Deu a louca no guarda-roupa
De Jonas Ribeiro e Suppa
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Deu a louca no guarda-roupa - Jonas Ribeiro
JONAS RIBEIRO
Deu a louca
no guarda-roupa
ilustrações de Suppa
ImagemImagemPara os bibliotecários, os editores e os livreiros…
que perpetuam a poesia de nossas vidas…
Para as empregadas domésticas, as diaristas e as passadeiras…
que fazem tanta poesia em nossas vidas…
E para a Ana Lúcia Brandão…
que tanto gosta de livros…
Sumário
1. A loja de Pierre la Fonfon
2. O guarda-roupa Douglas
3. A sonhadora Lu Peixinha
4. Cheiro de confusão
5. Uma boa pista
6. O salto do tigre
7. Por um triz
8. Um beijo no consultório
9. Os preparativos
10. Deu a louca no guarda-roupa
11. Marta Lagarta
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A loja de Pierre la Fonfon
DONA ANTÔNIA tira a caminhonete da garagem estreita e vai ao supermercado. Enche o carrinho com produtos essenciais, supérfluos e guloseimas, e paga no caixa. Ajeita cuidadosamente as sacolas na carroceria e toma o rumo de casa. Gostar mesmo de ir ao supermercado dona Antônia não gosta; mas, em compensação, a volta é um regalo, um verdadeiro prazer, a ponto de dona Antônia reduzir a velocidade da caminhonete só para a volta ficar mais demorada. Tudo isso porque no caminho ela passa em frente à loja de roupas mais fina da cidade. A sua sorte é que o farol sempre fecha e ela pode ficar um tempão namorando as roupas na vitrina. Mesmo assim não se contenta, faz questão de dar outra volta no quarteirão e ficar um tempo ainda maior paquerando as roupas.
Claro que dona Antônia sonha em vestir tudo aquilo. Mas cadê a coragem para entrar na loja Sétimo Céu – Roupas Finas e Acessórios? Ah, quantas e quantas vezes o farol abriu e ela continuou olhando, só acordando com as buzinas dos carros. Se ao menos a loja não tivesse um nome tão majestoso e se chamasse Segundo Céu ou quem sabe Terceiro Céu! Mas entrar numa loja de nome Sétimo Céu logo de cara, sem passar pelo primeiro, pelo segundo, já é demais. Com um nome assim, eles podem enfiar a faca que qualquer madame pagará de bom grado, sem chiar. Sem dúvida, um ambiente para ser frequentado somente por mulheres da mais altíssima sociedade.
Essas suas cismas só duram até o dia em que, voltando do supermercado, ela vê o manequim do canto esquerdo vestindo uma blusa amarela de renda. Uma blusa sem mangas com um decote parecendo taça de vinho. Uma blusa deslumbrante, como nunca viu em todas as páginas de revistas de moda que folheou. Antônia fica hipnotizada, esquecida de tudo e mergulhada no incontrolável desejo de ter aquela blusa amarela de renda. Desta vez, os carros buzinam, cansam de buzinar, e ela não acorda. Nem se importa com a fúria dos motoristas que colocam suas cabeças para fora dos carros e xingam. Nada a incomoda. Está banhada de prazer, de luz, pelo desejo de comprar aquela blusa amarela de renda. Estaciona em cima da calçada, sai toda esbaforida da caminhonete e entra na loja, deixando para trás as buzinas e os motoristas enfezados.
Dona Antônia não acredita quando as suas mãos empurram a porta e ela ouve um sininho badalando. E não acredita também quando seus pés pisam o tapete vermelho da Sétimo Céu. No mesmo instante aparece um homem magro, alto, com um fino bigode virado para cima, fazendo duas argolinhas para dentro e usando uma boina vermelha meio de lado e um lenço azul-marinho no pescoço.
— Bom dia, senhora, meu nome é Pierre la Fonfon. Se preferir pode me chamar de Fonfon ou Fon. Só Fon. Bem… não foi para isso que a senhora veio aqui, não é mesmo? Rá-rá-rá-rá-rá-rá… Fique à vontade e não faça cerimônia. A loja é toda sua. Bem, senhora, quer dizer, querida, agora que somos amigos, em que posso ajudá-la? Aliás, qual a sua graça?
— Muito prazer, me chamo