O Homem que Nasceu Azul
De Marcelo Reis
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Sobre este e-book
Estas perguntas trazem à tona o tema central deste livro, onde o surrealismo, o sobrenatural e a fantasia se unem a um retrato do preconceito e do extremismo, que permeia a sociedade contemporânea.
Uma narrativa ficcional, dinâmica, surpreendente e crítica à nossa organização social e nosso medo do novo, que convida à reflexão, onde as diferentes reações ao incomum mostram todos os extremos do ser humano: da idolatria à aversão, do medo à tietagem, de ir ao extremo para buscar conhecimento até a completa acomodação com a ignorância e resistência ao próprio conhecimento.
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O Homem que Nasceu Azul - Marcelo Reis
PARTE I
-Você está grávida, Maria?
-Não senhora. Não estou, não!
-Fale a verdade, menina! Ai, meu Deus! Você devia ter me falado antes de começar a trabalhar aqui em casa! E agora? Essa criança tem pai?
-Dona Bernadete... eu... eu...
-Chega de besteira, moça! Eu já sei que você está buchuda e ponto! Não vou te mandar embora. Não se preocupe!
Maria começou a chorar. Aos 20 anos de idade estava grávida de um homem, que a abandonara dois meses antes. Havia conseguido um emprego como empregada doméstica na casa de uma família do bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Foi uma vitória, após muitas dificuldades e percalços. Lá havia um pequeno quarto de fundos, com banheiro, local que finalmente podia chamar de lar, após incursões por casas de parentes distantes, vagas em cubículos e um tempo de convívio com o pai da criança.
-Não precisa chorar – disse a patroa – Nós vamos te ajudar! Quem sabe uma criança não alegra um pouco esta casa de velhos?
-Eu não sei o que dizer, Dona Bernadete! Obrigada! Obrigada!
-Chega, menina! Chega! Volte ao trabalho! Vou ligar para um médico amigo e depois dou notícias!
Dona Bernadete era aposentada do Ministério da Fazenda. Trabalhou anos e anos em serviços burocráticos, o que lhe possibilitou comprar um bom apartamento, próximo à praia, na Rua General Artigas. Tinha cerca de sessenta anos e nunca fora casada, nem tampouco teve filhos. Sofreu um aborto aos vinte e cinco e a decepção foi tão grande, que deixou a ideia de engravidar se perder no tempo.
Sua mãe, Dona Vera, uma idosa professora aposentada, vivia com ela, bem como seu tio, caçula da leva de quatro irmãos. Ele se chamava Venilton e era um ex-militar, cheio de manias e neuroses, que deixou cedo a carreira no exército e passou a curtir aquilo que, segundo ele, a vida tinha de bom
.
Neste ambiente comum da classe média carioca uma nova criança estava prestes a vir ao mundo.
__________________________###_______________________
-Eu quero que você vá para o inferno! Nunca mais ligue aqui! – estas foram as palavras de Maria, ao telefone, direcionadas ao pai de Berilo.
Berilo. Sim, o nome do menino, que ela carregava em seu ventre, já fora escolhido. Não queria mais a intervenção daquele homem, que em sua cabeça nada acrescentaria à criança. Iria criar seu rebento através das próprias forças e com a ajuda daquela família, que a cada dia estava mais ansiosa e fazendo mais preparativos para sua chegada.
No dia 19 de janeiro de 1994 Maria sentiu as contrações e a correria na casa foi grande. Bernadete ligou para Antônio, o Toninho
, chofer que atendia pessoas com seu veículo particular e do qual era cliente assídua. Pediu que viesse o mais rápido possível, pois Maria estava prestes a dar a luz.
Toninho fazia ponto nas proximidades da Praça Antero de Quental, o que facilitou sua rápida chegada. Os três integrantes da família e a empregada já estavam a postos na porta do prédio. Uma trupe agitada, que adentrou o Chevrolet Caravan do Chofer e se dirigiu à Maternidade Santa Lúcia, em Botafogo.
Os preparativos já tinham sido conduzidos pelo Dr. Adão e