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TESSITURAS EDUCATIVAS NA ATUALIDADE: ENTRELAÇANDO OLHARES
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TESSITURAS EDUCATIVAS NA ATUALIDADE: ENTRELAÇANDO OLHARES
E-book395 páginas4 horas

TESSITURAS EDUCATIVAS NA ATUALIDADE: ENTRELAÇANDO OLHARES

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Sobre este e-book

Brasil, março de 2021. Neste momento, o país chora por milhares de vidas interrompidas. São quase duzentas e sessenta mil vidas nutridas por sonhos, ideais, projetos, lutas... trajetórias incontínuas por um vírus perverso, reflexo de crises provocadas por vários divórcios sociais, sobretudo do ser humano com a natureza, constituindo uma das mais severas crises sanitárias da nossa história em decorrência da pandemia do vírus Sars-Cov-2 (Covid 19). Diariamente, no momento desta escrita, são quase duas mil famílias em luto em nosso país, famílias destruídas que sofrem e clamam por socorro, pela garantia de direitos, por justiça social... por oxigênio. O país já entrou no pré-colapso com a quase totalidade dos leitos ocupados e muitas vidas à espera de uma vaga, clamando por respiradores... por UTI. O país está sufocado, precisa respirar... E a educação, nas suas mais diversas dimensões, como se desenha neste momento? Qual o seu papel neste cenário tão assustador e revestido por incertezas?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de set. de 2021
ISBN9786558594727
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    TESSITURAS EDUCATIVAS NA ATUALIDADE - Maria Eurácia Barreto de Andrade

    SEÇÃO I

    TECENDO SABERES SOBRE ALFABETIZAÇÃO E EDUCAÇÃO DE PESSOAS JOVENS, ADULTAS E IDOSAS

    EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM TEMPOS DE PANDEMIA: ANÁLISE DE PESQUISAS REALIZADAS NO BRASIL NO ANO DE 2020¹

    Maria Eurácia Barreto de Andrade

    Sineide Cerqueira Estrela

    INTRODUÇÃO

    É exatamente a vida que, aguçando a nossa curiosidade, nos leva ao conhecimento; é o direito de todos à vida que nos faz solidários; é a opção pela vida que nos torna éticos (FREIRE, apud BARRETO, 2004, p. 11).

    Discutir e refletir sobre o cenário da Educação de Jovens e Adultos em tempos de pandemia, a partir dos estudos realizados, disponibilizados pela plataforma Google Acadêmico, representam um movimento necessário, ousado e extremamente relevante, dada toda a complexidade que envolve a temática em tela, principalmente neste momento em que crises e divórcios sociais de diversas ordens instalam-se perigosamente no país.

    A epígrafe que abre este estudo convida-nos a refletir sobre a vida e sua importância neste cenário social tão assustador. Freire mobiliza-nos a pensar e promover movimentos de resistência em favor da vida, em favor do ser humano, dos oprimidos. Mais uma vez, destaca o sujeito, o ser humano, os homens e as mulheres como centralidade, como aporte fundante para qualquer ação.

    A escolha pela vida é essencialmente um ato de conhecimento, de solidariedade e de ética. A opção pela vida deve/deveria mobilizar as ações humanas, no sentido de compreendê-la como centralidade que atravessa as reflexões, os projetos, as políticas e as intervenções. É pensando nesta perspectiva que destacamos a epígrafe, no sentido de alertar todos e todas para o momento de crise sanitária, política, econômica, ética, ecológica, dentre tantas outras, as quais provocam muitos divórcios sociais, afetando diretamente a sociedade brasileira, sobretudo o público que compõe a Educação de Jovens e Adultos.

    O país e o mundo enfrentam uma das maiores crises sanitárias de todos os tempos, responsável pelo luto de mais de um milhão e meio de famílias. São mais de duzentas e vinte mil famílias brasileiras (até o momento da escrita deste artigo) que choram pelo interrompimento de vidas, de trajetórias, de sonhos, de projetos. São mais de duzentas e vinte mil vidas perdidas no nosso país e um percentual significativo destas compõe-se de jovens, adultos e idosos, da classe trabalhadora, negros, com subempregos, residentes nas periferias – marcas que caracterizam o perfil do público da modalidade da Educação de Jovens e Adultos.

    Em meio a essa crise pandêmica que modificou radicalmente a vida das pessoas e as rotinas das instituições e espaços sociais, vivemos em tempos de conservadorismo extremo, de não ciência, de tabus e retrocessos que afetam diretamente a educação brasileira. Nesse ínterim, refletir, estudar e problematizar a articulação das pesquisas que dedicam seu olhar a Educação de Jovens e Adultos neste momento pandêmico, marcado por incertezas, retrocessos e negação da ciência e de legados históricos, é, antes de tudo, um ato de resistência, de coragem e de enfrentamento.

    É neste contexto que surge a intenção deste estudo, a fim de dedicar atenção às pesquisas que vem sendo desenvolvidas no país, tentando compreender as diferentes tessituras a partir das abordagens que atravessam estas duas temáticas tão relevantes e urgentes neste momento atual: a EJA e a pandemia. Desta forma, a pesquisa se mobiliza a partir da seguinte questão: o que discutem/refletem as pesquisas realizadas no Brasil sobre Educação de Jovens e Adultos, no contexto da pandemia (Covid 19)?

    No intuito de contemplar a pergunta que movimenta a pesquisa, o objetivo direcionador do estudo traduz-se em analisar as pesquisas realizadas no Brasil sobre Educação de Jovens e Adultos, no contexto da pandemia (Covid 19), sob a perspectiva das publicações do google acadêmico, no ano de 2020.

    Para tanto, debruçamo-nos sobre estudos, por meio da plataforma do Google Acadêmico, no mês de janeiro de 2021, utilizando como critério de inclusão trabalhos que tratam do tema em pauta, escritos em língua portuguesa, com os termos EJA e a Pandemia no título, no resumo ou nas palavras-chave, no ano de 2020. Foi utilizado, inicialmente, o método de revisão sistemática e, em seguida, uma análise qualitativa dos dados encontrados na pesquisa. De um total de 449 resultados, após leitura cuidadosa dos títulos, foram selecionados trinta e nove com maior proximidade com a temática; após leitura do resumo e palavras-chave, foram selecionados 11 trabalhos. Dentre estes estudos selecionados, foi observada a utilização na sua quase totalidade do termo Educação de Jovens e Adultos e não Educação de Jovens, Adultos e Idosos. Exatamente por isso optamos por assumir, neste trabalho, o termo mais utilizado pelas pesquisas analisadas.

    Desta forma, sistematizamos o artigo em quatro seções: a introdução problematiza a temática pesquisada e apresenta a intenção do estudo realizado. Na sequência, o aporte teórico, intitulado Educação de Jovens e Adultos no contexto da Pandemia Covid 19, discute e traz apontamentos e reflexões para melhor compreensão sobre a temática. Logo após, descrevemos a trilha metodológica, seguida da análise e reflexão dos dados produzidos a partir do levantamento realizado. Por fim, apresentamos as considerações finais, com os resultados sistematizados com base na pesquisa realizada.

    EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO CONTEXTO DA PANDEMIA COVID 19

    Dialogar sobre o panorama da Educação de Jovens e Adultos no contexto da Pandemia é, antes de tudo, uma atitude de ousadia e encontra-se imbuída de uma postura política, uma vez que não há como refletir sobre o cenário atual articulado à modalidade da EJA sem problematizar os inúmeros processos conservatórios, de negação e retrocessos que estamos vivendo em um contexto de crise sanitária grave e perversa que mata diariamente mais de mil pessoas no país.

    Vivenciamos, desde março de 2020, um contexto de não normalidade em todos os espaços e contextos do país. Assim como, no século passado, o planeta viveu o caos com a pandemia da Gripe Espanhola², a COVID 19 é, atualmente, responsável pela mudança radical na dinâmica da nossa vida e na vida das instituições escolares e não escolares. Nesse ínterim, as Universidades são obrigadas a paralisar suas ações presenciais, atendendo à orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que declara estado de emergência no mundo, e à Portaria nº 188, de 3 de fevereiro de 2020, do Ministério da Saúde, que declara Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), em decorrência da contaminação humana. A partir daí, novas organizações são pensadas no intuito de garantir a continuidade dos projetos e ações articuladas, sem, portanto, deslegitimar os protocolos de segurança e os decretos de municípios e estados.

    Paralelo a todo esse contexto pandêmico, vivenciamos, também, uma grande crise política, com ações conservadoras, antidemocráticas e de negação à ciência, a direitos conquistados, a epistemologias consolidadas no Brasil e no mundo e a investigações realizadas por pesquisadores e instituições conceituadas há décadas no país. O duro ataque à ciência, na tentativa de deslegitimar protocolos de segurança, estudos científicos de substâncias pesquisadas por laboratórios solidificados mundialmente, necessários à busca pelo combate da grande infecção humana pela Covid 19, colocam em risco milhares de vidas, de trajetórias, de sonhos, principalmente das pessoas adultas e idosas, da classe trabalhadora, que contemplam o público da EJA.

    É neste contexto de tensões e de divórcios sociais, causados pela conjuntura pandêmica e de crise política que o país vive, que a Educação de Jovens e Adultos se inscreve como uma temática urgente, necessária e de grande relevância, dadas todas as questões que atravessam o público, considerando o contexto e as contingências que alcançam os homens e as mulheres que se inserem no mapa da modalidade da EJA.

    Neste cenário atípico, novas organizações e formas outras de ações foram pensadas por instituições, organizações e espaços sociais, no sentido de dar continuidade às propostas planejadas. Nesse contexto, estão inseridas as instituições escolares e acadêmicas, as quais também precisaram articular outra forma de ensino não presencial para atender as necessidades do contexto: o ensino remoto. Assim, a modalidade da Educação de Jovens e Adultos, mais uma vez, insere-se neste panorama excludente, visto que grande parte do seu público não tem acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) ou não consegue utilizá-las com autonomia, de modo que consiga participar efetivamente do processo. Diante disto, alguns questionamentos fazem-se necessários: até que ponto a Educação de Jovens e Adultos pode ser contemplada nesta nova forma de ensino? Como estão os estudantes da EJA neste contexto pandêmico? Quais ações/intervenções estão sendo pensadas para este público? Neste momento em que se faz necessário o isolamento social, como se encontra a saúde mental dos estudantes da EJA? E, diante de um alto nível de letalidade, sendo um grande percentual de adultos, idosos com ou sem comorbidade, de que forma estão concebendo este momento, recorrentemente chamado de novo normal? Quais ações estão sendo pensadas e desenvolvidas para o público da EJA neste contexto de forte crise sanitária? Quais políticas públicas e currículos estão sendo articulados para a EJA? De que forma a EJA é vista pelo atual governo? Estas e tantas outras questões estão, aqui, em pauta quando se propõe analisar as pesquisas realizadas no Brasil sobre Educação de Jovens e Adultos, no contexto da pandemia (Covid 19), sob a perspectiva das publicações do google acadêmico, no ano de 2020.

    Diante desta contextualização, faz-se importante pensar, discutir e problematizar sobre o momento atual, considerando o contexto pandêmico e político, além das especificidades que caracterizam a modalidade da Educação de Jovens e Adultos. Assim, para tais reflexões não poderíamos deixar de lado as ideias de Paulo Freire, que tanto ensinou, com suas palavras e ações, a pensar no outro como sujeito de direito, a defender a justiça social, a pensar na possibilidade de um mundo melhor, menos feio, mais humano. Ensinou-nos a defender a vida como expressão máxima da ética, da solidariedade e do conhecimento, que o diálogo é o principal método pedagógico e, sobretudo, ensinou-nos que não existe educação neutra. Conforme anunciado por Haddad (2018), Paulo Freire, na sua obra Educação como Prática de Liberdade (1974), trouxe para o debate

    [...] a não neutralidade da educação e o sentido político da educação frente a um mundo em transição; mostrou que a educação de pessoas jovens e adultas necessariamente deveria ter características próprias frente aos programas voltados à educação infantil; afirmou que a educação não deveria ser separada da cultura e das formas de pensar e viver das pessoas jovens e adultas; afirmou a horizontalidade nas relações entre educando(a) e educador(a), reconhecendo saberes distintos e afirmando o diálogo como método e postura epistemológica. (HADDAD, 2018, p. 180).

    É nesta perspectiva e tantas outras anunciadas por Freire que seus estudos convergem de forma significativa com este momento de luta e enfrentamento em favor da vida, dos homens e das mulheres das classes populares, negros e pardos, das periferias e dos espaços do campo que na conjuntura atual vêm sofrendo ainda mais negações e exclusões. É urgente a ampliação do debate e das ações sobre o direito à educação, à saúde, aos bens culturais produzidos historicamente e, sobretudo, o direito à vida.

    É tempo de ecoar e lutar pela afirmação do sentido político da educação neste momento novo, para que o chamado à luta seja feito por todos em favor da vida, da educação, do ser humano e da afirmação da democracia. Este momento convida-nos para a libertação de todos os sujeitos, o que para Freire (2005) pode ser caracterizado como um parto, de modo que possam nascer novos homens e novas mulheres com a garantia da libertação. Para tanto, há a necessidade de uma ação pedagógica emancipadora, imbuída de ação política, para que os oprimidos possam buscar a reconstrução da sua humanidade roubada e [...] libertar-se a si e aos oprimidos (FREIRE, 2005, p. 30).

    Reafirmando essa perspectiva da libertação humana, Moreira (2018), ao refletir sobre as ideias de Freire, evidencia uma dimensão/conceito que converge diretamente com as abordagens apresentadas: a emancipação. Destaca que a emancipação é viva nas suas obras [...] como uma grande conquista política a ser efetivada pela práxis humana, na luta ininterrupta pela libertação das pessoas, de suas vidas desumanizadas pela opressão e dominação social. (MOREIRA, 2018, p. 181). Estes conceitos estão diretamente relacionados à modalidade da Educação de Jovens e Adultos e à conjuntura atual, marcada por retrocessos, conservadorismo, ações antidemocráticas e opressão, sendo urgente a luta em favor da educação pública, democrática, gratuita e socialmente referenciada, a fim de que as pessoas da classe trabalhadora possam ter garantidos os direitos humanos básicos, principalmente da escolarização qualificada e da vida.

    Agora, mais do que nunca, a Educação de Jovens e Adultos deve estar presente nas pautas e debates educativos e institucionais, por compreender um momento conjuntural delicado de crise, a qual exige a adoção do distanciamento social em favor da vida e da não proliferação da infecção humana, causada pela Covid 19. Nesse ínterim, o público que compõe a modalidade encontra-se marcado por muitas incertezas, medos, dúvidas e segregados em seus espaços, o que pode provocar outras crises e processos de adoecimentos. Desta forma, questionamos: como a escola pode contribuir para contemplar a Educação de Jovens e Adultos neste novo formato? Como atender as necessidades de um contexto pandêmico, sem perder de vista a cultura, os sujeitos e seus contextos? De que forma pensar ações/intervenções para os jovens e adultos da EJA que são, na sua maioria, pouco escolarizados e com pouca familiaridade com as tecnologias digitais? De que forma podemos enfrentar e resistir com o contexto político atual marcado pela ausência de políticas para a EJA? Estas são questões que devem ser postas em pauta ao se refletir sobre a modalidade nesta conjuntura de profundas crises sociais, políticas e sanitárias.

    Diante dos questionamentos apresentados, podemos refletir que a Educação de Jovens e Adultos atravessa um momento delicado, marcado por dúvidas, incertezas, invisibilidades, negações e insuficiência de políticas públicas que assegurem o seu lugar de direito. Não se pode mais fechar os olhos, recuar ou se omitir diante de tantos atrasos. É momento de resistência, do convite à marcha, à luta em favor da educação de pessoas jovens e adultas, em favor da vida e da democracia que se encontra ameaçada. É preciso garantir a todos os jovens, todos os homens e todas as mulheres que compõem o público da EJA o direito à escolarização qualificada e gratuita, que atenda as suas necessidades, considerando seu trabalho, sua vida familiar e todas as questões que atravessam a sua trajetória, pois, conforme anunciado por Arroyo (2017, p. 106),

    A EJA e seus jovens e adultos participam da tensa negação do reconhecimento dos pobres, negros, indígenas, mulheres, trabalhadores empobrecidos como sujeitos de direitos. Sujeitos não só do direito à escola, à educação, ao conhecimento, à cultura, mas a negação mais radical do reconhecimento como humanos, isto é, como sujeitos de direitos humanos. É promissor que os profissionais nas escolas [...] afirmem essa dimensão ignorada, negada: reconhecê-los sujeitos de direitos. Logo a EJA e as escolas atuam como tempos de afirmação de direitos humanos. (ARROYO, 2017, p. 106).

    É preciso, mais do que nunca, lutar para que a EJA ocupe lugar de centralidade na educação, dado todo histórico de negação e de invisibilidade. É urgente que esta modalidade ganhe esse lugar de luminosidade, para que os jovens e adultos inseridos possam redefinir seus movimentos sociais e humanos, conforme pode ser observado nas reflexões de Arroyo (2017):

    [...] A experiência escolar, social da EJA e da docência nunca foi carregada de luminosidade de futuro nem sequer de desconstrução de passados tão pesados. [...] Suprir-reparar percursos truncados escolares. As tentativas desses passageiros de fazer dessa volta à escola uma experiência que redefina percursos sociais e humanos tão brutalmente entrelaçados às estruturas, aos padrões de poder e de trabalho, de propriedade-apropriação da terra, da renda, tão sexista, classistas, racistas. [...]. (ARROYO, 2017, p. 08).

    Deste modo, não podemos tratar o contexto com invisibilidade. Torna-se necessário refletir para além das dimensões teórico-conceituais, ou seja, ampliar as discussões sobre as condições e estratégias pedagógicas capazes de promover o encontro com os estudantes, de modo que possibilite o estreito diálogo e articulação neste momento tão atípico. Este encontro poderá promover maior acolhimento, diálogo, informações, somados às estratégias pedagógicas possíveis que alcancem os estudantes nas suas necessidades sociais, pedagógicas e humanas.

    CAMINHOS METODOLÓGICOS TRILHADOS

    A opção metodológica neste estudo se inscreve na revisão sistemática, por compreender, segundo Gouch (2007), um processo de análise e síntese da literatura existente acerca da temática pautada, além de possibilitar a resposta para uma pergunta sobre um tema apontado por meio do estudo da literatura existente, o que compreende exatamente a nossa intenção na pesquisa.

    Conforme anunciado por alguns autores, dentre os quais destacam-se Briner e Denyer (2012), alguns processos são necessários para uma revisão sistemática. Assim, destacam, pelo menos, cinco passos importantes para uma investigação qualificada, quais sejam: inicialmente o planejamento da pesquisa, considerando a definição do problema, dos objetivos e processos; em seguida, recomendam a localização dos estudos, com a definição das bases, critérios de inclusão e exclusão, busca e documentação; logo após, realiza-se a avaliação das contribuições, com a análise dos resumos e palavras-chave para iniciar o próximo passo que consiste na análise e síntese das informações; por fim, produz-se o relato dos resultados, com a sistematização do trabalho.

    Diante dos passos apresentados pelos autores supracitados, procuramos segui-los cuidadosamente, depois da definição do problema mobilizador da pesquisa e objetivo definimos a base para a produção dos dados e a opção foi pelo Google Acadêmico, por ser uma fonte confiável com trabalhos importantes de todos as regiões do país. Como critérios de seleção utilizamos: trabalhos realizados no Brasil, tendo como descritor EJA e a Pandemia, publicados no ano de 2020 e disponíveis para download gratuito.

    Para a busca, utilizamos, inicialmente, o descritor EJA e a Pandemia, aspeado, para assegurar maior aproximação e não variação, e definimos o ano de 2020, considerando o período pandêmico ter se instalado no país neste ano. No entanto, não foram encontrados resultados. Resolvemos, então, pesquisar pelo descritor sem uso de aspas. Na busca foram encontrados aproximadamente 499 trabalhos. Depois da leitura dos títulos foram extraídos 39 com maior proximidade com a temática e, após leitura do resumo e palavras-chave, foram selecionadas 11 pesquisas que constituem a base dos dados da investigação em pauta. Assim, estes trabalhos foram baixados e salvos em uma pasta e depois da leitura foram sistematizadas as informações, contemplando título, autor(es), objetivo/questão, palavras-chave, metodologia e principais resultados, sendo utilizadas no momento da análise e discussões.

    RESULTADOS E DISCUSSÕES

    Depois de todo movimento de leitura e seleção dos trabalhos a partir das reflexões acerca da EJA e a Pandemia, elegemos 11 trabalhos que estão mais diretamente articulados aos objetivos deste estudo. Estes foram classificados por categorias, seguindo os pontos a seguir:

     Objetivo(s);

     Palavras-chave;

     Metodologia de pesquisa;

     Resultados.

    Estas categorias foram analisadas tomando como referência as teorias aqui priorizadas. Assim, os 11 trabalhos que constituem as bases deste estudo apresentam importantes reflexões sobre a modalidade da Educação de Jovens e Adultos no contexto da pandemia da Covid 19. São estudos de extrema relevância que problematizam, discutem, refletem, anunciam e denunciam este canário tão anômalo que o Brasil enfrenta desde o início do ano de 2020.

    As palavras-chave desses estudos apresentam diversas abordagens que convergem com o foco desta pesquisa: a EJA no contexto da pandemia. Desta forma, conforme já esperado, as palavras que apareceram com maior frequência foram a Educação de Jovens e Adultos com nove ocorrências e Pandemia com sete ocorrências. Além disso, outras foram contempladas, tais como: Ensino Remoto, Covid-19, Educação não presencial, Educação a Distância, Políticas Educacionais, Educação Profissional Integrada, Trabalho e Educação, Currículo, Etnomatemática, Ecolonialidade, Projeto Interdisciplinar, Ensino Médio, Reinvenção, Tecnologia, Prática Pedagógica, Educação Básica, Formação Continuada, Cultura digital, Formação humana, Políticas Públicas, Crise ecológica, Aprendizagem, Bem-estar planetário e Tecnologias da Informação e Comunicação. Todas estas abordagens foram contempladas nas pesquisas realizadas no ano de 2020, como uma forma de grito em silêncio, mas com possibilidade de ecoar nos mais diversos espaços e territórios, no sentido de visibilizar temáticas tão importantes nos mais diversos enfoques.

    No campo metodológico, percebemos que, na sua totalidade, os trabalhos analisados assumem a abordagem qualitativa da pesquisa e olhar interpretativo e exploratório. Contempla estudos de natureza documental e bibliográfica, além de sistematização de experiências por meio de pesquisa interventiva, com destaque para as práticas pedagógicas, debates formativos e análises embasadas em teorias da decolonialidade associadas à etnomatemática. As pesquisas aqui evidenciadas, embora trilhando por diferentes caminhos metodológicos e abordagens específicas, são complementares e estão diretamente relacionadas. Todas as pesquisas dialogam e as reflexões traduzem questões atuais e necessárias no campo da EJA articulada ao contexto da pandemia. Todas elas apresentam resultados de estudo/intervenção/experiências formativas que muito contribuem para este momento marcado por tantas crises e divórcios representativos na sociedade atual, no intuito de possibilitar a ampliação de um debate tão necessário e importante, mas, sobretudo, fazer ecoar as vozes dos pesquisadores e sujeitos envolvidos em cada experiência/pesquisa.

    Analisamos os objetivos ou questões de pesquisa juntamente com os resultados, a fim de encontrarmos circularidade entre eles, ou seja, resposta para as questões levantadas pelos autores. Não foram identificados os objetivos e/ou questões em todos os trabalhos, mas a partir de leitura cuidadosa objetivamos a intenção da pesquisa a partir dos apontamentos apresentados no resumo e introdução, de modo que pudéssemos ter um norteamento do estudo realizado. Buscamos identificar possíveis relações entre o objetivo/problema e os achados, no entanto, em alguns trabalhos não ficou explícita a relação. Contudo, dada a riqueza dos estudos em suas várias abordagens contempladas, consideramos a validade e legitimidade de todos os trabalhos aqui analisados. Desta forma, buscamos avaliar o objetivo/questão, o argumento dos autores e suas considerações a respeito da temática.

    Com o estudo intitulado Educação não Presencial na EJA do Paraná em Tempos de Pandemia, Francisca Vieira Lima, Aldemar Balbino da Costa, Cléber Lopes e Sonia Maria Chaves Haracemiv apresentam ampla abordagem sobre a educação não presencial, tomando como parâmetro o contexto da pandemia da Covid-19 e suas implicações na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para tanto, objetivam refletir sobre os documentos que regem a educação não presencial no estado do Paraná e sobre as contradições de sua efetivação na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, considerando a urgência de colocar em pauta a importância da EJA frente ao cenário atual. (LIMA et al., 2020, p. 106).

    Os autores apresentam uma contextualização da conjuntura pandêmica, fazendo alusão a outro momento de crises social, econômica e sanitária, a Gripe Espanhola, no século passado; trazem reflexões importantes acerca da modalidade de Educação a Distância (EaD) e seu conceito marcado por tensões históricas, políticas e sociais. Além disso, refletem e problematizam sobre a modalidade EaD no contexto da Educação de Jovens e Adultos, de modo a atender as especificidades dos sujeitos que são diversos e com trajetórias truncadas e de negação de direitos. Apresentam resultados de pesquisas no estado do Paraná, legitimando as reflexões destacadas, além dos documentos normativos estudados, os quais dialogam com as modalidades EaD e EJA no contexto da pandemia do referido estado.

    Quanto aos resultados e discussões, os autores apresentam, refletem e problematizam as resoluções priorizadas que dialogam com a temática em pauta, evidenciando que a objetividade e a impessoalidade destes instrumentos normativos, quando se referem às díspares formas de interação e seus suportes tecnológicos, não levam em consideração os sujeitos do processo, desconsiderando as necessidades, interesses e expectativas; uma proposta que se aproxima de uma educação bancária, tão fortemente criticada por Freire. Na concepção dos autores,

    [...] os assujeitados a um processo de adaptação e de ajustamento a um novo modelo de educação são condenados à passividade – sem uma abertura para o diálogo de suas reais necessidades agravadas frente à pandemia –, condicionados ingenuamente a adaptar-se ao mundo, [...], um movimento que se repete ao criar abismos entre a teoria e a prática da legislação educacional brasileira. (LIMA et al., 2020, p. 116).

    Além disso, no que se refere à EJA, os autores denunciam que o sistema acaba desconsiderando as especificidades da modalidade, uma vez que no âmbito pedagógico as aulas ofertadas são infantilizadas por ter como base o Livro Didático produzido para as crianças, desconsiderando o que é preconizado pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB).

    Os autores ainda apresentam resultados de pesquisas que revelam graves problemas quanto à exclusão tecnologia e digital para um grande percentual da população que compõe o mapa dos estudantes da EJA. Diante disso, apresentam alguns questionamentos de fundamental importância para problematização do momento pandêmico no contexto da EJA:

    [...] como trabalhar com as ferramentas tecnológicas institucionais se elas não são comuns a todos/as, nem são comuns as habilidades técnicas para lidar com essas tecnologias? Como estudar via aparelho celular móvel, cujos modelos variam com as condições de aquisição de cada estudante? De que forma pode-se trabalhar com uma educação não presencial em um tempo no qual, para muitas famílias, a maior preocupação, frente à pandemia, consiste em garantir sua sobrevivência? (LIMA et al., 2020, p. 118).

    Estas e tantas outras questões são, de fato,

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