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O Sonho de Amadeo
O Sonho de Amadeo
O Sonho de Amadeo
E-book143 páginas1 hora

O Sonho de Amadeo

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Sobre este e-book

Obra vencedora do Prémio Revelação Literária UCCLA-CMLisboa: Novas Obras em Língua Portuguesa 2021 . O Sonho de Amadeo é o romance de estreia de Leonardo Costa de Oliveira, uma promessa literária do Rio de Janeiro publicada em simultâneo em Portugal e no Brasil.
Amadeo acorda esbaforido após sonhar que foi assassinado com um tiro no peito. Um homem idoso, que não reconhece, aponta-lhe um revólver e atira. Amadeo pinta e faz gravações dos pormenores de que se consegue lembrar, mas falta sempre o detalhe principal: o rosto do assassino.
Certo dia, recebe um envelope com um cartão-postal de uma cidade sobre a qual nunca ouviu falar. No cartão há uma imagem que o remete para um dos sonhos. Amadeo toma uma decisão: tentará encontrar aquela cidade. Por onde começar? Talvez a pista esteja na próxima noite mal dormida.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de ago. de 2021
ISBN9789897026706
O Sonho de Amadeo
Autor

Leonardo Costa de Oliveira

Nasceu em Paracambi, no interior do Rio de Janeiro, no Brasil, em 1983. É geólogo, mestre em Análise de Bacias Sedimentares e doutor em Geociências. Foi professor assistente na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) entre 2009 e 2013. Atualmente, trabalha como geofísico na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro. Em 2012, foi laureado pela Sociedade Brasileira de Geologia com a Medalha de Ouro Fernando Flávio Marques de Almeida, pelo melhor artigo de geologia publicado entre 2010 e 2012. Participou com um conto na coletânea independente Sós (2018) e foi finalista do Prémio Off Flip de Literatura na categoria contos (2021). Também em 2021, venceu o Prémio Revelação Literária UCCLA-CMLisboa: Novas Obras em Língua Portuguesa, com o romance O Sonho de Amadeo. Foi guitarrista e vocalista em bandas de rock alternativo e tem colaborado com resenhas para os selos de indie rock Crooked Tree Records e Jambre Records. A sua ligação à música tem pincelado as narrativas que desenvolve.

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    O Sonho de Amadeo - Leonardo Costa de Oliveira

    9789897026706.jpg

    o sonho de amadeo

    Título: O Sonho de Amadeo

    Autor: Leonardo Costa de Oliveira

    © Autor e Guerra e Paz, Editores, S.A., 2021

    Reservados todos os direitos

    A presente edição não segue a grafia do novo acordo ortográfico.

    Revisão: Ana Cristina Câmara

    Design: Ilídio J.B. Vasco

    Isbn: 978-989-702-670-6

    Guerra e Paz, Editores, Lda

    R. Conde de Redondo, 8–5.º Esq.

    1150­-105 Lisboa

    Tel.: 213 144 488 / Fax: 213 144 489

    E­-mail: guerraepaz@guerraepaz.pt

    www.guerraepaz.pt

    índice

    Prólogo

    PARTE 1. UM ASSASSINO SEM ROSTO

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    PARTE 2. NO VÃO DO TEMPO

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    PARTE 3. A PINTURA

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    O Sonho de amadeo

    Prólogo

    A bala penetrou bem no meio do peito. Não houve grito, nem lamúria, nem dor. Caí ao chão como quedam folhas secas em dias de outono. Não conseguia discernir muito da geleia que derretia ao meu redor, mas tinha a certeza: um homem idoso de feição cadavérica apontava para mim um revólver. Os demônios que assombravam minha mente desaparecem.

    Abro os olhos. A luz da manhã adentrava a janela, tirava­-me o conforto e obrigava­-me a acordar. O silêncio do sono era substituído pelo ruído da cidade. Buzinas, sirenes. Tudo estava, de repente, presente ao meu redor. Suspirei por alguns longos segundos e contei mentalmente até dez antes de me levantar. Estava suado, ainda embebido da sensação do sonho que mais se assemelhava a uma lembrança estranha e familiar.

    Já de pé, estico os braços de ponta a ponta e todos os músculos de meu corpo até que o rosto se enrugue por completo. Suspirei transparecendo um desanimado semblante de tédio. O som da televisão começava a ser percebido, uma voz aguda e alarmada emanava do receptáculo de imagens posicionado na sala a poucos metros de onde eu estava. Ontem, uma terrível tempestade deixou a Zona Norte embaixo d’água, dizia a repórter.

    Caminhei de maneira cambaleante em direção à televisão e, antes que a desligasse, a repórter ainda me deu outra notícia: Teodoro Capo segue desaparecido… Desligo a televisão antes do fim da mensagem.

    O pequeno apartamento, com dimensões modestas e simples acabamentos, estava revirado. No chão, revistas e livros sobre arte misturavam­-se a caixas de copos, pratos, talheres, e uma imensa mancha vermelha de tinta ressecada redesenhava o já consumido azulejo, uma coordenada bagunça, mesclando, em diferentes recortes, figuras de celebridades, bandas de rock e frases soltas. O teto ostentava um ventilador que insistia em um vacilante giro, rangendo sem trégua. Embora ensurdecedor, o som era, para mim, apenas mais um ruído de fundo em toda aquela desordem. As paredes, pintadas em várias cores, rabiscadas ou desenhadas de forma rústica, eram como pinturas rupestres em uma caverna pré­-histórica. Havia também um cavalete no meio da sala, no qual repousava uma pintura inacabada.

    Tinha rasgado várias telas, amontoando­-as umas sobre as outras no canto do quarto. No outro flanco, um pequeno vaso de planta estava quebrado e havia muita terra espalhada pelo chão. Perto dali, uma escrivaninha onde repousava o retrato de um senhor com um sorriso de meia boca no rosto, além de um minigravador portátil e um envelope pardo retangular.

    Desviei­-me da bagunça. Peguei o minigravador portátil e abri a porta do meio do guarda­-roupas, que tinha um grande espelho. Permaneci ali, parado e introspectivo, olhando o reflexo da minha jovem imagem sem piscar, como se quisesse que o garoto franzino do outro lado enumerasse para mim as soluções de todos os meus problemas.

    Aperto o REC:

    – Aqui estou eu.

    Aperto o STOP.

    Fecho a porta do guarda­-roupas.

    Vou à janela e contemplo a pacata vizinhança. Naquele dia, não iria para o trabalho e não importava mais a pontualidade das minhas ações. Franzo o cenho quando vejo o quadro no cavalete. Ainda buscava alguma lembrança, inspiração ou o que quer que fosse para completar aquela imagem. As cores extravagantes, as personagens acinzentadas, sem rosto ou qualquer expressão, a figura esquálida que apontava um revólver em direção a quem o interpelasse. O quadro era colorido em diversas tonalidades: o céu era muito preto, o chão muito verde, mas o personagem no centro da tela era pálido, cinza, sem identidade.

    Dediquei­-me àquela tela durante as últimas semanas num lento processo de composição. Uma janela de lembranças parecia sempre se abrir a cada traço, a cada gota de tinta pingada, rabiscada errantemente sobre a imensidão branca daquela tela. Não se sabia ao certo quem ou o que eu buscava, de maneira incansável, retratar com a poesia de meu traço juvenil. Talvez nem mesmo eu.

    Tomei um café da manhã simples enquanto ouvia Creep, dos Stone Temple Pilots. Pão, manteiga, queijo branco e café com leite pingado. Era a forma como gostava de começar o dia e, apesar de triste, a música evocava certa esperança. «I’m half the man I used to be», dizia o refrão. Para mim, soava como um mantra. O barulho que vinha lá de fora, àquela altura, era parte do ambiente. As paredes tremiam. Pela fresta da janela, pude ver o exército de trabalhadores metidos em uniformes cinzas labutando feito pica­-paus no prédio que se erguia na vizinhança. Mais uma obra dos Capo. Aquilo dava a ideia de não acabar nunca. Mordisquei o pão duro com manteiga e queijo branco. Quando então tudo seria esquecido?

    Aperto o REC:

    – Se nada nos resta, o que nos falta? Sinceramente não consigo imaginar a resposta. E é bem provável que ninguém saiba responder a essa questão. Talvez o Cal, mas ele também não está mais aqui. Tudo tem sido bem louco nos últimos dias, ou meses… não sei mais sobre o tempo nem como me insiro nele. Não consigo imaginar por que diabos essas lembranças atribularam meus sonhos, no entanto, de alguma forma, acordei de novo.

    Aperto o STOP.

    Elevo as mãos à cabeça. O sonho havia sido assustador. Alguém cujas feições eu não reconhecia atirava em mim, bem no peito. Não havia gritos, nem tristeza e nem dor.

    Nem medo e nem dor, pensei. Mordia o pão duro e mastigava devagar enquanto pendurava os olhos no mundo através da janela.

    Troco a fita cassete.

    Aperto o REC.

    PARTE 1

    UM ASSASSINO SEM ROSTO

    Capítulo 1

    O caminhão parou de repente e levantou uma poeira amarelada. O tempo estava seco e já começava a acumular areia na rua. De calça jeans, blusa sem estampa e à frente do portãozinho de ferro, eu apenas olhava a movimentação. Dois homens desceram da lata de ferro, que, já bastante enferrujada, dificultava a distinção da cor que um dia a cobriu. Talvez fosse o caminhão vermelho de que me informaram.

    Um dos homens era negro e parecia ser o chefe, mas não havia nenhuma evidência plausível para isso. Bradava ordens com vigor, era musculoso como um halterofilista e, na face, distinguia­-lhe um bigode mal aparado, como um personagem de desenho animado. Usava uma camiseta azul com furos irregulares visíveis na parte frontal, sugerindo características suficientes que o denotavam como uma espécie de líder. O outro homem, bem mais magro e nada atlético, possuía a pele morena e mantinha o semblante o tempo inteiro fechado, resmungando cabisbaixo.

    Dirigiram­-se para trás do caminhão e abriram a caçamba¹, o que revelou um amontoado de caixas, sacolas cheias de utensílios diversos e mobílias velhas. Nada estava em perfeito estado.

    – Parece a mudança da minha ’vó – diz o homem moreno mal­-humorado.

    O que se portava como o chefe observa­-o de cima a baixo.

    – Pelo visto, teve a quem puxar.

    – Respeita a minha ’vó, seu cretino!

    Eles discutiam sem dar indícios de que alguma solução sairia dali. Falavam palavrões e acusavam­-se com os dedos em riste.

    – São minhas coisas – intervenho. Caminho em direção aos dois homens ajeitando o cabelo encaracolado que me descia pela têmpora. – Prazer, meu nome é Amadeo. Falei com um de vocês pelo telefone.

    Os dois homens cessaram a discussão de repente, disfarçando, como se tudo não passasse de uma brincadeira entre velhos amigos, o que obviamente não eram.

    – Prazer, campeão. Foi comigo que falou – o homem negro estende­-me a mão. – Meu nome é José Carlos, mas pode me chamar de Zeca. Esse aqui é o Espeto.

    – Prazer, meu nome é Valdeir – corrigiu Valdeir, o Espeto, que era, pelo menos, dois palmos menor do que Zeca. Mascava um chiclete desanimado e apertou a minha mão sem muito vigor. Foi como segurar um pé de alface.

    Espeto e Zeca disfarçavam e tentavam dar a impressão de que tudo estava normal. Afinal, espantar a clientela não era o objetivo do dia. Embora fossem ágeis naquela função, descarregavam as coisas com menos cuidado do que eu gostaria.

    – O apartamento fica no terceiro andar – abro a portinhola de ferro. – É o apartamento 33.

    – Vamos lá, Espeto, mãos à obra – diz Zeca, já tirando algumas caixas da caçamba.

    Os dois começaram subindo as caixas menores, mais fáceis de transportar ao longo dos três lances de escada. O pequeno corredor desnivelado, com degraus assimétricos, apresentava­-se como um obstáculo a mais na jornada até ao apartamento. Espeto não se continha, reclamava sem fazer o menor esforço de soar mais simpático.

    – Sem elevador vai ser foda. Sem elevador nem devia ter vindo. Sem elevador, pelo amor de Deus, tinham que fazer uma escada melhor.

    Espeto, por favor, não comece com esse mau­-humor – contém­-lhe Zeca.

    Espeto pegou três caixas, que, a julgar por sua

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