A Alma do Índio
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Sobre este e-book
Em A Alma do Índio, o autor dá vida à espiritualidade e à moralidade dos nativo-americanos, mostrando-nos como era preciosa e bonita a sua existência antes do contacto com os missionários e conquistadores europeus. Esta obra é uma rara expressão da sabedoria nativa, sem os filtros impostos por antropólogos e historiadores.
Ao invés de um tratado científico, Eastman escreveu um livro o mais fiel possível aos seus ensinamentos de infância e ideais ancestrais, mas do ponto de vista humano, não etnológico. As suas exposições sobre as formas de adoração cerimonial e simbólica, as escrituras não escritas e o mundo espiritual enfatizam a qualidade universal e o apelo da essência nativo-americana. Imperdível!
Críticas
«Um abrir de olhos para os caminhos dos povos antigos, inspirando-nos a olhar para o mundo como aquilo que ele é: sagrado e espiritual.»
Goodreads
«Se todos pudéssemos dar um passo atrás para entender a importância vital do planeta, não estaríamos a assistir à sua devastação em nome do lucro.»
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Charles Alexander Eastman
Nascido e criado entre os índios sioux até aos 15 anos de idade, Charles Alexander Eastman (1858-1939) resolveu tornar-se médico com o intuito de prestar o melhor serviço ao seu povo. O seu pai, que se acreditava ter sido e forca do no Minnesota, reapareceu e insistiu que ele recebesse uma educação de «homem branco». Estudou então Medicina na Faculdade de Dartmouth e na Universidade de Boston, tornando-se um médico altamente instruído e o único disponível para as vítimas do massacre de Wounded Knee, em 1890 – um grande evento histórico, frequentemente descrito como «o fim das guerras indígenas». Com o incentivo da sua mulher, Eastman destacou-se ainda mais como escritor e intérprete qualificado dos costumes nativo- -americanos. Os seus escritos oferecem visões genuínas e emocionantes de um mundo que se perdeu (provavelmente) para sempre. Outros escritores índios desse período foram totalmente aculturados – nunca viveram a vida tradicional do seu povo nem foram educados segundo a sabedoria nativa, não eram alfabetizados ou apenas escreviam o que lhes diziam por meio de filtros de intérpretes e escritores não índios. Charles Alexander Eastman experienciou eventos históricos e viveu segundo os princípios nativos, dispensando assim qualquer filtro ou influência.
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A Alma do Índio - Charles Alexander Eastman
Ficha Técnica
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© 2021
Direitos desta edição reservados
para Alma dos Livros
Título: A Alma do Índio
Título original: The Soul of The Indian – An Interpretation
Autor: Charles Alexander Eastman
Tradução: Carla Prado
Revisão: Daniel Santos
Paginação: Maria João Gomes
Capa: Vera Braga/Alma dos Livros
Imagens de capa: Shutterstock
Impressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda.
ISBN: 978-989-9054-18-9
1.ª edição em papel: Maio de 2021
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada
ou reproduzida em qualquer forma sem permissão
por escrito do proprietário legal, salvo as exceções
devidamente previstas na lei.
Dedicatória
Dedico este livro à minha esposa, Elaine Goodale Eastman, como forma de expressar o meu reconhecimento e gratidão pelo seu companheirismo inspirador em pensamentos e atos, bem como enquanto símbolo do meu amor pelas suas virtudes, mais do que compatíveis com as do povo indígena.
.
Eu falo por cada árvore sem voz,
Cada vez mais nobres a cada primavera que passa,
E cujos braços poderosos e melancólicos,
Conduzem a sua bênção em direção à Terra.
Sidney Lanier
Existe uma abóbada ainda maior para abrigar a tua fé,
Um templo consagrado a ela, onde os fanáticos não podem entrar –
Esse espaço é o paraíso! O seu teto é coberto de estrelas,
Onde, seguindo a elevação do espírito, quando Deus se revela ao Homem,
Os planetas continuam a sua melodia, proibida aos ouvidos mortais!
Thomas Campbell
Deus! Deixa que os teus cursos de água corram alegremente pelos prados!
Vós, pinheirais, com o vosso som suave que nos toca a alma!
Vós, águias, companheiras das tempestades da montanha!
Vós, relâmpagos, que sois as temidas flechas vindas das nuvens!
Vós, todos os sinais e maravilhas dos elementos,
Proferi o nome de Deus, até que as montanhas ecoem graças ao Seu nome!
Até que a Terra, com os seus milhares de vozes, glorifique a deus!
Samuel Taylor Coleridge
Prefácio
«Nós também temos uma religião, que foi revelada aos nossos ancestrais e transmitida até chegar a nós, os seus filhos. Ela ensina-nos a ser gratos e unidos e a amarmo-nos uns aos outros! Aqui, nunca discutimos por causa da religião.» Foram estas as palavras ditas pelo grande orador dos senecas,¹ Red Jacket,² na sua magnífica resposta aos missionários, há mais de um século. Desde então, tenho-as ouvido muitas vezes, repetidas pela boca de muitos dos meus conterrâneos, nas minhas tentativas de descrever a vida religiosa do Índio Americano comum antes da chegada do homem branco. Desde há muito que queria fazer algo desta natureza, porque não encontro nenhum relato do género que seja adequado (nem muito menos sincero).
A crença religiosa do Índio é a sua característica mais incompreensível aos olhos dos homens de outras raças. Primeiro, tal acontece porque o Índio, sendo crente, nunca fala destes assuntos; os não crentes, por seu lado, falam deles imprecisamente e de forma depreciativa. Em segundo lugar, mesmo que o convençam a falar, o preconceito racial e religioso dos seus interlocutores impede que estes sejam recetivos às crenças do nosso povo. Em terceiro e último, praticamente todos os estudos existentes sobre esta matéria foram levados a cabo durante o período de transição (após a colonização), pelo que muitos dos costumes e filosofia nativo-americanos se encontravam já em fase de desintegração.
É possível encontrar, aqui e ali, relatos superficiais de estranhos costumes e cerimónias, cujo simbolismo e significado mais profundo permanecem ocultos ao olhar de quem os observa; isto explica a grande quantidade de material recolhido nos tempos mais recentes, ainda que este não tenha qualquer valor, pois trata-se de material híbrido e próprio dos tempos modernos, inextricavelmente misturado com lendas bíblicas e filosofias próprias dos brancos. Algum desse material foi mesmo inventado para fins comerciais. Dê a um Índio que vive numa reserva um presente e é possível que, aí mesmo, ele lhe ofereça cânticos sagrados, histórias de mitologia e folclore, prontos a serem consumidos!
Este breve livro não pretende tornar-se um tratado científico. Tento ser o mais fiel possível à educação que recebi na infância e aos ideais ancestrais do meu povo; contudo, faço-o de um ponto de vista humano, não etnográfico. Não me interessa compilar aqui os ossos dos que já partiram, mas sim dar-lhes a substância de alguém de carne e osso. Tanta coisa tem sido escrita por pessoas alheias à nossa antiga fé, sendo tratada por outras religiões como uma mera fonte de curiosidade. É meu desejo, pelo contrário, demonstrar não só o apelo pessoal das crenças do Índio, mas sobretudo o seu carácter universal!
Os primeiros missionários, homens bons de mentes tacanhas (próprias da sua época), caracterizaram-nos como pagãos ou adoradores do Diabo, exigindo que renunciássemos aos nossos falsos deuses antes de nos ajoelharmos perante o seu altar. Chegaram mesmo a dizer-nos que estaríamos perdidos para toda a eternidade, a não ser que adotássemos o culto de um símbolo tangível e professássemos uma das muitas formas da sua fé, essa Hidra moderna de várias cabeças.³ Nós, homens da atualidade, somos mais inteligentes do que eles! Nos dias de hoje, sabemos que todo e qualquer tipo de fé tem uma origem e um objetivo comum. O Deus dos letrados e dos iletrados, dos gregos e dos bárbaros é, no fim de contas, o mesmo; tal como o apóstolo Pedro, conseguimos perceber que Ele não diz respeito a um só povo. Pelo contrário: qualquer um, em qualquer nação, que seja temente a Deus e que trabalhe para fazer o bem é aceite aos olhos Dele.
Charles A. Eastman (Ohyiesa)
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