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O macaco bêbedo foi à ópera: da embriaguez à civilização
O macaco bêbedo foi à ópera: da embriaguez à civilização
O macaco bêbedo foi à ópera: da embriaguez à civilização
E-book80 páginas1 hora

O macaco bêbedo foi à ópera: da embriaguez à civilização

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Sobre este e-book

No início... houve um macaco espertalhão que desceu da árvore para comer frutos caídos no chão, mais maduros, logo, mais doces, logo, mais fermentados, isto é, com um leve cheirinho a álcool. Outros macacos se lhe seguiram e, com o aumento das calorias consumidas, foi um passo até que lhes crescesse o cérebro, a coluna se endireitasse e as mãos se libertassem. Mais um passo... e estávamos a ir à ópera. A teoria que coloca o álcool na origem da evolução humana justifica a nossa insaciabilidade milenar. É dela que parte o escritor Afonso Cruz para este retrato inusitado da civilização acumuladora, gananciosa e um tanto louca na qual desembocámos. Do macaco original à criação da cerveja, que impulsionou a sedentarização e cativou Jesus Cristo, assistimos ao desenrolar das consequências do consumo de álcool. Da embriaguez à civilização, a nossa história nunca foi contada assim.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de mai. de 2019
ISBN9789898943590
O macaco bêbedo foi à ópera: da embriaguez à civilização
Autor

Afonso Cruz

Afonso Cruz nasceu em 1971, na Figueira da Foz. Os seus livros estão traduzidos em vários países e receberam vários prémios, entre eles, o Prémio da União Europeia para a Literatura, o Prémio Fernando Namora, o Prémio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil do Brasil e o Prémio Nacional de Ilustração. Além da escrita, dedica-se também à ilustração, à música e à fotografia.

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    O macaco bêbedo foi à ópera - Afonso Cruz

    O álcool cósmico

    Existe álcool espalhado pelo espaço sideral. Esta frase, per se, deveria provocar alguma perplexidade e fazer-nos questionar o papel do álcool, que não pode ser apenas uma amenidade social ou um vício a erradicar. Estando o cosmo cheio dele, a dimensão da sua importância deverá talvez ter outro tipo de proporção: «Os astrónomos que exploram a nossa galáxia com poderosas ondas de rádio descobriram que o álcool não existe somente na Terra. Gigantescas nuvens de metanol, etanol e álcool vinílico — estendendo-se por milhares de milhões de quilómetros — foram localizadas no espaço interestelar e em sistemas estelares envolventes» (Patrick E. McGovern, Uncorking the Past — The Quest for Wine, Beer, and Other Alcoholic Beverages).

    Não sei se Deus deixou a marca do seu copo de whisky no espaço, um pouco como quem deixa aquela auréola incómoda na mesinha da sala e ouvirá seguramente a repreensão da tia sobre a falta de uso daquele objecto incompreendido, chamado base para copos, e o sermão relativo à qualidade da madeira, nogueira, carvalho, cerejeira, cedro, e ao valor do móvel em questão, não apenas pecuniário, mas também sentimental. A Criação, podemos suspeitar, foi então um acto intemperado e talvez impulsivo, ou certamente louco, de um Deus devoto do hedonismo da ebriez, que compôs o cosmo, as estrelinhas e os planetas sob o efeito do álcool. A linguagem religiosa das frases anteriores é metafórica: não é de todo importante por ora discutir se o Universo foi planeado por uma entidade, Deus ou demiurgo (já lá iremos), deuses ou espírito, ou foi apenas uma arbitrariedade que a ciência tenta explicar racionalmente, apesar das óbvias estranhezas que, se não foram devaneios da embriaguez, seguramente o parecem, ao ponto de noventa e seis por cento do Universo serem matéria e energia escuras, coisas que nunca ninguém viu, mas cuja existência garante a solidez de algumas teorias. Citando Max Tegmark, em Our Mathematical Universe — My Quest for the Ultimate Nature of Reality, que apenas dá voz a uma perplexidade mais ou menos partilhada no meio científico: «Como se a matéria escura não fosse já loucura suficiente, introduziu-se uma segunda substância misteriosa, baptizada de energia escura, para fazer que as previsões teóricas correspondessem à observação da expansão [do Universo] e aglomeração [das galáxias].» De resto, a matéria escura e a energia escura lembram precisamente a ressaca do dia seguinte em que, efectivamente, a luz resplandecente se transforma num esquecimento, cuja memória se reduz a uns envergonhados quatro ou cinco por cento. O resto é escuridão, matéria ou

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