra com perspicácia as recordações das conversas ao redor da mesa do cardeal Morton. Assim relata: Qualquer que viva para ter prova, há de ver a criança à esta mesa assentada tornar-se um homem raro e louvável
.
Thomas More foi enviado por seu patrono para a Universidade de Cantuária, em Oxford, aos quase 19 anos de idade, onde aprendeu grego com William Grocyn e Thomas Linacre, os primeiros a trazerem os estudos gregos da Itália para a Inglaterra. Linacre, médico e mais tarde ordenado, fora também o fundador da Universidade de Médicos. Em 1499, More deixou Oxford para estudar Direito em Londres, na Honorável Sociedade de Lincoln’s Inn. No ano seguinte, o arcebispo Morton faleceu.
Os traços mais profundos da personalidade de More foram definidos enquanto estudava a lei com o objetivo de dominar a carne. Vestia o cilício, tinha como travesseiro um tronco de árvore e flagelava-se às sextas-feiras. Aos 22 anos de idade, tornou-se membro do Parlamento e logo após receber o título de advogado, foi nomeado subdelegado de Londres. Em 1503, opôs-se à proposta de Henrique VII, na Câmara dos Comuns, de obter subsídio para cobrir o dote de sua filha, Margaret; More contestou a proposta com tanta veemência que a Câmara se recusou a conceder o pedido. Então, foi dito ao rei que um moço imberbe havia frustrado todas as suas expectativas. Portanto, durante os últimos anos de Henrique VII More esteve sob vigilância e pensou em deixar o país.
Henrique VII faleceu em abril de 1509, época em que More tinha pouco mais de 30 anos de idade. Nos primeiros anos do reinado de Henrique VIII, ascendeu em ampla prática na corte, onde dizem que se recusava a defender casos que julgava injustos e não cobrava honorários de viúvas, órfãos ou pobres. Teria preferido se casar com a segunda filha de John Colt, de New Hall, em Essex, mas escolheu sua irmã mais velha para não a sujeitar à difamação ao ser preterida pela mais nova.
Diz-se que Thomas More, em 1513, ainda subdelegado de Londres, escreveu Vida e morte do Rei Eduardo V e a usurpação de Ricardo III. O livro, que parece conter os saberes e opiniões do patrono de More, Morton, não foi impresso até 1557, vinte e dois anos após o falecimento do escritor. Foi, então, impresso a partir de um manuscrito de More.
Em 1515, Wolsey, arcebispo de York, foi nomeado cardeal por Leão X. Henrique VIII o tornou então lorde Chanceler, e daquele ano até 1523, o rei e o cardeal governaram a Inglaterra exercendo o poder de forma absoluta, sem convocar o parlamento. Em maio de 1515, Thomas More, antes de ser nomeado cavaleiro, tornou-se membro de um comitê dos Países Baixos, com Cuthbert Tunstal e outros, a fim de negociar com os embaixadores de Carlos V, até então apenas arquiduque da Áustria, diante de uma renovação de alianças. Na embaixada, More, agora com quase 37 anos, afastou-se da Inglaterra por seis meses, e, enquanto esteve em Antuérpia, estabeleceu amizade com Peter Giles, um jovem erudito e educado, o qual fora secretário da câmara de Antuérpia.
Cuthbert Tunstal era um clérigo em ascensão, chanceler do arcebispo da Cantuária, o qual, em 1515, fora nomeado arcediago de Chester e, em maio do ano seguinte, 1516, tornou-se arquivista mor. Ainda em 1516 foi enviado outra vez para os Países Baixos. More o acompanhou até Bruxelas, onde fizeram grande amizade com Erasmo.
Utopia foi escrito em latim e dividido em duas partes, das quais a segunda, em que se descreve o lugar em questão, por vezes chamado em suas cartas de Lugar Nenhum, fora provavelmente escrito no final de 1515, enquanto a primeira, introdutória, no início de 1516. O livro foi impresso pela primeira vez em Lovaina, no final de 1516, redigido por Erasmo, Peter Giles e alguns outros amigos de More em Flandres. Depois, o próprio More se encarregou de revisá-lo, enquanto Froben foi responsável pela sua impressão em Basileia, em novembro de 1518. Os escritos foram novamente impressos em Paris e em Viena, mas nenhum exemplar foi impresso na Inglaterra durante toda a vida de More. A primeira publicação no país foi a tradução para a língua inglesa, feita no reinado de Eduardo VI, em 1551, por Ralph Robinson. Em 1684, Gilbert Burnet traduziu a obra com mais literalidade, logo após haver realizado a defesa de seu amigo, lorde William Russell, presenciado sua execução, honrado sua memória e sido destituído do leitorado na igreja de St. Clement, por Jaime II. Burnet inclinou-se a traduzir Utopia devido à mesma percepção de irracionalidade em cargos elevados que fez More escrever o livro. A versão de Burnet para a língua inglesa foi utilizada para a tradução deste volume.
O nome do livro deu origem ao adjetivo utópico, o qual utilizamos para denominar todo sistema inalcançável. Por trás de uma ficção divertida, o discurso é extremamente sério e abundante em conselhos práticos.
Trata-se do trabalho de um erudito britânico humanista que à sua maneira afronta os principais males políticos e sociais de sua época. A começar pelos fatos, More conta como foi enviado a Flandres na companhia de Cuthbert Tunstal, a quem o falecido rei, para regozijo de todos os homens, escolheu nomear arquivista mor
, como os comissários de Carlos, então rei de Castela, o encontraram em Bruges e retornaram de imediato para Bruxelas para receber mais instruções, época em que More partiu para Antuérpia. Ali, encontrou satisfação na amizade de Peter Giles, e alívio para seu anseio por reencontrar a esposa e os filhos, de quem estava longe há quatro meses. Então, a história passa à ficção ao aparecer Rafael Hitlodeu (cujo nome, de origem grega, significa versado em trivialidades
), companheiro de Américo Vespúcio em suas últimas três viagens para o novo mundo recém-descoberto, cujos relatos foram impressos pela primeira vez em 1507, apenas nove anos antes de Utopia ser escrito.
Intencionalmente fantástico nos detalhes, Utopia é a obra de um acadêmico humanista, conhecedor de A república, de Platão, cuja imaginação fora inspirada após a leitura dos relatos de Plutarco acerca da vida em Esparta sob o governo de Licurgo. Por trás do véu de um comunismo ideal, com o qual se articula uma espirituosa extravagância, repousa uma profunda discussão sobre a realidade britânica da época. Por vezes, More menciona a França, quando, na verdade, refere-se à Inglaterra. Por outras, elogia ironicamente a boa-fé de reis cristãos, ato que salvou o livro da censura ao ataque político no governo de Henrique VIII. Em 1517, Erasmo de Roterdã escreveu a um amigo a fim de recomendar a leitura do livro Utopia, de More, caso ainda não a tivesse feito e desejasse enxergar a verdadeira fonte de todos os males políticos
. Para More, escreveu: um burgomestre de Antuérpia agradou-se tanto deste livro, que o sabe inteiro de cor
.
Henry Morley
Sobre o melhor governo de uma comunidade, e a nova ilha da Utopia.Um verdadeiro livro de ouro, não menos benéfico do que divertido, pelo renomado e eloquente Thomas More Cidadão e vice-xerife da famosa cidade de Londres 1516 d.C.
LIVRO 1
DISCURSO DE RAFAEL HITLODEU SOBRE O MODELO DE SOCIEDADE IDEAL, REGISTRADO PELO ILUSTRE THOMAS MORE, CIDADÃO E VICE-XERIFE DA GLORIOSA CIDADE DE LONDRES
O invencível rei da Inglaterra, Henrique VIII, um príncipe adornado com todas as virtudes essenciais a um grande monarca, após desavenças de consideráveis proporções com o sereníssimo Carlos, príncipe de Castela, enviou-me a Flandres como embaixador, a fim de tratar e resolver o assunto. Tinha como colega e companheiro o incomparável Cuthbert Tunstal, a quem o rei mais tarde tornou arquivista mor, com o aplauso de todos. Não me alongarei a seu respeito, não por temer que o testemunho de um amigo seja duvidoso, mas porque suas virtudes e erudição são mui superiores ao meu elogio, e sua imagem é tão notável que estender-me em louvores seria, como diz o provérbio, mostrar o sol com uma lanterna
.
Encontramos em Bruges, conforme combinado, os designados pelo príncipe a tratarem conosco do assunto. Todos homens nobres. Seu chefe e responsável era o marquês de Bruges, mas aquele a quem estimavam como o mais sábio e tinham como representante era Jorge de Themsecke, preboste de Cassel, cuja eloquência devia-se tanto à arte quanto à própria natureza. Instruído na lei e dotado de excelente capacidade, além da lauta prática nos negócios, era muito habilidoso em solucionar casos. Após numerosos encontros sem acordo, os homens partiram para Bruxelas por alguns dias a fim de conhecer a vontade do príncipe. Quanto a mim, dirigi-me a Antuérpia, já que os negócios me permitiam fazê-lo.
Enquanto lá estive, dentre as muitas visitas que recebi, houve uma a qual julguei mais agradável que todas as outras: a de Peter Giles, nascido em Antuérpia, homem honrado e de posição elevada em sua cidade, embora menos elevada do que lhe seria pertinente, pois não creio que se possa encontrar em qualquer outro lugar jovem mais bem criado e instruído. Trata-se de um moço digníssimo e sábio, amável para com todos, especialmente gentil para com seus amigos e tão cheio de candura e afeto que não há de se encontrar em, talvez, mais que um ou dois homens, tão perfeito amigo. Extraordinariamente modesto, simples, prudente e desprovido do uso de artimanhas. Apresentara conduta tão agradável e cheia de entusiasmo, que sua companhia atenuou sobremaneira meu anseio de retornar ao meu país de origem,