Ressurreição e Transfiguração: Rafael Sanzio e o Mecenato Católico no Início do Século XVI
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Ressurreição e Transfiguração - Marina Barbosa
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
À minha mãe, Eunice, por sempre ser luz.
AGRADECIMENTOS
Pela força e energia que me move, agradeço a Deus, ao universo, à natureza e a toda e qualquer força metafísica que nos faça perceber o tamanho, a importância e o significado de nossas vidas.
Agradeço à minha mãe, Maria Eunice, que fundamentou emocionalmente o desenvolvimento de toda minha trajetória profissional. Ao meu pai e ao meu padrasto, Wladimir e Júnior, respectivamente, por exercerem apoio e confiança.
Aos meus irmãos, Guilherme, João Pedro e Manuela, agradeço pela nossa união.
Por todo amor, motivação, chocolates e por ter sido um grande presente do divino, por ser a minha escolha de compartilhar, agradeço ao meu amor, Rafael Esteves.
Pelo maravilhoso encontro que excelentes energias me proporcionaram e a PUC-Rio permitiu, agradeço a dedicação, orientação e carinho de Flávia Maria Schlee Eyler.
Por me ensinar a história da Idade Média e o que é ser professor, agradeço ao professor Mário Jorge da Motta Bastos.
À Danielle Oliveira, por me inspirar, aconselhar e incentivar o meu desenvolvimento.
A todas amigas e todos amigos, familiares, todas e todos que me incentivaram e, com palavras de carinho, me passaram excelentes energias para construção deste livro.
O mundo do artista é verdadeiramente fantasia viva, como a natureza das coisas; o artista cria, e as suas formas tomam corpo e alegram-nos, e ocupam o seu lugar entre nós, vivem conosco e transfiguram toda a nossa vida...
(Eugenio Garin)
APRESENTAÇÃO
Diante do brilho e euforia de ser recém-ingressa na faculdade de História, na UERJ-FFP¹, a disciplina Introdução à História me apresentou ao livro Apologia da História ou o ofício do historiador, da autoria de Marc Bloch. Guardo esse livro na memória afetiva, pois foi o primeiro lido na minha trajetória como historiadora, no início de formação na ocasião da aquisição. Lembrei dele neste processo de escrita. Meu primeiro livro. Trago o afeto e a relação com os livros como pauta, pois cabe falar de amor quando o assunto é a pesquisa, leitura, reflexão, compreensão e construção de um pensamento e saber científico. Bloch versa, em sua obra inacabada, sobre o fazer histórico, o tempo, o homem; problematiza sobre o passado e o presente; e constrói um ensaio sobre o ofício do historiador. Ofício por definição está relacionado ao trabalho, ao desenvolvimento de técnica e habilidade necessárias para o desempenho de uma função. Durante a graduação e toda a trajetória de historiador, nos ocupamos de trabalhar não só diante de vestígios do passado, mas refletimos sobre método, teoria e nos construímos constantemente numa formação que se assemelha aos diálogos aporéticos de Sócrates, ou seja, sem conclusão. Estamos em constante formação e, com isso, nossas pesquisas não findam, não há limites para as perguntas que podem ser feitas às fontes históricas.
Amor ao objeto histórico e a construir historiografia não é a base do ofício, tão longe gostaria aqui de romantizar nossa profissão. Mas acredito que exista uma relação profunda e emotiva do historiador com os vestígios do passado e com o que é construído a partir deles. Quando escolhi meu objeto de pesquisa, ainda durante a graduação, foi por motivação de sentimentos, de afetação dos sentidos e que a partir de tal reação a inquietação e perguntas à fonte começaram a surgir. Vi a obra A escola de Atenas
em uma projeção durante uma aula da professora Célia Tavares, e este foi o ponto de partida da minha trajetória. Quem era Rafael? E assim se inicia o ofício. Respostas são construídas e mais perguntas também. Quando percebemos, estamos debruçados, escavando por horas nossa fonte, lendo e relendo referências na tentativa de compreender e refletir mais sobre história. Cheguei ao quadro do Rafael que pertence ao acervo do MASP. Uma pintura do grande artista do Renascimento italiano dentro da minha casa. Muitos minutos parada em frente a obra, olhos marejados. Assim foi a primeira vez que vi a Ressurreição de Cristo
, de Rafael Sanzio. Dediquei minha monografia a estudar essa obra, sob orientação da professora Maria Berbara. Você encontrará parte deste meu primeiro estudo sobre o tema em anexo neste livro.
Pensando em atribuir continuidade à pesquisa sobre Rafael e o Renascimento, fui para o mestrado em História Social da Cultura na PUC-Rio. As perguntas para a fonte aumentaram, e a demanda da pesquisa seguiu outros rumos. Mergulhei no universo do sagrado, da produção das imagens religiosas e da subjetividade das pinturas de Rafael. Sob orientação da professora Flávia Eyler e com as contribuições do professor Mario Jorge da Motta Bastos, desenvolvi a dissertação do mestrado em dois anos e meio de pesquisa sobre o período medieval, Rafael e sua iconografia, a Igreja Católica, o Renascimento italiano...
O sagrado refere-se ao que está relacionado ao divino, ao culto. As imagens também fazem parte do universo do sagrado. Durante a Idade Média e no movimento do Renascimento, o simbolismo que a religiosidade representa exerce significativa força no cotidiano. No movimento renascentista, a produção de imagens religiosas se intensificou, e esse aumento indica uma intencionalidade da religião predominante no período. Este livro se propõe a analisar as relações do mecenato da Igreja Católica em relação a duas pinturas produzidas pelo pintor Rafael Sanzio, do Renascimento italiano. A força, a subjetividade e a potência de afetação são alguns dos elementos presentes nas imagens, com a temática religiosa, que precisam ser considerados como fundamentais para a compreensão da representação, funcionalidade e intenção das imagens.
Nas próximas páginas, você encontrará os resultados da minha pesquisa adaptados ao formato de livro. Esse trabalho me tornou mestre em História e agora possui a potência de um maior alcance, podendo chegar a diversos leitores. Uma pesquisa é também a trajetória de um indivíduo, suas escolhas, questionamentos, reflexões e paixões. Desejo uma excelente leitura!
PREFÁCIO
Tive a sorte de conhecer a autora deste livro, que o(a) leitor(a) agora tem em mãos, no segundo semestre letivo do ano de 2016, quando se dispôs a integrar o grupo de pós-graduandos constituído em disciplina ministrada no âmbito do PPGH-UFF. Tratam-se, tais disciplinas, de atividades bienais que aguardo com elevada expectativa e mesmo com muita ansiedade. Pesquisador entrado em anos
que sou, me alimento do brilho nos olhos, me fortaleço com o anseio de conhecimento e me renovo com a profunda empatia que sinto por todo os jovens em processo de formação na confraria.
Marina Barbosa do Rego Silva me nutre desde então. Trazia em mãos
a reprodução de fascinantes imagens devidas ao arquiteto e pintor italiano
renascentista Rafael Sanzio de Urbino, uma delas imediata e materialmente acessível aos desfrutes de miradas brasileiras, abrigada que está no acervo do MASP. Fora, portanto, mobilizada pelo enorme potencial revelado, especialmente nas últimas décadas, pelo recurso à iconografia como fonte para a produção do conhecimento histórico