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Uma Dama para um Escocês
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Uma Dama para um Escocês
E-book510 páginas8 horas

Uma Dama para um Escocês

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Sobre este e-book

Vencedor do prêmio RONE da InD’Tale Magazine de 2014!

Escócia, 1354

Ele construiu muros impenetráveis ​​ao redor do coração…

A Peste Negra não mostrou piedade quando levou a bela e jovem esposa de Rowan Graham. Com seu clã quase dizimado, seu coração despedaçado, ele fica sozinho, criando a filha recém-nascida. Rowan tenta manter as promessas que fez a Kate no leito de morte, exceto uma: é incapaz de entregar seu coração a outra.

Ela construiu muros em torno de si…

Lady Arline é forçada a mais um casamento arranjado — sem amor e solitário. Por trás da beleza de Garrick Blackthorn está um homem cruel e vingativo. Ela só deseja que seu casamento termine, para obter a liberdade pela qual tanto anseia.

O destino fará com que esses muros desmoronem…

Pouco antes de seu casamento terminar de maneira amarga e terrível, seu cruel marido sequestra uma criança doce e inocente. Arline não percebe que a criança é filha de um homem que conheceu no passado, um homem que assombra seus sonhos há mais de sete anos, até a noite em que ele chega para resgatar a filha.

Rowan Graham fica surpreso ao saber que a esposa de seu inimigo é uma mulher que ele encontrou em breves momentos, sete anos antes, quando tempos sombrios haviam caído por toda a Escócia. A mesma mulher que havia ajudado a garantir a liberdade de seu pai e de seu irmão adotivo está arriscando a vida para cuidar de sua filha.

O destino os une… mas há outras pessoas determinadas a separá-los.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento5 de out. de 2021
ISBN9781667415437
Uma Dama para um Escocês

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    Uma Dama para um Escocês - Suzan Tisdale

    Uma Dama para um Escocês

    de

    Suzan Tisdale

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a permissão prévia por escrito do editor, exceto no caso de breves citações incorporadas em resenhas críticas e outros usos não comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

    Dedicatória

    Para a minha mãe, a lady Arline original, minhas tias, Marilyn e Jerry. Sempre agindo com graça e dignidade, mesmo no mais sombrio dos tempos. Obrigada a todas por me ensinarem a rir.

    Prólogo

    Escócia, 1350

    A Peste Negra não fazia distinção de pessoas.

    Como o fogo do inferno, ela espalhou-se pela Inglaterra, País de Gales, Itália e França. Sem restrições, irrefreável.

    Ela não se importava se as vidas que tomou pertenciam a nobres e ricos ou a humildes e pobres. Não mostrava preferência por idade ou sexo. Levava tanto os maus quanto os inocentes. Tanto os blasfemos quanto os justos.

    A Peste Negra levava qualquer um que ela quisesse.

    Ela levou a esposa de Rowan Graham.

    Rowan não permitiria que a sua doce esposa morresse sozinha, com frio, medo e em agonia, por mais que ela pedisse o contrário. Não permitiria que ninguém mais ministrasse as ervas, aplicasse os cataplasmas ou sequer enxugasse a testa dela. Ele era o seu marido e ela, seu mundo inteiro.

    Sabendo que a Peste Negra havia finalmente chegado à Escócia, o clã de Rowan se preparara da melhor maneira possível. No momento em que alguém começava a apresentar os sinais da doença, era imediatamente levado para os alojamentos. A reclusão era sua única esperança de impedir que a doença se espalhasse.

    Em uma semana, os alojamentos já não comportavam mais os doentes e os moribundos. Por fim, a quarentena foi em vão.

    Quando Kate mostrou os primeiros sinais da doença, a Peste Negra já havia levado mais de trinta do seu povo. Antes de terminar, os números do clã Graham diminuíram para menos de setenta membros.

    Por insistência de Kate, sua filha de três meses foi mantida em reclusão. Foi o último ato de amor maternal que ela pôde mostrar à filha. Nas horas que antecederam à sua morte, Kate implorou para que Rowan lhe fizesse duas promessas.

    — Você nunca deverá ter medo de falar de mim para a nossa filha. É importante que ela saiba o quanto eu a amava e o quanto a amávamos juntos. — Aquela era uma promessa fácil para Rowan, como ele poderia esquecer Kate?

    Foi a segunda promessa que ela pediu que ameaçou despedaçá-lo.

    ─ E você deve prometer que deixará outra mulher entrar em seu coração. Não se guarde muito tempo por mim, marido. Você é um homem bom demais para se manter preso a uma mulher morta.

    Ele lhe jurou que sim, que algum dia permitiria que o seu coração amasse outra. Em silêncio, no entanto, ele sabia que aquele dia seria em um futuro muito distante, talvez trinta ou quarenta anos. Porque nunca poderia haver uma mulher que pudesse ocupar o lugar de Kate em sua vida ou em seu coração.

    — Eu a amo, Kate, mais do que a minha própria vida — sussurrou Rowan no ouvido dela, pouco antes do peito dela subir e descer pela última vez.

    Algumas fogueiras foram construídas para queimar os mortos. Quando o primeiro tenente de Rowan veio para levar o corpo de Kate para colocá-lo nas piras funerárias, ele se recusou a permitir que Frederick chegasse perto dela. O rosto de Rowan ficou roxo de raiva, e seu peito arfou sob o peso de sua dor incontida. Ele desembainhou a espada e imobilizou Frederick contra a parede.

    — Se você pensar em encostar um dedo em Kate, acabarei com a sua vida — fervilhou Rowan. Frederick percebeu que era uma promessa que Rowan pretendia manter.

    Mais tarde, com a visão embaçada pelas lágrimas que não conseguia conter, Rowan banhou o corpo outrora belo de sua esposa, agora devastado por grandes furúnculos negros. Ele lavou as longas madeixas ruivas e as penteou até brilharem mais uma vez. Ao terminar, colocou um pedaço de tecido com o xadrez do clã Graham na palma da mão dela e então envolveu o seu corpo frio em longas tiras de linho.

    Sozinho, na quietude antes do amanhecer, ele levou Kate até o seu último lugar de descanso, sob o alto olmeiro. Ele ficou ao lado do túmulo por três dias inteiros.

    Por fim, Frederick foi até ele no final da tarde do terceiro dia.

    — Eu sei que você está sofrendo, pois Kate era uma boa mulher — disse Frederick. ─ Você tem uma escocesinha que precisa de você, Rowan. Ela precisa de você agora, mais do que Kate.

    Rowan estava descansando, encostado no olmo, com a cabeça apoiada nos joelhos. Em seu íntimo, ele sabia que Frederick estava certo, mas nada ajudava a preencher o vazio que a morte de Kate deixou em seu coração.

    Por um breve momento, Rowan poderia jurar que ouviu a voz de sua esposa concordando com Frederick. Decidindo que seria melhor não discutir com nenhum deles, Rowan respirou fundo e se levantou.

    Por enquanto, ele se concentraria na primeira promessa que fizera a Kate.

    — Você está certo, Frederick — disse Rowan batendo nas costas do amigo com uma das mãos, enquanto enxugava as lágrimas com a outra. — Preciso contar à minha filha sobre a sua linda mãe.

    Capítulo Um

    Escócia, outono de 1354

    — Você me ama?

    Lady Arline sentiu os joelhos amolecerem. Seu estômago se agitou de desconforto ao olhar nos olhos azuis escuros daquele que era o seu marido havia três dias, laird Garrick Blackthorn de Ayrshire. Ela não estava certa se era a pergunta que a inquietava, ou o olhar frio e sem expressão que o rosto dele apresentava quando ele perguntou. Ela engoliu em seco, desejou que as pernas e o estômago se acalmassem, e decidiu que a honestidade era sempre a melhor política.

    — Tenho certeza de que eu poderia aprender a amá-lo, laird. — Ela orou para que não soasse tão tola quanto se sentia.

    Laird Blackthorn de Ayrshire era um homem muito bonito. Alto, esbelto e bem musculoso, ele era uma cabeça mais alto do que lady Arline. Os cabelos loiros cortados curtos emolduravam um rosto mais do que belo. Lady Arline imaginou que a maioria das mulheres desmaiaria se ele escolhesse agraciá-las com um olhar daqueles olhos azuis escuros. E, caso os olhos não provocassem o desmaio, então talvez os músculos que palpitavam sob a sua túnica apertada bastariam.

    Verdade seja dita, lady Arline quase desmaiou ao vê-lo pela primeira vez, três dias antes. Eles foram apresentados apenas momentos antes de trocarem os votos de casamento. Havia sido tudo o que ela podia fazer para não pular de alegria por seu marido não só ter uma idade bem próxima à sua, mas também ser bonito. Ele exalava poder, virilidade. Talvez, finalmente, existissem filhos em seu futuro.

    Após a morte de seu primeiro marido, lady Arline jurou que nunca mais seria ludibriada em outro casamento arranjado. Mas o pai dela, que Deus o abençoasse, foi bastante insistente para que ela desse outra chance ao casamento. Ela resistira ao pai até o momento em que viu Garrick Blackthorn pela primeira vez.

    Havia algo, algo que ela não conseguia definir, algo nos olhos azuis de Garrick... eles guardavam alguma coisa. Mas, o quê? Um segredo, talvez? Ela ainda estava incerta, o que a deixava ainda mais nervosa. O que quer que fosse, achava difícil impedir que as suas pernas e os seus dedos tremessem. Apertou as mãos firmemente na frente do corpo e tentou pelo menos parecer não estar completamente aterrorizada.

    Talvez fosse a antecipação do que estava por vir naquela sua primeira noite em sua nova casa como esposa dele. O marido ainda não tinha encostado um dedo nela, exceto pelo casto beijo no altar, três dias antes. Ele mal falara uma palavra para ela durante a viagem de Lochbraene para Ayrshire.

    Ela se perguntou se, por acaso, ele também estava tão nervoso quanto ela.

    Ela tinha dúvidas a esse respeito. Um homem tão atraente quanto Garrick Blackthorn deveria ter certamente uma boa dose de experiência com mulheres e o amor. Não, não poderia ser nervosismo que ela viu nas profundezas daqueles olhos escuros. Era outra coisa.

    Lady Arline considerou que talvez fosse o próprio nervosismo generalizado que fazia a sua boca secar e as suas pernas amolecerem. Sem dúvida, ele gostaria de consumar o seu casamento e, talvez, antes de fazê-lo, queria saber quais seriam os seus sentimentos em relação a ele.

    Pensar sobre a consumação trouxe de volta a sensação de tremor em suas pernas. Ela amaldiçoou a própria tolice. De repente, os seus pensamentos se voltaram para Minnie, sua velha criada, que morrera dois anos antes. Apenas feche os olhos e cumpra o seu dever na noite de seu casamento. Vai doer como os diabos, mas não demora muito.

    Era o início da noite e eles estavam no quarto escolhido para lady Arline. Ela vestia um pesado roupão de seda sobre a grossa camisola de linho. Seu ondulado e quase sempre rebelde cabelo ruivo descia por suas costas e terminava logo acima dos joelhos. Ela esperava que ele gostasse de mulheres ruivas. Estremeceu e se amaldiçoou interiormente pelo que deveria ser a centésima vez naquele mesmo dia.

    Eram aqueles malditos olhos dele que a deixavam com tal sensação de desconforto.

    Ela o estudou mais atentamente enquanto ele andava de um lado para o outro em frente à janela alta. Ele não parecia satisfeito com a resposta honesta dela. Ele levantara levemente uma sobrancelha quando ela respondeu.

    Depois de vários e longos momentos, laird Blackthorn parou de andar e se virou para encará-la.

    — Veja, moça, aí é que se encontra o problema.

    Não havia como se enganar sobre o desdém dele. Estava evidente na contração de sua mandíbula e no olhar duro e gelado que ele lhe lançava. Ela já não estava mais preocupada em agradar o marido naquela noite. Em vez disso, estava preocupada em sobreviver a ela. De repente, o quarto ficou frio, talvez devido àqueles olhos frios e escuros e ao tom gelado da voz dele.

    — Não quero que você tenha quaisquer ideias a respeito de se apaixonar por mim. Porque é certo que nunca irei amá-la.

    Não havia dúvidas sobre o que ele queria dizer. Doía como uma flecha atravessando o seu coração.

    Raiva controlada, desprezo e escárnio destilavam de sua língua. Arline sabia instintivamente que aquele era um homem que dizia o que pensava e pensava o que dizia.

    Qualquer esperança que pudesse ter tido de algum dia criar um vínculo com o novo marido, um laço constituído de mútua admiração e respeito, caiu tão rapidamente quanto uma rocha de um penhasco, aterrissando a seus pés com um baque surdo. Por que sou tão amaldiçoada quando se trata de maridos?

    — Este casamento — disse ele, enquanto se virava para olhar pela janela — não passa de uma farsa.

    Ela se esforçou por permanecer firme. O medo a envolveu como um cobertor frio e molhado, provocando arrepios ao longo de sua espinha.

    — Você está a par do que constava no contrato de casamento? — perguntou ele. — De tudo o que ele acarreta?

    As palavras ficaram presas na garganta dela. Ela a limpou uma vez e em seguida novamente, e conseguiu pronunciar um sufocado "aye". Ela não tivera a oportunidade de lê-lo com os próprios olhos. O pai lhe fizera um breve resumo de seu conteúdo. Mas, conhecendo o pai como o conhecia, provavelmente ele deixara de fora alguns detalhes muito importantes.

    — Diga-me o que você sabe. — A voz dele era baixa, firme, autoritária.

    — Eu devo ser sua esposa, em troca da promessa de três carroças de comida e dez cavalos, além da terra. — De repente, a sua boca ficou seca, sua língua grudada no céu da boca. O que ela não daria por um gole de uísque.

    — E? — perguntou ele.

    Aquilo era tudo o que ela sabia. O pavor ressoou em seu coração. Em silêncio, ela condenou o pai ao fogo do inferno. Que diabos o homem fizera com ela agora?

    — Isso é tudo que eu sei do acordo, laird.

    Ele se aproximou até ficar diante dela, apenas a um passo de distância.

    — Depois de um ano, um mês e um dia, se não houver herdeiro nascido ou concebido, o casamento será anulado. — Ele cruzou os braços sobre o peito largo e permaneceu parado, olhando-a. — Não haverá nenhum herdeiro.

    A única maneira que ela poderia ocultar a sua surpresa seria se esconder debaixo de um cobertor.

    Não havia dúvidas sobre a ira dele e nenhuma maneira de interpretar mal as suas palavras. Não havia se em sua explicação do acordo de casamento. Nenhuma margem de manobra, nenhuma esperança. Claro e simples. Ela deixou de considerá-lo um homem muito atraente para entender que, por detrás daquela boa aparência, encontrava-se um homem frio e duro.

    Ele continuou a encará-la com uma sobrancelha erguida, como se estivesse esperando que ela dissesse alguma coisa. Ele balançou a cabeça e bufou ao ver o silêncio dela, prolongado e aturdido.

    — Não haverá nenhum herdeiro — repetiu ele.

    Era a constatação de um fato. Um ponto que não seria mais discutido ou suscetível de qualquer discussão em um momento futuro.

    — Não me deitarei com você — disse ele secamente, olhando-a como se considerasse repulsiva a simples ideia de compartilhar uma cama com ela.

    — Eu não a amo, Arline. E nunca, jamais amarei. — continuou ele. Ele se afastou dela mais uma vez. — Você entende?

    Aye, pensou ela consigo mesma. Entendo muito mais do que você imagina. Ela respirou fundo e murmurou a sua afirmação em suas costas.

    — Acho que você precisa compreender mais completamente o que está em jogo aqui. — Ele respirou fundo. — Veja bem, eu sou plenamente capaz de amar uma mulher.

    O estômago de lady Arline despencou.

    — Apenas não irei, sob quaisquer circunstâncias, amá-la. Meu coração, veja bem, pertence a outra. — Ele atirou a sua observação por cima do ombro.

    A surpresa dela foi rapidamente substituída por uma sensação de torpor.

    — Se o seu coração pertence a outra, então por que concordou em se casar comigo?

    Ele se virou devagar, e o escárnio que sentia por ela estava claramente estampado nas linhas duras de seu rosto.

    — Você já conheceu o meu pai?

    Lady Arline sacudiu a cabeça.

    — Não, não conheci.

    — Você não está perdendo nada. Ele é um filho de uma meretriz, se é que existe algum. Ele não gosta da mulher que é dona do meu coração. Fui obrigado a me casar com você para afastar o idiota de mim. — Ele cruzou os braços sobre o peito largo e as linhas duras do seu rosto se aprofundaram ainda mais. — Dentro de um ano, este casamento será anulado. Não tenha dúvidas disso.

    Arline levantou o queixo mostrando que não se importava. Na realidade, era o oposto do que ela realmente sentia. Ela se importava.

    Não exatamente por ele, mas por tudo que poderia ter sido.

    — Então, laird, vamos aparentar estar casados durante o próximo ano, apenas para satisfazer o acordo de casamento? — perguntou ela, com os dentes cerrados.

    Pela primeira vez, ela o viu sorrir. A curva dos lábios dele não aliviou os seus medos ou a sua preocupação.

    — Você não é tão estúpida quanto me contaram — disse ele. ― Estou feliz por saber disso, moça. Um ano, um mês e um dia e este casamento será anulado.

    Arline se perguntou o que seu pai pensaria daquilo e imediatamente decidiu que não se importava. Dentro de um ano ela teria uma idade em que não seria mais forçada a se casar com homem nenhum. Nunca mais.

    Se laird Blackthorn não a queria, então que assim fosse. Ela iria colaborar com aquela farsa, a fim de ganhar a liberdade que lhe fora negada a vida inteira. Ela poderia viajar pelo mundo, ir e vir como quisesse e nunca seria forçada a atender a ninguém ou a nada além de seu próprio coração.

    Embora o pensamento de liberdade lhe provocasse uma sensação de formigamento que se espalhou por todo seu corpo, o seu coração parecia vazio. Vazio. E se sentia muito carente.

    Seria o suficiente para dilacerar o coração de uma mulher mais fraca. Mas lady Arline se recusava a ser fraca. Não existia um homem, em todo o mundo, digno de seu coração, muito menos um digno de dilacerá-lo.

    Ele se virou para encará-la novamente.

    — Não ouvirei quaisquer reclamações vindas de você. Fará o que eu disser, quando eu disser. Permanecerá em seu quarto a menos que eu lhe dê permissão para sair. — Ele começou a listar as suas regras, assinalando uma a uma. — Nunca me questione ou qualquer decisão que eu tome, pois você pagará por isso, prometo.

    Ele se aproximou para ficar diante dela novamente. Desta vez, ele abaixou o rosto a poucos centímetros do dela. Foi necessário reunir cada réstia de coragem para poder olhá-lo nos olhos.

    — Lady Arline, preste atenção no meu aviso. Faça o que eu digo, e você poderá sair deste casamento com vida.

    Então, ele deixou o quarto dela, sem um pedido de licença. A advertência dele pairava no ar, mesmo muito tempo depois de ele ter saído, como uma névoa úmida e pesada. Embora o fogo queimasse na lareira, o ar ainda estava frio, cheio de sua advertência incontornável.

    Agora ela conhecia o segredo que se encontrava oculto por trás daqueles olhos sombrios: um puro e genuíno ódio. E todo ele destinado a ela.

    Com os braços e as mãos ainda trêmulos, ela caminhou até o armário, encontrou o baú que continha os seus materiais de escrita, seus bordados e artigos de arte. Com os joelhos trêmulos, vasculhou até encontrar um pedaço de carvão que usava para desenhar.

    Silenciosamente, ela fechou a tampa e andou apressadamente sobre o chão de madeira até a parte de trás do armário. Ela desenhou uma linha curta na parede. Um dia a menos. Com um pesado sentimento de medo, ela deslizou o baú pelo chão até esconder a marca que iniciara a sua contagem regressiva para a liberdade.

    Tomando respirações uniformes e esperando acalmar os nervos, ela se afastou do armário e subiu em sua cama, puxando as cobertas até o queixo. Cem cobertores não seriam suficientes para aplacar o frio que sentia.

    Mais cedo, antes de falar com o marido, ela estava preocupada com questões que agora pareciam triviais em comparação com a realidade. Menos de uma hora antes, ela andara nervosamente pelo quarto, esperançosa de poder agradar ao marido e começar a construir um futuro com ele.

    Praguejou baixinho; estava aborrecida com o seu coração por permitir até mesmo um vislumbre de esperança pela vida que ela desejava com tanto desespero. Um marido que se importasse com os seus sentimentos, um marido a quem pudesse admirar e respeitar. Ela queria filhos. Muitos filhos. Arline ansiava por uma casa cheia de amor, risos, crianças... paz.

    Ela iria sobreviver ao ano que viria. Ela não deixaria laird Blackthorn de Ayrshire ganhar.

    Capítulo Dois

    Os malditos sonhos eram todos iguais, variando apenas em intensidade e na sua capacidade de abalar por completo os nervos de lady Arline. Ela odiava aqueles sonhos cheios de imagens de um homem sem rosto e montado em um cavalo, vindo resgatá-la para levá-la para longe de laird Blackthorn.

    Embora não pudesse ver o rosto dele, algo em seu coração lhe dizia que ele era um belo homem. O sonho não deixava que ela o visse com clareza. Era como tentar segurar a neblina na palma da sua mão. Talvez você possa sentir o ar úmido e frio, mas não consegue segurá-lo.

    O herói sem rosto de seus sonhos iria aliviar os seus medos com beijos ternos e com o toque de suas mãos gentis. Ele iria restabelecê-la, colocar ordem em sua vida e lhe dar uma existência repleta de amor, risos e esperança.

    Era assim que ela se sentia na escuridão da noite, naqueles sonhos traidores.

    Durante o dia, entretanto, quando tinha mais controle de suas faculdades, pensava diferente. Ela sabia que, na realidade, tal homem não existia.

    Aos vinte e quatro anos de idade, as suas esperanças de uma vida feliz foram repetidamente anuladas após os casamentos fracassados que seu pai lhe arrumara. Ela já não ansiava mais por aquela vida feliz, plena, com o amor de um marido e filhos demais para contar. Concluindo que tais sonhos não conduziam a nada além de sofrimento, decidiu que assim que o seu casamento com Blackthorn fosse anulado, ela se encarregaria do próprio destino. Nunca mais se submeteria às escolhas sempre desastrosas de seu pai. As viagens pelo mundo pareciam ser a maneira mais inteligente para manter o coração a salvo.

    Assim que estivesse longe de Blackthorn, ela exigiria que o pai lhe entregasse os seus recursos; o que era seu por direito, o dinheiro que o seu primeiro marido lhe deixara; dinheiro sobre o qual o seu pai, durante anos, esperara pôr os seus dedos gordos e gananciosos. Com ele, ela levaria embora as suas irmãs, Morralyn e Geraldine. Elas arrumariam um transporte seguro e viajariam pelo mundo. Conheceriam todo tipo de gente nova e interessante, e viveriam o resto de seus dias em uma abençoada solidão. Mais importante, ela viveria sem a assistência de um marido. Ela protegeria o coração de quaisquer outras decepções. Faria o máximo possível para manter as irmãs afastadas da existência miserável que acompanhava os maridos inadequados.

    Arline construíra um escudo invisível em volta do coração com uma promessa de que em breve seria dona de sua própria vida e de seu futuro. Ela não permitiria que ninguém tivesse acesso a ela. Esperanças, sonhos, tais coisas não levaram a nada além de tristeza e arrependimento. Ela viveria o resto de sua vida sem criar nenhuma expectativa. Ela simplesmente viveria.

    Naquela noite, enquanto sonhava novamente com o herói sem rosto, em algum lugar nos recessos do sonho ouvia-se o som do choro de uma criança. Quando o choro ficou mais alto, a imagem nebulosa de seu herói sem rosto desvaneceu-se.

    Ainda meio sonolenta, com os pensamentos confusos, demorando-se em algum lugar entre um doce sonho e a realidade, ela puxou o cobertor com mais força em torno do seu queixo e tentou voltar a dormir. À luz do dia, ela jamais admitiria para ninguém, nem para ela mesma, que ela desejava muito um marido alto e belo, que a cortejasse com um sorriso brilhante e beijos carinhosos. Ela lutou para trazer a imagem do homem de volta à sua mente e afastar a criança chorosa. Mas a criança teimosa continuou a chorar, o som do choro ficando mais alto e cada vez mais próximo.

    O choro triste pairou em seu quarto novamente. Sacudindo a confusão mental, ela se sentou na cama e esfregou os olhos sonolentos com as pontas dos dedos. Permaneceu quieta e aguçou os ouvidos para ouvir. Talvez tivesse sido o vento aquilo que ela ouvira e não o choro de uma criança.

    Uma sensação sinistra arrepiou a sua pele enquanto o som novamente flutuava no ar escuro da noite. Os gritos ficaram mais altos e pareciam estar vindo da lareira.

    Jogando as pernas por cima da beirada da cama, ela enfiou os pés descalços nas sandálias enquanto apanhava o roupão que estava jogado aos pés da cama. Enfiando os braços nas mangas, ela andou nas pontas dos pés até o lado da lareira.

    Enquanto as brasas fracas queimavam e crepitavam, o som flutuou mais uma vez.

    Ela não estava sonhando. Foi um choro de criança o que ouviu. Mas de quem? Não havia crianças morando dentro das muralhas da fortaleza. Qualquer pessoa com crianças morava em pequenas cabanas espalhadas aqui e ali.

    Quem quer que fosse essa criança ou a quem quer que ela pertencesse, ele ou ela não estava nada feliz. O choro continuou a flutuar em seu quarto, junto com baixas reclamações de vozes masculinas.

    Arline morava na fortaleza há pouco mais de um ano. Ela sabia que os sons vinham da grandiosa sala de reunião apenas um andar abaixo do seu quarto de dormir. Noite após noite, ela ficara acordada ouvindo as farras estridentes e regadas a bebida que ocorriam naquele salão. Um salão no qual ela não podia mais entrar, devido à intensa aversão do marido por ela.

    O instinto lhe dizia que a criança estava aterrorizada. A curiosidade cresceu e se avolumou junto com o choro da criança. O resmungar dos homens ficou pior, mais irritado.

    O bom senso lhe ditava que ela deveria ficar quieta, ficar fora da linha de visão do marido, bem como da ira dele. Ele a advertia que, o que quer que estivesse acontecendo no andar de baixo, não era da conta dela. Ela tinha apenas duas semanas para aguentar a farsa que era o seu casamento. Duas semanas. Quatorze dias. Aguente quatorze dias e você estará livre.

    Mas os gritos da criança ficaram mais altos. Os resmungos se transformavam em gritos e berros. Quanto mais irritada a criança ficava, mais furiosos ficavam os homens.

    Algo estava muito errado no andar de baixo. Enquanto os minutos passavam, a cautela e o desejo de sobreviver caíram no esquecimento. Embora Lady Arline nunca tivesse sido abençoada com um filho, algo instintivamente maternal foi acionado. Ele se infiltrou em sua consciência, em seu coração, exortando-a que fosse em frente.

    Antes que percebesse, ela saíra do quarto e descera silenciosamente as escadas em direção ao grandioso salão comunal.

    Seu coração quase parou, devido à cena que se desenrolava diante dela.

    Uma grande comoção estava acontecendo. Garrick e pelo menos dez de seus homens estavam em pé no meio do salão comunal. Um deles, cujo nome ela não sabia, porque eles nunca haviam sido formalmente apresentados, estava perto da lareira, segurando uma criança, um querubim de rosto avermelhado!

    Longos cachos ruivos desciam sobre os ombros da criança. A coitadinha não usava nada além de uma camisola. Sem sapatos, sem roupão, sem manto. A avaliação anterior de lady Arline, a de que a criança parecia estar furiosa, estava correta. Seu rostinho estava vermelho de fúria, as mãos fechadas em punhos enquanto ela chorava e gritava com o seu captor.

    — Pare com esses gritos! — gritou Garrick para a criança. — Eu juro, eu baterei em você sem dó se você não parar!

    Arline sabia que não era uma ameaça, e sim uma promessa. Se havia algo que seu marido era, era ser sincero.

    Sem pensar, Arline desceu os últimos degraus, entrou correndo no salão comunal e pegou a criança dos braços do homem. Ele ficou boquiaberto, até que a sua expressão mudou para alívio.

    Arline balançou a criança em seus braços enquanto sussurrava palavras suaves em seus ouvidos.

    — Calma, bebê, calma — disse Arline, apertando a criança contra o peito.

    Algum tempo se passou, enquanto Arline se mantinha alheia aos homens que a cercavam. Ela continuou a pronunciar palavras suaves e calmantes. Foi somente após a criança começar a se acalmar que Arline percebeu que todos os olhos da sala estavam fixos nela.

    Quando os seus olhos pousaram em laird Blackthorn, ela soube que cometera um terrível engano. Ele estava mais do que furioso. Estava definitivamente lívido.

    Não era mais uma questão de sobreviver às duas próximas semanas. Agora era uma questão de sobreviver ao que restava daquela noite.

    — Sinto muito, laird — sussurrou ela, enquanto continuava a acariciar as costas da criança. — Ela parecia tão aflita. Eu só queria ajudar a acalmá-la antes que ela levasse qualquer um de vocês à loucura.

    Assim que as últimas palavras saíram de sua boca, ela percebeu que talvez não as tivesse formulado corretamente. A mandíbula de seu marido se mexia de um lado para o outro, e ela podia ver a veia em seu pescoço latejar. Duas semanas se transformaram em duas horas, mas agora ela se perguntava se estaria deixando de vagar pela terra em questão de instantes.

    A criança enfiou o polegar na boca e soluçou. Arline a sentiu começar a relaxar em seus braços e decidiu que tomara a decisão certa. Mesmo que isso significasse irritar o seu marido a ponto de matá-la, não podia permitir que uma criança inocente ficasse machucada.

    Quando laird Blackthorn falou, as suas palavras saíram entrecortadas e cheias de fúria.

    — Entregue-a a Torren. Agora.

    Cada fibra de seu ser gritava para que ela fizesse o que o seu marido exigia. O seu coração, entretanto, implorava para consolar e acalmar o bebê. Ela hesitou por mais um momento.

    Laird Blackthorn deu três passos rápidos e colocou-se diante dela. Sem uma palavra, ele puxou a criança dos braços de Arline e a empurrou para os de Torren. A criança começou a gritar novamente, seus pequenos braços estendidos em direção a Arline.

    — Eu a avisei antes, não me desafie. Nunca. — falou Blackthorn com os dentes cerrados, enquanto agarrava os antebraços de lady Arline.

    Ela engasgou, surpresa, no momento em que ele segurou os seus braços. Os dedos dele cravaram-se em sua carne, apertando com força antes de lhe dar uma boa sacudida e de jogá-la no chão.

    — Sinto muito, laird! — gritou Arline. — Eu queria apenas consolar o bebê.

    — Eu não me importo com o que você queria. Volte para o seu quarto e fique lá! — grunhiu ele, enquanto a jogava raivosamente no chão.

    A criança chorou mais alto, inconsolável e amedrontada. O seu choro era demais para o coração de Arline suportar.

    — Por favor, laird — implorou Arline. — Deixe-me ajudar, deixe-me ajudá-lo com o bebê!

    Laird Blackthorn se aproximou de Arline. Em um movimento rápido, ele se inclinou e lhe deu uma bofetada forte e pesada com as costas da mão.

    Arline caiu para trás enquanto o sangue enchia a sua boca. O choque de ter sido golpeada foi avassalador. Ela ficou aturdida, confusa demais para chorar. Nunca ninguém batera nela antes. Nem mesmo o seu pai, por mais cruel que fosse, havia encostado um dedo nela.

    Blackthorn levantou-a pelos braços.

    — Essa foi a última vez que você me implorou por qualquer coisa, incluindo a sua vida.

    Quando Garrick a empurrou para longe com raiva, dois de seus homens a seguraram, cada um agarrando um braço. Com um rápido acenar de cabeça de Blackthorn, os dois homens arrastaram Arline. Enquanto a levavam pelas escadas até o quarto dela, ela não sabia o que doía mais: se a sua boca machucada e sangrando, os seus braços onde os homens a agarravam, ou o seu coração enquanto ouvia o bebê choroso que fora forçada a deixar com o seu furioso marido.

    Arline foi jogada abrupta e brutalmente em seu quarto. Por mais que quisesse gritar e amaldiçoar o chão sobre o qual o seu marido e os homens dele pisavam, ela não possuía tal ousadia ou bravura. Em vez disso, despejou água fria de um jarro em sua bacia. As suas mãos tremiam tanto que ela teve dificuldade de segurar a toalha. Depois de várias tentativas, ela respirou fundo algumas vezes e, de algum modo, conseguiu limpar o sangue do rosto.

    Um pouco mais de um ano se passara desde que chegara ao castelo de Blackthorn. O ódio que sentia por seu marido aumentara a cada dia transcorrido. Mas aqueles últimos quatro meses foram os piores de sua vida. Depois dos eventos que aconteceram no andar de baixo, Arline duvidou que existisse uma palavra que pudesse descrever o absoluto e intenso ódio que sentia agora por Garrick Blackthorn.

    Depois de lavar o rosto, ela começou a andar em frente à lareira. Pequenas gotas de suor estavam agarradas em seu lábio superior, seu estômago estava duro como pedra, seus nervos eram uma mistura confusa enquanto esperava o castigo a ser aplicado pelo seu marido. Sem dúvida, ela sabia que assinara a própria sentença de morte no momento em que tomou o bebê em seus braços. Garrick iria matá-la por sua transgressão, por desafiá-lo na frente de seus homens.

    Embora soubesse que a sua morte era iminente, ela se preocupava mais com o bebê do que com o seu próprio bem-estar.

    Garrick não mataria Arline rapidamente. Não, garantiria que ela sofresse primeiro. De modo horrível. Doloroso. Brutal. Laird Blackthorn fez essa promessa em mais de uma ocasião durante o ano que se passou. Não havia nada em sua história juntos que provasse o contrário.

    A imagem da garotinha aterrorizada fez o estômago de Arline revirar e se contrair. Um querubim tão lindo e pequeno, com cachos ruivos e grandes olhos azuis, era o que ela poderia parecer se não estivesse chorando e assustada.

    Ela não sabia a quem o bebê pertencia e decidiu que não importava. Possivelmente era uma criança que tinha sido levada de seus pais para pedir um resgate. Garrick Blackthorn era exatamente esse tipo de homem. Alguém que tiraria uma criança do seio amoroso de sua família por um saco de moedas.

    Antes da morte de seu sogro, quatro meses antes, a estadia de Arline foi confortável, ainda que aborrecida. Ela tinha permissão para visitar a capela todas as manhãs e fazer caminhadas pela fortaleza. À noite, ela se sentava ao lado do marido na refeição noturna, fingindo se divertir e desfrutar de uma vida conjugal feliz.

    A morte de Phillip Blackthorn mudou tudo.

    Agora, ela era mantida isolada em seu quarto, com a porta muitas vezes trancada do lado de fora. Já não lhe era permitido visitar diariamente a capela, nem passear livremente pela fortaleza. Suas refeições, se é que alguém podia chamá-las assim, eram levadas ao quarto dela. Sua dama de companhia, Margaret, foi transferida para trabalhar em outro lugar da fortaleza.

    Arline estava completamente sozinha durante todas as horas do dia, exceto quando as suas refeições eram trazidas ou quando as criadas vinham com lençóis limpos. Elas raramente falavam com Arline, exceto por um sim, milady ou não, milady. Arline supôs que elas estavam tão aterrorizados com Garrick Blackthorn quanto ela.

    Para ajudar a afastar a insanidade de sua solidão, ela leu os livros que trouxera da Irlanda. Quando não estava lendo, trabalhava no bordado, na costura ou na pintura, embora ela fosse bem melhor em seus pontos do que com o pincel.

    Escreveu cartas para suas duas irmãs, Morralyn e Geraldine. Cartas que não podia enviar, por ordens de Garrick, para que não tivesse contato com ninguém fora da fortaleza.

    Para Arline, não importava que as suas irmãs fossem as rejeitadas ilegítimas de seu pai, ela as amava do mesmo jeito. Cada uma tinha uma mãe diferente, mas todas tinham algo em comum: um pai que se importava muito pouco com qualquer uma delas.

    Sua mente vagou aqui e ali, enquanto andava de um lado para o outro e roía a unha do polegar. Ela podia ouvir a voz de seu pai no fundo de sua mente, humilhando-a por sua própria estupidez. Você não consegue manter a boca fechada, moça. Você tinha que interferir. Só lhe restavam duas semanas!

    Um arrepio frio percorreu a sua pele assim que pensou em seu pai. Arline não acreditava que a intenção real dele fosse a de ser mesquinho ou cruel. Era simplesmente o jeito dele. O homem era franco, objetivo e ia sempre direto ao cerne de qualquer assunto. Arline supunha que, se a mãe dela ainda vivesse, ela teria a quem recorrer em tempos de dificuldade e dúvida. Mas acontece que a mãe de Arline morreu quando ela tinha sete anos, e foi entregue para ser criada por um homem que não tinha quaisquer escrúpulos em afirmar o quão mais fácil a vida dele seria se Arline fosse um rapaz em vez de uma moça.

    Agora ali estava ela, confinada em seus aposentos e, por um breve momento, viu-se desejando que o pai estivesse presente. Não sentia exatamente saudades do homem, mas sabia que o pai impediria que ela fosse morta pelo marido. Aye, ela poderia ter que concordar com outro casamento arranjado, mas mesmo isso seria melhor que a morte.

    Naquele momento, estava muito tentada a negociar com o próprio diabo a fim de garantir a segurança da garotinha no andar de baixo e viver durante as duas próximas semanas. O que ela precisava era de um plano, uma maneira de sair daquela confusão e de manter a criança fora de perigo.

    Talvez ela devesse apelar para a misericórdia do marido e implorar. Implorar não seria algo tão ruim, se isso significasse que ela teria a chance de sobreviver à próxima quinzena. E valeria a pena no final, se ela soubesse que salvou a criança.

    O suborno era outra opção. O pai de Arline estava guardando uma soma substancial de moedas para ela. Era uma grande quantia que lhe foi deixada por seu primeiro marido. Ela havia pensado em usar o valor

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