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Corpo a corpo
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E-book96 páginas1 hora

Corpo a corpo

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Sobre este e-book

Luiz Vivacqua é sociólogo, mas trabalha em uma agência de publicidade dirigindo filmes dos mais diversos produtos cotidianos. Certa madrugada, transtornado pela substituição de seu colega de trabalho na agência, bem como pelas condições de sua vida pessoal – casamento iminente, frustração como criador de propagandas e pouca credibilidade em seu ofício –, ele passa a proferir um longo monólogo em torno da crise sobre seus próximos passos. Regado a álcool e cocaína, faz diversos telefonemas para seus conhecidos e suas ex-amantes, tenta se conectar com outras pessoas via radioamador, grita da janela, canta e se debate com questões do contexto político-econômico brasileiro da época e com suas escolhas pequeno-burguesas.

Escrita em 1970, "Corpo a corpo" traz à cena as vicissitudes daquele momento da história brasileira, e lança luz sobre um homem dividido entre a solidariedade e a ambição, a liberdade e a monogamia, e a escolha de seu próprio país ou a vida fora dele.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de abr. de 2021
ISBN9786587243139
Corpo a corpo

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    Corpo a corpo - Oduvaldo Vianna Filho

    title page

    Capa

    Rosto

    Apresentação

    Maria Sílvia Betti

    O meu corpo a corpo

    Oduvaldo Vianna Filho

    Corpo a corpo

    Posfácio

    Rosangela Patriota

    Anexos

    Fichas técnicas das apresentações

    Sugestões de leitura

    Notas

    Sobre o autor

    Sobre a organizadora

    Créditos

    Landmarks

    Cover

    Title Page

    Table of Contents

    Foreword

    Copyright Page

    Apresentação

    Maria Sílvia Betti

    Em 1970, Oduvaldo Vianna Filho escreveu o monólogo Corpo a corpo, que estreou em São Paulo no ano seguinte sob a direção de Antunes Filho. Desde 1965, com Moço em estado de sítio, e 1966, com Mão na luva, Vianna vinha discutindo a situação da intelectualidade de esquerda e de classe média, pressionada por diferentes formas de adesão à ideologia do regime civil-militar instaurado pelo golpe de 1964. Colocar essa classe sob o foco da análise em 1970 continuava a ser uma tarefa urgente, inadiável e desafiadora, já que voltada para setores da sociedade e do mundo do trabalho que continuavam a se transformar.

    Corpo a corpo põe em cena a longa noite de angústias existenciais, políticas e afetivas de um publicitário (Luiz Toledo Vivacqua), e por meio dela apresenta várias das racionalizações e repactuações implicadas na ascensão profissional que se apresentava para a classe média no pós-golpe. Dentro da concisão estrutural do monólogo, a madrugada de bebida, drogas e solidão do protagonista põe a nu sua angustiante divisão interior e abre a cena (o pequeno espaço interno de seu apartamento) para a vertiginosa verbalização de suas fantasias e tentativas de enfrentamento.

    Com o golpe, todos os canais de contato entre intelectuais ou artistas de esquerda com os movimentos populares haviam sido sumariamente cortados: os núcleos de trabalho cultural ligados ao Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC da UNE) haviam sido desarticulados. Em 1968, o Ato Institucional número 5 impusera a censura prévia ao teatro e à imprensa. Uma ideologia de segurança nacional, voltada para o combate ostensivo às atividades ditas subversivas, levara ao acirramento da repressão, perseguição, prisão, tortura e desaparecimento de militantes. No mundo do trabalho, as campanhas salariais foram abolidas, os sindicatos foram postos sob intervenção militar, e o maior processo de acumulação concentrada de renda da história do país teve início.

    Em meados da década de 1950, o capital monopolista passara a dominar o processo de industrialização, alterando radicalmente a estrutura produtiva e impondo um enorme salto tecnológico. Nesse contexto, o Estado brasileiro assumiu os grandes investimentos em infraestrutura, enquanto o capital estrangeiro se direcionou para setores industriais que lhe assegurassem um retorno financeiro mais rápido, como a indústria de bens de consumo duráveis e não duráveis.

    Diante desse quadro, a propaganda foi ganhando importância cada vez maior no Brasil. Entre 1964 e o início dos anos 1970, o próprio governo militar passou a fazer farto uso de propagandas e a divulgar amplamente suas medidas, tornando-se um dos maiores anunciantes do país.

    O modelo econômico implantado pela ditadura apoiava-se na superexploração do trabalho e no consumo de luxo: era o propalado milagre econômico, que, segundo o historiador Emir Sader, tinha como santo o arrocho salarial.¹ O termo milagre econômico designou o conjunto de medidas implantadas através da política econômica de Antônio Delfim Netto,² que fomentou o crescimento ao privilegiar o influxo de capitais estrangeiros – criando um índice prévio de aumento de salários que subestimava a inflação – e ao abandonar os programas sociais do Estado. Enquanto a expansão da indústria (principalmente a automobilística) tinha favorecido as classes média e alta, a compressão dos salários atingiu duramente o proletariado,³ e produziu uma elevada taxa de concentração de renda.

    O milagre foi acompanhado pelo crescimento das classes médias, primeiro nos grandes centros, depois nas cidades menores e nos setores rurais modernizados. A essa expansão, ligada ao aumento da produção industrial, do comércio e dos transportes, associavam-se a explosão demográfica e o crescimento das cidades, do comércio e do crédito.

    A classe média, ao contrário do proletariado, era a beneficiária provisória do crescimento econômico, do modelo político e dos projetos urbanísticos fomentados pelo governo nesse período, e assim desenvolveu uma mentalidade individualista, tornando-se sócia despreocupada do crescimento e do poder, no dizer de Milton Santos,⁴ e apegando-se ao consumo mais do que às perspectivas de transformação da sociedade.

    Diante desse contexto, a escolha temática de Vianna em seu monólogo não poderia ser mais significativa para a abordagem das questões políticas e ideológicas do país. Corpo a corpo colocava em foco as duas opções inconciliáveis que se apresentavam para a intelectualidade de esquerda nas camadas médias nesse momento: a de aderir às formas de promoção regidas pelo sistema, ou a de repudiá-las mantendo o alinhamento com o pensamento político e cultural do setor de esquerda a que antes se ligavam.

    Para Vianna, como dramaturgo, o período pós-golpe e pós-AI-5 era particularmente adverso, uma vez que suas peças passaram a ser sistematicamente vetadas pela censura.⁵ Parte do público do teatro havia aderido à ideologia consumista e individualista agora vigente, e o debate aberto do período do CPC fora suprimido. A necessidade de trabalho, diante desse contexto, levava um número cada vez maior de dramaturgos e atores ao trabalho televisivo e à publicidade.

    Vianna integrava, à época, o Comitê Cultural do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e dentro dele as opções formais e estéticas da chamada contracultura haviam passado a ser objetos de discussão.⁶ No contexto político do país nesse momento, em que todos se viam privados das liberdades mais básicas de expressão e manifestação política, a desconfiança dos processos era norteadora entre os setores artísticos contraculturais.

    A experiência estética e política do CPC, abortada pelo golpe, ainda não havia sido debatida ou mesmo compreendida com o necessário aprofundamento, mas entre as vanguardas contraculturais o seu trabalho artístico e ideário político eram vistos como superados: eram valorizadas as opções formais da poesia concreta, a estética cinematográfica de Glauber Rocha, as criações dos compositores tropicalistas e a poética cênica do Teatro Oficina, de São Paulo, e do Teatro Ipanema, do Rio de Janeiro.

    O texto teatral e a narrativa, entre esses setores, não eram mais considerados as principais instâncias desencadeadoras da cena. As formas de trabalho priorizadas passaram a ser as que tinham afinidade com a performance e com os happenings. O desejo de romper com as convenções vigentes na relação palco e público levava ao uso de expedientes intimidativos na interação com os espectadores.

    No Oficina, os

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