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Escorpião: Alcateia do Lobo, livro 3
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Escorpião: Alcateia do Lobo, livro 3
E-book539 páginas9 horas

Escorpião: Alcateia do Lobo, livro 3

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Sobre este e-book

Escorpião: Parte da série “Alcateia do Lobo”

Um cavaleiro selvagem e heroico encontra o amor no coração da Inglaterra

1289 d.C. — Sir Kevin Hage, sofrendo pela perda do objeto de suas afeições para o guerreiro galês conhecido como Serpente, mergulha na guerra para esquecer as suas mágoas. Ele viaja para o Levante para lutar contra os infiéis muçulmanos, transformando-se durante este tempo. Ele se torna endurecido, brutal e heroico, e retorna à Inglaterra como um outro homem, um assassino inglês conhecido como Escorpião.

Agora, na frente de combate doméstico, ele deve lutar uma batalha ainda maior — o medo de amar uma mulher sob circunstâncias extraordinariamente difíceis e com todas as chances contra eles. Acompanhe a história de Kevin e sua dama, em sua jornada de descobertas e aventuras, e o despertar de um amor que é maior do que todas as estrelas no céu, neste romance medieval inesquecível.

Amor... teu nome é ESCORPIÃO.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento21 de fev. de 2019
ISBN9781547573622
Escorpião: Alcateia do Lobo, livro 3

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    Pré-visualização do livro

    Escorpião - Kathryn Le Veque

    Nota do autor:

    Bem-vindo à história de Kevin Hage!

    Kevin, claro, foi um importante personagem secundário em Serpente, o concorrente do herói, e fiquei muito triste por Kevin que, no final, não conquistou a garota; então, quis dar-lhe sua própria história, para que assim ele pudesse experimentar o seu próprio felizes para sempre. Mas não poderia ser uma história normal para Kevin; precisava ser algo ótimo e grandioso. Então, imaginei que, depois de perder Penelope em Serpente, Kevin iria querer ficar longe de tudo e partir para uma grande aventura para esquecê-la. Com isso, nasceu o ponto de partida de Escorpião.

    Há algumas coisas a serem observadas — uma boa parte deste romance lida com as Cruzadas, bem como com os torneios, conteúdo medieval padrão. Observe que Kevin realmente foi ao Levante (termo que é intercambiável com o termo Terra Santa, pois designa o Oriente Latino). Além disso, algo interessante para se notar sobre os torneios em geral — o termo melée, usado para descrever a massa, combate simulado que era um marco dos torneios, não foi amplamente usado até o século XVI. Antes disso, era conhecido como a competição de massa (ou geral) ou somente massa. Não fique confuso quando vir esse termo na história.

    Além disso, o ducado de Dorset não surgiu de fato até o século XVIII e até mesmo o condado de Dorset não surgira até cem anos antes disso, então eu apresentei o ducado muito cedo na linha do tempo da história da Inglaterra como um título fictício.

    Algo interessante de se notar — Gorsedd de Bretagne, pai de Cortez de Bretagne do livro The Questing, desempenha um papel bastante importante neste romance. Cortez também está aqui, como um jovem escudeiro, e ele escolta Kevin. Mundo pequeno!

    Com estas observações feitas, espero que gostem da história!

    Abraços

    Kathryn

    ––––––––

    Nota: Todos os romances de Kathryn foram escritos para serem lidos de forma independente, embora muitos tenham personagens ou grupos familiares que aparecem em outros livros.

    Os romances agrupados têm personagens ou grupos familiares relacionados.

    As séries têm características claramente marcantes. Todas as séries têm os mesmos personagens ou grupos familiares, exceto a série American Heroes, que é uma antologia com personagens não relacionados.

    NÃO existe uma ordem cronológica particular para nenhum dos romances, porque todos eles podem ser lidos de forma independente, até mesmo as séries.

    Árvores genealógicas das famílias de Wolfe, Hage e Norville

    A geração seguinte da Alcateia do Lobo (de O Lobo, Serpente)

    William e Jordan Scott de Wolfe

    Scott, nascido em 1241 (casado com lady Athena de Norville, tem filhos)

    Troy, nascido em.1241 (casado com lady Helene de Norville, tem filhos)

    Patrick, nascido em 1243 (casado com lady Brighton de Favereux, tem filhos)

    James, nascido em 1245 – Morto no País de Gales, em 1282 (casado com lady Rose Hage, tem filhos)

    Katheryn, nascida em 1245 (irmã gêmea de James) - Casada com sir Alec Hage, tem filhos

    Evelyn, nascida em 1248 (casada com sir Hector de Norville, tem filhos)

    Bebê de Wolfe, nascida em 1250, morta no mesmo dia. Batizada como Madeleine.

    Edward, nascido em 1252 (casado com lady Cassiopeia de Norville, tem filhos)

    Thomas, nascido em 1255

    Penelope, nascida em 1263 (casada com Bhrodi de Shera, rei hereditário de Anglesey e conde de Coventry, tem filhos)

    Kieran e Jemma Scott Hage

    Mary Alys, nascida por volta de 1238 (adotada) casada, tem filhos

    Bebê Hage, nascida em 1241, morreu no mesmo dia. Batizada como Bridget.

    Alec, nascido em 1243 (casado com lady Katheryn de Wolfe, tem filhos)

    Christian, nascido em 1248 (morto na Terra Santa, em 1269), sem filhos

    Moira, nascida em 1251 (casada com sir Apollo de Norville, tem filhos)

    Kevin, nascido em 1255

    Rose, nascida em 1258 (viúva de sir James de Wolfe, tem filhos)

    Nathaniel, nascido em 1260

    Paris e Caladora Scott de Norville

    Hector, nascido em.1245 (casado com lady Evelyn de Wolfe, tem filhos)

    Apolo, nascido em 1248 (casado com lady Moira Hage, tem filhos)

    Helene, nascida em 1250 (casada com sir Troy de Wolfe, tem filhos)

    Athena, nascida em 1253 (casada com sir Scott de Wolfe, tem filhos)

    Adonis, nascido em 1255

    Cassiopeia, nascida em 1257 (casada com Sir Edward de Wolfe, tem filhos)

    Total de netos do clã de Wolfe/Hage/de Norville: 19 (e continua a aumentar)

    Dedicatória

    Não costumo fazer dedicatórias, porque escrevi muitos livros, e acabaria por dedicá-los aos vizinhos, uma vez que já não tenho mais para quem dedicar; mas gostaria de dedicar esse livro para aqueles que já perderam um amor – ou por causa de um rompimento, ou porque foram rejeitados, ou por falecimento, ou por divórcio, ou algo parecido. Isso já aconteceu comigo, mais de uma vez, então este livro é sobre viver de novo.

    Há vida após a perda, então nunca perca a esperança.

    PRÓLOGO

    Cerco de Trípoli,

    Março de 1289 d.C.

    — Cuidado com a cabeça!

    O grito veio de trás. O enorme cavaleiro inglês com a cabeça raspada instintivamente entendeu e se abaixou, escapando de ser decapitado por poucos centímetros. Apesar de seu tamanho, o cavaleiro era tão ágil quanto um gato. Ele se virou e atacou o homem que acabara de tentar arrancar sua cabeça, golpeando o abdômen do atacante com seu grande ombro.

    O guerreiro mameluco que portava a cimitarra, o sabre curvo dos guerreiros muçulmanos, caiu de costas, e o enorme cavaleiro enterrou sua enorme e pesada espada diretamente no peito do homem. Foi morte instantânea.

    — Kevin, precisamos sair daqui. — O mesmo cavaleiro que gritou o aviso estava agora segurando o braço do grande cavaleiro de cabeça raspada. — É uma armadilha. Eles o atraíram aqui com rumores de uma rendição dos inimigos.

    Sir Kevin Hage percebera a mesma coisa que seu amigo. Trípoli estivera sitiada havia mais de um mês, uma cidade árida em uma terra seca e misteriosa. Sendo invadida por mamelucos, turcos, mongóis e mais tribos exóticas que chegavam do norte e do leste, os últimos remanescentes da irmandade cristã no Levante tentavam livrar a cidade do novo legado de invasores. Mas estavam em menor número. Até aquele momento, havia sido um esforço aparentemente inútil.

    Kevin e seus companheiros, sir Adonis de Norville e sir Thomas de Wolfe, homens com quem havia crescido e que agora vieram servi-lo naquela terra estranha e exótica em uma última cruzada de um império que havia desistido daquela missão, já estavam fora da Inglaterra havia mais de seis anos. Das neves do País de Gales às areias abrasadoras do Levante, tudo aquilo fora uma aventura e tanto, uma aventura que assistiu Hage adquirir uma reputação, não só da parte daqueles com quem lutou, mas daqueles contra quem lutou. Um homem que lutou sem medo, sem emoção e com um toque de vingança inexplorada. Um homem que os templários e os hospitalários¹ haviam aprendido a usar como arma de ataque, um assassino. Como um escorpião, Hage muitas vezes não era percebido até que fosse tarde demais e, até lá, o alvo estaria morto antes que percebesse o que o atingira.

    Então, já seria tarde demais...

    Agora, era quase tarde demais para o homem conhecido como Escorpião. Kevin olhou em volta. Eles estavam no lado norte da cidade, tendo conseguido entrar após matar vários guardas de vigia em seu posto, protegendo uma poterna menor, porém estratégica, que levava à cidade murada.

    A isca de uma possível rendição levou Kevin e seus companheiros até o portão, conforme indicado pelo comandante da ordem dos templários, com quem Kevin às vezes lutava. Sendo inglês, e não oficialmente um templário ou um hospitalário, ele lutava ao lado deles quando lhe convinha, ou quando eles o pagavam bem o suficiente. Agora, essa diretiva que recebera para receber a rendição dos comandantes inimigos, com um enorme pagamento a ser feito, estava começando a cheirar a uma emboscada. Sua entrada na cidade não fora fácil. Agora, ele se perguntava o quão fácil seria sair dela.

    — Acho que você está certo — murmurou Kevin finalmente, voltando-se para Adonis. O seu acompanhante alto e loiro estava com o rosto vermelho pelo sol e calor. — De Clemont pagou extraordinariamente bem para que eu assumisse essa tarefa. Não me ocorreu que era porque ele sabia que acabaria tendo o seu dinheiro de volta quando o meu cadáver fosse entregue a ele.

    Adonis assentiu com a cabeça, com expressão nervosa, enquanto se voltava para Thomas de Wolfe, que acabara de despachar dois mamelucos bastante violentos. Após de Wolfe chutar os corpos e roubar tudo o que pudesse carregar, voltou para Kevin e Adonis.

    — Isso é uma armadilha — disse Thomas. Moreno, com olhos cor de avelã e ombros largos, ele era um dos filhos do lendário William de Wolfe e possuía toda a astúcia e habilidade de seu pai. Seu olhar estava em Kevin. — Se nos aventurarmos ainda mais longe na cidade para onde fomos orientados, isso significará a morte para nós. Tudo isso... foi muito bem planejado.

    — Já percebemos — murmurou Kevin, olhando em volta para ver se mais assassinos estavam por saltar das sombras da cidade antiga. — Devemos sair, e sair rapidamente.

    Adonis olhou em volta com o mesmo olhar aguçado que Kevin apresentava.

    — Não podemos voltar a de Clemont — disse ele. — O homem colocou você nessa posição. Se formos até ele, iremos para a morte.

    Kevin sabia disso. Ele suspirou profundamente, limpando o suor da cabeça hirsuta.

    — Nem mesmo aqueles com quem lutamos durante seis anos confiam mais em nós — disse ele. — Se estão tentando nos matar, então acho que nosso tempo aqui acabou.

    Thomas assentiu com a cabeça, enfiando a moeda que roubara no bolso de sua túnica.

    — Eles temem que você não esteja mais sob o controle deles — disse ele. — Você matou de Evereux...

    — Ele tentou me matar.

    — Mesmo assim, espalharam rumores de que você havia sido contratado pelos mamelucos para matá-lo.

    Kevin grunhiu.

    — Eu matei o homem porque ele era um bastardo francês inescrupuloso, que tentou roubar algumas moedas de mim — disse Kevin, como se aquilo tudo fosse ridículo. — Quando o confrontei, ele tentou me matar. Eu o matei em legítima defesa.

    Thomas sabia disso, e também Adonis.

    — Mas ele era primo de de Clemont — assinalou Adonis. — Todo mundo sabia que ele era um tolo imoral, mas quando você o matou, eles ficaram do lado de de Clemont, com medo do homem. Ninguém se posiciona contra seu líder e vive para contar a história.

    Kevin estava bem ciente disso. Limpando a garganta suavemente, ele olhou ao redor das velhas e empoeiradas muralhas da antiga cidade, muralhas da cor da areia. Tudo aqui era da cor da areia; ele não havia visto grama verde em mais de seis anos. Naquele momento, percebeu como sentia falta dela. Queria ir para casa. Estava cansado daquele lugar, de sua sujeira, calor e piolhos. Queria ver a grama verde de sua casa novamente.

    — Então, acabou — disse ele, baixinho. — Reuniremos nossas posses e partiremos. Não podemos fazer mais nada aqui e recuso-me a perder a minha vida nessas areias estéreis, despojado de tudo por homens que são indignos do meu legado.

    Nem Thomas nem Adonis discutiram com ele. Eles também estavam contentes em deixar aquelas estas terras desoladas. Eles só tinham vindo por causa de Kevin, um homem com quem cresceram e que, seis anos antes, perdera o amor de sua vida para outro. Kevin estivera sem rumo, sem direção, e com um enorme vazio no peito, onde seu coração costumava estar. A pedido do pai de Kevin, sir Kieran Hage, Thomas e Adonis ficaram junto de Kevin e, a seu lado, acabaram encontrando o caminho para a Terra Santa em busca de riqueza e aventura.

    Mas para Kevin, ele estava em busca de algo mais, algo para preencher aquele grande vazio em seu peito. O amor perdido o drenara de tudo o que já fora capaz de sentir e, nesse estado, ele se tornou um mercenário para os exércitos cristãos que ainda estavam tentando livrar a Terra Santa dos infiéis. Mas rapidamente descobriu que não havia dinheiro suficiente para satisfazê-lo ou suprir o que lhe faltava. Portanto, os seus primeiros dias como um mercenário o transformaram em algo diferente, algo sombrio e perigoso.

    Kevin tornou-se um homem que aceitaria dinheiro para matar outros homens; não se importava sobre quem eram esses outros homens. Uma vez que fosse bem pago, executaria qualquer tarefa. Nada era muito grande ou muito difícil. Foi sob essa aparência de assassino pago que Kevin alcançou algo que nunca imaginou ser. Ele se tornou a Morte.

    Aquele buraco em seu peito, onde o amor costumava ficar estava agora preenchido pela destruição e desapontamento com os quais a vida havia lhe tratado. A desilusão da vida o mudara, transformando o seu doce coração e seus modos gentis em uma sombra mais escura de seu antigo eu. Com os cabelos escuros raspados até o couro cabeludo e uma enorme tatuagem de um escorpião que um artista turco gravou no lado esquerdo de suas costas, com suas terríveis garras pintadas de modo a abraçar seu enorme ombro esquerdo, Kevin Hage não era mais o piedoso e gentil cavaleiro que os que o rodeavam conheciam e amavam. Kevin morrera seis anos antes e algo diferente ocupara o lugar dele.

    O Escorpião havia nascido.

    ––––––––

    ¹A Ordem de Malta ou Cavaleiros Hospitalários (oficialmente Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta) é uma organização internacional católica que começou como uma ordem beneditina fundada no século XI na Palestina, durante as Cruzadas, mas que rapidamente se tornaria numa ordem militar cristã, numa congregação de regra própria, encarregada de assistir e proteger os peregrinos naquela terra e de exercer a Caridade (Wikipedia) (N.T.)

    ––––––––

    — Ó, nobre dama! Até que eu me eleve às alturas da glória com os ataques da minha lança e com os golpes da minha espada, irei me expor a todo o perigo, onde quer que as lanças caiam no pó da batalha — então, ou serei lançado sobre a ponta de uma lança, ou estarei entre os nobres em minha busca por seu amado coração.

    ~ Poema de amor árabe do século XIII

    CAPÍTULO UM

    Londres

    Outubro de 1289

    — Gostaria de saber como o rei ouviu falar de mim — disse Kevin. — Como é que poderia ter enviado uma mensagem para que eu vá vê-lo?

    A questão pairava no ar úmido do mar. A embarcação de pesca que Kevin, Adonis e Thomas haviam tomado em Calais chegara à terra nos brancos penhascos de Dover, em um dia de outono surpreendentemente ameno. As gaivotas sobrevoavam acima deles, sobre a brisa do mar, enquanto os cavaleiros e vários outros passageiros desembarcavam o mais próximo possível da costa. Kevin desembarcou com o seu cavalo, um espetacular garanhão branco que adquirira em Tiro, criado a partir do cruzamento de uma antiga raça árabe com os cavalos ‘sangue quente’ belgas, de ossos pesados, ​​que os cruzados levaram consigo. O resultado foi um animal inteligente, de constituição vigorosa e incrivelmente rápido, com uma exuberante crina e cauda negras.

    Entre seus diversos talentos, o cavalo também podia nadar; então, literalmente, Kevin fez com que o cavalo pulasse do barco e nadasse até a praia, o que ele alegremente fez. Como nenhum outro homem, além de Kevin, conseguia montar no cavalo e muito menos se aproximar dele, Kevin simplesmente guiou o seu cavalo até a praia, sorrindo, enquanto o animal subia a costa rochosa, levantando as patas, antes de se virar e voltar para seu mestre. Como um cachorro, ele seguiu Kevin obedientemente enquanto o homem tirava sua bagagem do pequeno bote que havia sido baixado do lado da embarcação.

    Esta área da costa era onde os barcos de Calais desembarcavam, de modo que havia a quantidade habitual de tráfego de barcos e de autoridades exigindo tarifas. Era um lugar que cheirava fortemente a rochas mofadas e sal, o odor do mar impregnando os penhascos. Com as malas na mão, Kevin parou diante de um homem portando as cores de Edward, o rei, com o brasão azul e vermelho abraçando os leões reais dourados. Era um mensageiro, que parecia estar fora do lugar, entre marinheiros salpicados do sal marinho e agressivos cobradores de impostos. O homem acabara de informar Kevin sobre os desejos do rei e Kevin estava compreensivelmente confuso.

    — Os rumores de seu retorno à Inglaterra o precederam, meu senhor — disse o mensageiro. — Toda a Inglaterra já ouviu falar do Escorpião e o nosso rei, o guerreiro consumado, respeita a reputação que o senhor construiu para si mesmo. Ele deseja vê-lo por si mesmo.

    Kevin olhou para o homem, em dúvida.

    — Como você me reconheceu?

    O mensageiro apontou para um dos vários coletores de tarifas que estavam a vários metros de distância, discutindo com alguns dos capitães de barcos que haviam chegado à praia.

    — Você é diferente, meu senhor — disse ele, apontando para o pescoço de Kevin. — O capitão do seu barco também notou. Se eu fosse um homem dado a apostas, diria que essas garras no pescoço são garras de escorpião. Estou me dirigindo ao Escorpião, não estou?

    Kevin grunhiu. A garra direita do grande escorpião nas suas costas ficava aparente no lado esquerdo do pescoço. Instintivamente, ele correu um dedo pelo colarinho de couro de sua túnica como se tentasse esconder a garra que não podia ser escondida. Não fazia sentido negar o óbvio.

    — Meu nome é Hage — disse ele, vagamente. — O que o rei deseja falar comigo?

    O mensageiro era bom em seu trabalho, experiente e capaz de enfrentar homens apreensivos, teimosos ou intimidantes.

    — Ele não discutiu isso comigo, meu senhor — disse ele. — Sugiro que viaje para Londres imediatamente para descobrir. Ele está em sua residência no palácio de Thorney Island.

    Thorney Island. Kevin se virou para olhar para Adonis e Thomas, que estavam olhando para ele em diferentes estágios de perplexidade e talvez até com dúvidas sobre as palavras do mensageiro. Mas Kevin não duvidou do homem. Ele conhecia as túnicas de Edward. Ele as vira muitas vezes. A menos que fosse um espião que houvesse roubado uma túnica real e estivesse tentando atraí-lo para a morte, no palácio de Thorney Island, ele acreditava no homem. Não tinha razão para não acreditar. Melhor correr o risco de que o rei realmente o convocara. Portanto, ele dispensou o homem com um aceno.

    — Muito bem — disse ele. — Se você chegar ao rei antes de mim, diga-lhe que estou a caminho.

    O mensageiro curvou-se acentuadamente.

    — Excelente, meu senhor — disse ele. — O rei ficará satisfeito.

    Com isso, o homem girou nos calcanhares e foi embora, atravessando a costa rochosa, desviando-se de marujos e passageiros enquanto estes desembarcavam dos barcos na costa. Enquanto Kevin seguia para selar o seu cavalo, Adonis o seguiu.

    — Convocado pelo rei? — repetiu ele em voz baixa, olhando em volta, em direção à multidão que circulava no litoral, para se certificar de que ninguém ouvira o mensageiro. — A última vez que você viu Edward estava em batalha no País de Gales e ele acreditava que você era outra pessoa.

    Kevin colocou a sela no cavalo e ajustou a alça da cilha.

    — Sei perfeitamente disso.

    — Ele pensou que você era um rebelde galês.

    Kevin assentiu.

    — Isso é verdade — disse ele, lembrando-se daquela noite escura, quando ele teve uma grande aventura e um sério problema com o rei da Inglaterra. — Ele achava que eu era Bhrodi de Shera, o último rei hereditário de Anglesey.

    Adonis também se lembrava daquela angustiante noite de batalha.

    — Você vestiu a armadura do homem quando ele foi ferido em batalha para que os galeses não perdessem a esperança contra os ingleses — murmurou ele. — Você fez isso porque Penelope lhe pediu.

    Kevin não queria pensar naquela parte das circunstâncias, mas não tinha escolha; a menção do nome de Penelope de Wolfe, mesmo seis anos depois, ainda lhe trazia dor.

    — Eu o fiz porque ela assim desejou — admitiu ele. — Fiz porque a amava e não queria vê-la infeliz quando o marido foi ferido em batalha. O engano quase me custou a vida.

    Adonis assentiu fracamente. Ele olhou para Thomas enquanto o homem se aproximava, ouvindo a conversa enquanto endireitava o nó das rédeas do cavalo.

    — Eu estava lá naquela noite — disse Thomas. — Para que você não se esqueça, Kevin, eu estava lá. Vi quase tudo. Edward o capturou e, se não fosse pelo meu pai e o seu pai, você teria ficado com sérios problemas, como um príncipe galês inimigo, na frente do rei, ainda por cima. Minha irmã não deveria ter lhe pedido isso. O que vai acontecer agora, quando você aparecer em Londres e o rei o reconhecer?

    Kevin encolheu os ombros. Não se encontrava particularmente preocupado com isso. Estava mais preocupado pelo fato de que Penelope de Wolfe estava em sua mente agora e ele não queria pensar nela durante toda a viagem até Londres. Maldição!, pensou com raiva. Passara quase todos os dias daqueles seis longos anos no Levante tentando esquecê-la. Poderia uma breve menção à mulher, perguntou-se, uma vez ele estando em solo inglês, desfazer tudo o que fizera para apagá-la de sua mente de uma vez por todas?

    — Estava escuro naquela noite — disse ele, por fim. — Eu tinha mais cabelo do que tenho agora e estava sujo, espancado e vestido com a armadura de outro homem. Duvido que o homem me reconheça.

    Thomas grunhiu, discordando.

    — Você está correndo um grande risco.

    Kevin olhou para ele.

    — Não tenho escolha — disse ele. — Você mesmo viu; o rei me convocou. Se eu recusar, estarei em maiores dificuldades.

    Thomas sabia disso, mas ainda assim não estava gostando nada daquilo. Balançando a cabeça, voltou-se para seu enorme corcel vermelho e deslizou o freio sobre a grande cabeça do animal. Adonis também estava se dirigindo para o seu cavalo, embora seus pensamentos se demorassem na situação.

    — Talvez devêssemos mandar chamar seu pai — disse ele. — É possível que precisemos do homem por lá quando você se encontrar com o rei. Tio Kieran pode explicar o que aconteceu se, de fato, o rei o reconhecer.

    Kevin sacudiu a cabeça.

    — Não precisei da ajuda do meu pai desde criança — disse ele. — Não irei chamá-lo agora. Se houver alguma reconciliação a ser feita, eu a farei.

    — Você não vai enviar nenhuma mensagem para ele, de qualquer maneira? — perguntou Adonis, baixinho. — Ele vai querer saber de você. Estou enviando uma mensagem para o meu pai imediatamente, assim como Thomas. Se nossos pais receberem notícias de nós e tio Kieran não souber notícias suas, ele se preocupará e você sabe disso.

    Kevin estava prestes a assumir uma postura linha dura, mas pensou melhor. Depois de um momento, ele concordou.

    — Vou mandar uma mensagem para ele — disse ele, seu olhar assumindo uma expressão um tanto saudosa, enquanto seus movimentos se tornavam mais lentos. — Eu não vi meu pai em seis anos. A última vez que ouvi falar dele foi há três anos, e a carta da minha mãe me contava que meu pai não estava muito bem de saúde. Eu... estou quase com medo de mandar uma mensagem para ele, com medo do que vou descobrir.

    Adonis e Thomas estavam pensando a mesma coisa.

    — A saúde do meu pai é boa, mas ele é mais velho que o próprio Deus — disse Thomas. — A última vez que ouvi falar dele foi há dois anos. Ele disse que tudo estava bem e que tinha mais netos então.

    Adonis fez cara feia para Thomas, como se o homem tivesse acabado de dizer algo terrível, mas Kevin sabia o que Thomas queria dizer.

    — Ele quis dizer, filhos da Penny — disse Kevin, sentindo aquela velha e familiar punhalada em seu coração de novo. — Há três anos, minha mãe disse que ela tivera pelo menos dois filhos. Tenho certeza de que ela já teve mais agora.

    Deveriam ter sido os meus filhos, pensou ele, embora tentasse não pensar nessas palavras. Elas lhe chegaram, desabando sobre ele como pedregulhos em uma avalanche; então, ele retomou a tarefa de selar o seu cavalo, agora com movimentos mais rápidos e decididos, como se tentasse esquecer o impacto daqueles pensamentos. Estava se libertando daqueles pedregulhos, um a um. Mesmo que os eventos tivessem acontecido seis anos antes, ele ainda sentia o impacto da dor como se fossem recentes.

    Thomas e Adonis sabiam disso, mas ficaram em silêncio. Não tinha cabimento discutir a questão que o levara a fugir para o Levante. Portanto, continuaram a selar os seus cavalos em silêncio até que Thomas apontou outra embarcação que viera ancorar nas costas rochosas. Parecia que o barco estava cheio de mulheres, mulheres que não estavam bem vestidas, e a tripulação as levava à terra em um bote arruinado. Assim que as mulheres alcançaram a costa, ouviu-se gritos e berros com os cobradores de tarifas e as mulheres começaram a lamentar porque evidentemente não tinham dinheiro para pagar os impostos.

    Àquela altura, Kevin, Adonis e Thomas estavam prontos para partir, guiando seus cavalos através do chão rochoso, passando pelas mulheres aos berros e pelos raivosos cobradores de tarifas, e pelo caos geral da área da praia. O caminho subia uma pequena inclinação até uma estrada maior, que levava à pequena aldeia de Dover.

    O enorme e antigo castelo ficava no alto dos penhascos, à direita deles, acima da colina branca, onde algum tipo de fortaleza existia desde os tempos romanos. A brisa do mar continuava, enquanto eles cavalgavam os seus cavalos; grandes gaivotas brancas os seguiam, à medida que se dirigiam para o coração do burgo. Estava movimentado naquele dia, com todos os viajantes que chegavam à praia de barco, com pessoas amontoadas na rua procurando por alojamentos. Ainda outras pessoas se reuniam na igreja para orar, enquanto vendedores vendiam uma carne queimada e desconhecida e vinho quente do outro lado da rua. Era um lugar bastante agitado, enquanto Kevin, Adonis e Thomas percorriam o seu caminho através de todo o movimento.

    — Mandarei uma mensagem ao meu pai dizendo que voltamos — disse Thomas, olhando ao redor da frenética cidade. — Certamente que posso contratar um mensageiro no meio dessa multidão.

    Kevin grunhiu.

    — Contratar um homem não é a questão — disse ele. — A questão é se você consegue contratar alguém confiável. Tenho certeza de que há muitos homens que pegam seu dinheiro apenas para beber, sem dar um passo em direção ao norte da Inglaterra.

    Thomas continuou a olhar para as pessoas, enquanto elas cruzavam com eles seguindo o seu caminho para sair da cidade.

    — Você notou? — perguntou ele. — Todo mundo tem pele branca. Existem até mesmo algumas pessoas com cabelo vermelho ou loiro. E as colinas são verdes. Está começando a me ocorrer que estamos realmente em casa.

    Kevin olhou em volta. A aldeia situava-se entre uma série de colinas, com o castelo em uma acentuada subida para o leste. Tudo estava bem verde, cheirando à grama, umidade e ao sal do mar. Ele respirou longa e profundamente, fechando os olhos por breves instantes para digerir os odores. Eles faziam bem ao seu coração endurecido.

    — De fato, estamos — disse ele. — Havia me esquecido desses aromas. Tem cheiro de casa.

    Adonis olhou saudosamente para uma taverna, enquanto passavam por ela.

    — E eu me esqueci do gosto de casa — disse ele. — Não poderíamos parar e lembrar, apenas com alguns goles?

    Kevin sorriu, olhando por cima do ombro, em direção à taverna construída com pedras e madeira. Uma placa pintada, pregada na linha do telhado, dizia que ali era A Gaivota e o Flautista, com imagens mal pintadas de uma gaivota e de um flautista.

    — Levará pelo menos dois dias até chegarmos a Londres — disse ele. — Você quer realmente se atrasar?

    Adonis assentiu, com firmeza.

    — Passamos meses viajando, vindo do Levante — disse ele. — Pelo menos, provemos um pouco de espírito inglês, agora que estamos em solo inglês.

    Kevin não podia recusar. Sentia-se também ansioso para experimentar as sensações de estar em casa. Sem mais outra palavra, ele virou o seu corcel até a taverna. Adonis e Thomas o seguiram ansiosamente.

    A taverna estava lotada, do topo do seu telhado inclinado até a base de seu piso irregular de terra. Quando os três cavaleiros entraram na grande sala comum, puderam ver rapidamente a quantidade de pessoas comprimidas no local. Sentia-se fortemente o cheiro de corpos sujos e de urina. Kevin, não particularmente com muita paciência e cansado da viagem de barco, começou a empurrar as pessoas para o lado, enquanto procurava uma mesa que lhes fosse conveniente. Ele achou uma, perto da lareira, onde quatro homens estavam sentados. Ele não hesitou. Foi direto até a mesa e agarrou o primeiro homem de quem se aproximou.

    — Nós exigimos a sua mesa — disse ele, jogando o homem para o lado e alcançando o segundo. — Busque descansar em outro lugar.

    Adonis e Thomas começaram a segurar os outros homens também e, rapidamente, a mesa inteira estava vazia. No entanto, eles não se sentaram imediatamente. Como um cachorro protegendo um osso, eles ficaram de costas para a mesa, desafiando qualquer um daqueles quatro homens a atacá-los. Foi então que perceberam que não haviam desalojado homens comuns — havia um lorde e os outros pareciam ser três guardas. Kevin e seus homens podiam afirmá-lo simplesmente pelas roupas que vestiam.

    O lorde era um homem muito jovem e bastante efeminado. Na verdade, ele parecia estar usando batom vermelho. Estava vestido com lindas sedas roxas e vermelhas e Kevin levou um momento para perceber que o jovem tinha flores no cabelo. Tinha uma aura despreocupada e feminina, mas a expressão no rosto magro do jovem lorde estava bastante masculina em sua seriedade.

    — Com que direito você me tocou? — perguntou ele. — Posso mandar matá-lo, ouviu?

    A expressão dele poderia ser poderosa, mas sua voz soava como um grito de mulher. Kevin não era alguém que julgasse os outros homens. Sabia que ele próprio se tornara um tipo estranho ao longo dos anos, por isso abstinha-se de julgar os outros. Cada homem tinha uma história, ele sabia. Portanto, enfrentou o jovem senhor de babados com um olhar firme.

    — É seu direito tentar, mas sugiro que não o faça — disse ele. — Meus companheiros e eu acabamos de chegar à Inglaterra, regressando do Levante para casa. Nós precisamos descansar mais do que você, então encontre outra mesa.

    O jovem lorde saltou na direção dele, batendo as mãos e gritando. Era birra, pura e simples e, quando o jovem se aproximou, Kevin estendeu a mão e empurrou sua cabeça. O jovem senhor escorregou e seus guardas colocaram as mãos nos punhos das espadas, mas Kevin rapidamente estendeu a mão.

    — Eu não faria isso, se fosse vocês — disse Kevin ao trio. — Vocês não irão sobreviver. Apanhem o seu senhor e encontrem outra mesa.

    O cheiro de uma batalha estava no ar e os donos da taverna começaram a percebê-lo. Em grupo, se afastaram do conflito. O jovem lorde, no entanto, ainda estava sentado sobre seu traseiro, olhando para Kevin com indignação.

    — Você não sabe quem eu sou, seu tolo? — gritou ele. — Eu sou Roger Longespee, visconde de Twyford! Está correto; sou um visconde e meu pai é o conde de Salisbury. Meu pai garantirá que você seja severamente punido!

    Kevin não demonstrou qualquer reação, a não ser se virar para a mesa. Sentou-se pesadamente em uma das cadeiras, mas certificou-se de estar de frente para o visconde e seus guarda-costas. Então, apanhou um copo, metade cheio de cerveja e o esvaziou.

    O jovem visconde, vendo que sua ameaça não surtira efeito sobre o enorme cavaleiro, levantou-se da sujeira, limpou as sedas e, mais uma vez, aproximou-se de Kevin. Ele levantou a mão para atingi-lo, mas Kevin estendeu a mão, agarrando a do homem e prontamente quebrou-lhe os ossos.

    O jovem visconde começou a gritar e seus guarda-costas atacaram. Kevin acertou o primeiro guarda com um golpe devastador no rosto, destruindo o nariz do homem. Quando ele caiu, Kevin levantou uma bota enorme e chutou o segundo guarda que vinha em sua direção. O guarda recebeu um poderoso chute nos intestinos e, quando caiu para trás, Kevin se levantou e desembainhou sua a espada larga.

    Era uma espada pesada, do melhor aço temperado, e sua lâmina ostentava muitas marcas gravadas nela. Kevin adotara o hábito, havia alguns anos, de fazer uma marca em sua espada para cada homem que matasse, em uma espada que era tão comprida quanto o braço de um homem. O aço, até agora, continha cento e sessenta e três marcas, cuidadosamente arranhadas na lâmina perto do protetor do cabo. Ele fizera essas marcas como um lembrete de que, algum dia, poderia também ser uma marca na lâmina de outro homem, e não tinha intenção de ver a sua vida se tornar nada mais do que um arranhão no aço. Portanto, a arma em sua mão era mais do que algo para tirar uma vida ou defendê-la; era a sua salvação, em certo sentido. Um lembrete de sua própria mortalidade.

    Era um lembrete que brilhava perversamente sob a luz fraca da taverna. Enquanto Adonis se defendia do terceiro guarda, o segundo guarda, aquele que Kevin chutara, golpeou Kevin com sua espada larga, enquanto Thomas saltava sobre a mesa e adiantava-se para trás do homem. Agora, uma briga violenta irrompeu entre os dois, enquanto as mesas eram levantadas e os donos da taverna gritavam de medo. Kevin observava Adonis fazer um breve trabalho com o terceiro guarda quando sentiu uma dor aguda em seu braço.

    Rapidamente, ele levantou a mão para sentir o cabo de um punhal saindo de seu braço esquerdo. Agarrando a adaga e puxando-a para fora de sua carne, sua fúria aumentou quando ele se virou para ver o jovem lorde de babados parado a poucos metros de distância, ofegando alegremente com o que fizera. Mas aquela alegria se transformou em medo quando viu Kevin arrancar a lâmina e jogá-la de lado. Agora, o jovem lorde tornou-se rapidamente aterrorizado quando viu que sua tentativa de ferir o enorme cavaleiro de cabeça raspada falhara. Enquanto Kevin o observava, o jovem lorde se abaixou e desembainhou a espada do guarda cujo rosto Kevin destruíra. Agora, armado com uma pesada e grande espada a que não estava acostumado, ele a segurou com ambas as mãos e a apontou para a cintura de Kevin.

    Kevin afastou o primeiro golpe, desequilibrando o visconde. Furioso, o jovem lorde ergueu a espada de novo com ambas as mãos, balançando-a com toda as suas forças. Ele perderia de Kevin por uma larga margem, mas isso não o impediu de balançar a espada uma e outra vez. Kevin conseguiu desviar-se facilmente de todos os golpes. Porém, vendo que seu senhor estava lutando, um dos homens do visconde chutou Thomas para o lado e atacou Kevin, quase o alcançando. Kevin distraiu-se por um momento enquanto lutava contra o homem. Era distração suficiente para fazer com que o jovem visconde lhe desse outro golpe com sua espada. Percebendo-o pelo canto do olho, Kevin fez a única coisa que podia fazer. Ele se defendeu. Abaixando-se, para evitar ser atingido na cabeça com a ponta de uma espada, ele emergiu por debaixo da linha de visão do visconde e mergulhou sua enorme espada diretamente no ventre do jovem.

    O visconde gritou, ao sentir uma espada muito grande perfurando o seu abdômen. Ficou claro, desde o início, que era uma ferida muito feia, porque o sangue estava literalmente jorrando da barriga do homem, devido a uma artéria perfurada. O jovem senhor caiu no chão, uivando, sangrando todo o chão. Seus guardas, aflitos e feridos, gritavam por socorro, pedindo trapos ou qualquer coisa que impedisse o fluxo de sangue. O caos se instalou.

    Quando os ocupantes da taverna começaram a correr, alguns trancando a porta, Kevin rapidamente embainhou sua espada e virou-se para os seus companheiros.

    — Vamos partir — disse ele, recolhendo rapidamente os alforjes do tampo da mesa. — Agora.

    Adonis e Thomas conheciam esse tom; não era para ser desobedecido ou questionado. De alguma forma, muitas vezes se viram fugindo de situações conturbadas porque Kevin realmente não lutava por prazer. Ele lutava porque precisava ser feito. Agora, ele não via necessidade de permanecer em uma taverna que se estava se deteriorando rapidamente em um pandemônio e, o que era mais provável, em mais violência, em resposta à morte do visconde, porque os guardas dele buscariam vingança para o seu tolo e imaturo senhor. Seria o dever deles. Portanto, era hora, mais uma vez, de fugir.

    Seguindo para Londres e para uma audiência com o rei.

    CAPÍTULO DOIS

    Thorney Island (Palácio de Westminster)

    Três dias depois

    — É um presente de seu noivo, minha senhora. — Uma mulher de aparência severa, usando uma touca branca apertada, segurava uma peça de brocado verde brilhante em seus braços, como se segurasse uma oferenda. — O duque de Dorset, lorde Victor, está lhe enviando grandes presentes e riquezas, lady Annavieve. Certamente que você irá aceitar.

    Estava mais para uma ordem do que para uma afirmação. Sentada no pequeno solário dos aposentos que lhe haviam sido designados na residência real em Thorney Island, lady Annavieve Fitz Roderick contemplou o magnífico tecido verde com uma mistura de interesse e aversão. Não que ela tivesse alguma escolha na questão, mesmo que não o quisesse; assim como tudo em sua vida, o rei Edward tomava as decisões. Ele tomava decisões por ela desde que ela era uma criança e, agora que ela tinha quase dezenove anos de idade, a situação não era diferente. Não tinha escolha agora, assim como nunca tivera antes.

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