Pastoreados por Tiago: Comentário devocional à carta de Tiago.

De Israel Belo de Azevedo

O livro de Tiago, embora breve, nos transporta para o início do anúncio do Evangelho, que ali se encontra numa tocante simplicidade. Em seu comentário, Israel Belo de Azevedo resgata esta simplicidade, que nunca poder ser perdida no Evangelho, para não deixar de ser Evangelho. Os conselhos de Tiago são um saboroso desenvolvimentos dos ensinos de Jesus sem intermediação filosófica, como nas cartas de Paulo. A carta é um convite à vida.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Prazer da Palavra
• Data de lançamento: 31 de mar. de 2021
• ISBN: 9786589202288

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1 - Viver é decidir

Tiago 1.2-4 e 12

Viver é gostoso e perigoso. Quem já tomou banho numa praia, de mar ou de rio, sabe que é gostoso estar ali, mas todo cuidado é pouco.

Neste trecho da carta escrita para nós, que fazemos parte das 12 tribos da igreja de Jesus, Tiago nos fala de ondas violentas e correntezas bravas, quando, parece, o mundo vai desabar sobre a gente.

Nessas horas, nós perguntamos:

— Onde está Deus?

Foi esta a pergunta do pessoal do tempo de Isaías (Isaías 58.2) Os contemporâneos de Tiago também perguntava:

— Por que estamos passando por tantas dificuldades na vida?

Tiago dá a resposta em três partes. Na primeira (versículos 2, 3, 4 e 12), ele ensina que é possível transformar a tristeza em alegria. Na segunda (versos 5 a 8), o autor fala da sabedoria necessária diante das crises. E na terceira (versos 13 a 18), ensina como olhar para a estas dificuldades.

Uma vida cheia de decisões

Tiago chama essas dificuldades pelo nome bíblico de provação. Talvez a sua Bíblia traga a palavra `tentação’. No entanto, o sentido certo é provação. Todo crente passa por provações.

E que são provações? Podemos entendê-la em dois aspectos.

Podemos entendê-las como aquelas situações que exigem decisão de nossa parte. Por exemplo, você está fazendo uma prova na escola; de repente, esqueceu a resposta. E agora: colar ou não colar? Você tem que decidir. Isto é provação. A angústia é grande. Não colar pode significar repetir um ano, mas a sua consciência diz que isto é roubo. Se você resistir, poderá até perder na prova, mas sairá vitorioso na provação. Outra situação: na época de declarar o imposto de renda, tarefa desagradável de todos os anos, dói pagar imposto. Será que não há um jeitinho para se pagar menos ou receber mais de devolução? Temos que decidir. Os apelos são muitos.

O autor da Epístola nos fala de situações de sofrimento, quando achamos que Deus se esqueceu da gente. Pode ser uma doença, que demora a ser curada. Pode ser aquela `eterna’ falta de dinheiro. Pode ser um namoro (para os solteiros) ou um casamento difícil de se acertar. Pode ser uma situação tensa com a vizinhança. São tantas as tensões...

Como devemos enfrentar essas crises? Cruzar os braços, para deixar a coisa acalmar? Pode ser que não se acalme. Desesperar, achando que o problema vai durar a vida toda? Pode ser que a crise acabe logo.

O sábio Tiago nos recomenda como agir nessas horas.

Alegria no sofrimento?

Primeiramente (verso 2), ele pede que recebamos essas provações com uma atitude de gratidão a Deus, como um motivo de grande gozo e alegria.

Na hora de participar do concurso, para uma bela vaga, você tem que decidir se vai ser honesto ou não. E isto porque você tem a mente de Cristo. Na cultura de nossa época, colar é absolutamente natural. As pessoas colam sem pensar. Assim, é um motivo de alegria passar pela provação de decidir.

Na hora do sofrimento, como age o sem-Deus? Ele se desespera, busca soluções mágicas, resigna-se, etc. E os com-Deus? Devemos olhar o sofrimento como uma coisa triste, mas com a certeza de que o mal não triunfará sobre nós. Ao final, poderemos cantar como Jó (Jó 19.25):

— Eu sei que o meu Redentor vive.

Evidentemente, só pode receber essas crises com alegria aquela pessoa que tem uma intimidade com Deus. Quem não a tem deve buscá-la.

A fé e suas consequências

Em segundo lugar (verso 3), passamos por dificuldades porque procuramos viver de modo correto, longe do vale-tudo de nossa sociedade; estamos buscando ser amigos de Deus, num mundo onde ele não é o centro.

Tiago, portanto, nos lembra que é, através das provações, que a nossa fé é firmada. É verdade que a fé é algo instantâneo em nossa vida. Mas é verdade também que ela vai se aperfeiçoando, vai se tornando madura. Neste sentido, podemos falar de uma fé-salivação, que é uma resposta imediata à graça de Deus (Efésios 2.8). Podemos falar também numa fé-santificação, que vai operando em nossa vida cristã, em direção ao que Deus quer de nós (Colossenses. 3.2).

A palavra usada é perseverança. Tiago tomou esta palavra do esporte. As duras provas de resistência tinham este nome. Os motociclistas de hoje pegaram o mesmo sentido, ao chamarem uma de suas competições pelo nome de `enduro’. Temos muito a aprender com estes esportistas. A vida cristã é um `enduro’. Assim, perseverança é a capacidade de nos mantermos firmes, apesar das dificuldades (decepções, desânimos, desvios, chateações), como o motociclistas pelas pistas molhadas, esburacadas e confusas. Ter perseverança é desenvolver uma resistência espiritual para a vida cristã.

Perseverar é olhar para o futuro, quando o presente nos está sufocando. Perseverar é ter a força de não mudar, mesmo quando mudar é o caminho mais fácil. Perseverar é ter a coragem de