O Retrato de Lady Wycliff
De Cheryl Bolen
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Sobre este e-book
Durante a útlima década Harry, o Conde of Wycliff, trabalhou aruduamente para reaver tudo quanto o seu pai perdeu. Só um item permanece desaparecido: o retrato Gainsborough da sua adorada mãe. E a viuva lindissima Louisa Phillips detem a chave para o encontrar. Se ao menos ele a conseguisse convencer a ajudá-lo
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O Retrato de Lady Wycliff - Cheryl Bolen
O Retrato de Lady Wycliff
(Os Lordes de Eton, Livro 1)
Por
Cheryl Bolen
Copyright © 2018 by Cheryl Bolen
O Retrato de Lady Wycliff é uma obra de ficção. Nomes, personagens, locais, e incidentes são produto da imaginação da autora ou são usados em ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos atuais, locais ou pessoas, vivas ou mortas, é pura coincidência.
Todos os Direitos Reservado.
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou meios sem autorização escrita da autora.
INDICE
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capitulo 6
Capitulo 7
Capítulo 8
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
EPILOGO
A Série dos Lordes de Eton
Prólogo
Eton, 1804
Desde que tinha entrado aos nove anos de idade em Eton, que Harry Blassingame, agora Conde de Wycliff, tinha ansiado o final do período. Quando os dias começavam a ficar mais longos e o calor do sol começava a aquecer, ele alegrava-se por saber que em breve regressaria à Herdade Cartmoor. A sua mãe linda enchia-o de mimos, e ele e o seu pai davam longos passeios de cavalo pela herdade deles.
Mas este ano—o ultimo na escola onde tinha passado quase metade dos seus dezoito anos—o final do período encheu-o de melancolia. Já não poderia regressar para o seu lar em Cartmoor. Estava arrendado a estranhos. Os pais já estavam no eterno Descanso no túmulo da família de Cartmoor. E agora iria perder os seus dois melhores amigos do mundo.
Era para os aposentos dum desses rapazes que ele e Jack St. John—Sinjin—se dirigiam. Apesar de ser o terceiro filho dum duque, o residente dos aposentos finos, Lorde Alex Haversham, tinha o melhor quarto dos três, devido ao facto de ter a carteira mais recheada dos três.
Isto seria o adeus deles.
Durante a sua caminhada desde a Casa de Sissingham, Sinjin tinha estado estranhamente calado. Após tantos anos de amizade, Harry conhecia o amigo tão bem quanto alguém recorda as linhas dum poema adorado. A melancolia dominava o seu amigo por norma muito pragmático. Sinjin, também, odeia esta partida.
Nada alguma vez destruiria a amizade deles forjada durante metade da vida inteira, mas nada entre eles voltaria a ser como era agora. Eles tinham noção disso.
Rapazes mais novos na companhia de seus pais esvaziavam as casas residenciais no caminho que trilhavam, com os criados atrás deles, a carregar arcas com os pertences dos rapazes.
Cada passo mais próximo de Haversham levava-os mais próximo ao doloroso adeus. Harry sentia-se como se estivesse a envergar um manto de aço que lhe pesava nos ombros enquanto entravam na Casa Strong
e começaram a subir as escadas de madeira até aos aposentos do amigo. Quando chegaram ao patamar mesmo à porta de Haversham, uma jovem com o cabelo despenteado saiu do quarto do amigo. O olhar de Harry percorreu-a. Estava vestida como um jovem criado masculino.
Ele e Sinjin deram pequenos sorrisos um para o outro. Alex Haversham era mesmo mulherengo. Jovens ou velhas, de classe baixa ou alta, as mulheres concediam atenção gratuita neste filho amado do duque, mesmo sabendo que não existiria qualquer hipótese para uma união permanente.
Quando os dois trespassaram pela porta creme dos aposentos do amigo, Haversham olhou-os com olhos vidrados. Meio decantador de brandy e três copos vazios estavam pousados na mesa à sua frente. Apontou para eles. Sirvam-se por favor.
Cada um serviu-se, e os recém-chegados sentaram-se num sofá de veludo em frente ao anfitrião.
Questiono-me quando é que nós os três poderemos estar juntos novamente.
Haversham respirou fundo. Durante todos estes anos temos feito tudo juntos.
Ele olhou para os outros que acenaram em confirmação. O meu papá comprou-me cores, e parto para a Península na próxima semana.
O primeiro pensamento de Harry foi como um golpe de florete. Alex Haversham poderia ser morto em batalha. Ele fez um esforço para que o amigo não notasse como tinha medo por ele. Meu Deus, poderão passar-se anos antes de regressares a Inglaterra!
Vou sair da Inglaterra, também.
Haversham endireitou-se para encarar Harry diretamente. Não te vais alistar!
Claro que ele sabia que o amigo não tinha os recursos necessários para comprar uma licença. Harry abanou a cabeça. Não. Vou para o mar.
Na Marinha Real?
perguntou Sinjin.
Não propriamente. Tenho um plano para recuperar os cofres de Wycliff.
Dois pares de sobrancelhas arquearam-se enquanto os amigos ponderavam a sua resposta. Depois Haversham abriu muito os olhos. Não vais ser um pirata, pois não?
Harry não respondeu durante um pouco. Não o chamaria isso. Mas sim distribuição das riquezas dos Franceses.
Sinjin abanou a cabeça tristemente. Tenho mesmo pena que tenhas que recorrer a tal prática. Se eu tivesse algum dinheiro, dar-te-ia, mas bem sabes que a fortuna de St. John se esfumou com as perucas empoeiradas.
O teu pai pode ser pobre, mas pelo menos é muito respeitado.
Harry desejava que pudesse dizer o mesmo acerca do seu falecido pai.
Obrigado,
respondeu Sinjin. Fico feliz por vos dizer que planeio seguir as pisadas do meu pai. Enquanto ele servir na Câmara de Lordes, vou concorrer para a Casa dos Comuns – com a ajuda financeira dos influentes amigos
Whigs do meu pai.
Harry sorriu. Não consigo pensar em alguém mais adequado para servir no Parlamento.
Sinjin olhou dele para o anfitrião deles. Vou sentir imensas saudades dos dois.
Todos assentiram. O silêncio enchia os aposentos como uma criatura ameaçadora.
Vamos fazer um pacto,
disse por fim Haversham. Se algum de nós alguma vez precisar de ajuda—salvo a necessidade de dinheiro, que nenhum de nós tem—só tem que convocar os outros dois. Independentemente do que se passar, iremos. Sei que posso contar com os dois, e dou-vos a minha palavra de honra que estarei sempre disponível para ajudar os meus dois melhores amigos.
É um juramento que faço com felicidade.
Harry pegou no copo e ergueu-o. Um brinde a isso.
Mesmo,
concordou Sinjin. Eu daria a minha vida por qualquer um de vocês.
O copo tilintou contra os outros dois.
Capítulo 1
Londres, 1812
As filas recortadas de diamante e esmeraldas brilhantes entrelaçavam nos dedos masculinos e longos de Harold Blassingame, o sétimo Conde de Wycliff. Ficou com um nó na garganta quando se recordava de como o colar tinha ficado bem no pescoço da mãe, cuja beleza fora silenciada há oito anos. Estranhamente, a recuperação das joias de Wycliff não lhe tinha trazido o triunfo que ele esperava. Até a recuperação da Herdade Cartmoor depois desta ter estado quase uma década nas mãos de usurpadores tinha deixado Harry com uma sensação de querer mais. A vindicação dos Wycliffs jamais estaria completa até que ele recuperasse a Mansão Wycliff sita em Grosvenor Square.
Edward Coke, o seu primo que era quase como um irmão, colocou um pé calçado com botas em cima de mesa Jacobina que separava os dois jovens. Quanto é que deu para persuadir o Livingston ceder as joias da Tia Isobel?
Harry olhou para Edward, com um olhar sombrio nos olhos negros. O dobro do que teria sido, se tivesse sido avaliado por Rundel & Bridge.
O primo gemeu. Atrevo-me a dizer que o Livingston sabia que teria aparecido com dez vezes mais, embora eu não faça a mínima ideia como é que ele descobriu acerca da vossa carteira recheada. 'Era do conhecimento geral, antes de sair de Inglaterra há oito anos, que o Tio Robert lhe tinha deixado sem um péni.
O facto de eu ter pago tão bem a Kindale para que este vagasse a Herdade Cartmoor sem dúvida que já se espalhou por Londres como folhas levadas pelo vento,
disse Harry.
A Herdade eu consigo perceber. Excelentes estábulos enormes que lá tem, mas despender um montante tão grande numas pedras malditas?
Edward abanou a cabeça com cabelo curto louro antes de se inclinar para apanhar a aliança Wycliff do monte das joias brilhantes que estava em cima da secretária. Acha que vai encontrar uma jovem senhora adequada para usar isto, Harry?
Ele enfiou a aliança encrostada de esmeraldas no dedo mindinho, que nem passava dos nós do dedo ossudo.
Harry encolheu os ombros. Como é que poderia explicar ao Edward os seus motivos para regressar a Inglaterra? Como é que alguém poderia perceber o chamamento magnético da terra que tinha estado na sua família durante trezentos anos? Como é que conseguiria explicar a sua necessidade de restaurar o bom nome da sua família ou a sua necessidade de ter uma família? E uma esposa.
Mas enquanto trilhava o caminho para a redenção, a consciência de Harry pesava-lhe. Que mulher decente e nobre o quereria se soubesse o que ele tinha estado a fazer nos últimos oito anos? Oh, ele poderia evitar contar a verdade. Só com o seu título e fortuna, provavelmente conseguiria fisgar uma mulher de sua escolha.
O problema era que ele não queria um casamento baseado numa mentira. O que ele procurava era amor. Do tipo que os pais tinham partilhado. O seu estômago embrulhou-se com a memória da traição do seu pai. Ainda assim a mãe dele nunca perdeu o amor pelo homem com quem tinha casado aos vinte anos. Os dois partilhavam tudo. Era quase como se os seus corações batessem como um só. E quando o coração do pai parou, a sua condessa seguiu-lhe para a campa ao fim de menos dum mês.
Acha que uma mulher me quererá sabendo como é que obtive a minha riqueza?
perguntou Harry.
Edward arregalou os olhos. Certamente que não tem que contar tudo a uma esposa. Vê o que o meu pai faz. Ele protege a minha mãe de todas as formas quanto às suas, er, atividades.
Uma centelha de aborrecimento percorreu o rosto de Harry. quer dizer que ele não assume que tem uma amante?
Edward engoliu em seco e sem olhar para o primo. Bem, claro. Simplesmente não se faz.
Apesar dos seus defeitos todos, o meu pai foi sempre honesto com- e fiel à- minha mãe, qualidades admiráveis num casamento, acho eu.
Harry desviou a atenção de Edward e olhou pelas janelas altas que davam para a Rua Upper Brook. Duvido que alguma vez tenha uma esposa com quem consiga ser completamente honesto.
Chega da conversa acerca de esposas!
Edward estremeceu. Vamos recuperar os anos perdidos de devassidão.
Um sorriso largo iluminou-lhe o rosto jovem.
Harry não conseguiu reprimir o sorriso enquanto se levantava. Prefiro ir ver a Mansão Wycliff. Estou a pensar oferecer à viúva do Senhor Godwin Phillips um montante que ela não poderá recusar.
O tronco esguio de Edward ergueu-se até à sua altura máxima, que era vários centímetros mais baixo que o primo mais velho. Espero que ela não seja tão sem escrúpulos como era o marido. A propósito, já descobri quem tem a caixa de rapé de diamante de seu pai. O que diz a fazermos uma visita ao Lorde Cleveland?
Harry virou-se para encarar o primo. "Quem é que lhe disse que eu queria a caixa de rapé dele?"
"Eu. . .Eu pensei que uma vez que está a reclamar tudo dolorosamente——
"Eu não quero nada que fosse dele," escarneceu Harry.
* * *
Enquanto viravam a esquina para o Largo Grosvenor, o coração de Harry começou a acelerar. Já não via a Mansão Wycliff há quase uma década. No exterior, o edifício de tijolo creme de três andares não tinha mudado. Não era muito grande mas era grandioso. Balaústres de ferro trabalhados alinhava o nível da rua, com exceção do pórtico de entrada em arco. Filas de janelas altas na frente da casa distinguiam os andares de cima das casas vizinhas devido às colunas graciosas e luxuosas que emolduravam cada janela. Um friso esculpido de atletas Gregos em banda no topo do prédio.
Nenhum outro meio de transporte aguardava em frente à casa quando ele e Edward prenderam os cavalos. Harry mal se conseguia recordar duma altura em que não havia diversos meios de transporte alinhados na rua. O velho duque tinha levado os seus deveres na Casa dos Lordes seriamente e tinha recebido visitas frequentes quando o Parlamento estava em sessão.
A porta da frente foi aberta por um mordomo de meia idade a quem Harry apresentou o seu cartão de visita. É algo duma natureza pessoal que eu pretendo discutir com a Senhora Phillips.
As sobrancelhas do mordomo ergueram-se ligeiramente quando ele leu o cartão. Queira vir até à sala da manhã, meu lorde?
Eles atravessaram o hall largo com chão em mármore e acomodaram-se na pequena sala que a mãe tinha chamado de sala da manhã. A senhora está neste momento ocupada.
O mordomo baixou a voz. 'É Terça-feira, sabe. O dia de reuniões dela. Irei informá-la da vossa presença.
O facto da sala da manhã continuar tão deslumbrante como estava há dez anos agradou a Harry. Cortinas elegantes em seda ondeada azul claras estavam penduradas por baixo das cornijas douradas que estavam na janela defronte do Largo Grosvenor. Sofás de damasco de seda azuis e cadeiras encontravam-se dispersas pela sala numa carpete com padrão em dourado e azul real. Um candeeiro enorme de cristal estava suspenso do teto com margens em marfim. Graças a Deus que o patife Godwin Phillips teve o bom senso de não mudar nada.
Pouco depois o mordomo reapareceu. A Senhora Phillips diz que a reunião está quase a terminar, que fará bem a um aristocrata assistir ao que resta dela.
Harry trocou um olhar intrigado com Edward. O que é que a viúva queria dizer, fará bem a um aristocrata?
Com emoções contraditórias estranhas, Harry entrou na sala de estar nas traseiras do primeiro andar. Tal como a sala da manhã, pouco tinha alterado. As suas paredes ainda eram verde espargo, assim como a maioria dos sofás verdes de brocado. Contudo, os ocupantes da sala tinham mudado consideravelmente. Harry nem se lembrava de alguma vez ter visto uma Assembleia tão sombriamente vestida. E era constituída inteiramente de mulheres. Meu Deus! Será que tinha entrado num maldito grupo de mulheres eruditas?
No meio dum mar de lãs cinzentas e castanhas Harry avistou uma das jovens mais bonitas que alguma vez vira. Embora envergasse um vestido de sarja insonso cor de grafite, a loura linda brilhava tal como um diamante no meio dum monte de carvão. De estrutura pequena, mas o seu corpo tinha curvas gentis nos sítios certos, mas foi o rosto dela que lhe captou a atenção, pois era perfeito: um oval perfeito com um nariz perfeitamente esculpido e uns lábios carnudos que revelavam dentes brancos alinhados. Ela deu dois passos em frente, a olhar para Harry, com uma expressão impenetrável.
Quando ela falou, ele apercebeu-se que, também a voz dela, era maravilhosa. Sedosa e clara e jovem sem ser superficial. Qual de vós é Lorde Wycliff?
Ele mexeu-se em direção a ela, e fez uma vénia. Ao dispor, minha senhora.
Ela mal inclinou a cabeça, depois apontou para as cadeiras extra. Podem se sentar até terminarmos.
Deve existir algum engano,
disse Harry. "Eu queria mesmo era falar com a Senhora Phillips." Não conseguia desviar o olhar dos olhos extraordinários da jovem. Eram dum azul mais claro do que os ovos dos piscos.
Eu sou a Sra. Phillips,
disse ela impacientemente.
Mas . . .
Esperava uma mulher mais velha.
A resposta desleixada dela indicou que existia um padrão crescente tedioso.
A senhora é a viúva de Godwin Phillips?
Parecia impossível que esta beldade jovem tivesse estado casada com Phillips. O homem tinha a idade do pai de Harry. A jovem loura que estava perante Harry desafiante e arrogante mal deveria ter acabado de chegar à maioridade.
Eu sou.
Apontando para a dúzia de mulheres que estavam sentadas de costas direitas na sala, ela disse, "Não o vou incomodar com apresentações, milorde. Se o senhor e o seu amigo tiverem a gentileza de se sentarem—-"
Sim, claro,
disse Harry, sentando-se num sofá de brocado de cetim ao lado de Edward, que já tinha demonstrado o bom senso de se sentar e escapar ao olhar penetrante da Sra. Phillips. Pela primeira vez na vida, Harry tinha sentido censura ao ser tratado por milorde.
Ele prestou pouca atenção ao que sucedia na reunião das senhoras eruditas, de tão emocionado que estava por se encontrar novamente na sala que tinha tantas memórias da família amada de que tinha sido parte. Quase que conseguia ver a sua mãe sentada na mesma cadeira onde estava sentada a Senhora Phillips, a sua cabeça com cabelo dourado abaixada sob o bordado sempre presente. Com o semblante mais carregado, Harry também se lembrava, de se sentar à mesa de jogos de nogueira a jogar gamão ou xadrez com o seu pai alegremente.
O que é que é justo no facto de qualquer par no Reino ter direito ao voto quando outros homens- homens que trabalham bem mais que um lorde ocioso — não têm direito a voto sequer?
Ouvir os seus pares a serem difamados fez com que Harry saísse do seu devaneio, e ele olhou para cima e verificou que a oradora era uma matrona cuja idade excedia a dele. Ela usava óculos e um vestido de lã merino que lhe ocultava completamente qualquer vestígio de feminidade.
Uma segunda oradora levantou-se. "Certamente não é dada nenhuma consideração à expressão o maior bem para o maior número. E há definitivamente algo de errado quando um privilégio se estende apenas a alguns."
Horrorizado, Harry observou a segunda oradora, uma jovem que usava um chapéu de três bicos parecido àquele que o seu pai usava. Dragonas estavam seguras nos seus ombros bem tapados. Uma erudita que odeia homens, de certeza.
E assim passámos do assunto das injustiças do nosso sistema penal,
disse a anfitriã linda, Sugiro que discutamos os princípios de utilidade do Senhor Bentham na reunião da próxima Terça-Feira.
Quando as senhoras se levantaram e começaram a sair da sala, Harry levantou-se, como qualquer cavalheiro faria. Nenhuma delas demonstrou apreço pela sua presença ou a de Edward, que estava de pé silenciosamente a seu lado. Os homens observavam enquanto a Senhora Phillips seguia as convidadas para fora da sala, a conversar alegremente.
Quando as mulheres já tinham saído, Harry virou-se para o primo e disse em voz baixa. Malditas eruditas.
Ainda bem que não têm guilhotina,
disse Edward.
Harry abanou a cabeça. Acho que a violência não é apelativa para estas emprestáveis.
Uma voz feminina respondeu. Absolutamente correto, Lorde Wycliff.
Olhando para o rosto angelical da Senhora Phillips, Harry acreditava que a violência fosse lhe tão desconhecida como marcas de borbulhas na pele lisa e sedosa dela. Entendo que é seguidora de Jeremy Bentham.
Admiro-o profundamente, mas não sou uma utilitarista pura,
ela respondeu.
Que gratificante,
murmurou Harry.
Nem eu nem a Menina Featherstone,
disse a linda viúva, virando-se para a jovem simples que estava a seu lado. Imediatamente Harry sentiu pena da outra senhora. Que injusto que era para a Menina Featherstone, que embora fosse da mesma idade e de estatura semelhante, com cabelo castanho e cara normal, ter que ser comparada com a deslumbrante Senhora. Ela era, de facto, mesmo muito simples—embora não fosse desagradável. Permita-me que lhe apresente a minha amiga, a Menina Jane Featherstone, meu lorde.
A senhora fez uma vénia. Jane era um nome adequado para esta Jane sem graça. Harry ergueu o sobreolho. É parente do Senhor Featherstone que é regedor da Casa de Comuns?
Um sorriso minúsculo surgiu no rosto da Menina Featherstone. Ele é meu pai.
Estou em crer que ele deve conhecer um dos meus grandes amigos. Sinjin, melhor, Lorde Jack St. John.
Os rostos de ambas iluminaram-se.
Admiramos muito o seu amigo,
respondeu a Senhora Phillips.
Ele sorriu, depois o olhar dele deambulou duma para outra. Estou curioso por saber de que modo é que as vossas visões diferem do Senhor Bentham?
A viúva perscrutou-o através dos olhos semicerrados. Enquanto que Jeremy Bentham promulga um bem maior para o maior número de pessoas — uma filosofia que tem muito mérito — penso que ele ignora o valor do individual.
Harry assentiu. Então é mais uma discípula de Rousseau?
Se eu fosse obrigada a escolher entre os dois pensadores importantes, então sim, preferia Rousseau.
Ela olhou para ele ceticamente e começou a retirar-se da sala. Suponho que gostaria de ver a sua residência anterior?
Muito mesmo. De facto, gostaria de lhe fazer uma oferta pela casa.
Ela virou-se para o encarar, os olhos dela a lançarem faíscas. Isso não pode fazer. Descobri apenas esta manhã que não sou a proprietária.
Então imploro-lhe que me diga quem é.
Isso não posso fazer.
Harry parou em frente a uma pintura enorme da Armada Espanhola, uma pintura que tinha sido comissionada por um dos seus antepassados no início do século dezassete. E porque é que não o pode fazer, Sra. Phillips?
Apesar dos seus esforços para o mitigar, a fúria estava contida na sua voz.
Porque não sei quem é o proprietário. A comunicação surgiu esta manhã, por intermédio do advogado do proprietário.
Então se me der a morada do advogado.
Não o farei.
Ela estava de pé na ombreira da sala de jantar de marfim, emoldurada pelo brilho dourado da parede repleta de janelas sem cortinas.
Harry estava furioso. Posso lhe perguntar porquê?
Ela assentiu, altiva. Eu antipatizo com nobres.
A Menina Featherstone ofegou. Realmente, Senhora Phillips, não deveria dizer isso.
Oh, eu não antipatizo consigo mesmo sendo a neta dum conde, nem a minha antipatia se estende ao Lorde Jack St. John ou o seu pai, Lorde Slade.
Fico feliz em ouvir isso, uma vez que St. John é facilmente um homem por quem eu daria a minha vida.
Harry resistiu por pouco ao impulso de colocar as suas mãos nos ombros da Sra. Phillips e sacudi-la. "Certamente que o seu estudo sobre igualdade lhe ensinou que cada homem é um individuo. Não me pode ser