Nem para sempre, nem nunca mais
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Nem para sempre, nem nunca mais - Maria da Glória Cardia de Castro
À
Débora,
minha filha
e autora da
minha alegria de viver.
dedicaQuando
emigramos de nossa terra,
atravessamos a fronteira
mas sem ir embora
da nossa pátria
E
se onde é sincero amor
existe uma única mulher
Onde
não é pátria
qualquer lugar serve
José Craveirinha
(Poeta moçambicano)
SUMÁRIO
1. Sob o sol do Guarujá
2. O bota-fora do século
3. Os primeiros choques de civilizações
4. Início difícil
5. Uma conversa de mulher para mulher
6. A carta
7. Um passeio inesquecível
8. Um capítulo à parte
9. A vida continua…
10. No jantar, a surpresa
11. Uma homenagem à primavera
12. O seminário
13. Até aqui tudo bem…
14. Nem tudo sai como a gente quer
15. O final, quem decide?
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Imagem1. SOB O SOL
DO GUARUJÁ
Luísa e André caminhavam descalços sobre a areia morna. Em silêncio. Ela, angustiada, buscava em vão palavras para dizer a André que em breve partiria. Nunca, desde crianças, separaram-se por período mais longo do que as férias escolares. Sempre na mesma escola, na mesma rua. Não davam um passo sem que o outro soubesse. André parecia adivinhar. Segurava a mão de Luísa com força, quase magoando-lhe os dedos.
Ela suspirava vez por outra, olhavam-se apaixonados, abraçavam-se e nada diziam. O sol se pondo tingia o horizonte, reflexo dourado sobre as águas. A praia estava quase deserta àquela hora. Novembro chuvoso e frio, o lindo domingo surpreendera os que tiveram coragem de descer a serra. Duas gaivotas voavam incansáveis, um voo lento e preguiçoso, em círculos, como se tentassem se alcançar, numa brincadeira monótona, sem fim.
– Vamos sentar um pouco? – propôs André, sentando-se em uma pequena pedra onde não caberiam os dois. Puxou a namorada, sentando-a sobre os joelhos. Cheirava seus cabelos, ainda úmidos, embaraçados pelo vento.
Um pressentimento estranho incomodava-o. O clima nervoso na casa de Luísa perturbara seu espírito naquela manhã. Ainda não falou com ele, não é mesmo?
, ouvira a mãe dela perguntar. Luísa respondera impaciente: Não! Você não sugeriu que eu só falasse no Guarujá?
O que teria ela a lhe dizer de tão importante? Ao mesmo tempo, temia fazer perguntas e precipitar as coisas. O convite para o fim de semana na praia, em plena época de provas, a troca de olhares dos pais dela e de seus próprios pais, antes da viagem, enchiam seu coração de temor e de certeza de que alguma coisa grave estava por acontecer. A pressão dentro dele foi subindo, subindo, até não aguentar mais. Tudo, de repente, começou a incomodá-lo. Até Luísa sobre seus joelhos, naquele silêncio covarde.Levantou-se bruscamente, deixando-a cair de quatro na areia. Assustada, ela se ergueu sozinha.
– O que aconteceu, André? – perguntou espantada. Ele parado, diante dela, desafiador.
As coisas pareciam difíceis. Seria talvez mais fácil arrancar o que Luísa tinha pra lhe dizer, no tranco.
– Eu é que pergunto! O que tá acontecendo com você? Há dias olha pra mim como se eu estivesse condenado à morte! Desde ontem, quando saímos de São Paulo, suspira o tempo todo, me olha com o rabo do olho, mal responde às minhas perguntas!
Luísa, dócil demais e insuportavelmente submissa naqueles últimos dias, enfureceu-se.
– É que tô indo pra Paris, seu grosseiro! Meu pai foi transferido pra lá e embarcamos dentro de oito dias, seu estúpido!
Agora André empalidecia. Aproximou-se de Luísa, que explodia em lágrimas, e levantou seu rosto:
– O que você tá dizendo? – perguntou-lhe incrédulo.
– Vou embora, André – dizia Luísa em prantos. – Vou morar em Paris.
– Seu pai enlouqueceu! – murmurou ele. – Não podem fazer isso com a gente!
– Entendeu por que eu não conseguia falar? Há uma semana tentava dizer e não conseguia.
– Isso não é possível! Por quanto tempo? Não acredito! Vamos fazer alguma coisa, Luísa! – falava desesperado, abraçando-a.
Os dois choravam. Eram duas crianças desoladas. Ganharam a calçada. Algumas pessoas pararam penalizadas diante da cena comovente. Outras divertiam-se ou preocupavam-se.
Os dois pouco se importavam com a curiosidade e as suposições dos que testemunhavam aquele momento. Só tomaram o caminho de casa depois de terem chorado tudo o que tinham para chorar.
Lúcia e Luís os esperavam à entrada do prédio. A fisionomia dos jovens revelava a conversa que tinham tido. Luís pôs a mão sobre