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Quem Me Dera Ser Onda
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E-book66 páginas46 minutos

Quem Me Dera Ser Onda

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Sobre este e-book

Com uma escrita límpida, Manuel Rui escreve um romance que é, ao mesmo tempo, delirantemente divertido e luminosamente redentor.
Sim, vivemos num mundo de esquemas, de falsas aparências, de escusos interesses. O que pode, contra essa realidade crua e dura, a crença verdadeira e ingénua? Podemos ainda acreditar que o sonho, como uma vaga, vai limpar o mundo?
Quem Me Dera Ser Onda é um romance genuinamente angolano. Um romance que trata a língua portuguesa de forma magistral e criativa.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de mai. de 2021
ISBN9789897026416
Quem Me Dera Ser Onda
Autor

Manuel Rui

Nasceu no Huambo, a 4 de Novembro de 1941. Licenciado em Direito, em Coimbra, foi ministro no governo de transição, em 1975, integrando a representação de Angola em organismos internacionais como a OUA e a ONU. É poeta, contista, dramaturgo, romancista e cronista. Escreveu a letra do Hino nacional angolano e letras de canções. Participou em filmes, como figurante e declamando poemas, mas também escrevendo diálogos. Do espanhol ao mandarim, os seus livros estão traduzidos em mais de doze línguas. Publicou, em 1977, Sim Camarada!, o primeiro livro de ficção angolana pós-independência. Quem Me Dera Ser Onda converteu-se num clássico da literatura escrita em português e A Acácia e os Pássaros é o seu mais recente romance.

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    Quem Me Dera Ser Onda - Manuel Rui

    9789897026416.jpg

    QUEM ME DERA SER ONDA

    Título: Quem Me Dera Ser Onda

    Autor: Manuel Rui

    © Guerra e Paz, Editores, Lda, 2021

    Reservados todos os direitos

    A presente edição não segue a grafia do novo acordo ortográfico.

    Revisão: Helder Guégués e André Morgado

    Design: Ilídio J.B. Vasco

    Isbn: 978-989-702-641-6

    Guerra e Paz, Editores, Lda

    R. Conde de Redondo, 8–5.º Esq.

    1150­-105 Lisboa

    Tel.: 213 144 488 / Fax: 213 144 489

    E­-mail: guerraepaz@guerraepaz.pt

    www.guerraepaz.pt

    Faustino só tirava o dedo do botão quando o elevador aparecia.

    – Como é? Porco no elevador?

    – Porco não. Leitão, camarada Faustino.

    – Dá no mesmo em matéria de interpretação de leis.

    – Quais leis?

    – O problema é o que a gente combinou na assembleia de moradores e o camarada estava presente. Votação por unanimidade. Aqui no elevador só pessoas. E coisas só no monta-cargas.

    – Mas leitão é coisa?

    – Nada disso. Bicho ficou combinado cão, gato ou passarinho. Agora se for galinha morta depenada, leitão ou cabrito já morto, limpo e embrulhado, passa como carne, está previsto. Leitão assim vivo é que não tem direito, camarada Diogo, cai na alçada da lei.

    – Alçada como? Primeiro, o monta-cargas está avariado. Um dia inteiro que a sua mulher andou a carregar embambas¹ para cima e para baixo. E depois o monta-cargas, está a ver? Em segundo, o leitão está em trânsito, não anda de cima para baixo e de baixo para cima. E foi este leitão que trouxe catolotolo² aqui no prédio?

    Pararam no sétimo. O leitão estava renitente, mas Diogo arrastou-o pela corda. E, já com a chave na porta, olhou para trás e não viu o vizinho.

    – Mãe! O pai trouxe leitão!

    – Calma só, Zeca. Deixa passar o pai.

    – Saiam da frente.

    Diogo atravessou a sala comum, chegou na varanda larga que dava para a rua, levantou alguma roupa pendurada no arame e atou a corda do leitão na barra que separava as persianas.

    – Olha só, ronca que chega – Ruca aproximava-se tentando a familiaridade com o bicho.

    – Está bem, mas primeiro organizar. Liloca, levanta o bafo do rádio todo, e vocês, Zeca e Ruca, vão depressa na casa do camarada Nazário ver se está lá o nosso vizinho Faustino. Depressa!

    De repente a casa parecia transformada. O porco numa berraria de inadaptação a alertar a vizinhança; o som do rádio no máximo; e os dois miúdos a saírem nas horas. Carregaram no botão.

    O elevador nunca mais. E sempre em corrida desceram as escadas até ao segundo andar.

    – Boa noite, dona Xica. Era só pra pedir no Beto lápis de cor.

    – Beto! Beto! O Ruca está aqui. Entra.

    «Eu na minha pessoa de assessor popular não posso admitir este desrespeito pela disciplina. E você também, camarada Nazário. Ou é ou não é o responsável máximo pelo prédio? Amanhã temos que mandar o fiscal em casa do gajo e descobrir esse porco para lhe multar ou mesmo correr com esta gente do prédio.»

    Assim que Zeca ouviu este rabo de conversa lá no fundo do corredor, pegou na caixa dos lápis e nem se despediu. O irmão atrás na rapidez.

    – Ai é? Com que então fiscal.

    – Foi assim mesmo que falaram, pai – reafirmou Ruca.

    A família estava no peixe frito com arroz, mas os miúdos não descolavam os olhos do leitão ali mesmo ao pé, na varanda, a grunhir e a farejar aquele sítio novo para viver. E a fala dele abafada pelo som do rádio.

    – Pois aqui não entra fiscal nenhum. E esse cabrão do Faustino ainda vou descobrir como lhe rectificaram, catete³ de merda.

    – Mas estás a fazer tribalismo...

    – Eu é que estou a fazer? Eu que nem tenho maka⁴ com porco. Ele

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