Entre a espada e a rosa
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Sobre este e-book
Marina Colasanti é a ganhadora do 13º Prêmio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil, a ser concedido na Feira Internacional do Livro (FIL) de Guadalajara em 2017. Também concorre ao Hans Christian Andersen, a ser revelado na Feira do Livro de Bolonha de 2018.
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Entre a espada e a rosa - Marina Colasanti
brotar.
A dama do leque
Era uma dama de quimono que vivia na superfície pregueada de um leque de papel. Não vivia sozinha. Pousada atrás dela, uma garça cravava a longa perna de coral na água de um lago. Enquanto no canto esquerdo, outra garça voava.
Sem chuva ou neve que viessem alterar a paisagem, sem frutos que substituíssem as flores do pessegueiro, a dama e suas garças pareciam paradas no tempo. Mas paradas não estavam. O tempo passava no leque, embora a seu modo. Pois cada vez que seu dono, um velho mandarim, o fechava num estalo seco, fazia-se noite entre as dobraduras. A dama então dormia. Dormiam as garças. E até os nenúfares do lago pareciam repousar suas pétalas sobre a água. Somente o vulcão, ao fundo, continuava soltando um fio de fumaça.
Bastava, porém, que o mandarim abrisse outra vez o leque, para que todos despertassem. As pequenas ondas do lago brilhavam como se algum vento lhes chegasse das montanhas. Voava a garça sem sair do lugar. A dama de longos cabelos tocava o instrumento que tinha sobre os joelhos, tangendo as cordas com dedos pálidos.
Que calorento era aquele mandarim! A todo momento, rraac! abria o leque, abrindo com ele os olhos da dama e das suas garças.
E que nervoso! Mal se havia abanado, já fechava o leque novamente, empunhando-o como se fosse um cetro e trancando na escuridão suas personagens.
Abre e acorda, fecha e dorme, a vida no leque era feita de rápidas noites e brevíssimos dias. Sem que sobrasse tempo para o tédio.
E assim teria sido por muitos anos, se o mandarim, tomado de amor por sua mais nova concubina e desejando cobri-la de agrados, não lhe tivesse dado o leque de presente.
Bem outros modos tinha a concubina. Tudo nela era vagar. Nem a atormentava o calor. Do leque, mais que a brisa, agradava-lhe o gesto vagaroso com que o movia, acariciando o ar e o colo. Quase não o fechava. Por cima dele lançava olhares oblíquos. Atrás dele murmurava segredos aos ouvidos das outras concubinas, escondia sorrisos e muxoxos. E muitas vezes, repousando a mão sobre a mesa ou o regaço, esquecia-se de fechá-lo.
Com ela, os dias tornaram-se longos, às vezes longuíssimos para a dama de quimono. Tocava seu instrumento, olhava as aladas companheiras, e assim se distraía. Porém, as garças, sem nada para fazer, sem poder pescar, trançar ninho ou acasalar-se, começaram a achar o céu de papel cada vez mais limitado, a amplidão além dele cada vez mais tentadora.
E chegou um dia em que a garça do canto esquerdo, aquela que desde sempre mantinha as asas abertas, agitou-as de leve, depois com mais vigor, e adejando enfim livre, voou para fora do leque.
Durante aquele dia e nos que se seguiram, a dama esperou por ela, tocando sua doce música. Mas a garça não voltou. E o canto esquerdo do leque continuou vazio, sem que sequer uma marca desbotada lembrasse a antiga presença.
Mais tempo se foi, lentamente. Sozinha, agora, a garça do lago não tinha mais razão para continuar ali, com a perna mergulhada na água. E numa tarde quente em que a concubina se abanava com preguiça, a garça esticou enfim a outra perna, ondulou o pescoço, desdobrando as asas que desde sempre haviam permanecido fechadas. Como uma corola tocada pelo vento, estremeceram as penas brancas. E a garça abriu seu voo, abandonando o