Marcas de um tempo: Memórias póstumas
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Marcas de um tempo - VALERIA V NUNES
Da Autora
Retalhos de uma vida
A Saga de Sete Mulheres
Entre uma coisa e outra
Marcas de um tempo
MARCAS DE UM TEMPO
Memórias Póstumas
Editora
Campina Grande/PB
Catalogação na Fonte- UFCG
Kilvya Simone de Leão Braga – CRB 15/691
MARCAS DE UM TEMPO
Memórias Póstumas
Valéria Vanda Xavier Nunes
Todos os sofrimentos podem ser suportados se os convertermos em histórias, ou se contarmos uma história sobre eles. Ser uma pessoa é ter uma história para contar.
Izak Dinesen
Este livro é dedicado à minha irmã querida
Waltenyce Xavier Pinto.
In-memoriam
Agradeço à minha família e a todos os amigos que se dispuseram a colaborar comigo na realização desse projeto.
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ImagemFigura 7 - Nossa primeira comunhão - eu e maninha
ImagemFigura 8 - Eu e Maninha aos seis anos
ImagemFigura 1 -Minha grande família. Fonte -Álbum de família
PRÓLOGO
Fevereiro - 2017
Parecia uma grande sala, mas olhando bem era um quarto. Grande, é verdade, mas um quarto sim. Estava na penumbra. Quase escuro mesmo. De repente me assustei, pois me vi planando por ele. Não entendia realmente o que me estava acontecendo.
Perguntava a mim mesma o quê eles faziam ali ao meu redor. Eu os conhecia muito bem, mas não entendia o motivo de estarem quase todos ali, ao meu lado, ao redor daquela cama. Por que não estavam em suas casas? Pela janela, que avistei entreaberta, dava para ver que era noite. Aquelas vozes que eu ouvia, mas que pareciam vir de longe, tenho certeza de que eram deles sim. Eu não conseguia enxergar direito. Meu olhar pesava. Tentei mas não consegui uma comunicação concreta com eles. Até me aproximei de alguns. Tentei tocar-lhes. Mas não reagiam nem me ouviam. Senti que estavam tristes e chorosos. Ouvia murmúrios e suspiros. Eu só não entendia o porquê daquilo tudo.
Deus do céu! Será isso? Parece que estou entendendo. A ficha acabou de cair.
Este quarto é de um hospital! Percebo mais claramente agora. Minha visão melhora um pouco. Esforço-me para entender. Estou num quarto de hospital. Estou planando sim, é verdade, mas ao mesmo tempo, me vejo deitada naquela cama. Sou eu sim. Como é possível? Jesus! Já ouvi algo sobre isso em documentários e em programas de televisão. Estou certa de ter lido − em alguns livros espíritas − assuntos sobre esse fenômeno, mas sempre fiquei com um pé atrás; nunca acreditei.
Não! Não pode ser. Não posso estar morta.
− Ei gente! Grito alto: Estou aqui. Atrás de vocês. − Por favor! Falem comigo. Expliquem o que está acontecendo?
Nada. Não me respondem
Estão saindo.
Chamo novamente. Grito até. Peço que não me deixem sozinha.
Nada... Saíram todos.
Estou sozinha agora. Interessante. Ainda estou planando, mas ao mesmo tempo, continuo me vendo, deitada nessa cama alta e fria de hospital e escuto conversas em tom alterado; quase gritos, lamentações e choro.
Lembrei agora, que antes de eles chegarem estava aqui uma moça que conversava muito comigo. Ela veio me ver em várias outras ocasiões. Era bom. Deixava-me calma e relaxada. Fazia-me falar coisas que nunca falei pra ninguém, mas que deixavam o meu coração muito mais leve. Fez-me falar de mim, de meus problemas, de minha relação com meus familiares e amigos e até com Deus. Acho que no íntimo me reconciliei com todos, inclusive com ELE.
Houve um momento, nesta manhã em que ela estava comigo, que me vi planando por um lugar lindo. O dia estava bastante claro, com um céu azul quase sem nuvens. Era um lugar repleto de árvores frutíferas, palmeiras imperiais, trepadeiras de cores diversas: vermelhas, lilases, amarelas. Embaixo de uma árvore frondosa, ficava um banquinho onde me sentei e fiquei a contemplar a natureza que se abria inteira para mim. Como me senti em paz naquele lugar e naquela hora.
Mas não é que de repente, me vejo novamente naquela cama? É como se eu tivesse viajado no tempo; como num passe de mágica. Sinto-me tão fraca, tão cansada, tão sem ar. Parece que meus olhos se fecham lentamente, mas assim mesmo, ainda visualizo algo em meio às sombras. Percebo um vulto humano. Vejo que é uma mulher baixinha. Ela abre a porta devagar. Está entrando.
Está chegando perto de mim.
Escuto barulhos chatos e insistentes em algum lugar. Parecem vir da parede atrás da cama às minhas costas. A mulher está do meu lado agora. Muitos dos que saíram voltaram com ela. Ouço muito longe um barulho de pés apressados. Sinto que tem mais gente nesse quarto agora, além da mulher baixinha.
Escuto vozes.
Sinto um ar de tristeza entre eles. Percebo, mesmo na minha languidez, na minha fraqueza, que alguns choram abertamente. Outros movem os lábios como se em oração. Por mais que me esforce não entendo bem o que dizem. Uns me acariciam e falam comigo. Queria reagir. Ter forças para consolá-los, mas me sinto muito fraca. A cada instante sinto que me falta o vigor.
Sinto que me falta a vida.
Noto que a mulher de branco debruça-se sobre mim e com o dedo polegar e o indicador abre um de meus olhos. Olha bem a minha pupila e logo após sinto muito lentamente que ela fecha os meus dois olhos. Não escuto mais barulho algum. Não vejo nem sinto mais nada.
Que sensação boa! Que paz! Que bom!
Parece que finalmente Ele atendeu minhas preces.
É isso. Estou morta.
Mortinha da Silva nesse belo esquife. Coberta de flores e até maquiada – ouvi alguém dizer que estou bem bonita – e rodeada de belas guirlandas com flores que enchem o ambiente