Edward Lear e Edward Gorey: O Livro Infantil Ilustrado Nonsense

De Vera Bastazin e Fernanda Marques Granato

A obra tem por objetivo explorar as relações entre a palavra e a imagem, na configuração do livro infantil ilustrado de Edward Lear e de Edward Gorey, delimitando seu terreno e tendo por base duas obras previamente selecionadas: A book of nonsense (1846)/Viagem numa peneira (2011), de Edward Lear, e A bicicleta epiplética (1969), de Edward Gorey. As obras são analisadas à luz dos conceitos de imagem, de Wolff (2005); de texto e imagem, de Necyk (2007); de ilustração no livro, de Porto (2012); de livro ilustrado, de Linden (2011); de relação palavra-imagem, de Nikolajeva e Scott (2011); de literatura infantil, de Hunt (2010) e de Palo e Oliveira (1992); de origem da escrita, de Gomes (2007); de literatura nonsense, de Sewell (1952); e de ilustração como tradução intersemiótica, de Pereira (2008). Caracterizamos a escrita, a imagem, o gênero no qual se insere a literatura infantojuvenil e o livro infantil ilustrado e suas formas de manifestação relacionadas aos autores, às obras e às suas temporalidades; analisamos a construção de cada uma das obras em relação ao livro infantil ilustrado em termos da relação texto e imagem; analisamos as obras, em perspectiva comparativista, ressaltando possíveis aproximações e diferenças, tanto temáticas quanto estruturais; explicitamos a importância de Edward Lear e de Edward Gorey, nos contextos aos quais pertencem; posicionamos Gorey como herdeiro da produção de Lear e como autor contemporâneo que produz livros infantis ilustrados nonsense. A análise do livro infantil ilustrado de cada autor é feita tendo por base a hipótese de que é possível utilizar a chave de análise da relação palavra-imagem que se desenvolve no livro ilustrado para pensar a obra de Lear e de Gorey.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Appris
• Data de lançamento: 15 de set. de 2021
• ISBN: 9786555236484

Pré-visualização do livro

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Cover Illustration by Edward Gorey and courtesy of the Edward Gorey Charitable Trust (Ilustração de capa por Edward Gorey; imagem cortesia do Fundo de Caridade do Edward Gorey).

COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

A fórmula texto e imagem só tem alguma significação se for reconhecido nesse e [...]. Mas para isso é indispensável também admitir que olhar não consiste em identificar objetos ou em matar o outro, e sim em compreender os vazios, em inventar.

(Anne-Marie Christin, 1999, p. 37)

Apresentação

Conforme a epígrafe deste livro, texto e imagem só têm sentido se forem considerados em suas relações, o que implica, necessariamente, compreender os vazios, as lacunas, e a potência que neles se esconde.

No livro infantil ilustrado produzido por Edward Lear e Edward Gorey, temos diversos pontos em comum. Nas obras que compõem o corpus desta pesquisa, é possível notar que a ilustração ocupa o mesmo nível de importância que o texto verbal, e o sentido construído depende de ambos os elementos para ser compreendido adequadamente.

Edward Lear (1812-1888), natural de Londres, Inglaterra, foi um escritor e ilustrador considerado pela crítica mundial como pai do nonsense literário vitoriano. Lear produziu uma obra extensa que foi publicada ao longo de sua vida e, posteriormente, organizada em coletâneas e traduzida para outras línguas. O escritor é conhecido principalmente por seus limericks e sua botânica nonsense, que reinventa a literatura infantojuvenil.

Edward Gorey (1925-2000), natural de Chicago, Illinois, Estados Unidos, foi um ilustrador renomado que se tornou mais conhecido pela sua obra nonsense que, segundo Dirce do Amarante (2013), beira o grotesco. Nesta pesquisa, coloca-se Gorey não só como produtor de um livro ilustrado semelhante ao de Lear, mas também como um produtor assíduo de obras de literatura infantil que criam uma estética de palavra e imagem em relação de interdependência.

A relevância desta pesquisa define-se pelo fato de ambos os autores que integram o corpus terem trabalhado com o conceito de livro infantil ilustrado, cada um em seu tempo, criando sua estética na era vitoriana, no caso de Lear, e no pós-Segunda Guerra nos EUA, no caso de Gorey. Cada um à sua maneira, porém, estruturou-se em algumas bases comuns à literatura infantojuvenil. Os autores vieram a inspirar outros artistas com seus feitos: Lear, com a criação do livro infantil ilustrado, influenciou a literatura infantil em geral e o que se entende por literatura infantil no século XXI, enquanto que Gorey influenciou outros autores que o sucederam.

Tivemos como objetivo desta pesquisa analisar, por meio da exploração das relações entre palavra e imagem, a configuração do livro infantil ilustrado de Lear e Gorey, destacando as suas características. Pretendíamos, também, caracterizar a escrita, a imagem, o gênero no qual se insere a literatura infantojuvenil e o livro infantil ilustrado e suas formas de manifestação relacionadas aos autores, às obras e às suas temporalidades; analisar a construção de cada obra em relação ao livro infantil ilustrado em termos da relação texto e imagem; analisar em perspectiva comparativista cada uma das obras, ressaltando possíveis aproximações e diferenças, tanto temáticas quanto estruturais; explicitar a importância de Edward Lear e de Edward Gorey, nos contextos aos quais pertencem; posicionar Gorey como herdeiro da produção de Lear e como autor contemporâneo que produz livros infantis ilustrados nonsense.

A obra de Edward Lear, produzida em meados do século XIX e publicada pela primeira vez em 1846, é analisada à luz de suas traduções e edições atuais. Em 1861, Lear publicou alguns de seus escritos sob o título A book of nonsense. Vivian Noakes, em 2001, depois de selecionar alguns escritos de Lear, organizou, editou e publicou The complete verse and other nonsense. Posteriormente, em 2011, alguns textos de Lear foram traduzidos para o português por Dirce Waltrick do Amarante e publicados na obra Viagem numa peneira. A obra de Edward Lear, caracterizada como nonsense pela crítica mundial, é composta por limericks – poemas de 5 versos acompanhados por uma ilustração; alfabetos nonsense, uma botânica nonsense e árvores nonsense.

A obra de Edward Gorey, The epiplectic bicycle, de 1969, foi publicada no Brasil como A bicicleta epiplética, pela Cosac Naify, em 2013. O autor é conhecido pelo seu humor que se diferencia da norma e pelas suas histórias nonsense, sempre acompanhadas de ilustrações. O objeto da pesquisa é o livro infantil ilustrado que pode ser percebido tanto na obra de Lear quanto na obra de Gorey.

A questão que nos motivou para realizar esta pesquisa centra-se na possibilidade de utilizarmos como chave de análise das obras a relação palavra-imagem para pensar